Campos da Morte é um filme que pertence a, digamos assim, uma familia de que fazem parte, alguns capítulos de livros de Roberto Bolano, nomeadamente 2666, da principal obra de Stieg Larsson, em particular de Os Homens que Odeiam as Mulheres, o qual já deu um bom filme, ou filmes como Eu Vi o Diabo.
Tal como todas estas obras este filme aborda a questão da violência sobre jovens mulheres. Também neste caso há uma maldade intrinseca, sempre presente, quase inexplicável. Sendo percetivel algum cariz sexual nos ataques que estas raparigas sofreram (o filme baseia-se em factos veridicos), sente-se que o que ali se passou foi muito para além disso. Tal como a cidade de Santa Teresa para Bolano, aqui há um lugar, uma cidade texana, onde o mal está de tal forma entranhado que as pessoas não o praticam enquanto tal mas como de algo normal se tratasse. Daí até à perversão é um pequeno passo. As vitimas são, naturalmente, onde está presente a fragilidade mas, sobretudo, a beleza, o convite ao amor, a punção para a vida. Em suma tudo aquilo que apela ao lado solar da existência humana. E o que melhor espelha esse sentimento como, em geral, e no caso do filme em particular, uma jovem de 13/14 anos, belissíma, a despontar para a vida em todas as suas vertentes, inocente e feliz, a transbordar de futuros radiosos, quando caminha nos degradados carreiros da miserável cidade onde vive?
Independentemente da inominável violência presente neste tipo de obras há sempre o outro lado, o solar. Onde estão presentes homens e mulheres enormes, mesmo inacreditáveis, na sua capacidade de resistência ao mal e à perversidade. A sua força é de tal ordem que, aquilo de que têm de prescindir, logo à partida, se querem permitir-se em ser bem sucedidos da sua luta, é perder qualquer espécie de medo, amor à sua própria vida e dispôrem-se a entrar no inferno. Mas, quando o consegue, é este tipo de gente que ganha os ceús.