Os desenhos animados e especialmente a banda desenhada podem ter grande influência no gosto pela leitura e, na capacidade de imaginar, processo indispensável para desenvolver o raciocínio e a concentração.
Walt Disney foi o grande mago da fantasia do meu tempo de criança. Maravilhosos filmes como a Branca de Neve e os Sete Anões, A Gata Borralheira ou A Bela Adormecida, fazem parte do imaginário de várias gerações. Desenhos animados cujos heróis eram o inteligente e matreiro coelho Pernalonga, o arreliado e trapalhão pato Duffy, o sempre muito correto Porky Pig, o Piu Piu na sua infernal capacidade de moer o juízo ao gato Silvestre, o "espináfrico" (comam legumes) Popey sempre a tentar impressionar a formosa Olivía Palito, ou um dos meus primeiros ídolos, o Superrato, qual superhomem a salvar o mundo e especialmente a amada, alegraram e iluminaram o caminho do crescimento a outras tantas. Mas foi principalmente na criação de figuras como o Pato Donald, Mickey, Pateta, Minnie, Pluto, Tio Patinhas, João Bafo de Onça, Professor Pardal, Lampadinha, Gastão, Zé Carioca, Margarida, Clarabela, Horácio, Huguinho, Zézinho e Luisinho, Maga Patalógica, Madame Min, Os Irmãos Metralha, etc.,etc.,etc., que ele se notabilizou. Cada uma destas personagens tem a sua personalidade própria resultando o conjunto num fabuloso mundo alternativo que fez, e ainda que muito menos continua a fazer parte da construção mental de milhões de crianças. Tendo por principal arma o humor, a aventura, o pouco comum, a surpresa e uma estrutura de comunicação que para além da narração, já se dividia entre o que de dizia e também o que, simultâneamente, se estava a pensar, apresentada em diferentes "balões" o que obrigava a uma formidável ginástica mental, resultava na receita ideal para manter grande atentividade. Fiz viagens plenas de sensações sobretudo lado a lado com o Mickey na sua luta contra o bandido João Bafo de Onça, na qual tinha sempre a preciosa ajuda do atrapalhado, brincalhão e desconcertante Pateta, o meu preferido.
Ainda na banda desenhada destacava-se a coleção O Falcão, da qual ainda tenho alguns números, os antigos com mais de quarenta anos. Ogan o valente viking que viajava e guerreava num belissímo barco. Kalar, em Africa numa permanente luta contra caçadores furtivos. Major Alvega, o fantàstico piloto da RAF que, durante a 2ª guerra mundial se fartou de abater "Zeros" japoneses e ainda mais Messerchitt nazis, com o seu magnifíco Spitfire. Também Mademoiselle X a corajosa agente da resistência francesa e ainda Ene 3, entrépido espião inglês. É imenso aquilo que se aprende a brincar, tirando prazer enquanto o estamos a fazer, lendo esta excelente banda desenhada que, naquele tempo, estava práticamente imune aos exageros que hoje, tantas vezes subvertem e deturpam a mensagem conduzindo-a normalmente para os caminhos do sexo frívolo ou da violência. O mercado, a concorrência, a sobrevivência, bla, bla, bla.
É óbvio que atualmente se fazem muitas coisas boas, algumas bem melhores que no passado também pela evolução das tecnologias. Sagas como o Toy Story, o Schlecker, Madagascar, ou filmes como a Dama e o Vagabundo, Pinoquio, UP ou Gru O Mal Disposto, Fantasia, ou noutro género A Noiva e o Cadáver ou O Mágico, Persepolis, e muitos mais são verdadeiras obras de arte.
A magia da banda desenhada e, muito mais importante nos dias que correm em que o audio visual lidera em absoluto, a animação, têm essa imbatível vantagem de fazerem tudo possível. Literalmente. Até se diz que, a breve prazo, os atores serão dispensáveis, também eles substituídos pelas máquinas que irão criar imagens humanas completamente verosímeis, acabando aqueles, tal como já uma boa parte de todos os outros, no desemprego. Quando esse tempo chegar provávelmente o mundo já será dominado pelas máquinas restando aos humanos o papel que hoje é reservado aos animais domésticos.
Onde é que eu já li, ou vi isto?