Telenovelas, reality shows e talk shows. O que está a dar. Atores, concorrentes e apresentadores são as respetivas almas do negócio. Um bom ator vende o pior dos argumentos. Um bom concorrente, o polémico, independentemente das razões, cativa multidões. Um bom apresentador torna interessante o mais insosso dos convidados.
Atualmente o talk show Cinco Para A Meia Noite tem de tudo. Filomena Cautela e Fernando Alvim deixaram saudades.
Para começar a semana o Boinas, simpático, empenhado, numa palavra, esforçado, não consegue disfarçar que lhe falta o melhor, talento. O programa pretende-se radical, o Luís Filipe Borges é demasiado "normal" para o efeito.
As terças foram entregues a um habilidoso. Sabe-se lá porquê. Um mistério até porque não seria dificíl arranjar melhor que aquilo. Paradigma do chico-esperto não lhe falta nada: arrogância, má educação, auto-convencimento balofo, tudo derivado de uma insegurança latente e deprimente. Passa a responsabilidade do programa para os convidados, escolhidos a dedo para o efeito, esquecendo-se ou ignorando que é ele quem os deverá fazer brilhar. Resulta confrangedor ver Mário Soares ou António Costa, que tanto poderiam contar, a desajeitadamente tentarem salvar o infeliz apresentador em pânico. José Pedro Gomes deve receber metade do cachet, ou então é um homem bom. Lá se vai vingando insultando do piorio José Pedro Vasconcelos quando este, rasteiro, tenta minimizar o papel daquele no programa.
A meio da semana, estratégicamente colocado, tipo bóia para manter o programa à tona, a primeira hora dos "cinco" que vale a pena ver. Nuno Markl tem graça, um certo estilo na piada, entre o irónico e o instintivo, uma certa acutilância de raciocínio que cativa. Usa aquela imagem de (falsa) auto-fragilidade de quem se ri muito de si próprio que resulta imediatamente na simpatia via ternura e sentimento de proteção, muito vulgar num determinado momento da nossa jovem democracia, que vestia camisas aos quadrados e comia em restaurantes caros. Neste desdobrar de personalidades tão distintas acaba por se tornar abrangente, consensual.
Às quintas o programa volta a dar um trambolhão. Não é que o seu responsável não seja um bom profissional, com alguma qualidade e preocupado em fazer bem feito, mas... faz-me lembrar aqueles filmes muito certinhos, bom argumento, bons atores, boa direção, mas falta ali qualquer coisa. Sempre que vejo Pedro Fernandes fico com a sensação que há ali algo por resolver. Uma espécie de hiato que se sente no programa e do qual nunca se descola.
Para o fim, o melhor. Ponte para um fim de semana sem Cinco Para..., Nilton cumpre com brilhantismo o objetivo. Possuídor de talento intrinseco, com ele as coisas vão fluindo com naturalidade. Inteligente como é, soube fazer-se acompanhar de um músico, sempre presente, que para além de o ser, serve também de ligação com os convidados, com as diferentes novidades que vão animando o programa tornando-o mais fluido, sem vazios. Tira o melhor dos convidados, frontal, intelectualmente honesto e sem cedências, faz-se protagonista em cromos desarmantes, e durante os quais mostra as sua grandes qualidades de ator, e ainda tem tempo de meter-se com o público, levando-o a participar através de jogos simples e com piada.
Imagino que deve ser dificil cumprir o muito bom título do programa, especialmente nestes período de ditadura do Euro2012, ou se calhar não, ajudava a disfarçar o enjoo. Se para além de serem cinco os apresentadores, passa-se aos cinco minutos para a meia-noite, criando essa rotina, seguramente que o "cinco" iria fidelizar muito mais pessoas. Com mais ou menos qualidade acaba sempre por ser uma lufada de ar fresco, bem necessária nos tempos que correm, para dispersar nevoeiros de interrogações e poeiras lançadas ao ar.