Era uma vez um país extraordináriamente bonito, situado exatamente no meio de uma cruz traçada no planisfério, na sua versão mais correta desde que se conhece o mundo tal qual ele é, e tendo em conta o espaço onde nasceu a cultura desde sempre mais determinante. Como se tivesse sido escolhido por qualquer deus, para um qualquer formidável destino, o qual, como tudo à face da Terra existente, tem um ponto fraco, neste caso os seus indígenas.
Ao longo dos seus quase mil anos segundo a atual denominação, são incontáveis os casos de automenorização, de mediocridade, de pieguice, de manha, e, acima de tudo, autêntico desporto nacional, como estas palavras aliás bem o confirmam, de refinado e sistemático exercício de escárnio e maldizer, para o provar aí estão as tão célebres quanto antigas canções. Parece ser algo intrínseco e inultrapassável e que não escolhe idades, credos ou condição social.
Os exemplos são muitos e em todas as áreas e circunstâncias, não faltando um número assustador de pessoas e instituições que, desde sempre, sentiram a necessidade de abandonar este jardim à beira mar plantado para irem pregar para outras freguesias, menos infetadas por esse terrível mal que é a inveja, para mostrarem o que valem e serem devidamente reconhecidas. Desde as elites até aos comuns trabalhadores todos brilham se longe do olhar do familiar, do amigo de sempre, do vizinho da terra...
O futebol será das menos importantes áreas a sofrer deste efeito sobre a sociedade. O FC do Porto é só mais um exemplo e, tal como outros, provoca e está sujeito aos mais inesperados equívocos. Exemplo raro de excelência reconhecida internacionalmente, como por ali é normal quem lá chega depara com condições de trabalho e profissionalismo que só reforça as expectativas criadas. Treinadores e jogadores ficam encantados e preparam-se para os mais altos voos. Fazem-se planos, criam-se expectativas.
Acontecem porém várias disfunções nascidas algures entre o sonho e a dura realidade. Nem a capacidade económica do clube está de acordo com a sua fama, nem os seus associados e simpatizantes muito em particular, pela evidência das suas manifestações, os que se deslocam à sala de exames que é o Dragão, têm a cultura futebolística, desportiva e geral à altura, nem, talvez o mais decisivo, o país dominante está para ser desmascarado por quem quer que tente elevar a cabeça acima do mediano. Como uma fatalidade, por vezes milagrosamente ultrapassada, a epidemia propaga-se.
É óbvio o esforço de um treinador a tentar pôr uma equipa a jogar um futebol próprio para superjogadores, acreditando que a estrutura do clube o merece e suporta, mas na verdade servido por jogadores só acima da média, ainda por cima muito jovens, custos oblige, atacados e logo infetados ao primeiro erro por uma massa popular impreparada para tais gourmets, brutalmente perseguido por todo um diabólico e secular sistema prómediocridade, tão bem consubstânciado por estes dias na paixão pela poderosa indústria multimilionária que é o futebol, resultando tudo isto num desgaste brutal. Até quando?