semtelhas @ 13:48

Seg, 18/05/15

 

Das receitas! Aquilo que garante o futuro mas que também, em determinadas circunstâncias, faz "tirar o pé", estar com a cabeça noutro lugar, diminuir o empenho. O FC do Porto acaba de ganhar por muitos de avanço o campeonato dos milhões, e ainda faltarão concretizar mais umas quantas transferências milionárias, situação recorrente nas últimas décadas. Empresa de excelência como é por quase todos reconhecida, salvo as comprensíveis e habituais "azias", seria expectável que a gestão do clube elegesse a sustentabilidade primeiro e só depois o maior sucesso desportivo possível, como objetivo central. Ao longo de há já muitos anos tem sido capaz de fazer coincidir com aquela um sem número de vitórias intrínsecamente a ela ligadas, e a pergunta que muitos fazem é qual o peso específico de cada uma destas facetas no indesmentível enorme sucesso, a racionalidade da gestão ou a paixão clubísta? Dir-se -á que o segredo estará na capacidade de equilibrar as duas faces desta mesma moeda que é o clube e que se pretende manter altamente cotada.

 

Este fim de semana houve uma acontecimento que é verdadeiramente paradigmático daquela que é a escolha, e que não é de agora, de quem dirige o FCP, a dispensa de Reinaldo Ventura, um atleta que nunca conheceu a cor de outra camisola desde há mais de 26 anos. Apesar de nunca assumido publicamente por ambas as partes é óbvio que, mais uma vez e sempre, falaram mais alto os interesses do clube. Fazendo parte de uma equipa notóriamente cansada e sobretudo saturada de títulos, dez consecutivos!, era evidente para todos a urgente necessidade de a renovar. RV sai juntamente com o treinador e aquilo a que se pode chamar a espinha dorsal da equipa. Assim se constroem as grandes empresas, pondo o seu superior interesse acima de tudo. Não obstante o importante peso da variável paixão nesta complicada equação, o que aqui está em causa, mais que a sobrevivência circunstância largamente ultrapassada, é manter o clube ao mais alto nível possível atendendo à nossa realidade.

 

O FC do Porto existe num ambiente claramente atrasado se comparado com os seus oponentes externos, e por isso bastante hostil, relativamente às águas nas quais navega. Seja dado o tecido social que o rodeia, nomeadamente a sua massa associativa e simpatizante que tem muita dificuldade em vislumbrar o essencial, seja pelo tudo que daí advém, um país centralista que protege mais ou menos descaradamente os poderes instituídos, muito em particular aqueles que os mantêm nas suas confortáveis cadeiras, como é o escandaloso caso do sistemático e generalizado apoio ao maior clube do mundo em número de sócios, e repare-se como só este facto, em si mesmo, revela o tipo de "monstro" a combater. Claro que há sempre razões desportivas, falhas cometidas, opções discutíveis, mas é preciso perceber a realidade em que nos movemos, e que ninguém, ou quase, consegue o melhor de dois mundos.

 

Um olhar atento para o rosto dos jogadores e treinadores das grandes equipas quando falam para o público revela uma verdade incontornável, o futebol de alta competição hoje joga-se muito mais pelos milhões que pelos corações. É sobre esse "pano de fundo" que é preciso saber viver, muito em especial quando as regras do jogo em cima do tabuleiro em que nos movimentamos estão viciadas, em particular internamente mas também, ainda que muito menos, externamente, como todos ainda este ano puderam comprovar. Se se tiver em conta tudo isto o FC do Porto anda há decadas a fazer milagres, quase sempre contra tudo e contra todos, e o segredo tem sido sempre o mesmo, pôr o clube acima de tudo. Assistir aos olhares e discursos vazios de treinadores e jogadores multimilionários é cada vez mais comum e forçosamente aceitável, só um pode ganhar desportivamente, já manter os cofres cheios é uma outra conversa. Talvez o FC de Barcelona ainda consiga contrariar esta lógica quando recorre a treinadores ´"da casa", quiçá os únicos capazes de uma exigência mais dura que a simples comprensão da atitude distante de milionários, de uma classe de onde saíram na maioria dos casos, e graças às especificidades do meio em que se movimenta. Salvaguardando com inteligência e frontalidade as enormes e devidas distâncias, quem sabe não está ali um bom exemplo a seguir?


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"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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