A gente ouve o Cavaco sistemáticamente, desde há décadas, a negar responsabilidades em tudo e mais alguma coisa se estas derem para o torto, como agora no caso BES, a afastar-se da imagem de político, quando não tem feito outra coisa, afrontar descaradamente todos aqueles que não são da sua área ideológica, seja em questões políticopartidárias, economicofinanceiras, ou, bem demonstrativo do seu caráter, culturais. Contribuiu decisivamente, mais do que qualquer outro, naquilo que é a triste manutenção do país entre os piores da União Europeia, queixa-se vergonhosamente da sua situação economicofinanceira pessoal, quando a maioria da população se sacrifica como nunca depois do 25 de Abril. Enfim tem sido tudo menos uma pessoa de postura e princípios equilibrados enquanto dita, e suposta, principal figura do estado.
Pouco depois de Anibal calhou-nos em sorte outro personagem, Paulo Portas, finalmente a admitir que quer crescer a qualquer preço, que mais não tem feito que o propiciar da manutenção de uma espécie de não fazer nem sair de cima, possibilitando a existência de sucessivos governos marcados sobretudo por práticas de curtoprazo, políticas de ameaça apregoadas de salvação nacional, que, fruto da criação de uma circunstância de aparente esforço nacional conjunto, não passam de paninhos quentes que muito têm contríbuido para o aprofundamento das desigualdades da sociedade, porque sábia e astuciosamente aproveitadas nesse sentido. Ninguém como PP tem demonstrado tanta capacidade para passear no arame da notariedade política nacional. Sempre à beira do abismo, nunca lhe faltou a arte e o engenho para defender o interesses de quem verdadeiramente representa, recorrendo sem quaisquer escrúpulos à ingenuidade e ignorância de um eleitorado mais idoso e menos urbano, onde mandam a lavoura e as feiras do Paulinho.
Independentemente, e apesar, destas duas tristes figuras ás quais a nossa democracia tanto deve o seu endémico estado de fragilidade, o país avançou e, não obstante ainda longe das médias europeias também muito pelas nossas idiossincrasias enquanto povo, qualquer semelhança entre o que é viver hoje em Portugal e o era há quarenta anos atrás é pura coincidência. Infelizmente subsistem algumas bolsas de resistência a esta notável evolução, para além, evidentemente, da política. É o caso do mundo do futebol quando da sua área pública se trata. Enquanto alguns clubes, muito em particular o Porto, mas também o Benfica, têm acompanhado, e daí terem colhido os respetivos frutos, a autêntica revolução que, para bem e para o mal, abalou aquele desporto, as entidades públicas a ele ligadas continuam dependentes das vedetas que vão surgindo enquanto, recorrentemente, escolhem para as liderar não gente competente e profissional, mas quem tenha perfil para continuar a subreptíciamente alimentar os tachos e tachinhos do costume. E lá voltámos à escola do Cavaco e do Paulinho. Quando desistirá esta gente de nos salazarar?