semtelhas @ 13:48

Seg, 18/05/15

 

Das receitas! Aquilo que garante o futuro mas que também, em determinadas circunstâncias, faz "tirar o pé", estar com a cabeça noutro lugar, diminuir o empenho. O FC do Porto acaba de ganhar por muitos de avanço o campeonato dos milhões, e ainda faltarão concretizar mais umas quantas transferências milionárias, situação recorrente nas últimas décadas. Empresa de excelência como é por quase todos reconhecida, salvo as comprensíveis e habituais "azias", seria expectável que a gestão do clube elegesse a sustentabilidade primeiro e só depois o maior sucesso desportivo possível, como objetivo central. Ao longo de há já muitos anos tem sido capaz de fazer coincidir com aquela um sem número de vitórias intrínsecamente a ela ligadas, e a pergunta que muitos fazem é qual o peso específico de cada uma destas facetas no indesmentível enorme sucesso, a racionalidade da gestão ou a paixão clubísta? Dir-se -á que o segredo estará na capacidade de equilibrar as duas faces desta mesma moeda que é o clube e que se pretende manter altamente cotada.

 

Este fim de semana houve uma acontecimento que é verdadeiramente paradigmático daquela que é a escolha, e que não é de agora, de quem dirige o FCP, a dispensa de Reinaldo Ventura, um atleta que nunca conheceu a cor de outra camisola desde há mais de 26 anos. Apesar de nunca assumido publicamente por ambas as partes é óbvio que, mais uma vez e sempre, falaram mais alto os interesses do clube. Fazendo parte de uma equipa notóriamente cansada e sobretudo saturada de títulos, dez consecutivos!, era evidente para todos a urgente necessidade de a renovar. RV sai juntamente com o treinador e aquilo a que se pode chamar a espinha dorsal da equipa. Assim se constroem as grandes empresas, pondo o seu superior interesse acima de tudo. Não obstante o importante peso da variável paixão nesta complicada equação, o que aqui está em causa, mais que a sobrevivência circunstância largamente ultrapassada, é manter o clube ao mais alto nível possível atendendo à nossa realidade.

 

O FC do Porto existe num ambiente claramente atrasado se comparado com os seus oponentes externos, e por isso bastante hostil, relativamente às águas nas quais navega. Seja dado o tecido social que o rodeia, nomeadamente a sua massa associativa e simpatizante que tem muita dificuldade em vislumbrar o essencial, seja pelo tudo que daí advém, um país centralista que protege mais ou menos descaradamente os poderes instituídos, muito em particular aqueles que os mantêm nas suas confortáveis cadeiras, como é o escandaloso caso do sistemático e generalizado apoio ao maior clube do mundo em número de sócios, e repare-se como só este facto, em si mesmo, revela o tipo de "monstro" a combater. Claro que há sempre razões desportivas, falhas cometidas, opções discutíveis, mas é preciso perceber a realidade em que nos movemos, e que ninguém, ou quase, consegue o melhor de dois mundos.

 

Um olhar atento para o rosto dos jogadores e treinadores das grandes equipas quando falam para o público revela uma verdade incontornável, o futebol de alta competição hoje joga-se muito mais pelos milhões que pelos corações. É sobre esse "pano de fundo" que é preciso saber viver, muito em especial quando as regras do jogo em cima do tabuleiro em que nos movimentamos estão viciadas, em particular internamente mas também, ainda que muito menos, externamente, como todos ainda este ano puderam comprovar. Se se tiver em conta tudo isto o FC do Porto anda há decadas a fazer milagres, quase sempre contra tudo e contra todos, e o segredo tem sido sempre o mesmo, pôr o clube acima de tudo. Assistir aos olhares e discursos vazios de treinadores e jogadores multimilionários é cada vez mais comum e forçosamente aceitável, só um pode ganhar desportivamente, já manter os cofres cheios é uma outra conversa. Talvez o FC de Barcelona ainda consiga contrariar esta lógica quando recorre a treinadores ´"da casa", quiçá os únicos capazes de uma exigência mais dura que a simples comprensão da atitude distante de milionários, de uma classe de onde saíram na maioria dos casos, e graças às especificidades do meio em que se movimenta. Salvaguardando com inteligência e frontalidade as enormes e devidas distâncias, quem sabe não está ali um bom exemplo a seguir?


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semtelhas @ 12:05

Qui, 22/01/15

 

Alguém insidiosamente ciciou lá das alturas, "cospe Machado", e o pobre asno cuspiu, cuspiu, cuspiu, até ficar atolado na sua própria baba nojenta. Aparentemente terão calculado mal o tiro, ou se calhar não, provávelmente pressentem chegada a sua hora, a hora da hiena, a tal que só come restos, pela calada da noite, enquanto ri cínicamente, certamente inspirados na confusão reinante no mundo da (in)Justiça portuguesa onde parece valer tudo. É que há muito de arte no ofício de aldrabar, de vigarizar, de roubar, como tão bem o demonstram os poderosos deste país e do mundo em geral, tanto ou tão pouco que chegam onde chegam. Ora acontece  que este Machado é de fio muito rombo, e prorombo, só sabe cortar grosso e a direito, difícilmente poderia servir a contento os objetivos desta gente, mais dada às subtilezas dos políticos quando se trata de iludir a verdade. Quem sabe não terão à espera auspiciosas carreiras à frente de um qualquer organismo estatal, posteriormente melhor rendido por um outro no privado,  igualmente ou ainda mais lucrativo, como recompensa dos preciosos serviços prestados? Os exemplos são mais que muitos. Eles continuam a trabalhar afanosamente, como o comprovam as nomeações das inefáveis Paixão e Capela benfiquistas. Espécie de religião fundamentalista que não olha a meios para atingir os fins. A Paixão tem vindo a ser lancinantemente derramada por esses verdes relvados lusos, tragicamente tingidos de encarnado, como eles dizem, desde os idos noventas, e essa sua inesquecível primeira aparição na improvável e lagarta Campo Maior. Já lá vão vinte anos! Como tempo passa e tudo fica na mesma! Já Capela é de fornada mais recente mas não menos fervorosa, e bem mais sofisticada. Fruto dos tempos beneficiou do franco convívio com mais ilustres companheiros de seminário, dos quais herdou a tal refinada capacidade de enganar com um sorriso nos lábios. Dele ainda não se cantam as loas de que os mestres já objetivamente vivem. Mas tempo é coisa que não falta a esta gente, desde sempre, só episódicamente interrompido por uma revolução que levou tudo à frente, até imagine-se!, esta espécie de misto entre ratos e baratas, que roem e conspurcam, supostamente intocáveis como os seus primos de quatro patas, essa bicharada imunda. Por ora devem estar a preparar uma qualquer encenação tipo a que deu aos encarnados o campeonato de 2010, para o eventualmente decisivo jogo da cantada e anafada capital. Não vá o diabo tecê-las! 

