semtelhas @ 18:07

Qua, 31/12/14

 

- Espanha quer as ilhas selvagens portuguesas - Vai ser desta que vamos ter que nos chatear!

 

- Paquistão furioso com série Homeland - De facto têm razão aquilo é um paraíso! Ainda agora se viu naquele colégio para filhos de militares.

 

- Bruno Carvalho sempre foi a Guimarães - Fica para a próxima o início da poupança para pagar o milhão e meio a Marco Silva.

 

- Syrisa segue à frente nas sondagens na Grécia - Por toda a europa já se decretou o fim do mundo se ganhar. Mas o mundo de quem?

 

- Aeroporto de Lisboa bate recordes de afluência - Depois do recorde de requisições civis a companhias aéreas este não devia valer.

 

- Alberto João diz que teme que Madeira volte ao antigamente - Qual antigamente? Só se fôr antes do Salazar!

 

- FMI suspende ajuda e Alemanha diz que Grécia tem que cumprir - O lobo mau rosna, a avózinha Grécia treme, vamos ver o que o vermelho capuchinho Syrisa vai fazer.

 

- Austria não sabe o que fazer a casa de Hitler - Que tal passar-lhe com um buldozer por cima?

 

- Manuel Alegre pagou dívida de 400 mil euros pela candidatura à presidência - Já está mais contente! Parece que foi com ajuda de uma conta de beneméritos. Constará lá o do amigo do Sócrates?

 

- Excompanheiro de rainha espanhola diz que vai revelar vivência em comum - É um asno escroque? É. Mas já se viu vender a alma ao diabo por muito menos do que pelo que este palerma vai ganhar a vender livros.

 

- Coreia do Norte compara Obama a macaco - Não somos todos? Só que uns evoluíram mais que outros, e não foi na cor da pele!

 

- Dinamarca quer Pólo Norte todo só para ela -  Aquilo é tão grande! E depois ainda dizem que são o país do Pai Natal!


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semtelhas @ 12:15

Ter, 30/12/14

 

John Updike

 

Escolher um tema candente, fazer uma pesquisa eficaz sobre os assuntos focados para se saber do que se está falar, e colocar em pano de fundo uma história bem contada, onde todos, ou a maioria dos aspetos relacionados com o que mais mexe com as pessoas, como o amor, o sexo, o casamento, a morte, a juventude, etc., e aí está um romance com tudo para vencer no mercado, ou seja, vender. Neste tipo de livros a sensação que fica ao lê-los é sempre a mesma, uma certa apetência para continuar, a curiosidade estimulada, mas, simultâneamente, o sentir que falta alguma coisa. Aquilo está obviamente bem feito, laboriosamente construído, mas sente-se-lhe a ausência de alma e o excesso de calculismo. Uma leitura em que a informação é muita, e portanto aprende-se bastante sobre as coisas e as pessoas, mas à qual falta a sinceridade e o entusiasmo que torna determinadas obras marcantes, inesquecíveis. É assim o livro "O Terrorista", o vigésimo tal de John Updike, no que a profissionalismo diz respeito em tudo semelhante ao vibrante "Brasil", ou à esclarecedora e elaborada saga do Coelho.

 

 

Pinto da Costa

 

A visita de Pinto da Costa a Sócrates na prisão de Évora, parecendo enigmática, foi um ato absolutamente paradigmático da inteligência e da sabedoria ao serviço de um objetivo, neste caso o nobre propósito de defender aquilo em que se acredita. Em pessoas como PC nunca uma atitude é inocente, e com esta, de uma penada, algo muito comum entre pessoas deste calibre, ganhou em várias frentes. Ao ser recebido por um exprimeiro ministro naquela situação tão debilitada, emparceirando ao lado de pessoas tão notáveis como Mário Soares ou Guterres, só para mencionar duas delas que terão merecido igual destaque mediático, colocou-se ao seu nível. Depois, tendo ele próprio sido alvo de um processo judicial que semeou dúvidas e maldicência à sua volta, apesar de, tal como agora com Sócrates, haver a sensação que o maior pecado cometido terá sido o de não fazer parte de uma reconhecida maioria protegida, consegue uma espécie de branqueamento desse seu passado supostamente menos recomendável. Finalmente, e não menos importante, dá-se o caso da vítima visitada ser um ilustre benfiquista, não tanto pelas demonstrações públicas de amor ao clube, a sua posição necessáriamente equidistante também não o permitia, mas mais pela repetida assunção da condição de benfiquista, o que traz ao visitante uma aura de bom desportista, de fairplay, a que sem dúvida nem o mais ferrenho dos benfiquistas terá ficado alheio.

 

Paulo Portas

 

Pode-se amar ou odiar mas nunca ficar indiferente ao personagem. É impressionante como ao longo de boa parte do pós 25 de Abril de 74 Paulo Portas, sempre ligado a escassas minorias, teve a arte e o engenho de se manter na crista da onda. Como se tudo tivesse sido meticulosamente previsto, desde o seu aparecimento no "Independente" enquanto exímio escriba, nomeadamente para zurzir sobre os detentores do poder, onde, por um lado, se deu a conhecer a uma elite dominante que logo ali viu a possibilidade de um precioso defensor dos seus interesses, porque um dos seus mas com uma infinita capacidade de dissimulação, e por outro foi conquistando uma certa aura de defensor dos desfavorecidos que tão útil lhe tem sido até hoje e, muito provávelmente, será no futuro. São já vários os casos em que recaíram sobre ele desconfianças relativamente a procedimentos eventualmente ilegais. Não obstante em qualquer deles a evidência gritar o seu maior ou menor envolvimento, a verdade é que sempre se safou! O último destes casos é mesmo de bradar aos céus se se tiver em conta o que se passou na Alemanha com quem vendeu os submarinos, acontece porém que certas castas pairam acima de todas as dúvidas. Mas seria injusto não lhe reconhecer a luminosa inteligência ao serviço de uma carreira de um profissionalismo inigualável.


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semtelhas @ 14:58

Seg, 29/12/14

 

 


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semtelhas @ 14:08

Seg, 29/12/14

 

