Há pessoas que, por natureza, juntam a uma enorme sensibilidade o sentirem a vida com uma intensidade tal, parecem absorvê-la em doses tão excessivas, que muitas vezes estas se tornam letais.
É um fenómeno comum a todos mas óbviamente mais visível quando as pessoas em causa são conhecidas. Os exemplos são numerosos: Marco António e Cleópatra; Van Gogh; Jim Morrison e Janis Joplin; Virgínia Woolf e Jack London; Marilyn Monroe e James Dean, etc..
Em todos eles podemos encontrar uma espécie de urgência em consumir o tempo, aproveitando-o ao máximo, o que resultou que elas próprias acabaram por se tornar "bigger than life".
Vem isto a propósito de um excecional documentário que vi de uma atuação de Amy Winehouse, em 2006, poucos meses antes da edição de Back to Black, numa pequena igreja algures na Irlanda. Já claramente na antecamera daquilo que viria a ser o seu inferno, através de uma entrevista conseguimos vislumbrar o porquê da forma arrebatadora como nos faz mergulhar naquilo que temos mais profundo em nós. Entrega absoluta, disponibilidade total, plena de humildade, crença máxima na imensa beleza da música, das palavras. Cinco ou seis canções acompanhadas por uma guitarra baixo e outra solo, e uma voz abençoada mas mais, muito mais importante, utilizada como se fosse pela última vez num autêntico apelo a tudo aquilo que possa conduzir ao amor no seu sentido mais lato.
Porque na realidade é isso mesmo que fazem estas pessoas, estão armadas de sentidos tão apurados que, vendo mais longe, mais depressa e com mais clareza, na explosão comunicativa que provocam, na sua fúria de viver, gritam desesperadamente em volta, alguns quase como quem mendiga perdão, para que os ouçam e vejam o que, cegos, quase todos os outros ignoram menorizam ou votam à indiferença. Em fuga acabam por cair no abismo, voragem que para eles é a existência, num mundo dominado por crenças, preconceitos e medos.