O palco estava pronto. Violinos, violoncelos, saxofones, flautas, tubas, trombones, clarinetes, piano, harpa, bombos, pandeiretas, etc.. Tudo distribuído por dezenas de músicos liderados por um maestro com um penteado esquisito. Também entraram o baterista, as guitarras solo e baixo e ainda dois, vocalistas, dois, um mais vocacionado para cantar outro para falanimar. Lá em cima quatro a fazer de côro a cantar e, lá em baixo, milhares para escutar. Também aqueles que não vemos ou ouvimos e que nos permitem ver e ouvir.
Então começaram e foram por ali fora. Melodias simples e bonitas, enfeitadas de palavras com sentido, a ganharem corpo e beleza suportadas pelos rapazes da banda e alimentadas pela orquestra, metendo-se dentro de nós e muito para além daquele palco. Violinos entrelaçados nas guitarras, os sopros a desafiar a bateria, as flautas e os clarinetes a cantar com os vocalistas, tudo misturado em alegria crescente, dentro de cada tema, e de tema para tema. Ás tantas juntam-se mais umas dezenas aos quatro que formavam o côro e começámos a adivinhar dentro de nós o nascimento da euforia dos grandes momentos. Os músicos todos, o maestro, os vocalistas, o côro, o público, um só, a dançar, a cantar, a bater palmas ou de braços no ar celebram a alegria da união. Até que entraram uns senhores, caras fechadas e aspeto austero, onde descobríamos o homem comum, o nosso familiar, amigo ou conhecido, com uns enormes bombos pendurados ao pescoço nos quais batiam furiosamente, também eles no ritmo, também eles fluidos. Percebemos que, ali, estávamos todos.
Chegou o momento de tocar o último tema, O Amor É Mágico. E foi. Enquanto caíam do céu milhares de luzinhas a brilhar deu-se o milagre da comunhão total. À medida que íam morrendo, num último sopro, os acordes, despertava-se para a urgência do coroar do momento de eleição, e as pessoas, expontânea e efusivamente, desataram a abraçar-se umas ás outras, o trompetista com o senhor do bombo, a violinista com o baterista, os do côro entre si, o maestro e os vocalistas, esses, já há muito se agarravam. Suspeito, tenho a certeza, que entre o público acontecia o mesmo.
A banda eram os Expensive Soul, de Leça da Palmeira, o maestro, Rui Massena, de Gaia, que dirigiu músicos maioritáriamente portugueses, alguns estrangeiros e, também o côro. O acontecimento foi em Guimarães, mas podia ter sido noutro sítio qualquer. Enquanto durou foi o topo do mundo. Espero e desejo que seja divulgado por todo o lado. Quem o vir reconciliar-se-á um pouco com a vida. Simplesmente maravilhoso.