Li um destes dias, algures, alguns sociólogos a concordarem, cada um abordando a questão por um ângulo diferente, que o suposto aumento de socialização via internet é, em muitos sentidos, uma falácia. Explicavam desde logo que socializar implica numa troca de ideias franca e aberta e todos concluiram que tal não é possível, ou no mínimo é muito díficil sem um face a face, à volta de uma mesa, que o facto das pessoas não estarem à frente umas das outras, ou de pura e simplesmente não se conhecerem, torna a mensagem permissiva no sentido da resposta fácil, sem esforço da tentativa conciliatória, de compreender o outro e, por outro lado, um tanto em contradição com esta ideia, estando as pessoas numa rede social à vista de todos, sentem-se inibidas, e até receosas, de manifestarem as suas opiniões mais sinceras.
Outra aspeto desta verdadeira mina de ouro para alguns que é pôr quase todos a, supostamente, falarem uns com os outros, sim porque na verdade trata-se muito mais de cada um falar para se ouvir a si próprio ou, sem qualquer respeito pela opinião alheia, atirar com a sua, é o do anonimato e de como é utilizado pela esmagadora maioria desses internautas, para insultar, ameaçar, etc., etc.. Se quando é o caso de sítios públicos muitos deles já optaram por esconderem os comentários deixando ao critério de cada um a eles aceder ou não, é certo que também os há que os mantiveram abertos o que diz muito da natureza desses pasquins, já nas páginas pessoais o risco de se levar com tudo e mais alguma coisa em cima é total.
Ora acontece que, neste como em quase todos os outros casos do género, o risco é diretamente proporcional à exposição e, muito mais importante, à forma como essa exposição é expressa. Se está mais ou menos provado como, afinal de contas, pelas redes sociais aquilo que se faz é tudo menos socializar, pelo menos de uma maneira saudável, imagine-se o que é quando, após se publicar um autoretrato detalhado e tendo a profissão de ter que ajuízar o desempenho de outrém, pública e notóriamente, ainda por cima implicando sentimentos tão irracionais como os que a paixão suscita, logo furiosamente escrutinado, se cai no erro, independentemente de o ter feito, ou não, propositadamente. Como é óbvio, nessas circunstâncias, não se pode ser melhor alvo para os mais ferozes ataques.
Poder-se-á portanto pôr a questão, e põe-se, da bondade deste sistema, do tipo de legitimidade que alguns, sob o manto da anonímia ou não, têm de exprimirem opiniões de caráter violento ou insultuoso, mesmo que pensem lhes assista alguma razão no sentido de eles próprios ou alguém, ou alguma coisa a eles ligada, terem sido objetiva e comprovadamente prejudicados. Diria que, primeiro, competirá a todos e a qualquer um, agir de acordo com o maior respeito que os outros lhes devem merecer e, uma vez cumprido esse pressuposto essencial, se a pessoa, ou entidade em causa ainda se sente no direito de se queixar é para isso que existem, infelizmente pouco eficazes mas é o que temos, os tribunais. Quanto aos anónimos mal intencionados devem ter o que merecem, a indiferença. Tudo o resto passa pela inalianável liberdade das pessoas se exporem ou não até porque, como diz o povo, quem não quer ser lobo não lhe veste a pele.