Num país de morenas e velhos, olhar à volta e ter dificuldade em encontrar cabelos escuros ou brancos, não deixa de ser um mistério.
A necessidade de mulheres ainda jovens, cada vez mais, alterarem a côr do seu cabelo para louro ou ruivo, quando as brancas ainda não espreitavam, é algo que tenho dificuldade em perceber. Talvez e oxalá me engane, mas , mais uma vez, parece-me que se trata de tentar mudar uma pele na qual não se está bem. Só isso já seria triste em pessoas tão novas, mas pior, muito pior, é a maneira como tentam fazê-lo, exteriormente. É mais fácil, mais rápido, provávelmente mais barato, os euromilhões dos nossos dias, simplesmente, tal como este último, é muito raro resultarem.
Toda a resposta para a mudança está dentro de cada um de nós e nunca no que lhe é exterior. Por muitos trapos, cosméticos ou livros de consumo rápido, para os quais as respetivas industrias e marketing associado nos empurram, que compremos, nada vai mudar por muito tempo, e quando muda é para pior, quando nos descobrimos mais frustrados e mais pobres.
Já encontrar cabelos brancos se está a tornar um achado. É só louras, ruivas e senhores com estranhas cabeleiras pretas. Como quem está na esperança de uma eternidade qualquer, ou então num disfarçado, e a todo o tempo, assobiar para o lado. Por trás liceu, pela frente museu. Cá está uma frase que cada vez é mais confirmável por todo o lado. Não assumir as realidades, numa espécie de mais ou menos inquietante fuga para a frente, não pode ajudar coisa alguma. Mais uma vez a adaptação tem que ser feita interiormente, no caso dos mais velhos ainda mais importante. Está em causa manter a atentividade, os reflexos, a capacidade de concentração. Idealmente operem-se ambas as mudanças, interna e exteriormente, mas, para que por fora valha a pena é por dentro que se deve começar.
Moralismos à parte, quarenta anos depois da liberdade seriam no minimo idiotas, parece-me que estas duas realidades podem, em muitos casos, cruzar-se. A pessoa jovem que não se habituou a procurar a mudança dentro dela, vai ser aquela ou aquele velho para quem a morte há-de ser sempre um terror e não a última consequência de se estar vivo. O faz de conta, a ficção, a arte têm aqui um papel muito importante a desempenhar. Costuma dizer-se que mais vale um mau livro, filme ou música que coisa nenhuma, e é verdade. Mas desde que, no fundo, haja essa obstinada e insaciável procura do autêntico, da verdade. Caso contrário é um embuste, espécie de deserto do qual nunca se sai, iludidos pela visão do oásis da facilidade.