Ía sentado junto à cabine do pequeno avião de dezoito lugares, duas filas com oito pares de cada lado, mais dois encostados à dita, de frente para cada uma das filas, e ainda um atrás, estes últimos três penso destinados à tripulação, apesar de neste caso esta se resumir a uma simpática hospedeira, que mais parecia uma espécie de mãezinha dos passageiros que, mesmo assim, não passavam de uma dúzia. Debruçando-me um pouco para a frente, e porque o piloto deixara a porta do pequeno compartimento aberta, beneficiava de uma visão quase em tudo semelhante à que aquele, a pouco mais de uns dois metros, tinha praticamente encostado ao vidro panorâmico. A toda a sua volta uma panóplia de luzes, botões e alavancas de vários tamanhos, faziam-me refletir na sofisticação daquele aparelho, mas o que realmente me impressionou foi quando o nariz do avião desceu acentuadamente, e pude ver lá ao fundo uma pequeníssima extensão de alcatrão com um conjunto de riscos brancos regularmente interrompidos, mesmo ao meio, e só aquele "aranhiço" habitual nas pistas dos aeroportos que suporta as luzes vermelhas no seu topo para indicar o princípio e o fim desta, me fez perceber ser ali que iríamos aterrar. Como quem conduz uma motoreta, o piloto apontou para aquela mancha negra, e após uns quantos minutos de descida vertiginosa acompanhada de fortes solavancos, que só não nos atiravam ao chão porque íamos literalmente presos aos bancos, para meu espanto para além do cinto de segurança, tal como o da hospedeira que nos observava, todos de olhos arregalados, mantendo uma bonomia completamente desarmante, saíam dois outros de ambos os lados superiores dos bancos, os quais depois de os cruzarmos sobre o peito, os encaixávamos nuns recetores que vira somente ao cumprir essa ordem superior. A pista aproximava-se a um ritmo assustador, mas eis que já muito perto, a pequena aeronave posiciona-se na horizontal, ficamos com a sensação que pára no ar, e pousa suavemente no pequeno tabuleiro negro delimitado de um dos lados por um género de parque de estacionamento, onde se podem observar duas avionetas e um helicóptero, do outro por um minúsculo edifício a fazer de gare, para a frente e para trás uma imensidão de um mar azulíssimo e absolutamente tranquilo, tudo banhado por um sol morno, bem alto naquele fim de manhã de um céu imaculado.

Quando algumas horas antes pousara em Ponta Delgada, observando o movimento surpreendentemente intenso quando comparado com o que ali mesmo vira mais de vinte e cinco anos atrás, percebi que aquilo ainda não era o isolamento que pretendia, a paz e silêncio que procurava desde quando, três dias atrás, depois de deixar Eurico e passando por uma montra de uma agência de viagens, vendo o anúncio "Visite a Madeira e os Açores", encontrei a fuga ideal aos acontecimentos que me oprimiam profundamente. Foi por isso que nem sequer saí para a cidade que via pulsante do outro lado das enormes paredes envidraçadas. Escolhera um pacote de viagens menos de turista e mais de viajante, o que me permitia uma grande liberdade de movimentos ainda que em troca de considerável aumento no custo. Imediatamente segui para a Horta, que também conhecia dessa distante viagem, porque sabia lá encontrar o que precisava, absoluta tranquilidade, temperada pela maravilhosa omnipresença daquele mar, particularmente naquele canal entre o Faial e S. Jorge que Vitorino Nemésio imortalizara em "Mau Tempo No Canal". Também dos espaços verdejantes pejados de pacíficas vacas transmissoras daquele ritmo por que ansiava, lento, vagaroso. Na verdade foi pensando precisamente nessa incrível paisagem de S. Miguel, com as suas lagoas de uma beleza surreal, percorrendo a ilha de lés a lés num carro alugado como fizera então, parando algures enchendo a alma do verde e azul que nos preenche totalmente o olhar, ouvindo o silêncio absoluto, como só no deserto, e sentindo a brisa suave a afagár-nos a pele, que decidira fugir. Mas pela mesma razão que preferira começar pelos Açores em vez da Madeira como era sugerido, que agora optara primeiro pela Horta e deixar para depois Angra e Ponta Delgada.

Sentado na esplanada do Peter, como também aquilo mudara com a moderna marina em frente! E, tanto quanto me lembrava, também o próprio Sport! Constatação que me deixou algo nostálgico, por muito que se procure jamais se encontram as sensações vividas em determinado momento porque todas as circunstâncias, sobretudo a nossa, se alteraram. Podia sempre meter-me na camioneta de carreira que me recordava dava a volta à ilha, mesmo até junto dos Capelinhos onde fora a pé sentir a paisagem lunar, tendo depois que aguardar a próxima, para aí, finalmente, encontrar paz, mas não, estava na hora de parar para pensar e aquele sítio era o ideal. Tinha pela frente quinze dias longe de tudo e de todos, situação para mim normal exceto no que diz respeito à distância física. Não havia informado ninguém da minha ausência, pelo que estava objetivamente sózinho. Quase não resistira ao dissimulado apelo do pai de Luísa para me deslocar ao hospital visitá-la mas, no ultimo momento questionara-me, e depois? Fazê-lo seria ligar-me aquelas pessoas e ao seu futuro. Tudo o que havia acontecido fora demasiado forte, grave, para tentar fazer uma espécie de visita de cortesia, impossível!, Saíria dali sempre comprometido para o futuro. A solução seria passar uma mensagem clara de nada ter a haver com o assunto, mesmo arriscando eventuais consequências. Mas quais? O que podiam fazer? Bem vistas as coisas de facto nada fizera para a precipitação dos acontecimentos, desde o início tinha sido engolido por eles, atraído e preso numa teia diabólicamente tecida, não podia cair na armadilha. Eles sabiam-no. Era imprescíndivel esquecer aquela louca e os não menos desiquilibrados autores do "monstro". Coincidiram uma espécie de primeira sensação de alívio e o fim da primeira cerveja, uma "geometria" que não só não me era alheia como tantas vezes dela me fazia refém, aprisionando-me numa sucessão de jogos mentais, uma dialetica fruto de teses e antiteses, não raras vezes forçadas que resultavam em sínteses falsas. Também desta teia tinha que me libertar sob pena de dentro dos seus labirintos me perder! Mas esse era outro problema, para outra ocasião. Pedi a segunda cerveja e um qualquer acompanhamento para afogar o álcool que começava a sentir dominar-me, não tinha comido nada desde que saíra do continente. Pousou a garrafa em cima da mesa e juntou-lhe um belo artefacto que parecia em cristal, eventualmente numa daquelas misturas com vidro, dois pequenos golfinhos unidos pela barbatana do rabo, cujos corpos serviam para lá meter, neste caso, num tremoços, noutro amendoins. Recordei-me já ter visto aquilo algures e, no mesmo instante, lembrei-me ter sido naquela aparentemente tão remota tarde em casa de Rute, exatamente para o mesmo efeito...


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semtelhas @ 15:54

Sex, 26/12/14

 

Parece que o pai natal foi inventado pela Coca Cola, mas isso não interessa nada, porque a gente tem mesmo é que acreditar em alguma coisa, mesmo aqueles que o negam. Quanto a mim o que sei é que nunca mais a vida foi a mesma depois que nele deixei de acreditar e, o pior, é que nem sequer dei por isso! Naquele dia, após tantos natais à espera das primeiras horas da manhã para ir acima do fogão ver o que me tinha calhado, em que soube que afinal era o meu pai quem tinha feito aquele carrinho de rolamentos, é que para além daquilo ter "a sua marca" eu já tinha visto aqueles pedaços de madeira, e aquelas estranhas peças com bolinhas de chumbo lá no seu pequeno anexo de artífice, nesse dia mudou tudo. Foi desde aquele momento que em mim se instalou a dúvida, e, atrás dela, a descrença que mais tarde haveria de acabar no cinismo.