Apesar de tudo, como ainda ontem se viu em Braga, apetece deixar os clubes fora desta lixeirada toda, pelo menos no que ela tem de essencial. Também olhando para este particular caso da bola, cheira que a questão é mais profunda e tem a haver com um muito mais vasto mal que radica num centralismo atávico, que defende e aplaude a batota e a esperteza, em detrimento da competência, e eterniza o serôdio atraso. E cheira mal, cheira a ...prepotência. Até quando? É só consultar a História!


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semtelhas @ 12:04

Ter, 13/01/15

 

Ainda Cristiano Ronaldo distríbuia sorrisos e beijos no palco, e já o assustado presidente da FIFA seguia a soro, e ligado a uma máquina de reanimação cardíaca, dentro de uma ambulância do INEM da Suíça, reconhecido como o mais eficiente do globo. Tudo aconteceu quando o craque, mesmo no fim da entrega do troféu que o consagrou como melhor jogador do mundo pela terceira vez, segunda consecutiva!, soltou uma espécie de urro, segundo informou posteriormente habitual ato motivacional entre os jogadores do Real Madrid. Apesar de logo nesse momento o infeliz septuagenário ter sido atravessado por um forte estremeção, algo confirmado até à nausea através das inumeras repetições em câmara lenta, por todas as incontáveis redes televisivas presentes em tão importante cerimónia, jocosamente apodada de feira de vaidades por meia dúzia de invejosos, inclusivé, graças à sofisticadíssima tecnologia só requisitada para tão raros eventos, é possível verificar a máscara de verdadeiro horror estampado no rosto do pobre velhote. Chegou a circular pelos faustosos corredores da milionária organização mundial de futebol, que o fabuloso jogador andava a treinar o agora famoso grito já há várias semanas lá por casa, daí o reação do próprio filho após o dito, avançando a medo em direção do pai, agarrando-se posteriormente à premiadíssima perna direita do mesmo, com os dois braços e olhos assustadiços perdidos algures na multidão da plateia, atitude interpretada por muitos como mais uma demonstração do magnetismo do célebre madeirense. O que aliás, foi também referido por fonte que pediu anonimato, vem reforçar o estatuto conquistado desde que é a primeira criança filha de mãe incógnita, mais um recorde para o artista!

Decorridas algumas horas sobre este acontecimento que abalou o mundo, e muito particularmente Portugal, multiplicam-se emissões televisivas especiais, e inesperadas edições vespertinas de jornais ainda ontem ditos moribundos, começam a surgir as habituais hordas de comentadores a cantarem loas a CR7, entre as quais se destaca a de Marcelo Rebelo de Sousa. O professor revelou que na semana passada almoçou, durante duas horas!, com Ronaldo e, entre outras coisas ficou convencido da sua inteligência, algo que nos deixou a todos muito mais descansados, não obstante durante a cerimónia, noutro momento alto, o próprio o ter claramente demonstrado, quando respondendo à pergunta da sedutora apresentadora, qual o seu melhor momento?, e após breves segundos de precioso recolhimento, ter respondido com inexcedível brilhantismo, foi o último!, numa expressão facial obviamente vencedora que arrasou a surpreendida, imagine-se, ainda por cima loura!

Também a intriga começa a fazer o seu caminho dizendo-se em surdina que tudo isto foi meticulosamente arquitetado por Platini, como é sabido forte pretendente à cadeira do seu pouco amigo Blatter, quando este finalmente resolver deixá-la de vago, o que, lá está!, provávelmente só acontecerá na sequência de uma tragédia como aquela a que quase assistimos, sim porque o infeliz suíço, para grande desespero do reconhecidamente porcochauvinista francês, parece estar a recuperar bem da brutal grunhice. Consta até que o episódio do cumprimento de mão aparentemente negado pelo atleta ao dirigente em recente cerimónia, e sobretudo o facto do presidente da UEFA ter afirmado o prémio ficar mais bem entregue a Neuer, não terem passado de manobras de diversão para esconder o objetivo mais profundo, e ensaiado ao longo dos últimos meses em local ainda desconhecido entre os improváveis dois conspiradores até à exaustão, que era, como diziam entre eles, liquidar o velho. Da parte do português a gota que fez transbordar o copo, terá sido aquela anedótica história contada perante uma plateia de ilustres numa universidade inglesa, de ele ser em campo um tipo general com tiques militaristas, imagem agora agora tão eloquentemente desmentida. No fim todos se congratulam com o facto de, felizmente, não ter ocorrido nada de grave, foi só um susto, diz-se entre sorrisos. Tudo está bem quando acaba bem. 

 

ÚLTIMA HORA - Sabe-se agora que a não presença de Irina no evento se deveu ao facto da mesma ter repetidamente avisado o namorado, durante os irritantes ensaios caseiros do agora célebre urro, que se ele cumprisse a ameaça de responder positivamente ao desafio dos colegas e do treinador perante tão ilustre plateia, romperia o noivado. Aguardam-se desenvolvimentos, mas a coisa está tremida!


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semtelhas @ 12:17

Seg, 15/12/14

 

Uma sociedade de sucesso que foi o Benfica apesar do primeiro golo ser precedido de duas ilegalidades, Maxi Preira avançou aí uns quinze metros em direção da baliza para efetuar o lançamento lateral, beneficiando os avançados que atacaram a bola mais de frente, e prejudicando os defesas que a receberam mais pelas costas, para além de ter pisado a linha ao executá-lo, o que atendendo ao rigor exigido na distância entre ele e Brahimi, pedia atitude semelhante. O segundo é todo ele fruto da estratégia montada, e admirávelmente cumprida, como evoluiu Jesus!, três avançados no meio campo do FCP, mas sem entrar na área, para complicar a saída a jogar, e o resto da equipa religiosamente atrás, nomeadamente os laterais, ainda reforçada pelos tais três quando o adversário atacava. O Porto tentou ser fiel ao seu esquema, e de certo modo conseguiu, mas Fabiano nunca resistiu tão pouco a repôr a bola pelo ar, 50% de hipóteses para cada lado, logo num jogo onde Luisão terá ganho para aí 90% das bolas de cabeça a Jackson, exclusivo destino para elas escolhido pelo guarda-redes. O resto foi a enorme experiência do SLB tratar de fazer a sorte do jogo pender para o seu lado, e o FCP, claramente com maior número de jogadores com qualidade acima da média, provar do veneno que em tantas outras ocasiões fez realçar nos seus oponentes, a inexperiência.

