Encontram-se por todos os lados mas são mais perigosas nuns que noutros.
Para quem anda por cá há algum tempo já aprendeu a distinguir quando alguém está a tentar esconder algo. Muitas vezes, diria mesmo na maior parte delas, deixámo-nos enganar por uma de duas razões, ou a caso não merece que nos incomodemos, ou pura e simplesmente nada podemos fazer para evitar que tentem fazê-lo. Há no entanto uma circunstância, pelo menos, em que é muito importante estar atentos.
Tive recentemente duas experiências diametralmente opostas relativas a tratamentos médicos. Numa delas um familiar meu foi abordado por uma enfermeira que, procurando uma veia para introduzir uma agulha, mostrou tal falta de competência e/ou sensibilidade, que só à terceira tentativa e depois de muito sofrimento (ainda hoje, quase quinze dias depois são bem visíveis as marcas deixadas pelo escarafunchanço), foi capaz de o conseguir. Durante o processo, visívelmente atrapalhada até pelas crescentes reações de dôr da vitíma, foi largando, uma série de pretensas piadas, desafiando uma sua assistente com todo o tipo de brejeirices, a qual, já habituada, ía escondendo o olhar o melhor que podia. Atónitos, desarmados por aquela atitude insólita, e sobretudo aflitos, fomos incapazes de agir, até pela nossa bem real situação de fragilidade. Não sei se a senhora estava num dia mau, mas não me pareceu a caso, tenho mesmo sérias dúvidas que seja enfermeira encartada. Talvez uma habilidosa a quem a crise deu uma oportunidade. Uma coisa é certa, a mim ou a algum dos meus, não vai ela tornar a lavrar nas veias.
Não muitos dias depois, obrigado a recorrer aos serviços de um oftamologista, deparei com um profissional verdadeiramente excecional. Direto, discreto, e afável, teve que me aplicar uma série de procedimentos que lhe exigiram uma mão absolutamente segura, nomeadamente quando teve que utilizar uma pequena agulha. Enquanto o fazia, com uma voz clara e firme que transmitia confiança, aconselhava que nada receasse, e que me mantivesse estático. Foram alguns minutos emocionalmente intensos, mas durante os quais senti que podia confiar plenamente naquele estranho que tinha à minha frente. No fim explicou-me detalhadamente o que se estava a passar, deixando-se tranquilamente interromper sempre que o questionava, e deu-me uma série de instruções para resolver o problema. Um excelente profissional.
Infelizmente, a maior parte de nós não pode escolher quem nos trata da saúde, ou da falta dela, mas, quanto a mim, quando pressentir treteiro na costa, vou logo apurar o ouvido e abrir bem os olhos, e, se fôr caso disso, reagir. Pode ser que consiga evitar males maiores.