semtelhas @ 14:38

Qua, 22/10/14

 

Gosto de percorrer aquela rua devagar. Única por perto que mantém alguns pedaços de pinhal entre as vivendas antigas, também algumas recentes, uma delas de arquitetura minimalista, toda orientada para o sul e para o sol, a vasta parede para ali virada é constituída quase exclusivamente por vidro e aço, creio tratar-se de uma daquelas casas ditas inteligentes. Mas são as mais velhas que dominam e mais me encantam, sobretudo uma delas, plena de madeiras, telhado tipo nórdico na inclinação exagerada para o clima destes lados, onde sobressaem duas janelitas das quais imagino ser possível ver o mar a uns dois quilómetros. A parte da frente, para sul, está quase completamente coberta de era e buganvílias de várias cores.

Mais ou menos a meio, a subir ligeiramente, reparo num automóvel que se aproximava estranhamente da minha faixa de rodagem. Seguia devagar pelo que tive tempo para me prevenir. Desgovernado e aparentemente sem ninguém ao volante, acabou por se imobilizar suavemente contra um muro, do meu lado e a escassa meia dúzia de metros de mim que entretanto parara. Abri a porta do lado do passageiro, o acesso à do condutor estava impedido, e vejo uma mulher de idade avançada parcialmente deitada sobre o banco da frente, daqueles inteiriços que dão para três pessoas à vontade, vermelho escuro e beje nas laterais e divisórias, a condizer com o imenso tablier de madeira brilhante, e o um enorme vistoso guiador com a pequena manete de velocidades logo ali ao alcance dos dedos, quase sem necessidade dele tirar as mãos para engatar as velocídades, habitual naqueles Mercedes antigos. O ambiente estava saturado por Channel N5, de acordo com a apresentação da senhora, profusamente maquilhada e usando roupas apropriadas para um qualquer chique evento noturno. Mantinha-se inclinada sobre o seu cotovelo direito, em estado de semiconsciência e murmurava qualquer coisa. Ajudei-a a deitar-se no que me acompanhou facilitando a manobra e abrindo um pouco os olhos. Ainda não teria decorrido um minuto disse-me, deve ter sido uma queda de tensão, saí ali de cima, do dezassete, não sei se fechei o portão. E levantou um pouco uma mão, extremamente magra e plena de manchas acastanhadas mas onde dominavam umas belas unhas, onde gritavam minúsculos motivos em cores vivas e diferentes para cada uma delas, na qual segurava aquilo que me pareceu um comando de abertura e fecho de portas.

Foram já várias as vezes que me apercebi da presença por aqueles lados de indivíduos de aspeto duvidoso, sózinhos e em pequenos grupos, na expectativa de uma oportunidade para qualquer assalto o que, dada a a natureza do lugar, se afigura perigosamente provável. Foi essa a razão porque depois de fechar cuidadosamente o meu carro com o intuito de rápidamente voltar, e de ter recolhido a sumptuosa bomba na garagem do nº 17, que efetivamente estava escancarada, quer o portão exterior para o pequeno jardim frontal, quer o da garagem própriamente dita mais ao fundo, mantinha a máxima atenção, enquanto segurava a velha senhora que tão dócilmente totalmente se entregou nas minhas mãos. Tirou um molho de chaves das profundezas de uma bela carteira que, curiosamente, nada tinha a haver com a restante indumentária, de grandes dimensões e mais adequada ao dia a dia, e entrámos num amplo hall, ricamente mobililado, que fazia adivinhar o que se seguiu, um vasto salão com uma magnifíca vista para o frondoso jardim traseiro, imediatamente depois de uma piscina onde boiavam inumeras folhas de outono. Ajudei-a a deitar-se num dos rechonchudos sofás que transpiravam conforto e perguntei-lhe se queria que contactasse alguém. Fez-me um sinal para me sentar e, num fio de voz, pediu-me, espere só um bocadinho se faz favor, falámos já, e fechou os olhos. Estava eu a passear os olhos por tudo o que me rodeava, móveis sólidos mas agradávelmente baixos, nada opressivos, num castanho claro, poucos artefactos em cima mas invariávelmente elegantes, uma ou outra fotografia, e nas paredes três quadros de paisagens que áquela distância resultavam lindíssimos e se adequavam perfeitamente a todo o resto, quando ouço um ruído que chegava algures do andar de cima. Vigiei a mulher que se abandonara ao descanso e parecia dormir, e dirigi-me à escadaria que se apresentava igualmente belíssima em madeira de cor semelhante à dos móveis, em meio caracol, degraus largos, que me conduziram, super alerta, estaria algum meliante escondido lá em cima? ao andar superior. Imperava um silêncio aterrador até me aproximar de uma porta encostada, havia já passado por um quarto de dormir recentemente abandonado, provávelmente da mulher e aguardando a visita de alguém para o arrumar pois reinava a desordem, de onde deslizava uma espécie de ronronar. Espreitei, a persiana parcialmente aberta permitia ver razoávelmente, e deparei com uma mulher ainda jovem, trinta e tais?, dormindo profunda e tranquilamente, barriga para baixo, bonito rosto virado na minha direção onde sobressaíam as sobrancelhas fortes, e os lábios cheios. Estava agarrada à almofada, semicoberta por um lençol branco, fino, que deixava destapada uma perna muito morena e em excelente forma até às cuecas pretas sobre uma das nádegas, e a quase totalidade do tronco de onde brotava, esmagada contra o colchão, uma mama de tamanho generoso, extremamente branca e excitante dado o contraste com a restante pele escura.

  


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"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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