semtelhas @ 11:32

Dom, 31/05/15

 

Homossexual assumido quando tal ousadia só era permitida a "aves raras", incontornavelmente e exclusivamente assim aceites, alguém que era mantido a uma distância conveniente, visto como outrora os bobos da corte e tratado como uma aberração, ou então, como era o caso do Joãozinho, um monumental excêntrico de posses, na meia idade com nome de rapazito que se podia dar ao luxo de exibir e mesmo afrontar um público reverente e hipócrita, uma postura reveladora de apetites que muitos tinham mas poucos ousavam mostrar.

 

Possuidor de um demolidor humor caustico, pleno de sarcasmos, já na altura, anos sessenta, fazia-se passear dentro de uma enorme "banheira", um Opel Record se não me engano, convenientemente grená, uma cor a um tempo chique e vistosa, quando impecávelmente polida, fazendo resplandescer também os inumeros cromados. Seguia majestosamente sentado no amplo e único autêntico sofá de sala que aquilo parecia, de porta a porta, muito comum nos "espadas" daquele tempo, seguramente, pensavam os mais impuros, bem jeitoso para inconfessáveis "ginásticas" com o motorista logo ali ao lado, seu inseparável fiel companheiro e criado para todo o serviço.

 

Quando a espampanante viatura deslizava pelas estreitas ruas do lugar onde vivíamos, um daqueles sitios onde todos se conhecem nutrindo uns pelos outros os mais variados e conhecidos sentimentos, alimentados sobretudo pela miséria, inveja, mesquinhez, subserviência, e muita prepotência e vaidade de poucos sobre quase todos, ele a caminho do seu palacete rodeado de um vasto  e verdejante jardim, mesmo ao lado da igreja e com uma incrivel vista sobre o Porto lá ao longe, já os embasbacados e reverenciais espetadores das suas pequenas e tantas vezes escuras e mal arejadas habitações, entre, naturalmente, outras atividades. Nessas ocasiões podia ver-se uma criatura magra, fina, e com ar contrito, quase reverencial, ao volante, e, ao lado, uma espécie de Buda avermelhado, esparramado ainda que bem direito, agarrado à pega lateral superior para, digamos, não adornar, mas possuidor de uma expressão onde imperava a dignidade e poder dos reis.

 

Quanto a mim, observava-o quando, como habitualmente, andava por ali ou vinha, ou ía para casa, no caso de qualidade e conforto bem acima da média para o lugar, um daqueles predios com uma grande abertura comum interior para quatro inquilinos, delimitada na frente por um jardim e atrás pelos quintais milimetricamente divididos, escrupulosamente aproveitados através de hortas de entre as quais orgulhosamente sobressaía a do meu pai, dali saíam as melhores batatas, os maiores nabos ou cenouras, ou brotavam os mais vistosos e saborosos legumes, mas, mesmo assim, não escapava à jocosa denominação que por Joãozinho lhe era dada de Ilha da Babi, tudo por causa de uma razoavelmente gorda mas sobretudo extremamente ruidosa cadela com aquele nome, com a qual o ilustre mantinha um odiosa batalha muito particular, a bicha, por razões desconhecidas, ladrando até à exaustão quando o via na desesperada esperança de uma gostosa mordidela, ele ruminando mudas vinganças que logo vertia sobre os pobres humanos dela vizinhos.

 

Mas não só. Porque tinhamos um conhecimento comum, um dos tais quatro inquilinos, durante para aí uns três ou quatro verões, talvez entre os seis e os nove anos de idade, e porque ele naturalmente vivia dos rendimentos recebidos das rendas dos muitos estabelecimentos comerciais que tinha nas melhores ruas do Porto, logo tinha todo o tempo do mundo, faziam uma diaria e matinal visita à praia na qual eu os acompanhava durante praticamente aos três meses de férias grandes, rotina só interrompida aquando das férias dos meus pais. Foi por isso meu previlégio, a boiar no banco de trás, também ele corrido, ao lado dessa carinhosa mas especialmente solícita vizinha a quem chamei tia desde pequenino, muito porque de facto desempenhava esse papel e nada pelo cliché exclusivo dos da Foz, pela janelas invariavelmente fechadas para não perturbar a circulação da ventilação artificial que se fazia sentir estranhamente fresca, observar os meus habituais companheiros e conhecidos de olhos arregalados, uns de admiração, outros de inveja, mas todos de espanto.

 

O verdadeiro espetaculo começava quando finalmente chegavamos, bem cedo para nunca perder para outros o previligiado local estrategicamente selecionado pelo incansável companheiro de Joãozinho, com largas vistas para o mar que ficava a uma vintena de metros na vazante, e a uns palpitantes dez na enchente ainda que sempre suficientemente seguro, mas sobretudo protegido do vento, por aqueles lados muito habitual, por um imponente muro de rochas a norte, às quais nos, e encostavamos as várias sacas onde transportavamos toda aquela panóplia de coisas necessárias a uma permanência que nunca era inferior a umas quatro horas, aí entre as nove da manhã e a uma da tarde, isto quando não eramos prematuramente corridos pela subita aparição de um inesperado nevoeiro, ou arreliadora e inabitual circulante ventania. Depois de devidamente estudado e limpo o terreno, tarefa a que se dedicava com aplicação religiosa o Duarte, o circunspecto acompanhante, e a frenética e prestável Armanda, minha vizinha e sua cunhada, seguia-se a cerimónia do estender as toalhas, a dele uma espécie de lençol mas incrivelmente espesso e fofissímo, sempre em cores garridas, à beira do qual a minha mais parecia uma raquítica fralda de bébe muito gasta pelas inumeras lavagens. Só então se instalava o Buda, gordo e sempre coradissimo, mas, no início da época com o corpo ainda palido, era para tratar disso mesmo que ali estavamos, transformá-lo num atraente e pelo menos aparentemente supersaudável enorme morenaço, uma pele escura onde iriam brilhar grossas voltas e pulseiras, uma profusão de aneis recheados de luminosas pedras, tudo em ouro do melhor, e magníficos relógios das mais caras marcas. Toda uma sumptuosidade que caía como uma luva naquela imensa figura, que se tornava imponente quando era possível vislumbrá-lo fora daquele ambiente. Para além da aura que sempre envolve de mistério alguém que se sabe muito rico, era também graças ao bem tratado ainda que curto cabelo ondulado quase todo branco, a encimar um rosto largo e invariavelmente risonho, finas camisas generosamente abertas até meio do peito, para mostrar a supostamente sedutora selva acinzentada, calças a igualmente exibirem uma elegância e leveza ímpares, confortáveis e brilhantes sapatos pretos, porque tudo isto resultava esplêndido apesar do elefantino pesado andar, onde as mal disfarçadas guinadas laterais num esforço de equilibrio, tinha uns surpreendentes pequenos pézitos, eram consideráveis. Mas isso era mais tarde, por agora era preciso trabalhar para o indispensável bronze, tarefa da qual só eu era dispensado brincando por ali perto, isto porque uma vez a sagrada criatura pronta para o efeito era de imediato laboriosamente untada por magnifícos e imagino que caríssimos óleos e cremes, seguramente altamente eficazes na arte de colorir, mas também de proteger a preciosa pele, não esquecendo o inebriante perfume que soltavam, enquanto os incansáveis ajudantes se esfalfavam debaixo do sol inclemente, para só depois terem direito ao descanso do guerreiro.

