semtelhas @ 14:39

Seg, 27/04/15

 

As várias formas de manifestação artística, no sentido mais largo, ou menos exigente do termo, e a literatura em particular, tendem a proporcionar básicamente dois resultados completamente distintos, um consiste em tirar-nos de nós mesmos, distrair-nos através da criação de uma abstração que, na maior parte dos casos, tem por objetivo que durante aquele espaço temporal o sujeito esqueça a realidade. Outro bem diferente é aquele que força a uma instrospeção, que tenta remeter-nos a nós mesmos, que tal como o primeiro recorrendo ao poder da abstração, o faz procurando utilizar a obra não como objeto de evasão da realidade, mas como forma de a questionar, normalmente via metáforas, ao contrário do primeiro caso onde o processo tem muito mais a haver com a plasticidade do relato. O policial e a poesia serão, porventura, os exemplos mais eloquentes das duas formas de expressão.

 

Seria ridículo qualificá-las sobre o ponto de vista qualitativo enquanto comparação, mas não deixa de ser verdade que cada uma delas provoca efeitos diferentes sobre quem a elas se sujeita e, logo, diferentes reações. Em ambas as hipóteses há verdadeiros génios a praticá-las, mas as consequências daí resultantes são bastante diversas quando não mesmo opostas. Claro que em qualquer dos casos existem exceções, mas a verdade é que a probabilidade de encontrar um poeta milionário é infinitamente inferior a que isso aconteça com um bem sucedido escritor de policiais.

 

É nas causas e respetivos efeitos do fenómeno que reside o essencial da questão, ou, numa das perspectivas, o segredo do negócio. É sabido desde a ancestral Atenas que a poucos interessa um exercício permanente de questionamento sobre o "estado das coisas", pois tal atitude provoca a contínua insatisfação e o consecutivo pôr em causa a ordem estabelecida. A pergunta pertinente é se tal se deve ao facto ao inconsciente mas indelével conhecimento, comum a todos, que e só assim será possível viver em sociedade, talvez o tal bom senso equititativamente e insuperávelmente bem dítribuído de que falava Kant, ou à demonstração da verdadeira natureza essencialmente "animal" dos homens tal como defendia Nietzsche?

 

O que se tem como certo é que a essa tal maioria à qual parece interessar manter-se num estado, ainda que tantas vezes consciente, mais ou menos "vegetativo" de preguiça mental, uma ignorância forçada mas sobretudo permitida, correspondem duas minorias que, funcionando como espécie de contraponto, se vão revezando ao longo da História na incansável luta entre si para obter o domínio da vastidão do "rebanho". A uma correspondem os detentores do poder material, aquele que confere o direito a TER, curiosamente também ela defensora da ignorância mas aqui com a ferocidade e pelos motivos de todos conhecidos, e onde mais ou menos orgulhosa ou dissimuladamente se incluem os, digamos ainda que "perigosamente" generalizando, os artistas de sucesso, tantas vezes ditos do regime. A outra, esta seguramente uma imensa minoria, se se tiver em conta a sua enorme influência mesmo sem os recursos fundamentais para espalhar a mensagem ao dispôr dos poderosos, que esbraceja todos os dias contra a manutenção da ignorância e todas as suas consequências, nas fileiras da qual heroicamente desbravam esse árduo, e quase invariávelmente árido, terreno a caminho do esclarecimento, os sonhadores, os utópicos e tudo o mais que lhes chamam mas que na verdade, quantas vezes já fora do seu tempo, moldam o SER. Uma dialética primordial em que cada um desempenha o seu papel.


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"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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