semtelhas @ 14:26

Ter, 18/12/12

 

Parece carecer de alguma legitimidade histórica falar do português, ainda assim, admitindo que quase mil anos de fronteiras tenham criado um espécime com caracteristicas bem definidas, diria que Mourinho configura um dos seus mais notáveis exemplares se visto numa perspetiva de reconhecimento pelos seus semelhantes.

Sagaz, truculento, com algum gosto pelo risco, enérgico e trabalhador na razão diretamente proporcional aos beneficíos daí retirados, com uma costela a puxar para a nostalgia, solidário, fanfarrão e vaidoso qb. Só podia ser Especial.

 

Se a isto somarmos ter tido alguma sorte no berço em que nasceu, que fez por merecer ao longo da vida até ao dia em que lhe foi dada a oportunidade de ir trabalhar para o patrão certo, reconhecido por catapultar quem por lá passa para o estrelato, assim saibam aplicar os ensinamentos e a embalagem ali adquiridos, e demonstrando uma rara capacidade de perceber o essencial do seu sucesso, ter tudo a funcionar sempre a alta rotação, uma guerra permanente contra as rotinas que resultam em conformismo, e já na bagagem muitos dos segredos do mundo do futebol, mudou-se para onde este mais brilha.

 

Manteve e reforçou o registo na exata medida em que o ego ía crescendo. Numa feliz mistura de falta de dominío do inglês e de arrojo, auto intitulou-se de special one no sítio certo para o fazer, onde a qualidade é reconhecida sem reticências. Atento aquele mundo, descobriu a "galinha dos ovos de ouro". Não se fez rogado, nem desperdiçou a oportunidade. Sem nunca prescindir dos indefetíveis (sê-lo-ão enquanto souberem quem é o chefe), rodeou-se dos melhores intérpretes e montou o circo. Sucesso. Sentindo que o feitiço se estava a quebrar forçou a  partida.

 

Em Itália, tanto caminho andado em tão pouco tempo, repetiu a receita beneficiando já da notariedade que infunde respeito e facilita certas imposições. Com algumas nuances, volta a vencer.

 

Fiel à sua regra de ouro, mesmo deixando literalmente em lágrimas metade dos adeptos do Inter, muda de ares. Nunca se sentiu tão poderoso, impôs as regras e voltou a montar a armadilha. Duas questões fundamentais começaram a criar dificuldades, ter como principal adversário talvez a melhor equipa da história do futebol, a que se juntou o facto de ter que o fazer no país com quem os portugueses cultivam mais anti-corpos. Em Espanha Mourinho nunca foi o melhor, e era precisamente lá que mais precisava de o ser. Como é normal acontecer nestas situações, um mal nunca vem só. Devia ter fugido dali enquanto era tempo e a sua estrela brilhava, mas nem o destino, sempre fiel servidor, ajudou, e, contra todas as previsões Di Matteo foi campeão europeu gorando-se assim a possibilidade dos milhões russos substituírem a indemnização espanhola. Deixou-se ficar mesmo sentindo que arriscava muito. Provávelmente conta com o prestigío entretanto adquirido como escudo contra o peso do fracasso. Oxalá tenha razão.

 

Desde que, contra tudo e contra todos, abandonou o FCP, Mourinho sabe que em dois anos seca tudo à volta, o discurso perde eficácia, tem que ir "pregar para outra freguesia". É por isso que agora, quase em desespero, faz tudo para que o Real dê o primeiro passo, faça a primeira oferta. Pela primeira vez está a sentir negativamente esse estigma que sempre temeu mas que também sempre soube utilizar a seu favor, ser português com tudo o que isso implica em termos de imagem. Em Espanha esta questão é particularmente sensível, ainda mais nestes tempos em que tanto se põe em causa o valor das pessoas enquanto espanhóis ou portugueses. Por vezes dá a sensação que o treinador português está com o freio nos dentes, já fez comparações pouco abonatórias para nuestros hermanos entre os jornalistas ingleses e os espanhóis, também relativamente aos adeptos, perguntou quem é esse?, referindo-se a um colega, e não há jogo algum em que não acuse os jogadores, habitualmente os seus grandes aliados.

 

Quando se sobe tão alto quanto Mourinho subiu, não há olhos que não o vejam. Independentemente do seu absolutamente inquestionável valor enquanto treinador de futebol, utilize o estilo que utilizar desde que sempre dentro das regras legítimas, seria muito triste que por uma qualquer incapacidade, viesse dar razão aos que lhe atribuem o sucesso por vir de onde vem, não pelas melhores qualidades, mas pelas piores, que todos conhecemos, o que parece começar a multiplicar-se por todo lado, desde logo na forma jocosa como pronunciam, el português. 


direto ao assunto:

espanhol @ 08:47

Qua, 30/01/13

 

óscar campillo madrigal.....¿el "josé antonio zarzalejos nieto" de "marca"?

"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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