 

Foi por isso que este ano resolvi voltar a acreditar. Só o consegui porque me foi dada a possibilidade de olhar para as maravilhas que esta época faz, sobretudo um sincero esforço de tolerância que as contas das prendas ainda não conseguiram envenenar por completo, através dos olhos de um bébé que também é meu. Porque estou solidário com aquela pequena criatura, porque ela é credora dessa esperança e do meu empenho em não a defraudar. Observando-a quando dorme o sono dos justos percebo que entregou o seu futuro nas minhas mãos, com absoluta confiança, sem reservas. E estou feliz por me ter sido dada uma nova oportunidade. Já me tinha acontecido, mesmo sem o saber, quando aos oito anos vi o meu pequeno irmão, acabado de nascer, ao lado da minha mãe que me espiava atenta. Depois quando o meu filho pareceu lançar-me um olhar rápido, a primeira vez que o vi, a passar dentro de uma incubadora, sensação tantas vezes repetida depois. 

 

Talvez por isso também me lembrei do meu pai entusiasmado, a meter no frigorífico as garrafas de espumoso, este é do bom, dizia, zelosamente guardadas durante meses especialmente para o dia de natal, um luxo a que achava ter direito, e que muito prazer lhe dava partilhar. E daquele meu cunhado preferido, naquela primeira véspera de natal que passamos juntos, em que entramos numa louca competição a ver quem comia mais frutos secos, devidamente "empurrados" pelo champagne do familiar "de posses" que aquele ano nos recebeu. Como nos divertimos! Também do cuidado e carinho que a minha amiga I. punha na tarefa de separar o artigo das prateleiras destinado a presentes de natal. Tinha que estar tudo impecável porque oferecer deve ser um ato de amor, não uma transação, parecia dizer enquanto ela própria vigiava atentamente a embalagem, que depois me entregava com um sorriso radioso nos olhos. Eu acredito!


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semtelhas @ 16:21

Seg, 22/12/14

 

Estava bastante acabado para a idade o meu amigo Eurico, quando o vi sentado numa mesa logo à entrada do café onde combinaramos encontrarmo-nos, teria decorrido meia hora sobre o telefonema?, quase não o reconheci. Como era possível mudar tanto em tão pouco tempo? estaria ele a pensar exatamente a mesma coisa enquanto me fitava atento? Cumprimentámo-nos, ele efusivo como sempre, talvez contagiado pela agitação que chegava da manifestação no exterior mostrava-se até algo inflamado. Ao longo de largos minutos "esvaziou a saco", que aqueles filhos da puta lhe andavam a dar cabo da vida, sempre a sacar-lhe dinheiro do salário e, pior, que a mulher já há cinco anos não era colocada. Lembrava-me agora que a sua companheira também era professora. Que como esteve várias vezes de baixa por gravidez, e como, também por isso, nunca lograra passar ao quadro de efetivos, tinha ficado para trás. Ainda por cima um dos filhos, o mais velho, desatou a dar-lhe problemas de toda a ordem, era toxicodependente, de momento nem sabia dele, que provávelmente estava no estrangeiro, não seria a primeira vez. As duas seguintes estavam a estudar, mas que a mais nova começava a dar sinais de querer seguir os passos do irmão mais velho, estavam mesmo a pensar em mandá-la para a a casa da avó materna em Valpaços, e que o pequenito andava no jardim de infância. Não foi preciso mais de uma hora para entender o prematuro envelhecimento de Eurico, também ele e os seus vítimas de um país constantemente em mudanças, onde o clientelismo que domina quem governa, sistemáticamente deita por terra tudo o que fora feito anteriormente, para em nome de uma falsa melhoria, recomeçar do ponto zero permitindo assim aos amigos ganharem "rios de dinheiro" e receber as respetivas compensações. Tive pena dele, mas a minha vida também não era própriamente um "mar de rosas", e aquilo que verdadeiramente me tinha levado ali, era algo que não quisera ouvir pelo telefone, permanecia por esclarecer. É que se tratava de um assunto que poderia vir a revelar-se importante no meu futuro próximo, toda a história relacionada com Luísa fora objeto das mais variadas especulações na escola onde eu lecionara e onde Eurico continuava a lecionar, pelo que ele, até pela sua natureza de conversador, seguramente teria muitas informações úteis a esse respeito. 

Depois de lhe relatar sucintamente os últimos cinco anos da minha vida, menos os seis meses mais recentes, respondendo assim à sua pergunta, quando finalmente se deu conta de estar havia mais de uma hora a "despejar", e tu? desculpa. Esta devia ter sido a primeira pergunta. Abordei o que mais me interessava. Há um bocado estavas a dizer ao telefone de uma notícia... Fixou os olhos em mim e percebeu ao que vinha e, como sempre, deu mostras de bom caráter não se fazendo rogado antes desfiando aquilo que, inteligente, sabia eu queria ouvir. Quando saís-te, durante os primeiros tempos, o ambiente andou tenso, sabes como é, a culpa a fazer o seu caminho... Acusações, mentiras, "sacudir água dos capotes", enfim...mas passados dois ou três meses voltou tudo ao normal. Depois foi o ramram do costume. A tua exaluna lá continuou a sua "saga de matadora", chegou a falar-se do seu envolvimento com o Machado, lembras-te? Ainda mais velho que tu!... Desculpa, tu até estás muito bem, ninguém te dá a tua idade. Mas como entretanto acabou o décimo segundo e foi embora nunca mais se ouviu nada. Mais tarde soube que tinha entrado em Direito numa daquelas universidades privadas para ricos mediocres. Exclamou a sua "costela vermelha" enquanto eu pensava, deve ter sido onde conheceu o namorado. Como é comum neste género de pessoas o essencial nunca mais chegava...mexi-me nervosamente na cadeira e ele percebeu. Para aí há três ou quatro dias li no jornal uma daquelas notícias infelizmente cada vez mais habituais, a dizer que uma jovem mulher tinha entrado no hospital em estado grave depois de brutalmente agredida pelo companheiro, à porrada. Parece que o gaijo ficou lá parado, tipo paralisado a ver "a obra", e que os vizinhos ao ouviram gritos tiveram que chamar a polícia que se viu "à nora" para arrombar a porta. Quando vi o nome, sabia-o completo lá da escola, pensei logo, esta tinha que acabar assim! A partir daquele momento práticamente deixei de o escutar. Fui invadido por uma série de sentimentos contraditórios que íam desde o alívio ao dó. Agradeci-lhe, abraçámo-nos e prometemos contactos futuros que ambos sabíamos não irem acontecer, vivíamos mundos demasiado diferentes, só, como agora, por acidente.