 

E assim íam decorrendo aquelas manhãs mágicas, entre as referidas e sempre repetidas cerimonias, as matematicamente estudadas no tempo, nas suas vertentes quando e quanto, bem contra a minha vontade aliás, idas ao mar, que desempenhavam fulcral papel no sedutor escurecimento de "sua majestade", também, e muito, para eles a maior parte daqueles horas e para mim entre quase sempre solitárias brincadeiras de praia, intermináveis e galhofentos monólogos do "verdadeiro artista". Aconteciam enquanto a sua imagem ía evoluído de uma espécie de lagosta gigante acabada de cozer, para o de ansiada apetitosa criatura. É que, para além de tudo o mais, era possuidor de um olhar verdadeiramente cirurgico sobre tudo onde pousava os olhos, e uma não menos acutilante afiada língua para o expressar por palavras, pelo que se assistia a um espetaculo de permanente risota perante os inigualáveis jocosos comentários, plenos de fina ironia misturada com o pior vernáculo e cruel sarcasmo, tudo acompanhado de estudados ou institivos maneirismos, um sem fim de gestos e caretas, nomeadamente quando recorria à apreciação de manias ou pequenas fragilidades que incrivelmente descobria e brilhantemente desvendava, fosse num qualquer desconhecido que de momento passava, ou, na falta de movimento, recordando este ou aquele personagem do nosso conhecimento comum.

 

Passada essa época dourada deixei praticamente dele ter qualquer noticía durante longos anos até que, para meu grande espanto, um ou dois dias antes de me casar, recebi das mãos da minha "tia" Armanda um embrulho de dimensões e peso razoáveis, que me informou ser a prenda de casamento de Joãozinho. Era um bonito e requintado serviço de café do qual agora seguro uma chávena, durante uma até agora sempre adiada e finalmente levada a cabo corajosa arrumação, são anos e anos de coisas empilhadas, que me trouxe estas saborosas memórias dessa amargodoce figura ímpar.


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semtelhas @ 12:07

Sex, 29/05/15

 

A determinada altura do filme "Timbuktu" um jihadista utiliza esta expressão para se definir a ele e aos seus pares, e dificílmente poderia ser mais eloquente. De facto, quando diáriamente assistimos a mais e mais notícias daquilo que o dito Estado Islâmico vai fazendo após as sangrentas conquistas de territórios na Síria ou no Iraque, percebe-se que os protagonistas de tão desalmada violência pouco ou nenhum amor têm à vida, pelo contrário são movidos por sentimentos intrínsecamente negativos que conduzem áquela brutal e desenfreada destruição. Inversamente do que pretendem fazer crer não é religião que os motiva, mas sim a frustração, a inveja, e profundo desejo de vingança, e um dos aspetos mais graves desta insanidade é que estão a capitalizar o descontentamento dos mais frágeis e desprotegidos do mundo que pretendem destruir, bem como dos incautos idealistas, são já aos milhares os seus jovens que sucumbem ao ciciar desta venenosa serpente. Seria simplista e sobretudo uma grande injustiça deixar fora desta equação as razões históricas mais próximas para este flagelo, as invasões do Iraque pelos EUA. Não é que o mundo ocidental, nomeadamente através do seu mais competente "polícia" não se deva defender, e desde logo no terreno de adversário, da ameaça de loucos como Saddam Hussein, a questão parece ser como, pelo menos a atentar nos resultados desastrosos que atualmente se podem verificar.

 

Como a autêntica fábula que é este maravilhoso filme, em todos sentidos da palavra muito em especial nas belissímas imagens que proporciona, quer das paisagens quer das pessoas, tão bem demonstra, ser religioso é uma coisa bem diferente do que fazem aqueles loucos, é uma força interior que, tal como eles não temendo a morte, consubstancía essa atitude seguindo um caminho completamente diferente, recorrendo às habituais manifestações humanas de harmonia e partilha, como a música, o desporto, a normal fruição da vida onde sempre está presente uma certa sedução, mesmo nos atos mais simples como vender num mercado. Não é por isso por acaso que é precisamente  tentando matar este conceito de felicidade, de a procurar,  obrigando a tapar e esconder, semeando o medo, amarfanhado esta vivência, que os terroristas num frio desespero de quem se sabe derrotado pelo impossibilidade de o lograr, fazem a razão da sua existência, no fundo uma espécie de elevar à potência máxima os objetivos de todos os frustrados desta vida. A verdadeira força está do lado da maioria dos comuns muçulmanos que simplesmente pretendem viver em paz, tendo como sua aliada a natureza que aqui parece gritar, pelo seu exemplo de beleza e harmonia, um apelo à tranquilidade. Curiosa a utilização de algumas vertentes da tecnologia de ponta ocidental, particularmente os telemóveis aparentemente de última geração, como que instrumentos do mal, sentidos como tal pelo anacronismo que representam naquelas circunstâncias. A ter a promoção que realmente merece, poucos meios serão mais eficazes que este filme para minimizar a tentação potencialmente perigosa de acreditar num mundo de bons de um lado e maus do outro, isto está cada vez mais pequeno, estamos "condenados" a entendermo-nos.

