Devia ter à volta dos 10,11 anos quando li Manhã Sumersa, e aquilo isolou-me de tal maneira de tudo o que me rodeava que acho que nunca mais recuperei!
Passaram muito anos e muitas leituras até que voltei a Vergílio Ferreira, foi com Alegria Breve.
Se à prosa que se possa qualificar como poética penso que a deste autor é o exemplo maior. Neste livro onde as voltas do tempo nos são trocadas o autor faz-nos acompanhar a vida de um homem na sua terra alternadamente pobre, rica e deserta sem que ele alguma vez a abandone, vivendo e vivendo-a intensamente, como se de todo o mundo de tratasse e, finalmente, cumprindo-se, sem falhas, porque, na verdade, o mundo inteiro está na mente de cada um. O livro podia chamar-se Vida Inteira.
Até ao Fim é, ao mesmo tempo, morte e libertação. Sim, libertação pela morte mas também libertação da morte. Num exercicio verdadeiramente poético, e não raras vezes doloroso, debaixo de um intenso cheiro a maresia e enquanto a noite se vai tornando dia o autor dá-nos uma lição de amor. Neste caso paternal, mas também conjugal, mas também filial, e fraternal. Quadros da vida de um homem, quase como de pinturas se tratassem tal é o realismo com que para eles podemos olhar. Um verdadeiro apelo ao dever de viver a vida através através do melhor que ela nos pode dar, o sol, o mar, a chuva , o vento, as pessoas, sem perdas de tempo ou distrações com acessórios ditos importantes. Será preciso chegar a velho para perceber isto?
Acho que sim. Talvez velho não se já o tempo certo mas, menos novo, será certamente.
Será que se cada um de nós não tivesse experimentado os erros, os excessos, as distrações, o acessório, poderia da mesma forma perceber que afinal, há tantas outras coisas mais valiosas e importantes que estamos a desperdiçar? Penso que não. Faz parte da aprendizagem da vida, levantar, cair, levantar outra e outra vez e de novo cair, cair, é assim que crescemos e conquistamos o conhecimento e a capacidade para ver a vida com outros olhos.
Eu sinto a vida como a natureza, tudo tem o seu tempo e nada se cria, tudo se transforma, e para isso, é preciso tempo!.