Comecei por ligar ao seu pai que me disse tudo ter acontecido na noite em que ela se preparava para voltar lá para casa, para o seu Minimercado Luísinha. Estava toda a gente espantada como o Rafael fora capaz de fazer uma coisa daquelas, era tão calmo! não matava uma mosca! Neste momento refleti, talvez precipitada e vulgarmente, ao que uma mulher desiquilibrada pode levar um homem supostamente calmo fazer! Dizia-me com voz trémula, a Luísa estava irreconhecível, ele bateu-lhe sobretudo no rosto e no tronco, tinha várias costelas partidas, ficou louco! Quando a polícia entrou estava sentado no chão da cozinha, branco, a olhar para as mãos cheias de sangue, dele e dela, antes parece que tinha andado a esmurrar a parede, e nem sequer os viu chegar. Levaram-no, ainda não saiu da enfermaria, mas já assumiu tudo, e a primeira coisa que disse foi que queria ficar preso o resto da vida. Pensa que a matou. Calou-se. Aproveitei para perguntar, e a sua filha? Já não corre risco de vida, ao princípio havia reservas por causa da violência das pancadas, mas fizeram-lhe vários exames e está tudo bem com os orgãos vitais. O problema, um soluço, é que a cara, outro, ficou muito afetada, a minha menina tão bonita! A minha mulher não sai da cama! diseram-nos que com uma...mais que uma operação plástica conseguem dar-lhe um aspeto normal. Novo silêncio e ruídos próprios de quem chora. Também eu alterado com o que ouvia ouvi-me dizer, Calma, hoje a ciência faz recuperações incríveis. Senti-o a recompôr-se, Sabe sr. doutor? Só me tinham tratado assim duas ou três vezes, durante reuniões de pais, antes da confusão, Para nosso grande espanto, especialmente por estar naquele estado, das primeiras coisas que nos disse mal conseguiu fazer-se entender, pouco e muito baixinho, foi que gostava de ver o professor Vasco. Quando acabei de ouvir aquilo, o conteúdo e o que me pareceu um ciciado e quase imperceptível tom vingativo, foi como se algo me tivesse a sufocar a garganta, no mesmo segundo percebi que me iria, iriam culpar, que aquele seria o meu castigo pelo cometido crime da indiferença.


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semtelhas @ 12:24

Seg, 22/12/14

 

O Fator Sorte

 

É costume convocarem-se uma série de lugares comuns quando se é bafejado pela sorte: que dá muito trabalho, que é o azar dos outros, ou, menos comum, que é o ponto de encontro entre a preparação e a oportunidade, e todas elas correspondem, de alguma maneira, à realidade. Veja-se por exemplo o caso da carreira do Benfica este ano na Liga. Seja porque normalmente, independentemente da qualidade com que o fazem, nunca se dão por vencidos, trabalham árduamente até ao limite, não raras vezes atingindo o seu objetivo já bem perto do fim da possibilidade de o conseguirem. Seja porque os adversários, alegando azar, dão repetidas demonstrações de incompetência, nomeadamente falhando oportunidades atrás de oportunidades para inverterem o rumo dos acontecimentos, ou, finalmente, porque, como dos fracos não reza a História, e face à evidente incapacidade dos oponentes, dão continuadas provas inequívocas de estarem preparados para agarrar todas as oportunidades que surjam, aproveitando a natural tendência protecionista de quem está por cima. O certo é que não será tanto pela perda do fator sorte que perderão o campeonato, mas sobretudo se os adversários mudarem alguma coisa no seu jogo, seja no nível de entrega, seja na competência em geral mas nomeadamente na eficácia.

 

O Sentido Cénico

 

O tempo terminara havia muito, mas Marcelo ainda teve tempo, voz embargada, parecendo prestes a desabar num pranto, para conseguir dizer a Judite de Sousa, Sei que este vai ser um Natal muito difícil para si..., ela olhou-o parecendo surpreendida, e não menos atrapalhada com os sentimentos que lhe invadiram a alma, respondeu, O pior...fico muito sensibilizada com a atitude do professor, e despede-se de quem está do outro lado do ecrã em evidentes dificuldades para articular as palavras. Ouve-se em crescendo a música indicadora do final do programa, enquanto as câmaras têm um movimento de afastamento dos protoganistas, para cima, dando-nos a imagem de ambos a trocar aquilo que parecem impressões de circunstância. Independentemente da genuinidade das pessoas eu pergunto-me, como é possível, tratando-se de assuntos tão delicados como é a morte de um filho, serem capazes daquele nível de frieza? O de por saberem estarem ser vistos por centenas de milhares de espetadores fazerem aquele número, para, segundos depois, mudarem para o modo normal? Não é fácil nem quero acreditar, que não obstante comunicar ser a génese da sua profissão, no caso da locutora, mas também do comentador pela sua natureza, estivessem a trabalhar nesse sentido, mas que pareceu...

 

A Armadilha

 

Pela primeira vez, pelo menos com semelhante visibilidade, o ocidente dobrou-se e caiu de joelhos perante uma ameaça terrorista. Ao anunciar não exibir o filme onde o líder norte-coreano é claramente ridicularizado a Sony, um dos ícones da civilização ocidental, ainda por cima através de atividade e num país que são eles próprios o paradigma de uma determinada noção de liberdade, abalou bem fundo as crenças que todos os dias sustentam boa parte daquilo que é o chamado estilo de vida ocidental. Por outro lado aos produtores de Hollywood terá faltado a sensibilidade de anteciparem que a perceção do que íam mostrar ao mundo, por parte daqueles que são objeto de ataque é completamente diferente da deles. Basta ver um daqueles vídeos do grande ou querido, ou lá o que é, líder a passear entre a população e assistir à histeria que se instala para compreender o nível da ofensa. E atenção! Aquela gente não é feita de uma massa diferente daquelas meninas e meninos que desesperaram a ver os Beatles, ou desmaiam a ouvir os Tokio Hotel. Por isso digamos que neste choque de culturas houve um ataque brutal e uma resposta à altura. Tudo bem se tivesse ficado por aqui. Acontece porém que, por medo? tomada de consciência? ou seja por que fôr uma das partes encolheu-se, provocando um eventual desiquilíbrio que pode fazer toda a diferença, abalando como abalou ou até acabando com esta espécie de paz reinante. Podre? Talvez, mas ainda assim seguramente preferível ao confronto aberto.


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semtelhas @ 12:05

Dom, 21/12/14

 

- Ricciardi percebe mágoa de Marcelo pelo fim das férias luxuosas na casa de Salgado no Brasil - Imagine-se como Marcelo perceberá a mágoa com que Riccardi está a ver o seu mundo a desabar!

 

- Justiça considera irrelevantes rituais académicos no caso do Meco - Irrelevantes!?Independentemente das razões que levam a considerá-lo, talvez não fosse má ideia ter mais cuidado com as palavras,

 

- Rússia à beira do colapso - Estes, quando por desespero começarem a disparar para todos os lados, vão levar muitos com eles...

 

- Antonio Oliveira: comigo e com Jesus levávamos 12 pontos de avanço - Se um dia o Oliveirinha quiser e puder tentá-lo, será bom que não se esqueça de 4 milhões anuais para o messias, e da metralhadora para pôr as arbitragens na ordem.

 

- Pinto da Costa visita José Sócrates na prisão - E deputado do PSD crítica por ser atitude política. Tal como o chefe não vê nada para além dos interesses.