 

 


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semtelhas @ 11:24

Ter, 26/05/15

 

- Meca vai abrir maior hotel do mundo - Cá está o alvo ideal para os fundamentalistas islâmicos descarregarem a sua fúria contra o diabólico materialismo ocidental...

 

- Toda a biografia de Passos Coelho é a defesa teórica de tudo o que ele ignora na prática - O que só vem confirmar a total coerência entre o seu livro e a sua vida...

 

- Sócrates é uma "espada" pronta a ser usada na campanha eleitoral - Falta saber sobre que cabeças atualmente de facto pende...

 

- PSP confunde pó para o "mau olhado" com heroína - Tudo porque não se identifica devidamente o conteúdo das embalagens. Depois é tudo pó! Não se faz!

 

- Santos Silva, o amigo de Sócrates, não saiu da prisão por colaborar com a justiça - Porquê? Colaborar com a justiça corresponde a dizer o que ela quer ouvir?

 

- Grécia vai deixar de pagar ao FMI - Até agora para fazê-lo pedia dinheiro ao FMI! Uma simples troca na ordem dos fatores entre ficar a dever já ou mais tarde...

 

- Dos desportivos online só "O Jogo" noticía heptacampeonato de andebol do FC do Porto - Não é por nada, é que entre a festa da Luz, as possíveis renovações na Luz, e muitas mamas e ainda mais cús, como haveria espaço?

 

- Segundo o JN Brad Pitt quer surpreender a mulher nos seus quarenta anos oferecendo-lhe um hidroavião - Oxalá a Angelina não leia o Jornal de Noticías...

 

- Família benfiquista revoltada contra árbitro que anulou golo a Jonas - Estão mal habituados! No Porto ou no Sporting o assunto nem era notícia...

 

- Vários membros do governo contradizem-se quanto a corte nas pensões - É o que acontece quando há demasiadas mentiras para gerir...uma confusão!

 

- Distrito do Porto tem a água mais cara do país - Deve ser porque é aqui onde mais chove... Ou o lado lunar de uma gente especial.

 

- Serviço Nacional de Saúde vai disponibilizar tratamento para depressão via smartphone - Já se está mesmo a ver 80% dos potenciais suicídas irem a correr comprar aquelas "máquinas diabólicas"...

 

 


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semtelhas @ 15:36

Dom, 24/05/15

 


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semtelhas @ 12:32

Sex, 22/05/15

 

A gente começa a ler aquilo e é como que invadida por uma sensação de exaltação que avança primeiro sob a forma de uma espécie de espanto, uma confusão cujos contornos só começam da definir-se mais à frente, como quando se observa um quadro que exige o tempo e a afastamemto espacial certo para se ousar tentar compreendê-lo, ou certos filmes e músicas, para depois se instalar definitivamente e em crescendo até à apoteose final. E em que consiste esse climax? Desiluda-se quem espera destas obras receitas milagrosas, mas antes a demonstração de que estas não existem, mas, isso sim, uma hipótese de caminho a seguir, como que a oferta de umas quantas dúvidas promissoras, chame-se-lhe esperança se se quiser, uma luz que aponta para dentro, o lugar onde moram todas as explicações e um mar de tranquilidade, que chega sobretudo via profunda humildade perante a grande incógnita, e absoluta assunção da verdade inteira do que se é.

 

Por estes dias onde a virtualidade e as aparências parece começarem a perder terreno face a uma gritante necessidade cada vez mais comum de percecionar a realidade, algo que nas últimas décadas tem vindo a ser assustadoramente substituído por um "faz de conta" que se apresenta das mais diversas formas, muito em particular pelo consumismo desenfreado que conduz a uma permanente insatisfação, promessas vãs para encher os bolsos aos ditadores da atualidade, mas também pelo avassalador, e devastador, uso de drogas nomeadamente as consideradas legais, cruzarmo-nos como uma destas obras pode ser completamente redentor, até porque a eventual diminuição do consumo, por exemplo, vai pôr totalmente em causa o sistema de funcionamento da sociedade, e só a verdadeira arte é capaz de produzir a mudanças de mentalidades que porventura vierem a revelar-se indispensáveis.

 

No que à literatura diz respeito, ler Faulkner, David Foster Wallace, Roberto Bolaño, Celine, mesmo a nossa Agustina ou Saramago, aos que agora juntei Júlio Cortazar e o seu "O Jogo do Mundo", são quase sempre experiências tenebrosas no sentido que, tal como afirma o grande escritor francês, normalmente nos conduzem numa viagem ao fim da noite, no entanto caminhar, tantas vezes penosamente, ao longo desse percurso parece levar-nos a essa espécie de verdade fundamental que repousa, e precisa de ser energicamente agitada, bem no fundo de cada um de nós. É então que acontece uma aparente contradição entre um inferno que se descobre e a irreprimível exaltação de por fim compreender a causa das coisas, uma alegre tranquilidade que nos invade via esclarecimentos primordiais mas repetidamente esquecidos, a nossa imensa e comum fragilidade, só e unicamente ultrapassável sem o habitual recurso à violência catártica de frustrações, quando sincera e absolutamente assumida, transformando-se então naquela humildade digna consubstânciada pelo irrevogável respeito pelo outro.

 

 


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semtelhas @ 12:39

Ter, 19/05/15

 

- Na Coreia do Norte foi executado ministro por adormecer em cerimónia - Enfim se percebe a motivação do Fidel admirador da Coreia do Norte para os discursos de oito horas e mais, aquilo depois devia ser uma razia!