 

Nestes casos a equipa que perde, com superior nota artística, como reconheceu Jesus como que para justificar tanto pragmatismo, apela aos amanhãs que cantam. Lopetegui fê-lo, e talvez até com razão, a equipa tem vindo a evoluir e de facto joga um futebol atraente, simplesmente assente em pressupostos nada fáceis de cumprir. Primeiro um nível técnico bastante elevado de todos os jogadores, nomeadamente na defesa onde pretende, e bem, que tudo comece afim de abrir espaços no meio campo adversário; depois muito empenho e capacidade física para exercer sistemática pressão, preferencialmente alta, sobre os jogadores oponentes; e sobretudo tempo para pôr tudo isto a funcionar. Ora se atingir os dois primeiros objetivos não é fácil, o último apresenta-se realmente complicado. O FC do Porto é um clube que vive no fio da navalha no aspeto economicofinanceiro, todos os finais de época têm que sair no mínimo dois jogadores, óbviamente os melhores, acresce que este ano em especial tem dois ou três fundamentais que são emprestados, e se mostrarem serviço provávelmente serão chamados à base, e depois, finalmente mas não menos importante, a massa adepta não é própriamente a mais culturalmente preparada para esperar...


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semtelhas @ 14:40

Dom, 28/09/14

 

À ideia de que à mulher de César não chega ser séria, também tem que o parecer, está ligado um conceito de respeito pelas aparências, por aquilo que estas têm de importante numa figura tão relevante como a companheira de um imperador, no sentido de que também ela devem funcionar como bom exemplo, logo estar acima de qualquer dúvida quanto à nobreza do seu caráter. Infelizmente, e também fatalmente, porque como em tudo o resto há também o outro lado, a outra interpretação possível e, provávelmente, aquela que mais de acordo está com a atitude, no seu sentido metafóricamente mais lato, da larga maioria das mulheres dos césares desta vida, o da subserviência e medo e, se se quiser levar a metáfora ainda mais longe abrangendo a sociedade em geral, do lacaiísmo e da inveja.

 

É sabido o peso histórico que uma atitude passiva, morna, tantas vezes compensada por uma espécie de vivência mafiosa, disfarçada pela forma quase doce por tão dissimulada como é praticada, tem em Portugal. Consubstânciada pela sornice songa de constantemente se estar ao lado de quem, naquele momento, está por cima, não hesitando em servir da máscara de ferro ou homem de mão, como se diz, a todo aquele com poder para comprar quem aceita ser comprado. Hoje, como ontem, desde sempre e se calhar no futuro, é só olhar para o lado no escritório ou na oficina, para o vizinho ou familiar, para imediatamente o constatar. Problema endémico e verdadeiro causador de todos os atrasos de inumeros países que, como o nosso, sofrem dessa espécie de doença aparentemente incurável.

 

Os principais inimigos deste estado das coisas são todos aqueles que, remando contra a maré, tentam contrariar com o seu próprio exemplo, este tipo de postura perante a vida. Salvo algumas honrosas exceções, rápidamente são atacados por todos os lados, remetidos a um isolamento, temerosos e envergonhados, olhados de lado, duas hipóteses lhes resta, ou alinhar na paz podre da mediocridade, caminho seguido pela larga maioria, ou serem para sempre ostracizados por todos. É do conhecimento geral o crescente numero de pessoas que desde há imenso tempo, sentindo a opressão deste status quo, conhecedoras das suas capacidades, abandonam o país para no exterior darem largas aos seus talentos, por lá acarinhados e admirados enquanto, por cá, numa triste confirmação da epidémica inveja, palavra com que Camões, concerteza não inocentemente, termina os Lusíadas, são olimpica e serôdiamente ignorados.

 

Algumas instituições tentam revoltar-se recorrendo a tudo para sobreviver, o quanto possível digna e livremente, no meio desta autêntica camisa de forças. Por vezes utilizando as mesmas armas que se no poder reinante são legítimas ou ardilosamente escondidas, quando o são por elas logo se tornam ilegais servindo para a tentativa de as sufocar por todos os meios, e são quase todos, ao alcance de quem domina a situação. Um desses casos é o FC do Porto que, durante décadas, contra tudo e contra todos, lutou enérgicamente e tornou-se um clube mundialmente conhecido e admirado enquanto, por cá, continua a ser sistemáticamente perseguido. Como sempre, os árbitros, supostos juízes acima de qualquer suspeita, estão ao serviço de quem distribui o bodo aos pobres, neste caso de espírito. Imbuídos de um falso sentido de justiça, armam-se em mulheres de César para tentarem demonstrar ser sérios quando, na verdade, só logram parecê-lo afastando-se de um suposto malfeitor, artificial e meticulosamente fabricado pelo poder instalado ao longo dos anos para, pelo medo, tentar manter a posição dominante. Como de costume não vai chegar ser o melhor, vai ser preciso ser muito melhor e, quem sabe, até algo mais. Depois que não se queixem, ou, por falar em César, em Roma sê romano!

 


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semtelhas @ 14:42

Sab, 28/06/14

 

Costuma dizer-se, junta-te aos bons serás melhor, junta-te aos maus serás pior, o que, como em todas as generalizações pode levar a alguns erros. É que também se diz, o homem é a sua circunstância, o que se aparentemente parece confirmar a primeira máxima, por outro lado pode querer dizer que nem sempre seguir o nosso heroi resulta, depende de muitas outras coisas.

