Não no sentido de pousar no chão mas de, literalmente, assumir a condição de um ser da Terra como todos os outros seres vivos, de com eles partilhar desse mistério que é a vida e fazê-lo no espaço, tendo o planeta a boiar no mar desconhecido que é o fundo negro pejado de pontinhos luminosos a que se chama universo. O filme Gravidade.
O resto é uma sucessão de passagens pelo essencial da Vida: a fragilidade do planeta, tão pequeno e belo quanto precioso, ali, na imensidão do infinito; a importância das pequenas coisas da vida terrena, o amor, a amizade, a solidariedade, a esperança, o não desistir. Depois a beleza de algumas metáforas: a cápsula como útero protetor quando Bullock se despe e se coloca na posição fetal; quando nada tal qual a sereia inicial, para uma praia paradisíaca que aborda levantando-se lentamente quais répteis primordiais, são os primeiros passos da humanidade, porque, nessa pessoa, em cada pessoa, reside todo o universo que nos é familiar; os sons de um cão que ladra e de um bébé que chora ou ri como linguagem comum à raça terrestre, e sinónimo de fraternidade.
O filme, ele próprio, como passo nesse sentido salvifíco, toda a competição desenfreada até no espaço, onde, também lá, o lixo que mata prolifera, mas é superado pelo sentido de humanidade, presente nos símbolos através do percurso rumo à Terramãe, a música country dos EUA, a vodka russa e o buda chinês, a redenção em que todos participam. Pode não adiantar grande coisa, mas é melhor que as já gastas e pseudoalarmantes ameaças do género, vêm aí os russos!