 

- Estado contrata para processo BPN antigo funcionário da Tecnoforma - A tal empresa fantasma em que trabalhou Passos. Já está habituado ao modus faciendi...

 

- Primeiro ministro luxemburguês casa com namorado - Provávelmente não será a melhor solução para os problemas de natalidade...

 

- Exmulher de Sócrates insulta procuradora geral - Depois desta ilibar procuradores que insultaram  exprimeiro ministro. Quem com ferros mata...

 

- Grécia pagou ao FMI com fundo de emergência do FMI - O mesmo pêlo de um cão que se prepara para morder...

 

- Bruno Carvalho: Sporting não sabe que dinheiro vai ter - Mas talvez já saiba o que vai ter que ter para pagar à Doyle e à Somague! Ou a ilusória arte de um espalha brasas...

 

- Irina Shaik namora com Bradley Cooper - Afinal parece que a coisa não era uma questão de músculos!... O cérebro não é um músculo pois não?

 

- Passos afirma que o que interessa é a cura não é o doente - Um autêntico príncipe de Maquiavel! Mas como diria Orwel há doentes mais doentes que os outros...

 

- Holland afirma que Fidel fez História - Pois...Também os dinossauros e o Hitler. Valeu-lhe o homem já estar choné!

 

- Cavaco quer criar condições para jovens voltarem - Lembrou-se tarde mas felizmente ainda a tempo do que de melhor por eles pode fazer, ir-se embora.

 

- Mohamed Mursi condenado à morte no Egipto - O tal que tinha ganho as eleições e parece que só queria fazer valer os direitos por isso conquistados! Alguém vai tornar a querer ganhá-las?

 

- Jorge Mendes quer colocar Jesus no Real Madrid - Seria o mesmo que enfiar um elefante numa loja de cristais!

 

- Mãe de rapaz homicída diz que preferia mil vezes que fosse ele o assassinado - E assim se começa a perceber um terrível desíquilibrio mental...

 

- FCP empata com Belenenses e entrega campeonato ao Benfica - Antes assim que no Dragão em frente aos sócios...

 

- Casos de possessão demoníaca estão a regressar - Bem como os exorcismos! Ambos na razão diretamente proporcional ao aumento do intervalo entre ricos e pobres e da ignorância!

 

- Detroit perdeu 70% da população agora vai receber milhares de refugiados sírios - Assim se constrem os ghetos "ovos de serpentes" que nos hão-de envenenar o futuro!

 

- Rui Gomes da Silva dispara em todos os sentidos contra FCP - O antigo ministro adjunto do patético e ultrarápido governo Flopes não deixa o seu crédito por mãos alheias e mostra de que massa é feito! Depois que não se queixe...


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semtelhas @ 13:48

Seg, 18/05/15

 

Das receitas! Aquilo que garante o futuro mas que também, em determinadas circunstâncias, faz "tirar o pé", estar com a cabeça noutro lugar, diminuir o empenho. O FC do Porto acaba de ganhar por muitos de avanço o campeonato dos milhões, e ainda faltarão concretizar mais umas quantas transferências milionárias, situação recorrente nas últimas décadas. Empresa de excelência como é por quase todos reconhecida, salvo as comprensíveis e habituais "azias", seria expectável que a gestão do clube elegesse a sustentabilidade primeiro e só depois o maior sucesso desportivo possível, como objetivo central. Ao longo de há já muitos anos tem sido capaz de fazer coincidir com aquela um sem número de vitórias intrínsecamente a ela ligadas, e a pergunta que muitos fazem é qual o peso específico de cada uma destas facetas no indesmentível enorme sucesso, a racionalidade da gestão ou a paixão clubísta? Dir-se -á que o segredo estará na capacidade de equilibrar as duas faces desta mesma moeda que é o clube e que se pretende manter altamente cotada.

 

Este fim de semana houve uma acontecimento que é verdadeiramente paradigmático daquela que é a escolha, e que não é de agora, de quem dirige o FCP, a dispensa de Reinaldo Ventura, um atleta que nunca conheceu a cor de outra camisola desde há mais de 26 anos. Apesar de nunca assumido publicamente por ambas as partes é óbvio que, mais uma vez e sempre, falaram mais alto os interesses do clube. Fazendo parte de uma equipa notóriamente cansada e sobretudo saturada de títulos, dez consecutivos!, era evidente para todos a urgente necessidade de a renovar. RV sai juntamente com o treinador e aquilo a que se pode chamar a espinha dorsal da equipa. Assim se constroem as grandes empresas, pondo o seu superior interesse acima de tudo. Não obstante o importante peso da variável paixão nesta complicada equação, o que aqui está em causa, mais que a sobrevivência circunstância largamente ultrapassada, é manter o clube ao mais alto nível possível atendendo à nossa realidade.

 

O FC do Porto existe num ambiente claramente atrasado se comparado com os seus oponentes externos, e por isso bastante hostil, relativamente às águas nas quais navega. Seja dado o tecido social que o rodeia, nomeadamente a sua massa associativa e simpatizante que tem muita dificuldade em vislumbrar o essencial, seja pelo tudo que daí advém, um país centralista que protege mais ou menos descaradamente os poderes instituídos, muito em particular aqueles que os mantêm nas suas confortáveis cadeiras, como é o escandaloso caso do sistemático e generalizado apoio ao maior clube do mundo em número de sócios, e repare-se como só este facto, em si mesmo, revela o tipo de "monstro" a combater. Claro que há sempre razões desportivas, falhas cometidas, opções discutíveis, mas é preciso perceber a realidade em que nos movemos, e que ninguém, ou quase, consegue o melhor de dois mundos.