 

É mais ou menos óbvio que Paulo Bento tem em Scolari o seu heroi e, até certo ponto, mentor. É todo um estilo mais ou menos grunho, que elege a união do grupo acima de quase tudo e a qualquer preço. Muitas vezes o inimigo é encontrado na conveniente exclusão do dito grupo de alguém que sendo indubitávelmente craque, não o é o suficiente para que a sua ausência provoque uma revolução, precisamente pelas razões que mais interessam a quem decide, neste caso ao selecionador, ou seja muito talento mas também alguma arrogância e muita beligerância. Scolari utilizou Romário como espécie de cola unificadora contra o vedetismo em 2002 com o Brasil, e Vitor Baía em 2004 com Portugal. Curiosamente Paulo Bento tentou fazer o mesmo este ano com aquele que foi um dos minino de Scolari, Quaresma. Depois é o tentar implementar uma postura guerreira de nós contra todos.

 

Ora acontece que entre o Brasil e Portugal, para o bem e para o mal, em termos futebolísticos como em quase todo o resto, há, literal e metafóricamente, um enorme oceano a separar-nos. Recorrendo agora a um exercício académico Brasil vs Portugal, quando chega a hora da verdade são onze contra onze seguindo as mesmas regras, no entanto por trás de cada seleção há realidades completamente distintas, sobre todos os pontos de vista. O brasileiro tem uma enorme oferta de jogadores que lhe permite fazer uma gestão claramente mais fácil que o português. Um, ao longo dos dois anos que dura a fase classificação para as fases finais tem uma tal quantidade de jogadores por onde escolher, que os eleitos se sentem agradecidos por o terem sido e demonstram-no em campo. Com o outro acontece quase o oposto, ele é que tem que estar agradecido aos jogadores por estes se disponibilizarem para a seleção, tal é a escassez de verdadeiros craques.

 

Neste cenário que sentido faz eleger como principal arma o espiríto de grupo, quando aquilo que se tem é um conjunto de primas donas milionárias e crescentemente pressionadas pelos patrões que lhes pagam as mansões, carrões e as vistosas namoradas e penteados para exibirem na praça? Haverá sempre a saída através de um supercraque, devidamente operacional à data do evento, que mande naquilo, Eusébio ou Ronaldo, ou ter uma superequipa por trás, FC Porto 2004, para duplicar na seleção, caso contrário o líder tem que ser o selecionador. Para um país como o Brasil basta um sargento congregador de vontades e minimamente disciplinador, o resto a infindável mão-de-obra faz, mas para Portugal, à falta das tais condições fatalmente especiais, é indispensável alguém competente em toda a linha. Ou a federação abre os cordões à bolsa e vai buscar um estrangeiro ou então vamos ter muito que esperar pelo Mourinho.

 

Manter o esforçado Paulo Bento, atendendo às circunstâncias uma espécie de contrafação de feira de Scolari, a patéticamente juntar duas dúzias de convencidos novosricaços, ainda por cima todos partidos, e sobretudo convencidos que insubstituíveis, deve pôr um sorriso de carinho paternal naquela cara de bébé do sargentão, mas a pergunta que lhe paira na alma deve ser, e o burro sou eu?

 


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semtelhas @ 12:19

Seg, 28/04/14

 

É comum assistir-se entre os grandes clubes de futebol europeu, quando enfrentando ciclos menos bons, a uma postura onde prevalece uma certa sobranceria de quem sabe que o fenómeno não passa de uma mera interrupção naquilo que é a normalidade, exercer um domínio mais ou menos constante fruto do hábito de vencer. Creio que essa maneira de estar nasce de muitos anos de vitórias que acabam por implantar uma filosofia que transporta em si uma tranquilidade intrínseca, por vezes mesmo uma natureza, que é transmitida verticalmente a toda a estrutura e consubstânciada pelos jogadores enquanto em campo, sobretudo nos piores momentos e, tantas vezes, confundida com menos entrega ou desleixo. Essa maneira de sentir estende-se, obviamente aos adeptos, particularmente aos que assistem ao desempenho da equipa nas bancadas, cujas principais características resultam num binómio alto nível de exigência/confiança inabalável. De entre estes clubes de sangue azul, espécie de fidalguia futebolística, lembro-me do Real e do Barça em Espanha, dos dois principais clubes de Milão e da Juve em Itália, do United, do Arsenal e do Liverpool em Inglaterra, do Bayern na Alemanha e do Ajax na Holanda.

 

Desde há uns anos a esta parte, talvez após a conquista pela segunda vez da Liga dos Campeões e a saída de Mourinho, estou em crer que Pinto da Costa, aos poucos, tem tentado fazer o FC do Porto descolar daquela imagem regional sob e em torno da qual o clube tão bem se soube fechar fazendo dessa aparente fraqueza força, transformando a sua realidade profundamente, desde a implementação do Dragon Force a pensar no futuro, até à aposta em contratações de jovens mas cada vez mais caros jogadores, passando pela escolha, exclusiva a si próprio e com a exceção de Jesualdo contratado à ultima hora, de treinadores crescentemente menos dependentes de um objetivo, alguém à sua própria imagem, competente, disciplinador, com alguma experiência, mas agora sobretudo jovem, ambicioso, com uma postura e ideias mais cosmopolitas. Esta estratégia deve-se muito ao facto de ter a perfeita noção da realidade do espaço em que o clube se movimenta, um país com grandes limitações e a sofrer da doença da centralização, nomeadamente na área em causa onde o Benfica recolhe a esmagadora maioria dos apoios a todos os níveis, sendo o único com massa crítica que lhe confere potencial para aspirar à tal fidalguia, neste caso fruto de um, parece que irremediável, atraso no desenvolvimento do espaço em que se insere.

 

Acontece porém que esse evidente défice de desenvolvimento é particular e desgraçadamente notável na sociedade, na forma como ele se manifesta (ou como alguns diriam, e noutras matérias, não se manifesta), nomeadamente no futebol, desde sempre palco para a revelação de todas as alegrias e frustrações, muito pelo endémico atraso relativamente ao conhecimento nas outras áreas da cultura ou do entretenimento em geral. Desse mesmo, pela negativa, avassalador efeito tem sofrido o SLB durante as últimas décadas, caindo sucessivamente em erros crassos que o FCP, graças à genialidade do seu presidente, tão bem tem sabido capitalizar. No entanto, pelas razões já escritas, o clube de Lisboa conseguiu manter-se sempre à tona. A questão é, e o FCP? Resistirá a muito mais épocas como a presente? O jogo de ontem foi o paradigma do que tem acontecido este ano, mas já semeado anteriormente, excelentes jogadores, muita entrega, pouco e básicamente negativo público, também ele fidalgo mas no mau sentido, e as bolas a não entrar. Em dois ou três momentos do jogo, como agora se diz, sente-se que algo não está bem, no um para um, essencial chave numa equipa sempre dominadora, liderança na defesa, e tranquilidade em frente à baliza. Numa palavra, falta de confiança. Talvez esteja chegada a hora de PC questionar a sua estratégia, e dar um passo atrás para depois avançar dois e, voltando ás origens, juntar as tropas em volta de um regionalismo liderado por um treinador que sinta o clube com a alma toda. 


