Para além das dialéticas dos filósofos e da sua evoluçao, Heraclito, Sofistas, Heguel e Marx com a sua tese, antítese, sintese e consequente solução do problema em análise, talvez a infinita luta entre o homem pragmático e o homem idealista constitua o verdadeiro motor da humanidade.
São inumeras as histórias ao longo dos séculos que relatam essa realidade, e uma das formas mais eloquentes de a demonstrar será, eventualmente, o descobrir e desvendar as vidas de uma família notável, desde um momento primordial, a presença de um pioneiro, e das gerações seguintes até ao seu declínio.
Foi o que fez Philippe Mayer no seu livro "O Filho", cujo título é uma espécie de sinal daquilo em que as coisas se vão tornar, para o bem e para o mal. Para o efeito não poderia haver melhor cenário que os EUA dos primeiros colonos, maioritáriamente emigrantes da velha Europa.
Depois é a saga épica, contada ao pormenor, nomeadamente nos seus aspetos mais violentos ou sórdidos, desde o durissímo confronto com os indígenas, os famosos "indios", a implantação nas vastas terras após e durante o enorme extermínio de gente, fauna e flora, particularmente de enormes ranchos onde manadas de gado a perder de vista eram dominadas por cowboys, até ao advento do aparecimento do petróleo.
Um texto pleno de conhecimento objetivo sobre as matérias que expõe, bem como do razoávelmente profundo sobre a natureza humana, que proporciona uma longa viagem por entre as venturas e desventuras de uma família que nasce e cresce básicamente "à lei da bala", ainda que, paralelamente, os sempre presentes mas escassos laivos de "sonhador" humanismo, acabem como que por temperar, ou pelo menos tentá-lo, uma ascensão feita essencialmente à custa de constantes atropelos à dignidade humana.
Uma formidável demonstração magistralmente romanceada daquilo que, afinal de contas, é a História da humanidade. Como sempre acontece no final de grandes obras, também aqui sobra uma nostalgia de abandonar aqueles personagens que, no fundo, tão bem conhemos, em que tão bem nos reconhecemos, e, neste caso, sobretudo pela confirmação da existência de como que um fatalismo que nunca abandona os homens, que sempre os deixa longe da utópica perfeição, sequer perto da desejada felicidade.