Costuma dizer-se, junta-te aos bons serás melhor, junta-te aos maus serás pior, o que, como em todas as generalizações pode levar a alguns erros. É que também se diz, o homem é a sua circunstância, o que se aparentemente parece confirmar a primeira máxima, por outro lado pode querer dizer que nem sempre seguir o nosso heroi resulta, depende de muitas outras coisas.
É mais ou menos óbvio que Paulo Bento tem em Scolari o seu heroi e, até certo ponto, mentor. É todo um estilo mais ou menos grunho, que elege a união do grupo acima de quase tudo e a qualquer preço. Muitas vezes o inimigo é encontrado na conveniente exclusão do dito grupo de alguém que sendo indubitávelmente craque, não o é o suficiente para que a sua ausência provoque uma revolução, precisamente pelas razões que mais interessam a quem decide, neste caso ao selecionador, ou seja muito talento mas também alguma arrogância e muita beligerância. Scolari utilizou Romário como espécie de cola unificadora contra o vedetismo em 2002 com o Brasil, e Vitor Baía em 2004 com Portugal. Curiosamente Paulo Bento tentou fazer o mesmo este ano com aquele que foi um dos minino de Scolari, Quaresma. Depois é o tentar implementar uma postura guerreira de nós contra todos.
Ora acontece que entre o Brasil e Portugal, para o bem e para o mal, em termos futebolísticos como em quase todo o resto, há, literal e metafóricamente, um enorme oceano a separar-nos. Recorrendo agora a um exercício académico Brasil vs Portugal, quando chega a hora da verdade são onze contra onze seguindo as mesmas regras, no entanto por trás de cada seleção há realidades completamente distintas, sobre todos os pontos de vista. O brasileiro tem uma enorme oferta de jogadores que lhe permite fazer uma gestão claramente mais fácil que o português. Um, ao longo dos dois anos que dura a fase classificação para as fases finais tem uma tal quantidade de jogadores por onde escolher, que os eleitos se sentem agradecidos por o terem sido e demonstram-no em campo. Com o outro acontece quase o oposto, ele é que tem que estar agradecido aos jogadores por estes se disponibilizarem para a seleção, tal é a escassez de verdadeiros craques.
Neste cenário que sentido faz eleger como principal arma o espiríto de grupo, quando aquilo que se tem é um conjunto de primas donas milionárias e crescentemente pressionadas pelos patrões que lhes pagam as mansões, carrões e as vistosas namoradas e penteados para exibirem na praça? Haverá sempre a saída através de um supercraque, devidamente operacional à data do evento, que mande naquilo, Eusébio ou Ronaldo, ou ter uma superequipa por trás, FC Porto 2004, para duplicar na seleção, caso contrário o líder tem que ser o selecionador. Para um país como o Brasil basta um sargento congregador de vontades e minimamente disciplinador, o resto a infindável mão-de-obra faz, mas para Portugal, à falta das tais condições fatalmente especiais, é indispensável alguém competente em toda a linha. Ou a federação abre os cordões à bolsa e vai buscar um estrangeiro ou então vamos ter muito que esperar pelo Mourinho.
Manter o esforçado Paulo Bento, atendendo às circunstâncias uma espécie de contrafação de feira de Scolari, a patéticamente juntar duas dúzias de convencidos novosricaços, ainda por cima todos partidos, e sobretudo convencidos que insubstituíveis, deve pôr um sorriso de carinho paternal naquela cara de bébé do sargentão, mas a pergunta que lhe paira na alma deve ser, e o burro sou eu?