John Updike
Escolher um tema candente, fazer uma pesquisa eficaz sobre os assuntos focados para se saber do que se está falar, e colocar em pano de fundo uma história bem contada, onde todos, ou a maioria dos aspetos relacionados com o que mais mexe com as pessoas, como o amor, o sexo, o casamento, a morte, a juventude, etc., e aí está um romance com tudo para vencer no mercado, ou seja, vender. Neste tipo de livros a sensação que fica ao lê-los é sempre a mesma, uma certa apetência para continuar, a curiosidade estimulada, mas, simultâneamente, o sentir que falta alguma coisa. Aquilo está obviamente bem feito, laboriosamente construído, mas sente-se-lhe a ausência de alma e o excesso de calculismo. Uma leitura em que a informação é muita, e portanto aprende-se bastante sobre as coisas e as pessoas, mas à qual falta a sinceridade e o entusiasmo que torna determinadas obras marcantes, inesquecíveis. É assim o livro "O Terrorista", o vigésimo tal de John Updike, no que a profissionalismo diz respeito em tudo semelhante ao vibrante "Brasil", ou à esclarecedora e elaborada saga do Coelho.
Pinto da Costa
A visita de Pinto da Costa a Sócrates na prisão de Évora, parecendo enigmática, foi um ato absolutamente paradigmático da inteligência e da sabedoria ao serviço de um objetivo, neste caso o nobre propósito de defender aquilo em que se acredita. Em pessoas como PC nunca uma atitude é inocente, e com esta, de uma penada, algo muito comum entre pessoas deste calibre, ganhou em várias frentes. Ao ser recebido por um exprimeiro ministro naquela situação tão debilitada, emparceirando ao lado de pessoas tão notáveis como Mário Soares ou Guterres, só para mencionar duas delas que terão merecido igual destaque mediático, colocou-se ao seu nível. Depois, tendo ele próprio sido alvo de um processo judicial que semeou dúvidas e maldicência à sua volta, apesar de, tal como agora com Sócrates, haver a sensação que o maior pecado cometido terá sido o de não fazer parte de uma reconhecida maioria protegida, consegue uma espécie de branqueamento desse seu passado supostamente menos recomendável. Finalmente, e não menos importante, dá-se o caso da vítima visitada ser um ilustre benfiquista, não tanto pelas demonstrações públicas de amor ao clube, a sua posição necessáriamente equidistante também não o permitia, mas mais pela repetida assunção da condição de benfiquista, o que traz ao visitante uma aura de bom desportista, de fairplay, a que sem dúvida nem o mais ferrenho dos benfiquistas terá ficado alheio.
Paulo Portas
Pode-se amar ou odiar mas nunca ficar indiferente ao personagem. É impressionante como ao longo de boa parte do pós 25 de Abril de 74 Paulo Portas, sempre ligado a escassas minorias, teve a arte e o engenho de se manter na crista da onda. Como se tudo tivesse sido meticulosamente previsto, desde o seu aparecimento no "Independente" enquanto exímio escriba, nomeadamente para zurzir sobre os detentores do poder, onde, por um lado, se deu a conhecer a uma elite dominante que logo ali viu a possibilidade de um precioso defensor dos seus interesses, porque um dos seus mas com uma infinita capacidade de dissimulação, e por outro foi conquistando uma certa aura de defensor dos desfavorecidos que tão útil lhe tem sido até hoje e, muito provávelmente, será no futuro. São já vários os casos em que recaíram sobre ele desconfianças relativamente a procedimentos eventualmente ilegais. Não obstante em qualquer deles a evidência gritar o seu maior ou menor envolvimento, a verdade é que sempre se safou! O último destes casos é mesmo de bradar aos céus se se tiver em conta o que se passou na Alemanha com quem vendeu os submarinos, acontece porém que certas castas pairam acima de todas as dúvidas. Mas seria injusto não lhe reconhecer a luminosa inteligência ao serviço de uma carreira de um profissionalismo inigualável.