 

- Pilotos da TAP furaram acordo para evitar a greve - E andavam a apelar a patriotismos enquanto deixavam milhares em terra em tempo de Natal! Quem pode acreditar nestes cãezinhos de luxo?

 

- André Villas Boas quer voltar ao FCP - Quantos milhares serão precisos para o sentar na cadeira de sonho onde foi feliz e se calhar será melhor não voltar?

 

- EUA e Cuba reatam relações diplomáticas - Em pézinhos de lã Obama tenta ir lá!

 

- Igreja Anglicana elege primeira mulher bispo - Fantástico exemplo a seguir! Agora espera-se e deseja-se que a próxima seja mesmo uma mulher...

 

- Paulo Portas vê-se livre dos submarinos - Calma! Só até à seguinte dança das cadeiras, quando reemergirem ameaçadores!

 

- Condenado por homicídio manda postais das Caraíbas para os juízes - E depois? Ás tantas foram lá vizinhos e até dançaram juntos a hula-hula!

 

- Benfica afastado da Taça de Portugal pelo Braga - Depois da Champions e da Liga Europa,  já só falta a da cerveja e dois ou três falharem...

 

- Proença não foi escolhido para arbitrar final - O homem até tinha prometido ir-se embora logo a seguir...não se faz!

 

- Portas exigiu que fosse o BES a financiar os submarinos - E com isso a comissão deste subiu de 1.9% para 2.5%. Claro que ele vai dizer que foi para o dinheiro ficar em Portugal. Falta saber é em que bolsos!

 

- E responsável do banco diz terem gastado 2 milhões só para esconder comissão - Para não pagarem ao fisco, diz. Tradução: admite a vulgar fuga ao fisco para tentar dissimular a vigarista corrupção. É de mestre!

 

- Ministra das Finanças afirma que Portugal não tem que estender a mão à caridade - ...porque a solidariedade exige contrapartidas. Ou seja, precisar precisava... tinha é que ser de borla!

 

- Bruno Carvalho diz assumir maus resultados da equipa - Primeiro a concorrência, depois atacou jogadores, agora o treinador, antes de ser corrido ainda há-de vir a falta de sorte...

 

- Ronaldo ignorou Platini - Pena não o ter deixado pendurado de mão estendida - Desde Basileia em 84, passando pela tentativa de afastar o FCP da Champions, até o que lhe está a fazer agora, que este farsante e arrogante convencido merece que alguém o faça.

 

 


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semtelhas @ 14:54

Sab, 20/12/14

 

 


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semtelhas @ 14:43

Sex, 19/12/14

 

Para o primeiro o papel de pai da democracia portuguesa, um verdadeiro deus a seguir, pela genuídade, frontalidade, resiliência, honestidade, sentido de responsabilidade, humanismo, bonomia, positivismo e, acima de tudo, intrínseco ser livre e consequente inquebrantável defensor da liberdade. Tal como outros portugueses Mário Soares foi maior, muito maior, do que este pequeno país e o exíguo palco que lhe pode oferecer. Seguramente também nele está consubstânciado essa espécie de mistério que levou alguns dos cá nascidos a cometimentos altamente improváveis se analisados de uma perspetiva realista, seja lá isso o que fôr, talvez segundo essa dita infalível ciência chamada estatística. É incontornável o peso dos portugueses no mundo tal qual o conhecemos,  e a pessoas como ele terá faltado a dimensão do país para lhe dar a visibilidade que de facto justificava, mesmo assim a História concerteza irá colocá-lo no lugar que merece.

 

Para o segundo, o mais leal filho político, o papel de cristo. Nunca depois de Soares apareceu alguém com um perfil tão propício a seguir a obra do mestre. A mesma vontade e determinação, o acreditar piamente num caminho,  a preocupação pelo atingir de uma certa equidade, a perseguição aos poderes instalados. Talvez, e só talvez, o pecado de uma educação mais provinciana, muito menos mundo, não evitando assim certas tentações, e a falta das circunstâncias limite que fabricam herois, agora muito mais pragmáticas, no sentido em que uma vez o essencial conseguido é necessário descer ao pormenor, o Calcanhar de Aquiles dos grandes...Veremos o que o futuro lhe reserva depois da crucificação, se a ressurreição se a lama, mas ninguém lhe poderá tirar todo um caminho traçado na direção correta, até ser brutalmente interrompido por uma crise internacional completamente fora do alcance de fuga, bem pelo contrário, dela absolutamente refém.

 

Neste caso o Espírito Santo também representa uma espécie de cenário sobre o qual tudo isto decorre, mas ao contrário do original, aqui bem menos conciliatório, símbolo de harmonia e boa vontade. Na verdade tratando-se daquele que durante mais tempo após a revolução foi considerado o banco do regime, transporta em si mesmo boa parte daquilo que foi o poder do dinheiro ao longo destes quarenta anos. Se é verdade que muito dele foi bem utilizado, bastará perceber como qualquer semelhança entre o Portugal de hoje e o de antigamente é pura coincidência, também o é que o facto da mudança de mentalidades nunca se ter realmente efetivado, muito se deve à atuação de quem detém o poder economico e financeiro. Desde que começaram a entrar os primeiros dinheiros provenientes da Europa as práticas têm sido sempre as mesmas, favorecer os poderosos na expectativa da troca de favores, recorrendo aos mais variados truques, desde a pura e simples corrupção, ao mais desavergonhado aproveitamento de uma população vítima de décadas de isolamento, iletrada e medrosa, à mercê dos crápulas e seus lacaios, os já instalados, e os de toda uma nova classe de novosricos que aqueles se apressaram a instalar em lugareschave, como testas de ferro para os seus inconfessáveis interesses. Entre crucificações veremos quem, no fim, vai merecer o perdão e o seu lugar no céu.


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semtelhas @ 12:17

Sex, 19/12/14

 

Os dias corriam em busca de uma normalidade perdida. Sentia-me cada vez melhor, tinha estendido no meio da chão da sala uma passadeira onde ensaiava os primeiros exercícios "a solo" desde o assalto, e conseguia executá-los melhor a cada nova tentativa. O objetivo era quando fosse à próxima consulta na Ordem ter alta definitiva ou, no mínimo, darem-me uma carta para o meu médico de família da Segurança Social como "passagem de testemunho". Agora, mais que nunca, não fazia sentido continuar a beneficiar das ajudas de Rute, apesar dela me ter informado que o seguro cobria o tratamento até eu ficar apto para todo o serviço, como me dissera com um ar travesso, ainda antes do evento Luísa, pensei num suspiro. Era raro ligar a televisão, cada vez mais uma operação cirúrgica, uma atividade executada com pinças, ver exatamente e exclusivamente isto ou aquilo e, de imediato, desativar o monstro. Uma dessas oportunidades dava-as aos noticiários, mais na expectativa de novidades, no que acompanhava a quase totalidade, do que própriamente com a esperança se usufruir de verdade ou profissionalismo. De facto, salvo honrosas exceções, aquilo não passava de uma sequência de desgraças de todo o género, para nas deixar ficar a viciante e falsa sensação de estarmos longe daquela realidade, uns quantos apelos a bairrismos ou clubismos exacerbados quando não mesmo doentios, e algumas sequências voyeuristas que incluem sexo mais ou menos explícito e coisas supostamente engraçadas a fechar, depois de todo o veneno devidamente inculcado.

