O meu gato resolveu mudar de nome.
Realmente ontem, ou anteontem, reparei que estava muito concentrado a ver O Preço Certo, onde o gordo português com mais sucesso continua a distribuir gargalhadas e simpatia. Conta para isso com a preciosa ajuda de um speaker, o Miguel, carinhosamente tratado pelo diminuitivo e que cada vez está mais parecido com o mestre, após anos e anos a ser arrastado para a frente de faustosos cozidos à portuguesa e suculentas feijoadas. O Prince deve ter-lhe vindo à ideia por causa das inumeras vezes que ouvimos juntos o Artista, também conhecido por Vitor. O nome e aquela mania de o mudar.
Agora que está ali sentado muito direito como fim do rabo a cobrir-lhe as patas dianteiras, e a olhar-me nos intervalos de cada espremidela, compreendo quanto está certo. Na verdade a sua existência passeia entre a bonomia, boa disposição e tranquilidade com que aqueles dois simpáticos gordos contagiam todos em volta: quando desliza despreocupadamente por todo o lado, se lava durante intermináveis minutos, adoptando complicadissímas posições sobre nós ou refastelado num tapete, sonha horas seguidas a apanhar sol deitado em cima da almofada, do lado de dentro da janela, que dá para o jardim (apesar de alguns sustos quando os pássaros rasam o vidro), ou descansa de descansar esticado onde bem lhe apetece, e o verdadeiro diabrete em que se torna, qual Artista, se acha chegada a altura de lhe dár-mos alguma atenção e: vai buscar uma saca de plástico que trata de nos pousar aos pés para que a atiremos para longe, e no-la, rápida, impante e orgulhosamente devolve, resolve perseguir uma mosca, na maior parte das vezes imaginária, nem que isso represente voar por cima das nossas cabeças e aterrar sobre jarras sagradas, ou desafiar-nos ameaçando, um olhar para nós outro sobre a vítima, arranhar o quadro na parede ou o sofá que lhe está interdito ( um único!).
Confesso não ter grandes expectativas de o ver distribuir piadas por assembleias de gente simples da nossa terra, as habilidades que lhe conheço para além das habituais, aquele jeito de levantar o rabo quando lhe passámos a mão pelas costas, como que a dizer que o gato acaba ali, e a de, perscrutador, olhar sempre primeiro para um lado e depois para o outro já que não pode olhar para os dois ao mesmo tempo, são a de se recusar terminantemente a utilizar areia que considera suja, e não arredar pé de junto da taça de biscoitos quando aquela fica vazia. Agora, de repente, desatar a cantar e a dançar tal qual Prince já não digo nada... Ainda ontem o vi ensaiar!
Já estou a ver o Pintas a entrar ali naquela porta, rabo bem erguido, tudo tem limites, a olhar para um lado e só depois para o outro, e num sonoro e convicto miado, o meu novo nome é Prince, Miguelito Prince.