 

Um olhar atento para o rosto dos jogadores e treinadores das grandes equipas quando falam para o público revela uma verdade incontornável, o futebol de alta competição hoje joga-se muito mais pelos milhões que pelos corações. É sobre esse "pano de fundo" que é preciso saber viver, muito em especial quando as regras do jogo em cima do tabuleiro em que nos movimentamos estão viciadas, em particular internamente mas também, ainda que muito menos, externamente, como todos ainda este ano puderam comprovar. Se se tiver em conta tudo isto o FC do Porto anda há decadas a fazer milagres, quase sempre contra tudo e contra todos, e o segredo tem sido sempre o mesmo, pôr o clube acima de tudo. Assistir aos olhares e discursos vazios de treinadores e jogadores multimilionários é cada vez mais comum e forçosamente aceitável, só um pode ganhar desportivamente, já manter os cofres cheios é uma outra conversa. Talvez o FC de Barcelona ainda consiga contrariar esta lógica quando recorre a treinadores ´"da casa", quiçá os únicos capazes de uma exigência mais dura que a simples comprensão da atitude distante de milionários, de uma classe de onde saíram na maioria dos casos, e graças às especificidades do meio em que se movimenta. Salvaguardando com inteligência e frontalidade as enormes e devidas distâncias, quem sabe não está ali um bom exemplo a seguir?


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semtelhas @ 13:46

Sab, 16/05/15

 

Muito se tem discutido ultimamente por essa Europa fora, e não só, o baixo índice de natalidade como motivo maior para a não sustentabilidade do sistema de proteção social no futuro. O crescente envelhecimento das populações conduzirá a uma inevitável falência do mesmo pela manifesta falta de gente para o alimentar, isto é, não há nascimentos suficientes para fornecer a máquina geradora de dinheiro, do qual uma parte é reservada para pagar a uma cada vez mais vasta prole de subsídiodependentes, de entre os quais, por uma questão de justiça aritmética, sobressaem os mais velhos por já terem contribuído com a sua parte para o sistema.

 

Subjacente a este raciocínio está o pressuposto aparentemente inultrapassável de que a atual forma de funcionamento de todo este processo é inevitável, ou seja que o capitalismo, mais ou menos agressivo, mas sempre assente no mesmo princípio da esperada criação de riqueza via denominado crescimento economico, será a única saída para esta espécie de beco sem saída em que a sociedade dita desenvolvida se encontra. Mas, por outro lado, noutros cantos do mundo, nomeadamente na Índia e na China introduzem-se taxas máximas de natalidade, sob pena, dizem, de se estas se mantiverem aos níveis de hoje, não faltarão muitos anos para que os recursos naturais do planeta se esgotem com todas as consequências daí resultantes.

 

Poder-se-á portanto deduzir que não obstante este tempo de globalização desenfreada, naquilo que é essencial os vários blocos sociais, criteriosamente divididos segundo conceitos quase exclusivamente economicistas, não se entendem. A legitimidade de tal conclusão advém do facto de perante este tipo de problema emergir uma solução evidente, mas como se tem largamente constatado longe de ser consensual, que é transferência das populações para onde elas são realmente necessárias, que é o mesmo que dizer formalizar  entre as várias partes interessadas um sistema de migrações adequadamente preparado, nomeadamente nas suas vertentes humanitárias.

 

A alternativa, a criação de uma nova maneira sócioeconómica de lidar com a evolução das sociedades, algo que supere o mais esclarecido dos capitalismos praticados, parece altamente improvável, estão aí séculos de procuras vãs a prová-lo. Aquilo a que se assiste por todo o mundo, e já não só no Mediterrâneo, é um fenómeno imparável, contrariá-lo seria uma utopia comparável ao esforço para deter certas manifestações da natureza. Jamais tornará a ser possível travar estes autênticos mares de gente na demanda de uma vida que auspiciam melhor, mas que sobretudo sabem diferente. Dir-se-á que provávelmente é isso mesmo que está a ser feito, que não haveria outra forma de o fazer, porque por um lado é muito dificíl levar as sociedades detentores de todo o conforto aceitarem dele abrirem mão sem darem luta e, por outro, os mais frágeis não estão preparados para uma absorção forçosamente lenta, em função de uma tentativa de como que um encaixe cultural, e não um choque, o que como é sabido demora muitos anos se feito corretamente para que seja genuíno e eficaz.

 

Estaremos então eventualmente perante uma daquelas fases da História em que nada poderá ser concretizado sem sofrimento, resta escolher por que via, ou controladamente ou acabando tudo num confronto cujos limites são hoje difíceis de prever. A opção salvadora estará porventura na aposta pela vida porque talvez aqui resida a verdadeira esperança. Quanto mais se observa uma sociedade envelhecida mais se percebe como ela é feita de cinismo, amargura e egoísmo, uma trágica demonstração do que a que pode levar a chamada sabedoria. São as crianças que, apesar de tudo, vão alimentando uma postura crente num futuro melhor, uma vontade de arriscar que é essencial e que na verdade contitui a autêntica seiva da vida. Que seria de nós sem aquela maravilhosa ingenuidade, profusão de afeto, necessidade de proteção dos nossos filhos e dos nossos netos, consubstânciadas no sorriso lindo ou num choro enternecedor, que nos arrancam pela raiz de uma morte lenta arrastando-nos para dúvidas promissoras? Sem uma firme aposta neles, e não só uma calculista estatística tecnocrata, o sentido da vida vai-se esvaíndo por muito conforto material que se tenha, e o futuro apresentar-se-á cada vez mais entediante e vazio, conduzindo à degradação fisíca e moral.


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semtelhas @ 12:06

Sex, 15/05/15

 

A força do amor, do medo, da coragem, do instinto, da retórica, da razão, da vergonha própria e alheia, da maternidade, da redenção, do políticamente correto. O que tem mais força?

