semtelhas @ 15:17

Sab, 25/05/13

 

Começávamos por nos juntar ao fundo do café a beber uma cerveja enquanto discorríamos sobre isto ou aquilo, se fosse durante o dia íamos ao Porto ver uma sessão, ou passar a tarde no Majestic com o pessoal do costume, se fosse à noite mais depressa recolhíamos a casa do A. para ouvir música enquanto as cónicas íam rodando de mão em mão. Podia passar muito vinil por aquele gira discos, mas terminava sempre da mesma maneira, Absolutely Live,  dos Doors.

 

 

Só quando a mente estava suficientemente depurada, aberta, preparada, é que era percetível a música, eram descodificáveis as palavras, e entrar por aquelas portas. Tal como Jim Morrison diz num dos seus poemas, como que nos leva pela mão, faz-nos entender. E o que ele nos dizia ainda antes de ter completado trinta anos, acompanhado por uma música absolutamente visceral, profundamente bipolar, tal como a vida, ainda agora terna e harmoniosa e já a explodir-nos na cara com a maior das violências e desespero, era que que a única resposta é o amor e que este é sempre transitório, sempre insuficiente, sempre inacabado. Que tudo não passa de uma questão de sobrevivência, uma vida que só merece ser vivida no limite e de olhos bem abertos.

 

Tantas vezes, depois de horas de estimulantes e agitadas discussões sobre o mundo completamente novo que despertava para nós, e para o qual acordávamos em sobressalto, após vaguearmos pelos mais diversos assuntos, via livros, filmes ou da vida de cada um, aquela música e aquelas palavras como que nos serenavam, uma espécie de vibrante embalar esclarecedor, que, decifrando o trágico segredo que sómente intuíamos e jamais conseguíriamos expôr por palavras ditas ou escritas, nos passava essa mensagem imbuída de uma certa forma de estar, o sentir verdadeiramente as coisas, ir ao fundo de cada uma delas, encará-las bem de frente, desafiá-las, compreendê-las, e viver intensamente cada pedaço que nos seja possível aproveitar, sem dúvidas ou omissões, com toda a força do amor/ódio.

 

 

É certo que Morrison, o lado solar do grupo, sua alma autêntica, pouco tempo sobreviveu à sua própria escolha, mas Ray Manzarek, o lado lunar, mais obscuro mas essencial na sua existência, o teclista daquele orgão mágico, e principal responsável por lhe dar corpo através de notas musicais, só desapareceu esta semana, com setenta e quatro anos. Vale a pena insistir e continuar a procurar luzes na escuridão, ser os raios na tempestade.


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semtelhas @ 15:35

Qua, 14/11/12

 

Alguns estados dos EUA, na sequência da vitória de Obama, estão a fazer petições públicas onde pedem ao congresso para saírem da federação.

 

Parece que, por via da lei, tal hipótese é práticamente impossível. Ainda assim não deixa de ser significativo ser o Texas, maioritáriamente habitado por brancos votantes em MItt Romney, que se considerado enquanto país independente seria a 15ª potência económica do mundo, o precursor deste movimento. Significativo no sentido do muito demonstrativo do que representaria uma vitória do republicano, ou seja, a solidariedade para as urtigas, se não sabes nem podes, desenrásca-te.

 

Foi do somatório dos votos dos hispânicos (dentro de poucos anos a maior comunidade do país), dos negros, dos jovens e da maioria das mulheres, que resultou a vitória de Barack Obama. Ou seja dos mais desprotegidos. Eis um belo exemplo de como a união pelas vias mais corretas pode fazer a força necessária à mudança. É certo que para isso é necessário um bom candidato, bem como fazer parte de um país não muito dependente de terceiros, mas o princípio é o mesmo, a comunidades mais frágeis, juntando esforços, podem mudar o futuro.

 

Num mundo tão interdependente devido à globalização como é o de hoje, até a maior economia do mundo está refém do que se passa noutros países. Também alguns dos seus compatriotas mais poderosos não lhe irão facilitar a vida. Ninguém abre mão do que tem. Mesmo assim comungo da esperança de muitos milhões que, por esse mundo fora, veêm os EUA liderados por um negro, como eles também ele proveniente de faixas da população mais desfavorecidas, o farol para a mudança de rumo que todos os dias grita por tudo quanto é via de comunicação.

 

Lembrar que há pouco mais de meio século os ascendentes do presidente dos EUA eram escravos, viviam em casas de vinte metros quadrados para uma dúzia de pessoas, trabalhavam de sol a sol, e só encontravam consolo a cantar a música que lhes corria no sangue herdado dos seus antepassados africanos, faz acreditar que tudo é possível.