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semtelhas @ 12:35

Seg, 24/02/14

 

Ou quase! Ainda faltam uns quantos recordes positivos para abater e outros tantos negativos para bater, mas é mais que provável que depois de alguns dias para possibilitar a Paulo Fonseca sair com uma imagem menos negativa, tentar capitalizar a eventual revolta dos jogadores em um ou dois jogos, mas especialmente, como é habitual, não responder à vox populi, um recado para toda a comunidade portista e todos os outros, que pretende afirmar a independência do FCP, Pinto da Costa faça a vontade ao aflito treinador e o liberte do suplício que está a viver.

 

Mais do que as evidentes fragilidades que este tem demonstrado, quer profissionais quer pessoais, parece que o principal obstáculo será uma questão de ADN. No FC do Porto, por razões históricas que têm haver sobretudo com o centralismo de que o país padece, no qual o futebol é o menor dos problemas, quem está à frente dos vários níveis do organigrama do clube tem que ter um espírito guerreiro, desde o roupeiro ao presidente, ora parece que PF não o é de todo, quanto mais se aperta o homem mais tolhido ele fica.

 

Agora importa pensar o futuro. Primeiro para tentar estar presente na Liga dos Campeões da próxima época, e segundo começar a prepará-la atempadamente para voltar aos registos do costume. Jorge Costa garante o espiríto guerreiro mas estará preparado para tão grande responsabilidade? Pedro Emanuel parece preencher razoávelmente os dois critérios, nunca tendo demonstrado um portismo indubitável já provou sentir o clube e, últimamente, tem-se saído muito bem enquanto treinador.

 

Mas talvez não fosse pior o FCP aproveitar a oportunidade para dar inicío a uma nova estratégia para o todo o futebol do clube, até porque PC não vai para novo. Nesse sentido talvez a contratação de Jesualdo Ferreira como manager para todos os escalões etários e de Villas Boas até ao final da próxima época, trouxesse estabilidade a médio prazo e o tal sentimento clubísta que é urgente reimplantar na chefia técnica de forma a acordar os jogadores. Como em tudo o resto, também aqui é essencial apostar na cultura que tão longe nos levou. Temos que voltar a Ser Porto.

 


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semtelhas @ 13:15

Sex, 21/02/14

 

Chega a ser assustador ver no campo os jogadores do Porto tremerem tanto quanto o está a fazer o treinador plantado em pé em frente do banco de suplentes, patéticamente gritando e gesticulando sem o minímo de convicção. Quando, normalmente fruto da inspiração de um dos grandes jogadores da equipa, surge um golo, o homem rejubila como se tivésse acabado de ganhar a champions.

 

Já tinha acontecido contra o Austria de Viena, o FCP foi incapaz de ultrapassar uma equipa minímamente competente a trocar a bola, mas sobretudo dependente do seu enorme poderio fisíco. Como já tantas vezes fez, o futebol esteriotipado dos alemães devia servir que nem gingas, bastaria pô-los a cheirar a bola para depois desferir o golpe final, os golpes finais, e o respetivo três ou quatro a zero.

 

Mas para isso era preciso que os jogadores tivéssem uma réstia de confiança em si próprios, nem todos são como o Quaresma, o rei do egocêntrismo que volta e meia tanto jeito dá. Mas não, bem pelo contrário, mal se apanham a ganhar a tremideira é de tal ordem que, na defesa, desatam a aliviar a bola para a própria baliza um, e o outro enfiá-la lá dentro, antes já tinha faltado força anímica para despachar a dita para longe, o meio campo não consegue fazer passes para a frente, e no ataque assustam-se perante a possibilidade de fazer golo!

 

Quase todos os males se podem combater nesta vida, há contudo dois contra os quais todo o esforço é em vão, a teimosia e a burrice, então quando caminham juntas... Num outro clube qualquer, num clube normal, sem o passado recente e as estruturas inabaláveis que o FC Porto tem, especialmente graças a esse verdadeiro fenómeno que é Pinto da Costa, provávelmente já andava tudo à porrada.

 

Tenho a certeza que PC sabe exatamente o que se está a passar, terá até mesmo já admitido para si próprio que, o que é raro mas acontece, se enganou. Tem a coisa controlada e, por outro lado, estas ocasiões também são muito úteis para testar caráteres e proceder a determinados acertos. Acredito que se a participação na Liga dos Campeões do ano que vem fôr posta em causa ele intervirá decisivamente.

 


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semtelhas @ 13:59

Qua, 19/02/14

 

Já não é a primeira vez, nem será concerteza a última, que responsáveis por clubes de futebol tentam imitar Pinto da Costa procurando assim atingir o sucesso. Luís Filipe Vieira, por exemplo, foi um deles, e a verdade é que só começou a ter algumas vitórias quando se deixou disso  e passou a ser ele próprio. Aquilo a que se assiste hoje com Bruno de Carvalho é portanto mais do mesmo, para já ainda na fase inicial, convencido de que a estratégia vai resultar, mas, em breve, também na conclusão de que afinal não. Resta saber se, tal como o seu vizinho da segunda circular, assumir-se vai ser suficiente para se manter à tona. É que o Sporting não é levado ao colo pelo poder instalado nem favorito da comunicação social...

 

Para já as diabruras de Bruno de Carvalho só deram frutos no espevitar da rapaziada que constitui a equipa, sim porque os mais velhos estão todos mais ou menos encostados, em alguma pressão sobre os árbitros e respetivos benefícios, e na união, que já foi mais evidente, entre os adeptos. O seu maior mérito terá sido a escolha de Leonardo Jardim para treinador, ou seja, um mérito por via indireta. Porque quanto ao resto, agravou a situação economicofinanceira, já está fora das taças, no campeonato, mesmo com um FCP em ano sabático, parece destinado ao terceiro lugar do costume, e foi o principal instigador do recrudescimento da violência no mundo do futebol.

