semtelhas @ 14:22

Sex, 08/05/15

 

 

É só mais um exemplo entre tantos tão mais importantes da incapacidade que apesar de mais de 40 anos de democracia permanece, a dificuldade em nos organizarmos recorrendo à procura de consensos, seja por via instituições públicas ou associativismo privado, circunstância que poderá dizer-se radicar no "orgulhosamente sós" de má memória, mas esta teoria não resiste a uma análise mais profunda, na verdade Salazar não foi causa mas efeito, ainda que, diga-se, com requintes de malvadez. Trata-se do facto do Hospital de S. João se queixar de se deitarem para o lixo milhões em o plasma sanguíneo, sobejante das dádivas de sangue, para depois o Estado o ir comprar no exterior a preços elevados. Passadas algumas horas o Instituto Português do Sangue negou tudo, que havia uma estratégia em desenvolvimento, e vários outros hospitais vieram dizer que não havia necessidade de gastar dinheiro, que até o têm em stock e com abundância. Se não fosse um caso sério daria para rir desta incrível espécie de diálogo de surdos, independentemente de onde esteja a verdade. Infelizmente por detrás desta atitude trabalha o habitual medo de "dar o flanco", de falhar, a preocupação de não dar trunfos ao "adversário", um jogo baixo em que poucos agem francamente porque, bem lá no fundo, fervilha uma insegurança atávica com origem na mediocridade reinante, e consubstânciada em sentimentos mesquinhos como a inveja, que vão minando a sociedade e não nos permitem sair desta semimiséria fisíca e moral.

 

Quando comparado com os países do clube de que faz parte, nomeadamente os do norte da Europa, Portugal é visto quase como uma republica terceiromundista, algures na América do Sul ou na recôndita Ásia. Acontece porém haverem consideráveis diferenças, e não é especialmente por aquelas que normalmente são consideradas as boas razões, os célebres rácios de desenvolvimento, alguns dos quais podemos exibir com "orgulho ocidental". Antes consistem sobretudo no níveis da chamada felicidade, onde os apelidados de subdesenvolvidos apresentam dados de fazer inveja aos poderosos do mundo, quanto mais aos que se agarram às suas fraldas...Impõem-se então as perguntas, como é possível? Porquê? E no caso específico de Portugal será que essa realidade lhe acaba por conferir um estatuto de país desorganizado mas feliz, à semelhança dos tais por esse mundo fora? Infelizmente, aparte as questões pelas quais as pessoas não tiveram qualquer responsabilidade, e as que tiveram não foram no bom sentido, como são por exemplo a geografia e respetivo clima que nos salvam, mais parece que herdamos o pior de dois mundos, basta pensar que somos a população que mais medicamentos consome.

 

Foi lendo "O Jogo do Mundo" de Júlio Cortazar, que comecei a melhor decifrar este enigma, é que no nosso tipo de sociedade somos escravos de uma geometria feita de rotinas, em toda a linha. Se num primeiro momento serve a mesma como defesa, o alimentar de um sistema que se quer produtivo afim de conduzir ao conforto e à segurança, depois torna-se viciosa, algo sem o que não se pode viver, e, ao mesmo tempo, se torna numa camisa de forças que impede de o fazer. Nas sociedades ditas mais desenvolvidas atingem-se limites absolutamente doentios, dos quais só é possível escapar via drogas ou pondo termo à vida. Se é certo que sem organização nada se consegue, não o é menos que com aquela em excesso o que se logra é um crescendo de rotinas que acabam por conduzir a uma espécie de loucura mansa, comummente aceite e até aplaudida, mas cujo fim tantas vezes se revela trágico. Ninguém suporta o "faz de conta" para sempre. Não é por isso de admirar que muitos dos mais pobres "chafurdem" felizes no meio do que chamamos miséria, enquanto tantos que tudo têm incompreensivelmente se autodestroem via drogas, ilícitas mas sobretudo lícitas, ou se atiram abaixo das pontes. É que é elevado o preço a pagar pela falta de liberdade que é viver no sociedade traçada a "régua e esquadro", em que a subverção está muito mais presente na máquina diabólica em busca do lucro, do que, como a cada minuto querem fazer crer, na luta por a desmontar tornando a existência mais próxima do que é a natureza humana.


direto ao assunto:

"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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