Não há dia algum em que não sejamos sistemáticamente atingidos pelas mais diversas formas de condescendência, menorização, desdenho, falsa benevolência ou, numa palavra, subestimados. Tal como a própria palavra diz, a coisa começa logo por ser uma falta de estima por quem é objeto dessa atitude, mas é muito mais que isso até porque, além de funcionar como boomerang, na maior parte dos casos de facto enraíza numa mal disfarçada baixa autoestima.
Ándamos metade da vida a tentar demonstrar a nós próprios, pensando fazê-lo exclusivamente aos outros, que somos extremamente espertos, muito mais que eles, para quando já pouco interessa, quando práticamente todas as decisões verdadeiramente importantes para definir a vida que vamos viver estão tomadas e são irreversíveis, só então descobrir-mos que a arte, a inteligência, ou o truque, depende dos casos, está em fazer-lhes crer que, eles sim!, é que são espertos.
Claro que sempre houve e haverá uma minoria que descobre esta estratégia bem jovem, ainda a tempo de a transformar em sucesso, a diferença fundamental está nas razões porque a descobriram, e o que dessa descoberta vão fazer. Normalmente essa espécie de iluminação precoce nasce de uma capacidade intriseca, mas também pode resultar do convivío intenso e desde tenra idade com pessoas naturalmente humildes, com uma propensão maior para ouvir que falar.
É o meio ambiente onde crescem, e a educação que recebem, onde estes afortunados vão definir o que fazem com essa mais valia. Para o bem e para o mal o segredo é sempre o mesmo, não subestimar o outro. Essa atitude, além de que baixar a guarda do adversário, levando-o a uma exposição que o pode fragilizar, obriga a grande atentividade de quem opta pela dúvida sistemática, logo à necessidade de convocar todas as suas forças para uma contenda da qual sempre se espera o pior.
Como todas as regras também esta tem as suas exceções e, por vezes, rarissímas, alguns já bem entrados na idade ainda vão a tempo de corrigir o rumo. Muito mais, quase todos, quando a descobrem ficam cínicamente a assistir na primeira fila à ingénuidade reinante. Outros ainda, mas poucos, são aqueles que, não sendo já útil para eles tentam partilhá-la. Infelizmente só para concluírem da enorme dificuldade da sua aplicação, salvando-se algumas honrosas exceções que confirmam esta Regra de Ouro.