Foi numa dessas ocasiões, passava uma reportagem em direto de uma manifestação gigantesca que decorria a algumas centenas de metros, marcando o 40º aniversário da revolução, quando uma daquelas imberbes ditas jornalistas, na verdade inexperientes jovens a alternar entre o aflito e a arrogante, atirados às "feras" por "dez reis de mel coado" para encher telejornais, microfone em riste, faz uma daquelas perguntas tanto óbvias quanto idiotas a um manifestante que, não se fazendo rogado, agarra com entusiasmo no dito e despeja de um só fôlego um discurso onde estava tudo. Dizia, estou aqui por duas razões, a primeira é para festejar um país novo, basta analisar honestamente os rácios, só quem viveu o antigamente o pode avaliar. A segunda é para protestar contra esta gente que quer destruir todo esse esforço. Sou professor e nunca vi nada assim! São convictamente reacionários, por isso vão mais longe do que lhes é exigido pelos credores. A este ponto a pobre repórter logrou arrancar-lhe o micro das mãos, deixando-o a gritar de alívio um qualquer slogan, e assustada, não sei se por não ter entendido nada das palavras do homem, se por momentos ter perdido o domínio da situação, para um jornalista perder o microfone é como para um polícia ficar sem a arma, balbuciou a banalidade do costume e apareceu no ecrã o rosto condescendente do convencido pivot.

Fora a palavra professor que me ligara para além da habitual atenção tipo "piloto automático". Foi quando reconheci Eurico, um dos poucos colegas com quem mantinha uma relação cordial nos meus últimos tempos no ensino. Mais novo que eu, fiquei surpreendido com aquela sua afirmação relativa ao "antigamente", profundamente humanísta, era professor de História, de esquerda como se costuma dizer, não obstante e apesar de muita insistência, nunca ter aceitado ser representante sindical, é tudo uma cambada de comunas, confidenciava-me. Homem entusiástico, permanentemente e agradávelmente espantado com a vida, penso que em jovem chegara a publicar um pequeno livro de poesia, uma desgraça, dizia na esperança que lho pedissem afim de não o confirmarem, casado com um amor de infância e para a vida como afirmava convicto, pai de três ou quatro filhos, julgo recordar-me da mulher estar grávida quando deixei de o ver, andava por essa altura a pensar comprar uma daquelas carrinhas monovolume enormes. Quando me aconteceu aquela confusão foi dos poucos a pôr-se do meu lado, e penso que o único a oferecer a sua solidariedade de forma concreta, chegou a ventilar, ainda que cuidadosamente, a hipótese de todo o corpo docente parar em protesto contra aquela prepotência perante meras suposições, exclusivamente baseadas no testemunho de uma rapariga claramente perturbada, lembro-me na ocasião ter pensado, só eu é que não reparei! Depressa teve que esquecer o seu lado idealista, o cheiro a revolução rápidamente afastou todos os outros e, triste, limitou-se a oferecer-me a sua presença durante a qual mantivemos longas conversas, novidade absoluta no nosso relacionamento, que me deram a conhecer aquela pessoa em tudo tão diferente de mim próprio e, talvez por isso, credora da minha admiração e até sincera amizade.

Resisti a um primeiro impulso de enfiar umas calças de ganga e uma tshirt, o dia estava quente e ainda tinha tempo de viver um resto daquilo que estava a acontecer na baixa, e deixei-me conquistar pela inércia, mas a imagem do meu excolega não mais me largou. Nos primeiros tempos após o meu abandono fizera-me vários telefonemas, mas eu estava demasiado atolado na miséria da autocomplacência para aturar um tipo feliz e pleno de vida, preferi continuar a chafurdar na pieguice e acabei por mudar o numero do telemóvel. Mas vê-lo agora ali naquelas circunstâncias, exibindo uma amargura que lhe desconhecia, espicaçou a minha curiosidade e apeteceu-me ligar-lhe. Procurei a velha agenda e lá estava o seu numero. Seria o mesmo? Concerteza que sim, era do género de não mudar preocupado para não correr o risco de depois não ser encontrado. Hesitei uns segundos com o dedo sobre a tecla para ativar a chamada e, quase sem querer, carreguei. Estou, gritou do outro lado, o barulho era imenso pelo que também eu tive que gritar, É o Vasco, vi-te na televisão, mais barulho e, Não ouço nada, vou a um café e ligo já. Não me tinha conhecido a mim nem ao numero que constava no visor do seu telemóvel, mas não era pessoa para ficar a pensar que tinha deixado alguém pendurado, pelo que não demorou mais de cinco minutos a ligar. Desculpe mas estava no meio de uma manifestação e não ouvia nada. Quem fala?Que deseja? Ainda estava a tempo de desligar mas ele ía insistir. Sou eu Eurico, o Vasco, vi-te na televisão. Está tudo bem? Silêncio enquanto "andava com o filme para trás", Vasco? Estás bom? Tentei ligar-te várias vezes. Pensei, A esta alma boa nem lhe ocorreu que tivesse sido eu a escapar-me. Ele continuava, Estou aqui a fazer barulho contra estas bestas que todos os meses me complicam mais a vida. Mas...é incrível! Não pensava em ti há anos e um destes dias até comentei com a minha mulher que gostava de ter notícias tuas. Foi depois de ler no jornal o que aconteceu à...neste ponto calou-se e eu percebi que se tinha arrependido, que talvez tivesse falado demais, continuava  a dizer primeiro e pensar depois com era costume autocriticar-se. À Luísa, acabou por dizer.


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semtelhas @ 13:41

Qua, 17/12/14

 

