Como é possível ao fim de tanto tempo os portugueses manterem-se reféns de um centralismo profundamente estúpido, que constrange e atrasa, que exibe com crescente arrogância, impunemente e com um poder aparentemente imparável, que vem transformando a zona de Lisboa e arredores na única verdadeiramente comparável ao espaço europeu onde estamos inseridos, sendo o resto uma paisagem cada vez mais distante?
Será que a óbvia, porque contínuamente comprovada, superior capacidade em quase tudo que importa estar precisamente na província, como jocosamente lhe chamam umas vezes, ou no norte, outras, espécie de longínquo e atrasado feudo que difícilmente suportam apesar de em boa parte dele viverem, não deveria ser suficiente para alterar este estado das coisas? Não será evidente para todos que a aposta nos mais capazes rende incomparávelmente mais e melhores frutos?
Custará muito perceber que é precisamente na permanência da incompetência e da vaidade entre quem nos governa, a que todos parecem render-se uma vez chegados aqueles lados cujos ares como que despoletam o que de pior cada um tem, que reside o endémico e tão interrogado atraso, recorrente e serôdiamente incompreendido e motivo de incontáveis análises?
Que raio de fatalidade é esta que faz um país inteiro pousar sobre aquelas paragens como que um manso espanto de boi a olhar para um palácio? Algo distante, inatìngivel, que disfarçadamente distraído admira, só muito raramente questionadas, e pelo contrário antes merecedoras da inconfessável esperança de um dia delas vir a fazer parte?
É chocante verificar as diferenças a todos os níveis, desde os mais básicos como o rendimento disponível, até à oferta cultural que tem vindo a diminuir drásticamente fora do espaço lisboeta. Nem o Porto se salva de uma desertificação de recursos e ideias que vem avançando sem dó nem piedade. Tudo o que chega de fora e é sugado de dentro, é pouco para continuar a alimentar um monstro que seca tudo em volta.
Dir-se-á que falamos de contentes, que devíamos olhar para os que estão bem pior. Pois...só eles têm direito a olhar para cima. O discurso do costume que tem levado milhares a desistirem e, impotentes, fugirem daqui para fora, condenando o país a um envelhecimento precoce e a um futuro, enquanto país independente, mais que duvidoso, e a uma qualquer anexação.
Por muito que custe aos mais patrioteiros, se calhar só então, num regresso ao conceito de nação seguramente não exclusivo ao território português, excetuando os raros casos que já superaram este problema adotando inteligentes processos de regionalização ou autonomia, apelando ao que as populações têm de muito comum entre si na mais profícua e harmoniosa construção da sociedade, finalmente se fará a justiça da equidade, essência nos melhores e sempre ausente nos prepotentes.
Um exemplo porventura dos menos importantes de tudo isto, o branqueamento do FC do Porto na festa do centenário da FPF enquanto clube com mais troféus internos e externos, do presidente de clube do mundo mais vitorioso na História do futebol, e do primeiro treinador a dar um troféu internacional a Portugal, é no entanto paradigmático pela verdade intrínseca de cada um que qualquer paixão confere a quem dela faz eco, e confirma a natureza desta gente, medíocre, escroque, e ressabiada.