Tudo indica que, brevemente, a maior parte de nós terá que ir pregar para outra freguesia.
Impressionou-me aquela manifestação que algumas centenas de pessoas fizeram há uns dias frente ao Palácio de Belém, na tentativa de sensibilizar o Presidente da República no sentido deste minimizar os efeitos, que consideram negativos, do projeto governamental de diminuir drásticamente o número de freguesias, por via da absorção de umas por outras.
Se observado atentamente, aquele conjunto de pessoas, sendo muito heterogéneo, porque representando as mais diversas freguesias, fazia-o exibindo os diferentes símbolos mais significativos de cada uma delas, uma força comum os unia, o sentimento de grupo, a sensação de pertença a uma comunidade de pessoas que sentem ser uma certa forma de poder, que mesmo sem que consigam explicar exatamente porquê, lhes continua a dar alento para continuar a lutar dia a dia em circunstâncias cada vez mais dificeis. Tirem-nos poder de compra, obriguem-nos a deslocarmo-nos dezenas de quilómetros para irmos ao Centro de Saúde, ou condenem-nos a um crescente isolamento, mas não nos tirem o orgulho de dizer que somos de "Reduza do Meio".
Ao longo da história são incontáveis as ocasiões em que se minimizou o efeito da Cultura, neste caso de cariz mais popular. O último dos quais, entre os mais graves, resultou no mais mortífero conflito pós 2ª Guerra Mundial, fruto da forçada e artificial criação da exjugoslávia. Atualmente, sentimos dolorosamente na pele, esta penosa sobrevivência da União Europeia, porque quase exclusivamente assente em pressupostos económico-financeiros.
É realmente profundamente lamentável que os tecnocratas que nos governam, como aliás acontece por práticamente todo o nosso o mundo (salvé Obama), só à força percebam que, a longo prazo, sómente a cultura faz sentido como verdadeiro fator de união entre os povos. O problema, como bem sabemos, é que os resultados rápidos para tapar os buracos que esses mesmos senhores cavaram, nos quais outros estão a cair enquanto eles assobiam para o lado, se obtêm através desta sanha na procura de sinergias, como eles dizem, para justificar uma fuga para a frente, da qual, como é costume, serão as vitímas(?) menores.
De certeza que se pode poupar algumas verbas do Estado reduzindo o número de freguesias, portanto é forçoso fazê-lo, mas haja a sensibilidade e bom senso para preservar algumas prerrogativas que garantam a manutenção do tal sentimento de pertença, que muito alimenta a auto estima de um povo que tanto dela carece. Ao menos isso.
Resta a (fraca) consolação, que se atuarem nesta matéria, tal como em muitas outras, com os pés, vão apanhar o maior trambolhão da história de eleições livres em Portugal.