Os livros de Saul Bellow invariavelmente relatam a saga de um homem senão amargurado pelo menos em dúvida, à procura de encontrar e seu caminho num percurso sinuoso, cheio de altos e baixos, pleno de escolhos. Apesar de tudo entre "Morrem Mais De Mágoa", "Ravelstein", "Henderson, O Rei da Chuva", e "Herzog", escolheria sempre este "As Aventuras de Augie March" como a mais eloquente demonstração desse facto. É que percorrendo a vida de um rapaz para o qual a existência não foi fácil, através de descrições plenas de realismo, dando mostras de uma cultura insuperável em construções sistemáticas de maravilhosas metáforas da vida, transportando o leitor aos mais variados e interessantes cenários, dando mostras de um profundo conhecimento da alma humana em todas as suas vertentes, consegue esse quase milagre só possível nas mais geniais obras, remeter-nos ao mais intrínseco de nós mesmos, como que levar-nos a olharmo-nos a um enorme espelho porque ali, naquelas palavras, também nós estamos tão incrivelmente bem retratados.
E se a alguma conclusão se pode chegar é da inevitabilidade de independentemente de quase tudo, e o quase não passa de um mero exercício de humildade metódica..., ninguém consegue realmente escapar à sua natureza. A vida vai-se encarregando de nos ir colocando à frente uma série de hipóteses, na verdade práticamente comuns a todos no seu potencial de dar saídas para o "sucesso", as ditas oportunidades que depois cada um consoante a sua circunstância objetiva vai resolvendo, sendo que no fim acabamos sempre por fazer exatamente aquilo a que uma inexplicável pulsão, espécie de força interior, nos vai complir. Na verdade o que a experiência, ou a sabedoria, fazem, mais não é que nos ensinar a melhor encontrar esse caminho, que ao longo da maior parte da vida procuramos incessante e inconscientemente. O segredo do sucesso, leia-se da minimização do inevitável sofrimento, estará na capacidade de antecipar uma clarivedência que ou nunca chega ou é alcançada demasiado tarde.