 

Então esta guerra do suposto propositado atraso do FCP no jogo contra o Marítimo para ser beneficiado e seguir em frente na competição, é de bradar aos céus! Mesmo que digam, o que ainda não se ouviu, que hoje o futebol de alta competição joga-se sobretudo no reforço psicológico, pelo que informar uma equipa nos minutos finais que só tem que marcar mais um golo pode ser decisivo, é, neste caso, demasiado rebuscado. Primeiro, a menos de cinco minutos do fim, não era um mas dois os golos que eram necessários, depois os dragões já andavam a correr como loucos desde o inicío da segunda parte e, mais importante, o Sporting podia sempre ter marcado mais um golo até ao fim do seu jogo. Ridículo!

 

O segredo do sucesso de Pinto da Costa assenta em várias premissas, não é só no facto de morrer pelo seu clube, a qual aliás, mesmo sendo a única comum aos dois, desconfio alguma vez venha a ser cumprida com o mesmo estoicismo pelo sportinguista. Ter a absoluta certeza de estar dentro da razão, esta estar suportada, na esmagadora maioria dos casos, no senso comum independente, e sobretudo a defesa intransigente dos interesses do seu clube ser feita sempre pela positiva, afirmativamente e sem amarguras, envolvendo sempre todo o universo portista, são pressupostos essenciais. Onde é que estão na atitude de Bruno de Carvalho nesta questão absurda do suposto atraso? No seu intimo nem ele acredita no que diz.

 


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semtelhas @ 14:36

Seg, 06/01/14

 

Ainda não vai muito tempo, em Espinho ali junto ao hotel onde o FCP costuma estagiar nas vésperas dos jogos no Dragão, lembrava-me daquele dia em que a minha passagem por aquele local coincidiu com o passeio higiénico que, ao fim da manhã, a equipa e alguns técnicos habitualmente dão na praia em frente. Curiosamente quando isso aconteceu, já lá vão uns anos, um dos jogadores que se mostrou mais simpático com quem mais ou menos entusiásticamente os abordava foi Quaresma, postura que aliás me surpreendeu, tal como a maioria das pessoas, penso, estava convencido tratar-se de uma pessoa algo mal encarada, logo de dificíl abordagem. Recordo-me que essa surpresa me fez instintivamente sorrir quando com ele me cruzava no que fui simpáticamente correspondido juntamente com os muitos que logo por ali foram aparecendo, saídos não sei de onde, que, tal como eu, com sorriso de satisfação estampado no rosto por poder ver de tão perto aqueles craques, habitualmente muito mais parte do nosso imaginário do que da realidade. Quando aconteceu estava longe de imaginar que essa circunstância pode repetir-se um destes dias. Desde que saiu de cá, o jogador viajou por Itália, Espanha, Inglaterra, Turquia, e sei lá por mais onde, quase sempre em representação de grandes clubes, ganhando muito dinheiro, mas sem nunca ter conseguido voltar a impôr-se como o tinha feito no Porto. À semelhança de muitos dos seus companheiros de etnia, trata-se de uma pessoa que, entre outros traços neles distintivos, tem uma maneira de estar, digamos, um pouco abrasiva, no sentido de ter os sentimentos à flor da pele, o que na profissão que escolheu não ajuda grande coisa, bem pelo contrário. Acredito só ter chegado onde chegou graças ao facto de uma parte desse génio o expandir quando joga futebol, circunstância em que se torna autênticamente feliz. Não tenho muitas dúvidas que não fora esse seu caráter de natureza rebelde, teria ido muito mais além porque as suas capacidades intrínsecas, intuítivas, são de verdadeiro artista. A prová-lo está o facto de, enquanto esteve no FCP, clube cada vez mais desejado como formador pela forma muito especial como interage com os jogadores que lá passam, como repetidamente tantos o dizem e até lá regressando como é o seu próprio caso, ou o de Lucho recentemente, Quaresma ter em vários anos conquistado o título de melhor jogador a jogar em Portugal, e o reconhecimento no estrangeiro que lhe proporcionaram contratos milionários. É, por tudo isto, perfeitamente legítimo esperar que este retorno possa resultar num excelente negócio para ambas as partes. Para o clube pela mais valia que pode representar um atleta de eleição, cujo conhecimento da filosofia da casa é profundo, portanto com o mais dificíl da integração facilitado, ainda por cima para um lugar no relvado do qual a equipa está carente, além de com enorme capacidade criativa e de explosão, características que são claramente escassas num esquema de jogo muito certinho e dominador, mas sem alguém, ou quase, que provoque desiquilibrios e que não tenha medo de os assumir. Os créditos de Quaresma podem fazer dele esse trunfo em falta bem como, naturalmente, impulsionar-lhe a carreira para uma espécie de segundo fôlego, até, quem sabe?, para novas e proveitosas aventuras por esse mundo fora!

 


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semtelhas @ 14:24

Seg, 25/11/13

 

Aprendi há muitos anos uma máxima que diz a sorte ser o ponto de encontro entre a preparação e a oportunidade. Por mais que tente desmontar esta teoria acabo sempre por concluir que, independentemente da preparação ser mais, ou menos elaborada, e as oportunidades serem muitas ou poucas, encaixa na perfeição em qualquer das circunstâncias que para o efeito procuro como teste. Mesmo no mais comezinho dos casos, como quando alguém se dirige ao quiosque mais próximo para jogar no euromilhões, tem que ir preparado com pelo menos dois euros para tentar a sua sorte na oportunidade que vai ter aquando do sorteio

 

Acreditar que a sorte é algo que cai do céu aos trambolhões é um erro em que a maior parte das pessoas caem, muitas vezes só despertando de tal ilusão quando em boa parte da vida o comboio já lhes passou à frente em várias ocasiões sem que para isso estivéssem despertas ou com a vontade suficiente de o apanhar. Se há coisas que nascem com as pessoas como, por exemplo, o talento para esta ou aquela atividade, já a capacidade para trazer essa realidade à luz do dia, passa muito pelo empenho, em todos os sentidos, do felizardo ou felizarda que foram abençoados com essa possibilidade. O mundo está cheio de talentos mas os que conhecemos são uma infíma parte do total.

 

Quando se chega a treinador de clubes como o FCP, o SLB ou SCP, acredito que grande parte das questões atrás referidas já foram ultrapassadas mais que uma vez na vida, trata-se agora de repetir o processo a um nível mais elevado. No caso de Jesus o desafio aconteceu há três ou quatro anos, Jardim apesar de tudo era relativamente bem conhecido antes de ir para o Sporting, mas Paulo Fonseca configura uma situação diferente pois as provas dadas enquanto treinador de sucesso limitam-se a um ano muito bom em Paços de Ferreira, sem mais seja o que fôr que reforce um estatuto para treinar uma equipa com jogadores de topo.

