Mais do que lobos é o que são uma parte desta bicharada dos mercados financeiros, independentemente das funções que desempenham. Espertos, manhosos, sem piedade, mesmo pelos seus pares, devoram tudo entre gargalhadas cínicas. É o retrato fantástico que nos dá O Lobo de Wall Street. Claro que só alguns são viciados em drogas e sexo, ou excessivos em toda a linha, desde o brilhantismo à loucura, como no excecional retrato que Leonardo DiCaprio faz de um antigo corretor da Bolsa de Nova Iorque, que resolveu contar a sua estória num livro. Mas o que é comum a todos, como desgraçadamente o comprovam os dias que correm, é o desprezo absoluto por aqueles aos quais chamam falhados, discurso recorrente durante todo o filme como justificação para as mais mirabolantes vigarices de alto quilate. Subliminar, ou nem por isso, está presente uma certa desculpabilização face à necessidade intrínseca que é suposto alguns destes espécimes terem em porem em prática a sua formidável arte de vender, no que são irresístiveis e algo que lhes é impossível evitar, bem como, por outro lado, alguma frustração, mesmo inveja, pela vida de sonho levada por estas bestas, presentes até naqueles mais responsáveis em lutar contra estes autênticos cancros da nossa sociedade. Não se sabe se resulta da transcrição fiel do livro escrito pelo artista, ou se é uma opção de Martin Scorsese, em qualquer dos casos denuncia uma espécie de lavagem da imagem de um crápula do pior que nem sequer encontra justificação no glamour tantas vezes presente no bandido. É que no caso destes animais, pura e simplesmente deviam ser tirados de circulação.