A de que fala o livro Ferrugem Americana refere-se aos EUA, mas podia ser portuguesa ou de um qualquer outro país ocidental. É impressionante como a leitura deste livro nos remete imediatamente para o nosso próprio país, o tempo da vacas gordas, dos subsídios milionários para milionários e para gente sem escrúpulos, das autoestradas desertas feitas para servir os interesses próprios e de amigos, a corrupção e a subsequente queda da economia. Menos de uma geração depois abrandam os subsídios para os ricos e novosricos e chegam, agora de miséria, os destinados aos exércitos de desempregados, vítimas de um crescimento económico acelerado e estruturado não para o bem comum, mas sim para sacar o mais possível no mais curto espaço da tempo, o lema era então e, mais tarde ou mais cedo, voltará a ser, burros são os que não aproveitam a maré, se não mamas-te, mamasses!
Este é o diagnóstico feito pelo autor, mas é nas consequências que mais se detém. Na decadência das cidades industriais, um monte de ferrugem abandonado, que deram milhões a meia dúzia e resultam em multidões sem trabalho nem futuro, a viver da segurança social arrancada a ferros a um estado que os espreme e maltrata, fisíca, mas sobretudo moralmente apelidando-os de preguiçosos, incapazes, parasitas. Uma sociedade extremada de ricos cada vez mais ricos e cada vez mais pobres e indigentes, o que se vai refletir desgraçadamente na vivência de toda essa gente sob todas as formas de indignidade, a violência, a doença, o uso incontrolável de drogas ilicítas, etc, etc.. Uma espiral cujo fim está longe mas para o qual o escritor dá uma hipótese positiva, assente naquela que sempre foi, é, e será, a única arma dos mais frágeis e aquilo que verdadeiramente os distingue dos ditos poderosos, a solidariedade.