 

 

 

 

 


 
 

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semtelhas @ 11:51

Qui, 27/09/12

Um dos mais profícuos tempos da arte.

 

Apesar de me parecer que em cada uma das suas facetas, pintura, literatura e música, podermos encontrar períodos mais ricos (o Impressionismo ou a literatura do séc XX, por exemplo), o romantismo terá sido porventura, no seu conjunto, o mais pujante período de criação, do ponto de vista qualitativo no que a estas três formas de arte diz respeito.

 

No caso da pintura há dois marcos do romantismo que também são referidos como dignos de figurar ao lado dos melhores, Delacroix e Turner. Apreciar duas obras destes pintores, Liberdade Guiando o Povo, do primeiro, e Mar em Tempestade do segundo, ajudam a explicar porquê.

 

 

 

Na literatura autores como Stendhal, Balzac, Camilo ou Vitor Hugo, falam por si. A ingenuidade, pureza e arrebatamento própria deste movimento artístico é particularmente notável nessa colossal e intemporal obra que é, Os Miseráveis de Vitor Hugo.

 

 

 

É na música que o romantismo tem o seu período mais importante. Bastará nomear Beethoven, Wagner, Tchaikovsky, Liszt, Chopin ou Brahms, só para lembrar alguns, para se perceber a grandiosidade que a música atingiu, em qualidade e quantidade naqueles anos. Recentemente tive a oportunidade de, pela primeira vez, ouvir a 4ª sinfonia de Brahms, que me parece espelhar na perfeição o espiríto daquela época.

 

 

 


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semtelhas @ 12:29

Seg, 27/08/12

 

Provávelmente não existe explicação etimológica para esta palavra, mas se pensarmos em três Amstrong, Neil, Lance e Louis, a palavra "forte" parece não estar ali por acaso.

 

Terá sido a minha primeira, e uma das raras "diretas". Com dez anos e vivida juntamente com o meu pai numa muito quente noite de julho de 1969. Foi com enorme entusiasmo que assistimos aquelas horas que antecederam e o momento em que Neil Amstrong pisou o solo lunar. Consciente do que tal passo representava para a humanidade, se não do ponto de vista cientifíco, seguramente do político, foi o meu pai o responsável por me ter aguentado firme até às seis da manhã, ou coisa parecida. Num dos momentos altos da guerra fria, discutia-se a liderança mundial entre os EUA e a União Soviética que, haviam alguns anos, tinha sido pioneira na conquista do espaço ao colocar, pela primeira vez, um ser vivo a orbitar a Terra ( a célebre cadela Laika). Por cá vivia-se a esperança de uma abertura ao mundo, que o acidente de Salazar havia possibilitado, e de que aquele momento era paradigma. Portanto um tempo de mudanças, de esperança, ainda muito longe do cinismo que hoje impera. Para além disso tratava-se de uma missão nunca realizada e, por isso, ninguém sabia ao certo o que ía acontecer. Lembro-me perfeitamente de quando vimos as primeiras imagens lunares, procurarmos ávidamente pequenos extraterrestres a espreitar algures por trás das pedras ou a surgir da poeira. Não aconteceu, mas não deixou de ser profundamente emocionante, depois de horas de dúvidas e hesitações, ver aquele senhor aos saltos naquela mesma lua que eu nos dias anteriores tão atentamente tinha perscrutado, e nos seguintes havia de vigiar ou sonhadoramente admirar.

 

 

 

Tinha (tenho?) uma enorme admiração pelo homem. Não é qualquer um que vence o cancro e depois ganha sete voltas à França em bicicleta. Acompanhei algumas etapas e aquilo cansava só de ver! A maneira como ele arrancava por ali acima, naquelas estradas dos Pirinéus e dos Alpes, deixando como que parados todos os adversários era desumana. Mais novo tinha visto coisas parecidas, protagonizas especialmente por Eddy Mercks, também por Luís Ocana, mas aquilo era demais. Infelizmente, e a confirmar-se o que se diz, era mesmo desumano por ser batota. Já há muito se fala que Lance Amstrong foi o percursor das transfusões de sangue totais, única forma de contornar a questão do doping. O problema, eventualmente estará mesmo aí, ao tempo dos factos aquela situação não estaria identificada como ilegal. A dúvida subsiste. Ainda assim ficam algumas certezas: trata-se de uma pessoa fora do comum, de uma força de vontade inquebrantável, e que esta problemática, a par de outras semelhantes,  nomeadamente da engenharia genética e da ética, ou falta dela, associadas, está longe de beneficiar de uma legislação esclarecedora. Também é verdade que será quase como querer acompanhar um comboio em andamento correndo ao seu lado, mas algo terá que ser feito.