 

Questão transversal a todos e nunca por alguém cabalmente respondida, talvez encontre as suas facetas mais extremas naqueles lugares que por via de uma natureza dominante de características limite, fazem as pessoas também elas excessivas, como em zonas particularmente quentes ou frias. Roberto Bolaño demonstra-o com toda a crueza em "2666", num México inclemente para com os mais fracos, tal como Ingmar Bergman ou Michael Haneke nas suas obras cinematográficas, onde sobressai a frieza letal de uma linguagem assassina que tantas vezes dispensa as palavras. Lembro-me por exemplo de um filme do primeiro, "O Ovo da Serpente", uma versão para o nascimento, ou talvez melhor, para o refinamento do nazismo, ele próprio uma derivação do fascismo original do inicío do século XX, algo igualmente magistralmente mostrado na fantástica obra de Bernardo Bertolucci, "1900". Nesse filme fortissímo de Bergman, uma das cenas mais pungentes mostra a reação de uma mãe fechada num quarto com o seu bébe durante dois ou três dias. No fim do primeiro, quando a fome começa a surgir e a criança chora, a mãe embala-o docemente e segreda-lhe palavras de consolo ao ouvido, durante o segundo, através de uma câmara de filmar estratégicamente colocada, vemos a mãe desesperada encolhida num canto, cabeça entre as mãos apertada entre os joelhos, e no canto mais afastado, o bébe pousado no chão a gritar desesperadamente. Foram precisas pouca horas mais para que a mulher, à beira da loucura porque incapaz de continuar a escutar o filho, matasse a criança batendo-lhe com a cabeça nas paredes. Com estas experiências diabólicas era suposto os nazis testarem os limites do ser humano.

 

"Força Maior" situa-se na área das "friezas" nórdicas, gentes e lugares, é um filme ele próprio pleno de força, agarra do princípio ao fim e atinge-nos naquilo que de mais frágil temos e comum com todos os outros, as nossas dúvidas. Por isso mesmo quase podia considerar-se uma espécie de ensaio, não fosse a enorme beleza das suas imagens da natureza, até alguma benevolência e um certo rebuscamento no argumento, principalmente no último terço da fita, eventualmente um "piscar o olho" à audiência, mas ainda assim perfeitamente aceitável e sobretudo legítima, afinal aquilo custa dinheiro que é preciso recuperar. Tal como os avalanches de neve que tão bem retrata, também ele é um forte abalo, mesmo para aqueles de convicções fortes.

 

 


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semtelhas @ 14:48

Qua, 13/05/15

 

É relativamente comum encontrar crianças que por várias razões mas especialmente por falta de companhia, arranjam um amigo imaginário com o qual interagem assim mitigando a sua solidão. Na maior parte dos casos com o passar dos anos esse efeito mágico vai-se perdendo, e então a maturidade,  por via de um natural e crescente maior convívio com os outros, traz consigo uma espécie de "cura" daquilo que se numa criança pode ser considerado normal, num adulto carrega um estigma que pode chegar à esquizofrenia.

 

Acontece que se aqueles mesmos instintos com que a natureza nos dotou, nomeadamente uma certa beligerância como arma para uma sobrevivência sempre acima de tudo, talvez com a única exceção da circunstância maternal, durante a formação remetem para sentimentos e atitudes normalmente positivas, encaradas como e efetivamente aprendizagem para a vida, já enquanto adultos os mesmos acabam por resultar na tal esquizofrenia, tantas vezes consubstânciada em patologias extremas, ainda que feliz e muito mais habitualmente "só" numa vivência intranquila.

 

É quando o amigo se transforma num inimigo imaginário. Então instala-se a mania da perseguição como mobil para o exercício do inescapável instinto de sobrevivência, o instalar de uma guerra pessoal e permanente contra o mundo, que autoconsome e espalha a infelicidade em volta. O fenómeno é muito comum em particular na sua versão menos profunda, digamos que em última análise todos sofremos deste mal, o qual aliás, na dose certa, acaba por ter o lado positivo que todas as coisas têm, no caso o desenvolvimento de defesas perante a adversidade, o problema é quando se entra numa espiral negativa em que alguém se sente completamente isolado.

 

Acredito que boa parte do sucesso, aquele que é espelhado por uma maneira de estar minimamente tranquila, suficientemente isenta de agressividade, credor do respeito de todos, radica sobretudo na capacidade de ser humilde ao ponto de perceber que no essencial somos todos iguais, apesar das aparências. O segredo estará em transferir esse inato e comum a todos espírito de luta, não em guerras estéreis contra semelhantes mas na procura de um qualquer objetivo de vida, nobre e construtivo, sendo para isso absolutamente necessário não cair nas inumeras e constantes armadilhas a que estamos sujeitos, muito em especial aquelas que pretendem fazer crer ao sucesso corresponder não uma atitude mental positiva e saudável, demonstrada no inalianável respeito pelo outro, provávelmente nunca tão bem explicado como pela máxima de não fazer ao outro o que não se quer para si própprio, mas na maquiavélica opção em ter mais coisas ou mais poder que os outros.


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semtelhas @ 17:40

Seg, 11/05/15

 

- Professores chumbam a português - E o que é que isso importa num mundo que quase só fala economês?

 

- FMI quer mais cortes nos salários e pensões - Para quem tinha dúvidas que estes nos veêm como os jardineiros, motoristas e empregados domésticos da Europa.

 

- Messi prescindiu de penalti a favor de Neymar - Ou a inteligência de perceber que por vezes é preciso dar um passo atrás para dar dois em frente. Incha Ronaldo!

 

- Passos ataca Portas na sua biografia - E também Cavaco! Depois de mais troikista que a troika, assim se confirmam as tendências suicídas do artista!

 

- E diz que Dias Loureiro é bom exemplo - Diz o aprendiz! A mais pura verdade num mundo no qual quem engorda são os ratos!

 

- Conservadores esmagam nas eleições britânicas - Escolha do mal menor quando confrontados com um trabalhista choninhas? Tem a palavra o nosso Costa!

 

- Concorrente do Ídolos põe SIC em tribunal - Interessante vai ser quando quem o fizer fôr o vencedor, por infração de uso e abuso!

 

- Cavaco prolonga legislatura para além do limite normal - Faz lembrar aqueles árbitros que prolongam indefinidamente o fim do jogo na esperança de que o seu clube vire o resultado!

