semtelhas @ 11:40

Dom, 18/01/15

 

Livros como "Mistérios", de Knut Hamsun, ou o filme "Ciclo Interrompido", são obras que deixam na memória um gosto amargodoce.

 

O sonho, o idealismo, a ingenuidade esclarecida, são uma maneira de estar, de viver, própria dos poetas, alguém que consegue vislumbrar nas mais simples coisas e factos da vida, a beleza que encerram em si mesmos ainda que normalmente escape aos sentidos do comum dos mortais. Uma existência dominada pela prevalência da ilusão, da permanente procura do belo, acarreta consigo o pesado fardo de uma realidade imposta, difícil de aceitar, não raras vezes insuportável. Aquilo que hoje é conhecido como doença bipolar, afinal o que é que por estes dias não é rotulado? levando até à pergunta, onde está a normalidade? é que, no limite, tudo é catalogável logo específico, no passado terá sido responsável por boa parte dos grandes escritores conhecidos, muito especialmente de poetas. Que tipo de estados de alma podem transbordar da visão de um dia cinzento de nevoeiro cerrado, por entre o qual se conseguem lobrigar as árvores ao fundo, tristes, completamente despidas de folhas ou cor, se momentos antes a televisão nos informou que dali a duas horas o sol vai brilhar? É da luta entre este frio pragmatismo de quase todos, e um homem com natural tendência para o lirismo, sempre elaborando historias mais ou menos fantásticas, adornando o que o rodeia, para logo cair no cruel precipício dos factos, particularmente na descrença dos outros e as tristes consequências, que trata esta autêntica viagem por dentro da alma de um sonhador.

 

 

 

Ciclo Interrompido é um filme a um tempo crú, brutal, mas também profundamente redentor. Incrivelmente atual, ou talvez nem tanto, afinal o assunto em causa é desde sempre transversal à humanidade. Qual o peso da fé,  no sentido da crença absoluta na existência do espírito para além do corpo, na vida das pessoas? Que tipo de efeitos positivos ou negativos lhes pode trazer? Se por um lado pode servir para aliviar o sofrimento, por outro é maquiavélicamente utilizada para enganar milhões. Tratando-se de um assunto ao qual é impossível escapar sem fazer uma opção, ou se nega algo culpando a dúvida, ou, com ela como justificação se acredita, também neste caso não se sai incólume. Recorrendo a um caso limite,a doença de um filho, assiste-se à luta entre a fé na continuidade, única capaz de possibilitar a sobrevivência, e um olhar crítico, dito esclarecido, sobre a condição humana, irredutível porque incapaz de ceder à suposta realidade. Uma experiência marcante.

 

 

 

Onde estas duas magníficas obras se cruzam é precisamente na sua conclusão: ficam para contar os pragmáticos, no ultimo momento a um pequeno passo da impossível conversão, mas inapelávelmente e para sempre orfãos dos idealistas. No fim a terrível pergunta do costume, valerá a pena viver assim?

 

 


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"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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