semtelhas @ 12:57

Sex, 26/09/14

 

Acredito que quando se chega ao dealbar de velhice se tem básicamente dois caminhos por que optar, ou alinhar na comum amargura, mescla de autopiedade e experiência, avançando penosamente até ao fim, ou fazer um uso positivo de tudo o que se aprendeu ao longo dos anos, e tornar o último troço da estrada da vida uma manifestação prática de sábia aceitação do fim de algo que de não se conhece continuidade. Os mais recentes filmes de Woody Allen indicam uma crescente tendência para a última escolha, funcionando quase como uma espécie de redenção, própria e aconselhada.

 

Magia ao Luar é uma pequena obra-prima. Pequena só porque assume para si mesma a importância da humildade da dúvida, ao contrário das arrogantes e falsamente grandiloquentes certezas. Desde um texto a raiar a perfeição, quer do ponto de vista do conteúdo quer da sua construção literária; dito por um naipe de atores, nomeadamente o protagonista no qual Allen se projeta, de uma forma corretíssima, para além das interpretações intocáveis; dotado de um guarda roupa e de cenários absolutamente excepcionais. Tudo fruto de um cuidado inultrapassável exigido por um realizador que cada ano que passa mais refina a absoluta excelência do seu cinema, tornando cada obra cada vez mais um objeto de puro prazer.

 

O mais comevedor, não obstante o altíssimo nível de tudo o resto, é pressentir desde há dois ou três filmes a este parte, mas neste muito em particular, a tranquila luta interior deste autêntico génio, no seu percurso desde um racionalismo aparentemente irredutível, paradigma do anticristo nietzscheziano, até ao aflorar de uma consciência, tão magnificamente retratada na preciosidade que é este filme, de que a vida só vale a pena e é minimamente suportável, enquanto sentida como algo de positivo, se imbuída de uma boa dose de espaço dado à ilusão, ao sonho, ou à crença. Notável o que a dura realidade e a passagem do tempo podem fazer a uma tão inteligente e criativa mente!

 


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"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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