 

- Televisões perdem milhões em chamadas de valor acrescentado - Calma! Outros logros inventarão para enganar os papalvos.

 

- Lopetegui afirma ter perdido o respeito por Jesus - A esperança é que isso corresponda ao facto de ter percebido que neste jogo não há moral e só alguns comem!

 

- Raul Castro prometeu voltar a ir à missa se Papa continuar assim - Veremos qual deles morre primeiro antes de falhar promessas...

 

- TAP quis dar ajudas de custo e pagar horas extra - E mesmo assim pilotos rejeitaram. Acharam pouco. Não se percebe, serão todos comunistas?

 

- Rio não foi à festa do PSD - Para agora Passos começar de fininho a dá-lo como candidato do partido. Outro Cavaco a dizer-se presidente de todos os portugueses!

 

- Combustível simples só trouxe ganho de 1 cêntimo - Isto de ser simples é muito complicado!

 

- Marítimo treinou no Seixal - Os amigos são para as ocasiões! Hoje tu, no último jogo do campeonato eu.

  


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semtelhas @ 13:44

Dom, 10/05/15

 

 


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semtelhas @ 14:22

Sex, 08/05/15

 

 

É só mais um exemplo entre tantos tão mais importantes da incapacidade que apesar de mais de 40 anos de democracia permanece, a dificuldade em nos organizarmos recorrendo à procura de consensos, seja por via instituições públicas ou associativismo privado, circunstância que poderá dizer-se radicar no "orgulhosamente sós" de má memória, mas esta teoria não resiste a uma análise mais profunda, na verdade Salazar não foi causa mas efeito, ainda que, diga-se, com requintes de malvadez. Trata-se do facto do Hospital de S. João se queixar de se deitarem para o lixo milhões em o plasma sanguíneo, sobejante das dádivas de sangue, para depois o Estado o ir comprar no exterior a preços elevados. Passadas algumas horas o Instituto Português do Sangue negou tudo, que havia uma estratégia em desenvolvimento, e vários outros hospitais vieram dizer que não havia necessidade de gastar dinheiro, que até o têm em stock e com abundância. Se não fosse um caso sério daria para rir desta incrível espécie de diálogo de surdos, independentemente de onde esteja a verdade. Infelizmente por detrás desta atitude trabalha o habitual medo de "dar o flanco", de falhar, a preocupação de não dar trunfos ao "adversário", um jogo baixo em que poucos agem francamente porque, bem lá no fundo, fervilha uma insegurança atávica com origem na mediocridade reinante, e consubstânciada em sentimentos mesquinhos como a inveja, que vão minando a sociedade e não nos permitem sair desta semimiséria fisíca e moral.

 

Quando comparado com os países do clube de que faz parte, nomeadamente os do norte da Europa, Portugal é visto quase como uma republica terceiromundista, algures na América do Sul ou na recôndita Ásia. Acontece porém haverem consideráveis diferenças, e não é especialmente por aquelas que normalmente são consideradas as boas razões, os célebres rácios de desenvolvimento, alguns dos quais podemos exibir com "orgulho ocidental". Antes consistem sobretudo no níveis da chamada felicidade, onde os apelidados de subdesenvolvidos apresentam dados de fazer inveja aos poderosos do mundo, quanto mais aos que se agarram às suas fraldas...Impõem-se então as perguntas, como é possível? Porquê? E no caso específico de Portugal será que essa realidade lhe acaba por conferir um estatuto de país desorganizado mas feliz, à semelhança dos tais por esse mundo fora? Infelizmente, aparte as questões pelas quais as pessoas não tiveram qualquer responsabilidade, e as que tiveram não foram no bom sentido, como são por exemplo a geografia e respetivo clima que nos salvam, mais parece que herdamos o pior de dois mundos, basta pensar que somos a população que mais medicamentos consome.

 

Foi lendo "O Jogo do Mundo" de Júlio Cortazar, que comecei a melhor decifrar este enigma, é que no nosso tipo de sociedade somos escravos de uma geometria feita de rotinas, em toda a linha. Se num primeiro momento serve a mesma como defesa, o alimentar de um sistema que se quer produtivo afim de conduzir ao conforto e à segurança, depois torna-se viciosa, algo sem o que não se pode viver, e, ao mesmo tempo, se torna numa camisa de forças que impede de o fazer. Nas sociedades ditas mais desenvolvidas atingem-se limites absolutamente doentios, dos quais só é possível escapar via drogas ou pondo termo à vida. Se é certo que sem organização nada se consegue, não o é menos que com aquela em excesso o que se logra é um crescendo de rotinas que acabam por conduzir a uma espécie de loucura mansa, comummente aceite e até aplaudida, mas cujo fim tantas vezes se revela trágico. Ninguém suporta o "faz de conta" para sempre. Não é por isso de admirar que muitos dos mais pobres "chafurdem" felizes no meio do que chamamos miséria, enquanto tantos que tudo têm incompreensivelmente se autodestroem via drogas, ilícitas mas sobretudo lícitas, ou se atiram abaixo das pontes. É que é elevado o preço a pagar pela falta de liberdade que é viver no sociedade traçada a "régua e esquadro", em que a subverção está muito mais presente na máquina diabólica em busca do lucro, do que, como a cada minuto querem fazer crer, na luta por a desmontar tornando a existência mais próxima do que é a natureza humana.


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semtelhas @ 12:19

Qua, 06/05/15

 

Há um livro intitulado "A Mulher da Areia", uma metáfora fantástica sobre o sufoco que pode significar a vida, assim como uma miríade de autores que recorrem à paisagem do deserto para exporem as suas maiores angustias, ou exultarem sobre as virtudes da existência.

 

Mas não é para falar desse tipo de filósofos que escrevo, apesar de acreditar que a massiva presença da tão afamada substância, grandes espaços livres e refletores da luz redentora, motivo para os maiores sonhos ou ainda mais devastadores pesadelos, também neles possa contribuir para um estado mais ou menos exaltado que os transporte às suas próprias profundezas. 