Até lá chegar, depois do bombardeamento cerrado durante semanas por uma publicidade impiedosa, sempre percorrendo estradas largas e muitas vezes mesmo a estrear, a ansiedade vai crescendo, súbitamente vê-se um enorme mastro que em vez de ter uma bandeira desfraldrada ao vento, mostra um majestoso logotipo da marca. Seguimo-lo como os reis magos seguiram a estrela... instala-se um reverencial silêncio, e eis que surge em toda a sua imponência uma dos mais célebres catedrais do consumo dos nossos tempos, atualmente na China abrem à razão de uma por semana!!!, e as bichas formam-se ao longo de quilómetros! Realizou-se a profecia, não admiramos o menino mas somos "bois a olhar para um palácio". A entrada intimida, curioso como parecendo fazer do potencial cliente uma espécie de "todopoderoso" o fazem sentir tão pequenino. Isto de assustar pela opulência e esperar obediência cega continua a resultar em pleno. É tudo enorme mas por onde se entra? Lá está uma singela escada rolante e uma envergonhada placa a indicar na entrada que interesssa, a verdadeira razão de ser do monstro, o resto é só para enfeitar. Inocentemente deixámo-nos fazer subir e, de repente o paraíso! "Zona de Exposição", aparece escrito por todo o lado, e de facto sucedem-se espaços perfeitamente delimitados que mostram tudo e mais alguma coisa. Tudo começa por quartos de dormir completos, inúmeros e para os mais variados gostos, seguem-se as cozinhas, nunca pensei existirem tantas e tão diferentes, as salas... Com a sensação que aquilo ía continuar para sempre, abordei uma funcionária para lhe perguntar onde podia encontrar o que pretendia e as caixas. Fita-me estupefacta, quase ofendida, e vocifera a sua indignação como quem pergunta ser possível não ver o óbvio, aqui é só exposição, o que pretende está ao fundo. Chega outra que perante o meu espanto e prestes a "disparar", esclarece apaziguadora, julgo até ter percebido algum dó face a tanta candura e disse, vai ter que dar a volta a tudo isto, fez um gesto largo com o braço, e só depois encontra o que quer. Percebi que algo de errado se passava e, só então reparei numas setas pretas bem visíveis no pavimento, que não só era suposto terem-me "batido nas trombas" desde o primeiro momento, como sobretudo seguir alegremente a direção que indicavam. O que se passou depois foram largas centenas de metros com o "focinho" no chão, pura e simplesmente me recusava a ver fosse o que fosse, para finalmente descobrir o que queria.

Quase feliz e com renovada confiança no futuro, decido por uma das hipóteses e após algum tempo de procura aparece uma funcionária, tal como todas as outras rigorosamente equipada, sente-se que aqui vestem mesmo a camisola, literal e metafóricamente, começo a entender a indignação da primeira que tivera de me aturar e quase lhe perdoo. Menina diga-me por favor onde posso pagar isto, pergunto-lhe já com a coisa debaixo do braço, escandalizada arranca-ma dos braços e num pânico controlado, devem ensinar-lhes a enfrentar estas situações de risco como se de bombeiros a prepararem-se para combater furiosos incêndios se tratasse, e volta a colocá-la no sítio e, condescendente, tê-la-íam avisado pelo walkietalkie da presença no edifício de um homem do neardental?, informa, agora o senhor tem que ver aqui, aponta para umas instruções inscritas acima da coisa, o local onde deve ir buscá-la, lá em baixo no armazém. Como estava no final da área de exposição a descida para o local onde era suposto finalmente pegar no material era logo ali. Respirei fundo e cheguei a pensar, que organização magnífica!, enxotando de imediato a ideia que suspeitava perigosa heresia. Tinha razão porque quando chego lá, durante para aí dez minutos e com as pernas a darem mostras da vontade de desistir, da coisa nem sinal! Temeroso, já à espera do pior, arrisco nova investida sobre um fiel elo daquela engenhosíssima corrente, desta vez do sexo masculino. Sente pelo fio de voz, e uma linguagem corporal de quem já admitiu a derrota, que me deve poupar a mais truques e quase me sussura, contrito, o senhor ainda está na parte dos acompanhamentos, não é este o termo técnico, este é mais adequado à restauração mas serve, referia-se a milhões de bibelots e afins, porque digamos que o mais estrutural e de que fazia parte a coisa, repousava obedientemente no armazém. Antes de terminar a informação fez uma  pausa para me observar bem e glosar o seu efeito devastador, encontra a entrada para o armazém lá ao fundo. Jurando a todos os deuses e respetivos santos, os que conheço mais os outros todos, que jamais voltaria a pôr ali os côtos, e não exagero, era sobre os meus côtos de carneiro que caminhava, depois de percorridos mais uma infinidade de corredores, acabei por encontrar o desejado armazém, e seguindo as instruções que há uma eternidade me tinha dada goradas esperanças de uma fuga rápida, calcorreei a passo acelerado, cabeça no ar dando mostras do desespero dos moribundos que atirava para longe os funestos fardados, lá estava a coisa, outra vez ao fundo das instalações imensas, terá sido azar meu ou isto de tudo estar ao fundo faz parte da provação?, inocente e arrumadinha, a aguardar pela salvação. Fui recompensado pela presença das caixas logo ali e, pasme-se, após poucos metros lobriguei a minha humilde viatura, claramente envergonhada e solitária entre tantas máquinas. Um milagre pensei, afinal isto de arrebanhar acaba por dar as suas compensações, é como nas religiões, a redenção chega no fim, tem é que se percorrer a via a sacra, aqui as diabólicas exposições, e pagar os respetivos pecados, neste caso não resistindo à tentação da compra. É preferível tresmalhar e ir para o inferno!


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semtelhas @ 15:04

Ter, 16/12/14

 

 

 


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semtelhas @ 13:06

Seg, 15/12/14

 

Espreitei pelo orifício da porta e não reconheci a pessoa exageradamente dela afastada, ainda ofegante ao cimo do lanço de escadas, o elevador só chega ao andar de baixo, por outro lado no último piso só existe a minha entrada. Só quando respondeu à minha pergunta, quem é?, liguei a figura ao pai de Luísa. A primeira ideia que me veio à cabeça foi a de estar ali pelas piores razões, ameaçar-me? agredir-me?, por outro lado, e não obstante eu ainda estar longe da boa forma física do costume, a impressão que sempre tivera daquele indíviduo, agora claramente em dificuldades para recuperar o fôlego após subir meia dúzia de escadas, fora de alguém calmo. A beligerante era a mulher. Numa ocasião durante o período mais conturbado entre nós, deslocara-me ao minimercado de que são donos e foi evidente quem "mandava lá em casa". Ambos tinham vindo ainda jovens de uma aldeia, ou vila, do interior norte, e com o apuro da venda de uns terrenos herdados, creio que dos pais ou dos avós, adquiriram uma pequena mercearia na cidade grande. Vieram já casados mas Luísa nasceu cá, e logo na altura, agora são proprietários de um modesto mas limpo e pareceu-me funcional e eficaz estabelecimento, fiquei com a impressão de ser gente limitada, aquele misto de coragem e mesquinhez muito própria da primeira geração a "sair da terra", com tudo o que tem de mau mas também de bom, como a transmissão de certos valores e sobretudo dar segurança. A filha era para eles uma espécie de "centro do mundo" onde depositavam todas as esperanças, também uma forma de a exibir como bandeira do sucesso que para eles reclamavam. Creio esse efeito ser bastante notório na distorcida personalidade  da rapariga que, para agravar o sentimento de vaidade dos pais, era de uma beleza rara e até surpreendente atendendo ao que a rodeava, não fosse o caso de ser ser tratada como uma verdadeira rainha. A maior ambição deles era que fosse juíza, tanto quanto percebi, como tudo o resto por alguns trabalhos apresentados pela minha aluna, os pais estiveram envolvidos num processo judicial numa luta fratícida pela herança dos tais terrenos, e fora uma juíza então endeusada pela sua mãe que decidira e seu favor, escolha na qual para mim nunca foi claro serem acompanhados pela filha, que na verdade me parecia sonhar muito mais com uma vida aparentemente fácil e seguramente glamorosa de modelo, dentro da qual poderia fazer valer todo o seu potencial de beleza e sedução. O perfil que lhe havia traçado nas minhas notas, à semelhança do que fazia com todos os outros alunos, era tratar-se de uma pessoa egocêntrica, vaidosa, agressiva e até, de certa forma, perigosa. Acredito que esta última parte seria já um subconsciente aviso a mim próprio, para aquilo que viria acontecer, também fruto da minha habitual atitude perante circunstâncias similares. Abri.

