semtelhas @ 12:24

Ter, 09/12/14

 

A pergunta era, Deus tem futuro?, o que à partida cheira logo a manobra publicitária, portanto manipuladora de opinião, o que não admira dado tratar-se do título de um livro, depois não resiste à mais simples abordagem da questão, o que se questiona se tem futuro implica que tenha tido um passado, ora reduzir a ideia de Deus a um espaço temporal é, desde logo, minimizar, para não dizer envenenar toda a discussão à volta de um tema em que a simples tentativa de o limitar, seja em que sentido for, é negar a sua génese.

 

É compreensível que só o facto de tentar criar um debate a propósito do assunto, dada a sua natureza com tanto de abrangente quanto de intemporal, exiga um esforço de balização, sob pena de não se chegar a conclusão nenhuma, simplesmente acontece que neste caso o ponto de chegada é mesmo esse, inconclusivo. Daí a permanente sensação de esterilidade que sempre pairou no ar durante toda a discussão, não obstante se estar na presença de pessoas óbviamente bem formadas e informadas, e empenhadas em defender o seu ponto de vista.

 

Mais que as forças sobraram as fraquezas. Tanto os representantes das três religiões monoteístas, catolícismo, islamismo e judaísmo, quer os arautos da ciência e da arte, quer o defensor do ateísmo, acabaram por nunca verdadeiramente libertar o que lhes ía na alma. É sabido como estas questões tão credoras de paixão fácilmente resvalam para caminhos menos políticamente corretos, talvez por isso tanta contenção, mas a verdade é que debater assim, salvarguardando o caso do ateu, resulta numa espécie de paz podre.

 

Os religiosos, ainda que subliminarmente, mesmo o caso do católico, único a sublinhar ser o mais importante o facto de o essencial é sermos todos humanos, pois para além da evidência esta é uma das principais regras mais presentes na Bíblia, preocuparam-se sobretudo em defender as suas causas, literalmente no caso do islâmico, espécie de mau da fita, mas também o judeu, incansável em citações judaicas, tendo o católico recorrido à habitual linguagem conciliadora que os caracteriza, e também vem descaracterizando por tantas vezes incumprida.

 

Por outro lado quer o cientista quer o artista ficaram longe do paradigma das fações que ali representavam. Um cientista demasiado doce, e um artista supernarcisista, passaram ideias muito frágeis do papel que a ciência e a arte têm tido na ideia de Deus entre os homens. Se o primeiro suavizou em excesso a forma como a ciência, via as suas derivadas tecnocracia e tecnologia têm desumanizado as sociedades, o segundo caiu na insustentável afirmação, porque impossivel ser absolutamente sincera, da autosuficiência e total realização do verdadeiro artista perante a sua obra.

 

O responsável por uma associação de ateus portuguesa, acabou por ser o mais genuíno, transparente nos seus sentimentos, deitando por terra o apesar de tudo dali quase ausente discurso pacificador das religiões, face ás inumeras atrocidades por elas cometidas. Ainda assim também ele com fraco desempenho, traído por uma amargura de quem luta por um pragmatismo impraticável. E é precisamente daqui que se pode partir para o inevitável inconclusivo fim de conversa, como fazer luz num espaço e num tempo desconhecidos? Ninguém é dono da ética nem tem o direito de negar a fé.

 

Deus será porventura uma ideia a que nos agarrámos para combater o medo face à dor e a um suposto fim, para uns, e um embuste para justificar um monte de outras coisas para outros, mas também eles fatalmente temerosos face aos abismos do sofrimento, e de um dito fim que, algo intrínsecamente incompreensível, reclamam definitivo. Que ao menos sejamos honestos na assunção da dúvida.

 

 


direto ao assunto: ,

De
  (moderado)
Nome

Url

Email

Guardar Dados?

Este Blog tem comentários moderados

(moderado)
Ainda não tem um Blog no SAPO? Crie já um. É grátis.

Comentário

Máximo de 4300 caracteres



Copiar caracteres

 



"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
procurar
 
comentários recentes
Pedro Proença como presidente da Liga de Clubes er...
Este mercado de transferências de futebol tem sido...
O Benfica está mesmo confiante! Ou isso ou o campe...
Goste-se ou não, Pinto da Costa é um nome que fica...
A relação entre Florentino Perez e Ronaldo já deve...
tmn - meo - PT"Os pôdres do Zé Zeinal"https://6haz...
A azia de Blatter deve ser mais que muita, ninguém...
experiências
2018:

 J F M A M J J A S O N D


2017:

 J F M A M J J A S O N D


2016:

 J F M A M J J A S O N D


2015:

 J F M A M J J A S O N D


2014:

 J F M A M J J A S O N D


2013:

 J F M A M J J A S O N D


2012:

 J F M A M J J A S O N D


subscrever feeds
mais sobre mim