Há aqueles que tal como conta a lenda andam uma vida a tentarem libertar-se sem o conseguirem. Luta inglória essa de querer cortar totalmente com as raízes, nomeadamente as criadas pela relação paterna. Diz a história que tendo partido ainda novo, ao longo dos anos o rapaz foi dando notícias ao pai, sempre a mesma, que por muito que andasse ainda não encontrara o fim do reino daquele. Até que um dia, já velho de barbas brancas, enviou uma última missiva anunciando permanecer em busca desse objetivo.
Depois, entre a esmagadora maioria que se limita a aceitar o que o destino lhes oferece, distinguem-se os raros que contra ele se rebelam, e nunca negando o intrínseco, o inevitável, antes fazem da sua vida uma demonstração de inabalável força de vontade, no sentido de seguir o seu sonho, normalmente superando os progenitores para além daquilo que é evolução resultante da passagem do tempo. Tarefa tanto mais árdua quanto se os ascedentes mantiverem um perfil protetor, misto de exercício de poder e de condescendência ardilosamente disfarçada de amor.
É deste último que trata o filme "Whiplash". Magnífico retrato de um rapaz tentando afirmar-se num mundo cujas circunstâncias pareciam empurrá-lo para a descrença e o abismo. Dotado de uma natureza indomável e de um enorme talento, nega-se a qualquer tipo de cedências no imparável caminho para o sucesso, o que lhe traz antipatias e acusações de utópico, mas sobretudo da implacável condescendente mão protetora do pai, que na verdade significava a destruição da sua autoestima. Formidáveis alguns momentos, particularmente aquele em que o pai, observando-o com admiração e respeito, tem no rosto estampada a dor da derrota.