Desculpou-se pela intromissão. Conduzi-o a um sofá na sala e mal se sentou desabou num discurso torrencial. A minha filha disse ao companheiro que quer dar um tempo à relação, que está saturada. Continua a viver com ele, não a vejo há bastante tem, desde aquele dia em que o visitamos na Ordem. Só não fui lá antes falar consigo porque não queria correr o risco de ela me ver. Ela voltou lá? Parece que desde aquele dia as coisas nunca mais voltaram a ser as mesmas. Já nos arrependemos mil vezes de a ter levado connosco, mas parecia tão firme...até nos disse afinal ser a principal culpada do seu abandono, que era ela quem lhe devia desculpas. Estamos muito preocupados,  andava tão bem! Interrompeu-se especado a fitar-me intensamente. Algo estranho se estava a passar e eu não sabia o quê. O homem falava da filha como que se refere a alguém que não domina os seus próprios atos, de alguém perigoso com quem é preciso ter cuidado, e fazia-o num tom quase de urgência, a voz por vezes tremia-lhe e chegou a ter os olhos prestes a rebentar em lágrimas. Apesar de durante o tempo que fora minha aluna haver detetado por ali resquícios de esquizofrenia, sempre os encarara dentro dos padrões normais, quem não os tem? A Luísa está doente? Comecei por perguntar. Deixou descair a cabeça, escondeu os olhos no chão ao mesmo tempo que como se enroscava, as costas a formar um arco pronunciado,  e disse num fio de voz, quase como se estivesse a pensar alto. Senti que estava prestes a ouvir um relato que nunca havia sido transmitido a pessoas estranhas, o esforço do homem era dilacerante. Desde miúda que tem alguns problemas mentais. Nunca o revelamos porque o médico, levámo-la ao que tínhamos lá na vila, é da nossa confiança, tratou-nos a mim e à mãe desde pequenos, disse-nos que era melhor não, porque senão íam separá-la dos outras, e que o que tinha não era nada de especial...neste ponto manteve-se uns instantes em silêncio, é que eu e a mão somos primos direitos. Depois, como se já não fosse pouco tinha doze anos, por causa de uma denuncia de outros pais, descobrimos que andava a ser abusada pelo catequista desde há uns anos...na altura tivemos que levá-la a um psiquiatra que nos avisou de tendências suícidas. Calou-se, estava todo encolhido, como quem quer tornar-se invisível. Não fazia a miníma ideia, declarei pensativo enquanto procurava na memória recordações que eventualmente o houvessem indicado. Olhou-me, o senhor foi vítima da situação, mas na ocasião não quisemos assumir o problema, deixamos andar, até o acusamos, compreendemos que não nos queira ajudar, mas temos tanto medo! Não sei se para evitar que desatasse num pranto, se porque sabia muito mais que ele das mais recentes intenções de Luísa decretei, são questões ultrapassadas, eu tinha outro tipo de problemas na escola, o caso foi só a gota de água, agora temos é que nos unir para ajudar a sua filha a não fazer nenhum dispara-te. Ela de facto voltou a visitar-me e mostra intenções de voltar a tentar o não sei o quê comigo, podia ser pai dela! Aliviado, endireitou-se um pouco, e informou-me, uma das coisas que o psiquiatra nos disse naquela altura, e que mais tarde percebemos ter acontecido consigo, é que ela não aceita a rejeição, pior, não a compreende, e então entende só ser possível havendo alguma coisa de muito mau com ela própria, daí os pensamentos suícidas. Enquanto pensava, a educação que lhe deste também não ajudou nada, da minha boca saiu, pronto sr.? José, respondeu, e captando a mensagem levantou-se de imediato. Já do lado de fora da porta prometi-lhe, se ela me contactar aviso, puxou de um cartão onde sobressaíam coloridas imagens de fruta, garrafas e mais não sei o quê, bem no meio "Minimercado Luísinha", e ao fundo nºs de telefone. Também pode falar com a minha mulher, ela está a par, chama-se Maria.


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semtelhas @ 12:17

Seg, 15/12/14

 

Uma sociedade de sucesso que foi o Benfica apesar do primeiro golo ser precedido de duas ilegalidades, Maxi Preira avançou aí uns quinze metros em direção da baliza para efetuar o lançamento lateral, beneficiando os avançados que atacaram a bola mais de frente, e prejudicando os defesas que a receberam mais pelas costas, para além de ter pisado a linha ao executá-lo, o que atendendo ao rigor exigido na distância entre ele e Brahimi, pedia atitude semelhante. O segundo é todo ele fruto da estratégia montada, e admirávelmente cumprida, como evoluiu Jesus!, três avançados no meio campo do FCP, mas sem entrar na área, para complicar a saída a jogar, e o resto da equipa religiosamente atrás, nomeadamente os laterais, ainda reforçada pelos tais três quando o adversário atacava. O Porto tentou ser fiel ao seu esquema, e de certo modo conseguiu, mas Fabiano nunca resistiu tão pouco a repôr a bola pelo ar, 50% de hipóteses para cada lado, logo num jogo onde Luisão terá ganho para aí 90% das bolas de cabeça a Jackson, exclusivo destino para elas escolhido pelo guarda-redes. O resto foi a enorme experiência do SLB tratar de fazer a sorte do jogo pender para o seu lado, e o FCP, claramente com maior número de jogadores com qualidade acima da média, provar do veneno que em tantas outras ocasiões fez realçar nos seus oponentes, a inexperiência.

 

Nestes casos a equipa que perde, com superior nota artística, como reconheceu Jesus como que para justificar tanto pragmatismo, apela aos amanhãs que cantam. Lopetegui fê-lo, e talvez até com razão, a equipa tem vindo a evoluir e de facto joga um futebol atraente, simplesmente assente em pressupostos nada fáceis de cumprir. Primeiro um nível técnico bastante elevado de todos os jogadores, nomeadamente na defesa onde pretende, e bem, que tudo comece afim de abrir espaços no meio campo adversário; depois muito empenho e capacidade física para exercer sistemática pressão, preferencialmente alta, sobre os jogadores oponentes; e sobretudo tempo para pôr tudo isto a funcionar. Ora se atingir os dois primeiros objetivos não é fácil, o último apresenta-se realmente complicado. O FC do Porto é um clube que vive no fio da navalha no aspeto economicofinanceiro, todos os finais de época têm que sair no mínimo dois jogadores, óbviamente os melhores, acresce que este ano em especial tem dois ou três fundamentais que são emprestados, e se mostrarem serviço provávelmente serão chamados à base, e depois, finalmente mas não menos importante, a massa adepta não é própriamente a mais culturalmente preparada para esperar...


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