A morte é certa. Foi para contrariar esta certeza e tornar a existência humana mais do que simples sobrevivência, angústiante espera pelo fim, que as religiões surgiram. Deus como figura etérea, omnipresente, o profeta, seu representante entre os homens, e os apóstolos, quem espalha a mensagem. Estrutura mais ou menos comum às mais importantes.
E se não houver vida para além da morte? Ou se não conseguirmos ou não quisérmos acreditar? Como suportar a existência? Vivendo a Arte. Quem o diz é Alain de Botton. Pelo que entendi aquela cumprirá o papel de deus, os artistas de profetas, e ele, e outros como ele, o de apóstolos. E assim se suportará melhor uma existência a termo.
Discordo da essência da questão, a admissão de um fim, de algo que desconhecemos em absoluto, sequer como começa, prefiro a dúvida, a abertura a um sem fim de possibilidades. Dir-se-á que esta acaba por ser uma visão religiosa. Não sei. Como poderia saber? Na verdade ninguém pode ter certezas sobre seja o que fôr. Seguindo este espiríto encontro muito de válido nas ideias deste homem.
Desde logo a maneira como defende o papel da religiões ao longo da história da humanidade. Se chegarmos a uma qualquer universidade e fizérmos perguntas tão óbvias como, qual a melhor maneira de superar o infortúnio?, ou como devo lidar com as minhas expectativas?, ou outras do género, o minímo que nos pode acontecer é sermos olhados com apreensão. Hoje mais que nunca as universidades preparam as pessoas para certezas e, por isso, as religiões continuam a ter, como sempre, um papel importante no colmatar das dúvidas.
O mito da normalidade, poderia chamar-se ao fenómeno que ele diz ser responsável por muita da insegurança e medos que flagelam a sociedade. Segundo o filósofo há um sem número de estéreotipos que são impostos ao comum dos mortais como uma inevitabilidade, gerando dessa forma uma espécie de horror ao falhanço que é alimentado pela sociedade, em nome da competição. A arte, pelo contrário, é muito mais compreensiva com o falhanço, transformando-a, tantas vezes, em processo de aprendizagem para futuros sucessos.
As respostas para as nossas dúvidas e angústias estão aí, por todo o lado, e não é nas universidades. É na arte, nas mais variadas formas em que se apresenta. Aquilo que os artistas fazem é dar-nos saídas para os nossos problemas. Ler os grandes romances, por exemplo, pode ser uma das maiores ajudas que podemos ter na condução das nossas vidas. O importante é criar processos para que estas mensagens sejam realmente assimiladas e, para isso, deverão ser valorizadas pela enorme importância que contêm em si mesmas. Pela forma como nos reconciliam com nós próprios, ao apercebermo-nos que somos só mais um, igual a tantos outros. Nem bons nem maus, normais.
Sem pôr em causa o brilhantismo destes cérebros, bem pelo contrário, e este em particular, basta analisar o seu percurso, ao ouvi-los, fico sempre com a sensação de sentir, não frustração, mas um sopro de nostalgia ao expôrem as suas ideias. Fica-me a impressão de que à falta do talento para profetas aceitam, com empenho, mas também indisfarçável tristeza, o papel de apóstolos. Perdidos no labirinto que criaram ao expôrem-se aos perigos da fama e suas consequências?