 

Não é a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez que Pinto da Costa aposta mais naquilo que ele acredita ser talento, mas sobretudo ambição de quem, estando a começar uma carreira muito tem que se esforçar por o provar, e também na sua própria enormissíma experiência no mundo do futebol, muito mais fácilmente transmissível e aceite por um jovem ambicioso que por um qualquer consagrado. Para não ir mais atrás basta lembrar Villas Boas e Vitor Pereira, especialmente o primeiro, dois jovens práticamente sem curriculum que PC ajudou e protegeu até a limites pouco prováveis, nomeadamente VP, com os resultados conhecidos.

 

Acontece que, sendo o problema sempre o mesmo, um barco muito grande, gigantesca responsabilidade, para alguém tão inexperiente, é de vital importância o tal apoio da retaguarda de que é habitual falar-se no FCP. Construir uma equipa, impôr um estilo de jogo, demora, fazê-lo constantemente debaixo de grande pressão exige imenso e, se as coisas começam a correr menos bem gera-se insegurança a qual, naturalmente, atinge em particular os menos experientes, e se estes líderam então o mal vai por ali fora e, às tantas, já ninguém faz nada de jeito, acabando tudo e todos à procura de bodes expiatórios.

 

Este fim de semana foi paradigmático quanto ao que costuma ser chamado de sorte e azar em jogos de futebol, Benfica e Sporting marcaram nos últimos minutos sem que para isso tivéssem feito grande coisa, e FCP, depois de ter passado boa parte do jogo a desperdiçar golos de uma maneira pouco aceitável numa equipa deste nível e com estas responsabilidades, sofreu o golo do empate a dez minutos do fim para depois dar continuidade à triste saga. Fonseca falou de injustiça e pouca sorte num jogo ao qual Pinto da Costa assistiu, bastante encolhido e, desgraçadamente, de coração muito apertado. Assim não há sorte que resista nem coração que aguente. Haja cuidado!

 


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semtelhas @ 14:41

Ter, 19/11/13

 

Quando era miúdo haviam umas coleções de imagens de animais que eram constituídas pelos papeis que embrulhavam uns rebuçados, uma espécie de açucar caramelizado pelo que quando sujeitos a algum calor lá íam os cromos, ou melhor as vitórias porque era este o nome da dita coleção, e de entre os quais se destacavam três ou quatro bichos muito mais difíceis de sair, isto é de servirem de papelito de proteção à guloseima. Lembro-me de três, o cabrito, o bacalhau e a cobaia, mas penso que eram quatro e conhecidos como os carimbados. Era atrás deles que toda a pequenada andava para depois os colar no pequeno caderno onde o deviam ser todas as vitórias. Para obter uma destas preciosidades era preciso comprar para aí quinhentas das outras. Também no mundo do futebol português há meia dúzia de cromos carimbados, que verdadeiramente fazem a diferença, por cada um deles polulam por aí montes de Brunos Carvalhos, jogadores sérvios ou Kléber's.

 

Pinto da Costa

 

Já foi dito práticamente tudo dito sobre este fenómeno de excelência que em boa hora caiu em sorte ser do Futebol Clube do Porto. Durante esta semana foi noticía pelo seu internamento relacionado com conhecidos problemas cardíacos. Independentemente das razões que realmente o levaram ao hospital, mais, ou menos programadas, parece cada vez mais evidente que este homem cujo combustível para a sua brilhante vida sempre foi o seu inabalável imenso amor pelo FCP, sem ele jamais poderá sobreviver. Concerteza, mais dia menos dia, alguém lhe irá colocar a fatal questão, uma vida sem amor ou um amor que é maior que a própria vida. Como será que alguém tão irredutívelmente dependente de paixões como ele irá decidir?

 

Cristiano Ronaldo 

 

Goste-se ou não do estilo enquanto pessoa, essencialmente básico, comum a tantos outros que  tal como ele foram educados num meio pobre, logo escasso naquelas coisas que podem dar a uma pessoa uma visão, digamos, mais moderna de como estar, a verdade é que naquilo que mais importa ele não falha, é trabalhador, honesto, apoia a família e, a somar a tudo isto vai dando mostras de algum bom senso, nomeadamente a propósito das pessoas de que se rodeia. Depois há aquele enorme talento para jogar a bola que, quando o quer mesmo, pode resultar em coisas tão importantes como por exemplo levar às costas uma seleção, e com ela um país, com o que tudo isso tem de positivo. Imagine-se como as coisas poderiam ser, quantos riscos poderiam ser evitados, se ele quisésse mais vezes...

 

Treinador Português

 

Infelizmente ainda não surgiu nenhum que reúna em si mesmo a inteligência de Mourinho, o talento de Jesus, e a frieza de Paulo Bento, mas os últimos anos têm provado a enorme capacidade que os treinadores portugueses têm enquanto líderes se lhes forem dadas as melhores condições. Chega a ser espantoso, pela surpresa, mas se a questão fôr analisada mais friamente percebem-se várias coisas, que somos os mais parecidos com os brasileiros, onde mora a essência da alma do futebol, mas também europeus e nomeadamente muito ligados a Inglaterra, país pátria do futebol, geográficamenete muito próximo e na origem de boa parte dos clubes nacionais, e sobretudo um povo onde a sagacidade é raínha, para o bem e para o mal, característica que é hoje fundamental numa indústria onde os operários ganham milhões.

 


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semtelhas @ 13:01

Seg, 21/10/13

 

Diz-se que Paulo Fonseca é um confesso admirador de Jorge Jesus, logo do seu estilo de jogo. As equipas de JJ desatam a correr desde o primeiro minuto, praticando uma pressão em todo o terreno, os jogadores sempre em movimento à procura do espaço livre oferecendo assim pelo menos uma hipótese de passe a quem tem a bola, quer quando a defender, situação contranatura neste estilo de jogo porque precisa de espaço e este existe é para a frente, quer quando e especialmente, precisamente por isso, a atacar. Acontece portanto que, por um lado, para que este sistema funcione são precisos jogadores muito rápidos a executar e sobretudo a pensar e, por outro, porque altamente desgastante, de grande resistência fisíca. É sabido e reconhecido por quase todos que se o treinador tem conseguido preencher razoávelmente o primeiro requesito, já o segundo tem sido o seu calcanhar de Aquiles levando a que na maior parte das vezes acabe por morrer na praia.

