E, de repente, Sara Vaughan no rádio.
Há tantos anos esquecida nos confins da memória ali estava a melhor voz feminina de sempre do jazz.
Estava a passar uma faixa de um espetáculo que deu ao vivo em Monterey (1984). Em poucos segundos fui transportado para uma outra época, outra idade, outra realidade. O filme que se desenrolava à minha frente enquanto conduzia, adquiriu outras tonalidades, as atitudes e os movimentos das pessoas outros sentidos, outras motivações. O resto da viagem foi feito a levitar sustentado por aquela voz e, mais que tudo, pela interpretação que sai do fundo da alma.
São assim os grandes artistas. Tornam as coisas melhores, mais aceitáveis. Vestem a realidade com outras roupagens. Ensinam o caminho para o guarda-roupa que todos temos guardado na nossa mente, e que tem soluções para todas as ocasiões, mesmo para as mais exigentes, mais imprevisíveis, mais dificeis.
Já em casa corri para o todopoderoso youtube e mergulhei.
Abençoada esta gente que nos eleva o olhar do sujo chão lamacento, para a pureza e infinitude do céu azul.