 

De Louis Amstrong só coisas boas. Pioneiro de um certo jazz, idolatrado por muitos, amado pelos seus pares, único no estilo como tocava trompete e sobretudo possuídor de uma voz inconfundível, talvez aquela que mais "alma" transmitia, cumpriu sem mácula a via sacra dos negros daqueles tempos, tornando-se o ícone que todos conhecemos. Música, cinema, artes plásticas, intervenção politica e cívica, tudo a grande nível. Um verdadeiro herói. Para além do hino ao amor que representa o seu, literal e musical wonderful world, acho os duetos com Ella Fitzgerald autênticas e intemporais obras primas.

 


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semtelhas @ 13:43

Qua, 15/08/12

Religiosas, amorosas, clubísticas, politícas...

 

Anos a fio lá íam à Senhora da Saúde, nos Carvalhos. Em cumprimento de uma promessa feita aquando de um problema de saúde de infância da minha mãe. Esta brincando com a dela, minha avó, é desta que vamos a pé? Parece que estou a vê-la, virada para o altissímo, à semelhança do que fazia com uma das cinco filhas na volta do talho, arremessando o desgraçado do bife contra os azulejos da parede da cozinha, isto é duro como cornos! leva-o para trás e diz ao Neca que pago carne tenra. Talvez algo mais comedida, quando prometi não disse se ía a pé, de autocarro ou de comboio! Todos nos ríamos. Sempre pragmática só interrompeu a viagem anual quando deixou de se poder deslocar.

 

Promessas de amor eterno são quase tantas quanto as respetivas, e mais umas quantas, traições. Algumas bem célebres. Estou a lembrar-me da Carmen, a de Sevilha. Quem podia acreditar que aquilo não ía ser para sempre? Bastaram umas quantas horas e um formoso, charmoso, garboso, fogoso, e outros osos toureiro, para que alguém se sentisse com os ditos enfeitado. Esta pecadora acabou depressa e mal, o que é raro. Se a coisa se generalizasse a população diminuíria drásticamente.

 

Eu não queria...mas tenho que referir aquele clube que todos os anos promete este mundo e o outro, e depois é o que se sabe. Nos últimos vinte anos ganhou três campeonatos, dos que realmente contam, enquanto os outros, os tais que andam sempre pelos cantitos das primeiras páginas, esmagados pelas gigantescas parangonas a anúnciar preocupante diarreia do supermagnifíco ultragalático candidato a suplente, ou a megafabo(u)lástica maior contratação da história, ganharam catorze! Curiosa e muifelizmente neste caso, o crime do não cumprimento parece compensar. Gostosos mistérios.

 

Aos politícos é que ninguém ganha! São tantos e tão eloquentes os exemplos das facadas nas costas do prometido por essa galdéria promessa, que me vou ficar por uma das mais recentes. Quando alguém disse que o malvado do Sócrates ía meter-nos a mão no bolso via subsídio de natal, foi ver o nosso atual primeiro, indignar-se veementemente e, perante as câmaras da televisão clamar, são sagrados os direitos adquiridos, ai de quem não os respeite, nunca ninguém batera tão fundo!, etc., etc., isto só porque se constou! E não é que decorridos dois ou três meses o homem passou olímpicamente por cima de tudo isso!!!? e ainda muito mais? Têm costas largas as alegadas "surpresas" perante a dita "situação real". Diz-se que, por vezes, os fins justificam os meios, mas havia necessidade de mentir tão descaradamente? Quem assim é capaz de o fazer não semeia fundas dúvidas aquando de futuras promessas? Ou já vale tudo menos tirar olhos?

 

De promessas está o inferno cheio, reza o povo e comprova-o a realidade. É como diz aquela canção italiana, parole, parole, parole...

 


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semtelhas @ 14:24

Ter, 14/08/12

Os espermatozoides a nadar

 

Os brasileiros a sonhar

 

Os submarinos a emergir

 

A economia a cair

 

O desemprego a aumentar

 

Os universitários a delirar

 

A Telma a justificar

 

O Pimenta a exagerar

 

A Grécia a sobreviver

 

O Irão a esconder

 

Os espanhóis a desesperar

 

Os americanos a arriscar

 

O Benfica  a inventar

 

O Porto a ganhar

 

O Mourinho a crescer

 

Lá fora a chover 

 

Aqui...para poder respirar,

 

o 2º concerto de Rachmaninoff a tocar

 

 


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"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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