Recordo com alguma nostalgia um programa radiofónico em que eram protagonistas Carlos Magno, no Porto, e Carlos Amaral Dias, em Lisboa. Chamava-se Freud e Maquiavel, ou seja, Amaral Dias e Carlos Magno. Discorriam sobre tudo e mais alguma coisa segundo a perspetiva mais prática, mundana, do jornalista, como a que teria/tinha Maquiavel/Magno, confrontada com a do foro psicológico do psiquiatra Freud/Amaral Dias. Digamos que um trazia os temas mais apetecíveis e, o outro dissecava-os. Muitas vezes, num interessante exercicío, trocavam de posições. Ontem tive a oportunidade de conhecer o cofundador de uma associação de psicanalistas com Amaral Dias, Antonio Coimbra de Matos.
Distintinguido por uma organização dos EUA, pelo contributo dado na sua área de intervenção,ouvindo-o percebi porquê.
Começando desde logo por explicar claramente quanto Freud está ultrapassado: toda a teoria por si construída se baseava no estudo do indivíduo quando, desde há muito, se sabe que todo o relacionamento humano só faz sentido na sua interação com os outros. Segundo aquilo que hoje se sabe, mais importante que a auto-análise é o conhecimento do outro. O erro de Freud terá sido, porque queria criar uma doutrina, eternizando-a em documentos minimizou a dinâmica de mudança que esta matéria envolve. Conhecermo-nos a nós próprios é importante, como inicío, base para avançarmos para o conhecimento do outro. E, daí, partir para um bom relacionamento.
Outra área em que este psicanalista de destaca é na pedopsiquiatria. Também neste caso deixou uma mensagem muito clara: se amar uma criança é essencial para que cresça mentalmente saudável, não é suficiente. Ao amor deve juntar-se o reconhecimento e a valorização. Deu um exemplo, quando uma criança pede qualquer coisa, deve ser-lhe explicado que a mesma lhe será dada dentro de determinadas condições, e num certo período de tempo. Só assim, a uma demonstração de amor, se poderá obter/dar/ensinar os mecanismos do reconhecimento e da valorização, essenciais para a formação de uma personalidade, mais que resistente, resiliente, capaz de aceitar mas, também, alterar o meio ambiente que a rodeia, numa positiva interação social.
Contudo a ideia fundamental parece-me ser o centrar de todo o poder nas pessoas. Admirador de Nietzsche, leu "Assim Falou Zaratrusta" com quinze anos, a ideia da morte de Deus acompanhou-o desde muito cedo, levando-o a concentrar todo o seu interesse nelas. Tal como aquele filósofo, cujo pensamento tantas vezes foi, e é, adulterado, acredita, acima de tudo no poder da vontade.