 

Ver o FC do Porto tentar interpretar este tipo de jogo requer rigoramente as mesmas armas mas, talvez mais importante, uma mudança mais ou menos radical daquele que tem sido o seu estilo, e desde há tanto tempo, com as conhecidas efémeras e mal sucedidas interrupções, que mais que um estilo é já uma filosofia. Ora mudar estas, que para o serem necessitam de muitos anos de lenta implementação, até profundamente se entranharem não é fácil, mas é seguramente mais fácil destruir do que foi construir. Mesmo que o FCP tivesse os intérpretes adequados, o que não parece, contrariar uma imagem de equipa machona, dominadora, paciente, tranquilamente esperando o momento certo para desferir o golpe fatal, nunca seria tarefa menor. Perdidos Moutinho e James para o Mónaco, e Lucho em nome da tentativa de alteração do sistema, gente com dimensão para ter a tal paciência, tenta-se a hipótese de fazer as coisas mais depressa.

 

Talvez a equipa não tenha gente com essa estaleca. Não terá? Ou será que a pressão para que executem tudo a correr está a tirar-lhes a calma e, consequentemente o discernimento? E se Lucho voltar à sua posição anterior? Onde afinal tantas vezes volta por sentir déficit na construção de jogo da equipa. E o pequeno Josué não será homem para isso? E Herrera ou mesmo Carlos Eduardo, até Defour? Os dois primeiros têm dado excelentes indicações de estrategas quando jogam na equipa B. O que se tem visto é a equipa fazer meia hora de jogo que encosta qualquer um lá atrás, mas como raramente a esse domínio corresponde a respetiva concretização em golos, quando acabam as pilhas por manifesta má gestão do esforço, os adversários caem-lhe em cima, desde os melhores até equipas normalissímas que, nessas circunstâncias, chegam a tranquilamente trocar a bola e dominar o jogo.

 

É verdade que também se diz que o próprio Pinto da Costa aprecia Jorge Jesus. Se calhar é verdade mas também acredito que perante o que tem acontecido talvez PC comece a questionar uma eventual contratação de JJ. É que ele há coisas que não mudam, como por exemplo o caráter das pessoas, que quando simultâneamente excecional e inabalável, caso do presidente, transmite-se, cola-se a quem com elas interage. Por tudo o que fez ao longo de décadas o FC Porto é Pinto da Costa, e Pinto da Costa é FC Porto. E o que ambos são é a excelência que resulta das coisas bem feitas, tranquila e seguramente, mesmo que isso contrarie aquilo para que tudo nos empurra nestes dias, rapidez, mudança, virtualidade, numa palavra, resultados rápidos. Simplesmente tal só é exequível por pouquissímos, por isto ou por aquilo benefeciários de mais propicíos ambientes, bem mais ricas estruturas. Por cá tudo indica ser mais aconselhável o caminho da sabedoria.

 


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semtelhas @ 11:53

Sab, 12/10/13

 

Quem ontem visse os jogadores da seleção de futebol de Portugal após a oferta de Rui Patricío, só mais um a passar pelas brasas, fatal no seu caso, pensaria, fantástico! isto é que é empenho, vontade, profissionalismo, e até, porque não? patriotismo!

 

Acontece que o jogo estava a acabar o que leva a várias conclusões: ainda havia muita força disponível; durante toda a partida faltou motivação; o adversário foi substimado; os jogadores andaram hora e meia pouco mais que a fazer um frete; o treinador mostrou-se incapaz de agir como um verdadeiro líder; aqueles quase cinquenta mil que estavam no estádio foram tratados como autênticos tansos.

 

Não deve ser fácil pôr uns quantos milionários e outros tantos a isso pretendentes, a dar o litro por uma equipa que nem sequer é a sua entidade patronal, que aliás faz tudo para proteger a sua mercadoria, por estes dias de globalização em que conceitos como patriotismo só contam quando servem para destilar um qualquer ódio, ou sacar mais algum. Dificíl portanto a tarefa da equipa técnica, particularmente do treinador principal, não obstante os prémios chorudos, sobretudo atendendo ao crescente numero de pobres e indigentes no país, que vão sendo abanados quais cenouras à frente do nariz desta malta com jeito para a bola, apesar de serem tudo menos burros.

 

É sabido o futebol tratar-se de uma poderosa indústria com um papel importantissímo, sobre vários pontos de vista, na sociedade em que vivemos, quase em todo o mundo, pelo que não só se compreende, como tem que se aceitar as verbas astronómicas que envolve, até porque parece, começam a surgir as primeiras dúvidas, que se auto-sustenta. Tudo isto faz sentido quando dos clubes se trata, na realidade empresas, melhor ou pior geridas, um universo concorrencial como qualquer outro com essa característica fundamental que é a de lidar com aquele que é talvez, para além da própria sobrevivência, o maior motor da condição humana, a paixão.

 

Dir-se-á que exatamente o mesmo raciocínio poderá ser feito relativamente a países, até potenciar esse efeito através de sentimentos como o aumento da autoestima de um povo com tudo o que isso pode trazer de bom, simplesmente, por mais pequeno que seja, nenhum um país pode ser gerido como uma empresa, e não é por falta de tentativas por todo o lado, nem os retornos obtidos são tão controláveis como naquelas, sejam os bons ou, muito especialmente os maus. É, por isso, completamente ridicula a forma como a dita seleção de todos nós é tratada, com uma espécie de pieguice que nada tem a haver com a realidade altamente racional em que está inserida.

 

Se, ainda por cima, tivermos em conta as idiossincrasias do povo que somos, nomeadamente o vicío na lei do menor esforço que empurra o dito para o finzinho, só quando, e se, fôr realmente necessário, então, se calhar, resultaria melhor não colocar muita pressão sobre a rapaziada, remetermo-nos à nossa dimensão, esperar que Ronaldo, Moutinho e Cª se disponham a meter o pé, liderados por um bom profissional, sobretudo em motivação, bem pago,

e não gastar com o futebol os recursos financeiros que tanta falta fazem noutras áreas bem mais importantes para o bem estar da maior parte de nós. Talvez seja tempo de pôr o patrioteirismo da bola no seu lugar.

 


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"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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