É recorrente a ideia da possibilidade de que, sem que a imensa maioria das pessoas tenha disso conhecimento, seres de outros planetas já circulem entre nós há muito tempo, sendo que se quase todos vêem nisso uma ameaça à humanidade outros existem que daí só extraem perguntas. Subjacente a esta reflexão está sempre a imparável evolução dos computadores, venha ela de onde vier, e o resultante domínio destes sobre os homens.
É neste contexto que filmes como "Ex Machina" se movem, sendo que neste caso em particular não é preciso sequer tirar os pés da Terra para refletir sobre, e questionar, uma série de coisas.
Onde conduzirá esta desalmada corrida à alta tecnologia para além de proporcionar um crescente conforto? É sabido que cada vez é menos necessário sair de casa para obter tudo o que é indispensável à sobrevivência. E o que dizer sobre o papel das redes sociais, que crescentemente substituem o contacto fisíco por uma espécie de afeto plastificado? O que pensamos todos ao ver um número cada vez maior de gente que, por esse mundo fora, usa máscaras quando sai à rua para se proteger das múltiplas doenças que por aí vagueiam à solta depois da derrota dos antibióticos?
Aparentemente a solidão é o futuro e, com ela, chegarão toda uma série de novos problemas, especialmente a total ausência do imprecindível verdadeiro afeto, aos quais nem os "melhores" de nós escaparão. O domínio global estará nas mãos de quem melhor saiba gerir a informação, e esta será consubstânciada, em última análise, através da Inteligência Artificial. O que nos dá este filme é uma perspetiva, mais ou menos assustadora, do momento em que as máquinas herdarão dos homens não o seu melhor mas o seu pior, o instinto de sobrevivência, ou talvez mais adequadamente para máquinas, de preservação. Nesse abismo de procura da perfeição estética dotada de consciência, perder-se-á pelo caminho qualquer resquício de sentimento autêntico, sobrando exclusivamente o interesse em permanecer existindo, ou ,se se quiser, uma má consciência.
Serve este magnífico exercício sobretudo como metáfora sobre os dias que correm porque não é difícil aí aplicá-lo, tirando os aspetos mais ficcionados, quase literalmente. É que esses lunáticos, espécie de génios do mal, já andam por aí, e, o pior, é que estão disfarçados de salvadores, merecem de quase todos a maior das admirações, ganham milhões e, por isso, o seu poder aumenta exponencialmente.