DESILUSÃO
A confirmar-se a pressentida deriva de Rui Moreira daquele que parecia ser o seu caminho, a intransigente defesa do Porto, do norte, e de uma ideia de descentralização no essencial, independente, e independentemente dos habituais e inumeros interesses que sempre rodeiam quem chega onde ele chegou, então, mais que um problema para a cidade, trata-se de uma enorme desilusão.
É que a vitória de alguém apartidário na segunda cidade do país parecia, e muito provávelmente é, um sinal de amadurecimento democrático do eleitorado, condição essencial para que acabe, ou pelo menos díminua, o clientlismo que, como uma camisa de forças, impede o saudável e equilibrado desenvolvimento do país desde sempre dele refém.
Que Rui Moreira é um homem acima de tudo calculista, talvez fruto de um passado em que ele próprio e a sua família foram vítimas de perseguição dada a sua condição social, eventualmente também natureza aristocrática, talvez porque seja assim mesmo, não terá escapado a muitos, mas a essa característica parecia juntar seriedade e obstinação positiva.
Também nunca conseguiu esconder aquele que porventura será o seu maior pecado, a vaidade. Oxalá o que parece não venha a ser, que apesar de todos os indícios, tudo não passe da necessidade de recuar um passo para avançar dois. Seria triste constatar a perda de uma tão grande oportunidade, não só para o Porto mas sobretudo pelo exemplo nacional que o seu efeito poderia produzir.
ESPERANÇA
Nestes tempos em que o mundo parece viver um ciclo negativo, daqueles em que tudo é posto em causa, quando mesmo o aparentemente mais puro e positivo têm telhados de vidro, ou pés de barro, onde a cada sinal de melhoria na consciencialização das sociedades, na necessidade imperativa dos homens se entenderem na prossecução de uma vida melhor para todos, único caminho possível para uma existência minímamente tranquila, sucede algo que pura e simplesmente deita tudo por terra, eis que, por uma vez, o poder, na sua imensa força, é posto em toda a sua magnitude ao serviço do bem, e surge mais um sopro de esperança.
Quando há uns tempos, no Paquistão, uma menina precoce, lutando pela sua liberdade lado a lado com as suas colegas e amigas, igualmente vitímas da sua condição feminina num país dominado pelo terror, terrorista mas também oficial, foi atingida por um tiro na cabeça que pretendia calá-la e dela fazer um exemplo, aconteceu, tem vindo a acontecer, algo que demonstra bem o lado solar desta sociedade de consumo em que tantos, tanto, e por tão acertadas razões, têm acusado de verdadeiramente responsável por grande parte dos seus malefícios.
Desde esse trágico momento, Malala, imediatamente transportada para Birmingham onde, no mesmo hospital para o qual são levados os soldados britânicos provenientes daquela zona de conflitos no mundo, durante várias semanas esteve entre a morte e a vida, foi sujeita a várias e complexas intervenções cirúrgicas na cabeça, acabou por ser salva. Nos meses que se seguiram a preocupação foi recuperar, quanto possível, o bonito rosto que tinha antes da brutal agressão dado a bala por ele ter penetrado. Depois, e até hoje, dia em que recebeu o Nobel da Paz, foi, é vê-la, radiosamente iluminada por uma enorme força interior, cada dia mais bonita, também graças à faceta boa, maravilhosa, da ciência, a espalhar por todo o lado a mensagem que um dia tentaram interromper, mais não conseguindo que torná-la global.