A hortelã, fogosa e efervescente; sempre ansiosa por mergulhar no mojito. Nem precisa falar muito para se fazer notar - sempre pronta para a festa -, e se por perto há morangos com porto, não se faz rogada, dispensa convite; está omnipresente. Envolve-se com muita graça – sedutora por natureza. Plena de energia, refrescante, dá-se bem noutras misturas: menos eufóricas, mais intimistas - deixem-na prender a atenção -, deixem-na ser feliz.
O cebolinho – elegante, bailarino -, baila como ninguém ao som da brisa. Ora para a direita, ora para a esquerda; fala comigo, sussurra. Muito mais subtil que outras espécies da mesma família – mesmo assim, não menos estimulante. Picado; finamente picado. Extremo no pormenor, revela-se no detalhe, na minúcia – percebo isso e dou-lhe espaço -, dêem-lhe o palco que merece – espectáculo garantido. Convivemos com moderação; a distância, implícita, impõe-se. Senhor do seu (nosso) nariz, - bons dias e boas tardes -, q.b.
Agora, um caso sério, tomilho-limão v.s. manjericão. Divertem-se, estes dois, na disputa da minha atenção – eles não sabem, mas isso também me diverte -, apuram esforços; tudo na base das manifestações pacíficas, nada de violências. Casos perdidos; não me conquistarão – demasiado previsíveis, esmorece-me a previsibilidade, enfraquecem a intensidade -, mas fazem-me muita falta. Se me ignoram – à se me ignoram -, sou eu quem os desafia - interrompo a interrupção; continuo a contiguidade -, falo-lhes na linguagem que mais os toca, simplesmente, tocando-os. Alimentadas as esperanças, sopram-me as mãos de frescura, reanimam-se. De novo confortável, tenho de retribuir:
- Tomilho-limão, esta noite, preciso de ti. Ouço o frango; bate asas de contente.
- Manjericão, amanhã, pela manhã, acordas do meu lado? É muito sensível o manjericão - convidá-lo, é preferível. Risos; atento e descarado: o queijo fresco.
Tudo está bem, quando acaba bem. Fazem-me muita falta.
A salsa. A salsa, muito sensível, está triste, infeliz. Demorei algum tempo – falta de atenção a minha -, a perceber isso. Tão popular a rapariga; que lhe fará falta? O rival, coentros de companhia? Não. Definitivamente, fomentar mais uma guerra norte-sul – não. Companheira sempre presente, talvez por isso, erradamente, o tempo faça a viagem em sentido contrário: cresce em omissão e diminui em atenção. Tenho de inverter a marcha; dizer-lhe já: – obrigada pela tua companhia incondicional, fazes parte da minha vida.
Com o alecrim, só falo quando ele me aparecer aos molhos; sempre quero ver se me choram os olhos.
Mas é a ele, não o alecrim, o outro - quem me inspira, seduz, desafia -, altivo e misterioso, a quem dedico toda a minha apaixonada contemplação. Por baixo das suas folhas, brotam segredos que anseio desvendar. Segredos – colorido intenso. Falam, por nós, os nossos sentidos; entendem-se, fundem-se. Pimento vermelho - o seu nome. Agora ainda verde; não tarda, revela-se na cor da paixão.
As minhas ervas; eu falo com elas – estimulam-se os sentidos -, elas respondem, aromas.