Há pessoas que não enganam ninguém. Possuidoras de um estilo tão definido, tão genuíno, cujas marcas são de tal ordem distintivas que não deixam dúvidas. Há um desses espécimes no atual governo. Sempre que o vejo a primeira coisa que me lembro é do pai, espécie de primeira versão do ilustre mas ainda mais para o grosso, na verdadeira aceção do termo. O filho já beneficiou doutros polimentos pelo que os requintes de malvadez saem menos rudes mas nada diminuídos, bem pelo contrário, em intenção ou cinismo. Do progenitor, para além naturalmente do "berço de ouro" há muito conquistado, iniciado à força de trabalho nos campos agrícolas do norte por um longínquo pioneiro no séc XVIII, e da referida probervial agressiva eloquência, herdou aquele aspeto de meialeca com ar de buldogue furioso, aparentemente sempre pronto a ferrar a perigosa dentadura em quem se atrever enfrentá-lo.
Ultimamente tem esta simpática criatura vindo a desdobrar-se em intervenções onde destila ódio enquanto verte o fel que inapelávelmente lhe inunda a alma. O seu momento alto e verdadeiramente definidor do seu carater mais vingativo que predador, vá-se lá saber porquê, ou se calhar é mais um dos descendentes das célebres "vítimas" do 25 de Abril de 1974, esse horror!, atualmente boa parte do elenco governativo, mais um desses rebentos nascidos de valorosos lutadores e autênticos self made men que os malvados comunas tão injustamente perseguiram, terá sido a sua inesquecível intervenção em câmara lenta na Assembleia da República. Supostamente imitando um saudoso anterior ministro das finanças, mais não conseguiu que afirmar-se realmente patético, causando genuína vergonha alheia até nos seus mais figadais amigos. Acontece ainda não ter percebido que o verdadeiro sentido de humor jamais estará ao alcance daquele que é essencialmente sarcástico, arrogante, vaidoso e presunçoso, para o conseguir tinha que haver ali nem que fosse um pingo de humildade, ou, à falta desta, de real talento.
Espécie de versão barata, seguramente falhada por isso jamais experimentada enquanto tal, do seu chefe partidário, falta-lhe o charme sedutor e sobretudo sobra-lhe a aquela desgraçada irreprímível tentação para "mostrar os dentes", que ainda por cima estão longe dos alvíssimos brilhos dos do chefe, esfalfa-se em estafadas prosas onde ou se contradiz, ou afirma o óbvio com o ênfase de quem acabara de descobrir a roda. Mais uma vez alguém lhe diga que até para mentir, especialmente com os dentes todos, lá está! é preciso saber. Este já nem os amigos ricos convence, está toda gente mortinha que o homem recolha a um qualquer Conselho de Admnistração, o mais escondido possível no alto de uma torre de marfim que seguramente o espera. Felizmente, aqui como em tudo o resto na vida, até do mais repugnante se pode extrair uma qualquer lição, e neste caso é a possibilidade que é dada a todas as pessoas, precisamente ao contrário do que ele, ridículo como insiste ser afirma relativamente às taxas e taxinhas, de verem o que seria levar já não só com tecnocratas ressabiados como atualmente, mas ainda por cima desastradamente incontinentes no seu desejo de amarfanhar. Que os deuses nos salvem desta bicharada!