 

Quer chova ou faça sol, corra uma suave brisa ou sejamos fustigados por furiosa ventania, lá estão os trabalhadores da Câmara Municipal a desempedir da inconveniente areia o passadiço, por onde diáriamente circulam junto ao mar dezenas, ou mesmo centenas, depende da intempérie. Arregimentados pelo Estado ao vastos exércitos de desempregados para alinharem nas cada vez menos correspondentes fileiras dos subsídiodependentes, assim cumprem uma espécie de serviço cívico no qual o facto de simplesmente estarem ocupados, ou talvez mais importante, não encararem a passagem do tempo como algo parecido com uma incógnita, não é de somenos importância. 

 

Hoje devidamente fardados, o que lhes confere uma certa dignidade via sensação de pertence ao Grupo, vão desenvolvendo a sua atividade de uma forma, digamos, livre, o que só vem confirmar, e bem, a tal vertente eventualmente essencial da questão ocupacional. Observando-os, a eles, a maioria, e a elas, podemos encontrar os mais variados estilos, tal como em qualquer outra atividade, mas, curiosamente, neste caso não são raros os exemplos de gente que manifesta uma estaleca acima da média. Essas sensações chegam por via de um olhar mais atento aos seus rostos, da profusão de piercings ou tatuagens mais improváveis em pessoas claramente de meia idade, também numa rápida descodificação na forma como encaram quem passa, mas sobretudo no desempenho do seu trabalho.

 

Seguramente 80% do tempo passam-no em amena cavaqueira com o companheiro ou companheira, normalmente funcionam aos pares, restando os restante 20% para, fazendo uso de um zelo admirável consubstânciado numa lentidão quase científica, efetivamente limparem as traves da madeira da arreliadora areia, alguns mesmo com laivos de artistas tal é o resultado geométrico da obra, infelizmento logo, quase invariávelmente, destruído, mas imediatamente corajosamente retomado. Isto tudo nunca descurando o importantissímo cliente, é assim que me sinto quando face à minha aproximação da zona dos trabalhos, o mais atento ordena firme e bem audível a interrupção imediata dos mesmos para que eu, bem como todos os outros, inchados por tanta deferência, passemos impantes, circunstância que acontece constantemente. Não menos notável é a magnífica postura que adotam durante os longos e imagino que socráticos diálogos, direitos, olhos nos olhos, uma mão sábia e tranquilamente pousada na outra, e ambas sobre a pega da pá que descansa apoiada verticalmente sobre uma trave de madeira, por vezes com uma perna elegantemente cruzada,  enfim, dignos da beleza plástica do metálico Pensador de Rodin!

 

Um destes dias, depois de várias semanas de aturada limpeza que quase conduziu à total ausência de areia, chegou uma tempestade que, numa noite, a repôs em todo o percurso chegando em alguns sítios a meio metro de altura, desabafei solidário junto de um dos trabalhadores mais antigos e do qual sempre recebo, e devolvo, uma cordial saudação, "tanto trabalho para nada!", ao qual respondeu exibindo eloquente indiferença onde eu esperava desalento, "o turno da noite trabalhou ainda melhor". Se isto não é filosofia...


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semtelhas @ 14:07

Sex, 01/05/15

 

Lembro-me de quando era adolescente achar que tinha um certo jeito para pôr os discos certos, dar uma sequência que me parecia adequada de forma a manter, na maior parte dos casos só para mim próprio, um certo entusiasmo com a música que ouvia, opinião em que obviamente era mais um entre tantos, apesar de ter chegado a utilizar dois aparelhos em simultâneo. Por esses dias, finais dos anos sessenta princípios dos setenta, julgo que a figura do DJ ainda não era conhecida tal qual a reconhecemos hoje, uma espécie de mago com a arte e engenho suficientes para, na esmagadora maioria das vezes com a música de outros, manter os níveis de interesse no que se está ouvir e dançar suficientemente altos, não raras vezes levando mesmo quase ao delírio as pequenas multidões. Hoje recorrendo à mais recente tecnologia, sofisticadas aparelhagens, é possível fazer perdurar a excitação ao longo de imenso tempo, basta para isso que sempre que uma música entra naquela fase menos ativa fazer disparar uma outra. O segredo está em fazer soar permanentemente um ritmo forte e bem definido, porque tal como os nossos mais ancestrais ascendentes também nós não resistimos a esse apelo primordial que, segundo se pensa, um dia um homem descobriu no interior do seu peito. Quem não conhece as célebres danças rituais dos povos primitivos ao som do tambor? Ou a utilização deste mesmo instrumento como das primeiras formas de comunicação à distância?

 

Não é por isso de estranhar este retorno às origens consubstânciado nomeadamente pela música House nas suas diversas variantes, bem como tudo o que arrasta atrás, tal como dantes autênticas tribos ululantes por essas superdiscotecas mundo fora. É sabido que, como atualmente, também outrora nessas ocasiões de celebração, eram usadas as mais variadas substâncias afim de potenciar a efeito pretensamente mágico do momento, chegando a atingir-se verdadeiros climax's coletivos, provávelmente a diferença esteja na pureza dessas substâncias, na frequência com que esses atos eram praticados, só em dias de festa, ou então, tal como hoje, boa parte daquela gente acabava por pagar caro os excessos cometidos. Para além disso também aqui se assiste à mistura de certos lobos disfarçados com a pele dos carneiros que são o resto do rebanho no seu meio, com tudo o que tal pode significar. A figura do DJ é central no fenómeno, e dado que dele fazem vida, um permanente estado festivo, é suposto viverem numa espécie de Éden. É exatamente essa ideia que o filme com esse mesmo título, Éden, pretende desmontar, e fá-lo com tal eficácia que quase torna irresístivel a quem a ele assiste a vontade de alinhar, e deixar-se perder, naqueles ritmos com tanto de repetitivos quanto de alucinantes, um convite à fuga que pode tornar o retorno bem doloroso!

 

 

 


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"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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