semtelhas @ 14:03

Dom, 30/11/14

 

 


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semtelhas @ 11:07

Sab, 29/11/14

 

O mar era de um azul luminoso onde se acendiam e logo se apagavam, e acendiam! milhões de estrelas, e estendia-se quase como se por ele se pudesse caminhar até perder de vista, o sol pairava brilhante e morno bem lá em cima, e ao meu lado sorria a minha prima A., dez, onze anos, deitada na areia paralelamente ao meu corpo que, tal como o dela, só um ano mais velho, estremecia com a emoção do desejo, do prazer contido, também práticamente desconhecido. Quando reparei bem naquele rosto já não era ela que estava ali, e o ali também já não era a praia, mas a penumbra de um quarto numa tarde quente de verão. Sobre os lençóis em total desalinho descansávamos ainda ofegantes, e eu, olhando a minha companheira, pensava que nada havia ou haveria na vida, que se comparasse áqueles momentos imediatamente após o de fazer amor com a amada, de como deveria, por isso, comprendê-los e aproveitá-los plenamente. Como era feliz!, intrínsecamente feliz enquanto uma suave euforia me invadia a alma e me despertava os sentidos de um corpo que levitava num paraíso algures.

Súbitamente pareceu-me ouvi-la querer dizer-me algo... e acordei!. Não sei quanto tempo estivera a sonhar, provávelmente desde que o médico e as enfermeiras saíram do quarto a tagarelar alegremente, deixando-me num estado de espírito que me conduzira a semelhantes recordações. A voz continuava, finalmente abri os olhos, porque não o fizera ao acordar? estaria pior? e vi Rute, a fonte do som e dos sonhos, que debruçada sobre mim me ronronava palavras aos ouvidos como se fôssemos amantes de longa data, quando não nos havíamos sequer beijado e muito menos verdadeiramente conhecido. Senti também uma estranha sensação de frio húmido no ventre que, mais tarde, haveria de fazer alguém soltar um sorriso condescendente. Como te sentes? Consegues ver-me? E ouvir-me? Perguntava num tom ansioso mesmo que tentasse disfarçá-lo. Sim,  vejo-te e ouço-te. Obrigado. Curiosamente, depois do ato racional de lhe agradecer, talvez estranhamente, ou não, o contacto visual com aquela mulher como que me trouxe à realidade, afastando-me algo bruscamente da idealização que construíra durante o sonho, não que houvesse ausência de carinho, e até atração fisíca por aquele belo rosto, olhos que falavam mais que a boca que exalava, a cêntimetros da minha, um hálito doce, mas era a realidade a chegar. E, com essa, vinham mais uma infinidade de outras verdades e circunstâncias que eu tinha urgência em conhecer. O que se passou? Vou recuperar? Vai demorar?

Não respondeu ao futuro mas esclareceu o passado. Que ficara a observar-me naquela noite depois de eu me afastar em direção ao meu carro, que se espantara ao ver a pequena carrinha, mas que lhe agradara porque lhe confirmara uma agradável sensação de simplicidade, uma espécie de foco no essencial que nos aproximava, e que a agressão acontecera precisamente durante este seu raciocínio. Mesmo antes ouvira umas vozes que inicialmente não se apercebera terem origem do mesmo local porque não via mais ninguém além de mim, mas, logo de seguida viu-me tombar e dois vultos a revistarem-me os bolsos. Sem pensar no risco que corria abriu o portão e desatou a correr em direção ao corpo caído o que, talvez por ser de noite e a escuridão não permitir aos assaltantes ver com clareza o que se estava a passar, os pôs em fuga. Antes haviam assaltado a vivenda situada em frente do lugar onde estava o meu carro, a tal toda em aço e vidro, felizmente sem ninguém nessa noite, de lá tinham trazido o bastão de basebol com que me agrediram e logo ali abandonaram, uma prenda preciosa trazida de uma viagem aos States, agora para sempre ostracizada, esquecida no fundo de um armário. Na altura comentaram com as autoridades que  possívelmente a sua casa seria a seguinte, um procedimento habitual nestes casos, quando não há alarme após o primeiro assalto, salvara-as portanto. Sorri a esta ideia francamente rebuscada. E que o resto já eu sabia porque se tinha limitado a três semanas à espera que eu desse sinal de vida nesta cama. Que hospital é este? questionei neste ponto. Que não era um hospital, mas uma Ordem com a qual a empresa dela tinha um contrato de décadas para assistência a todos os funcionários, entre os quais estava toda a família. Que já falara com os seus responsáveis no sentido do seguro associado ao acordo cobrir assistência a visitas lá a casa, endereço oficial da sede da empresa, e que não iriam haver problemas. Agradeci-lhe novamente, que não queria criar-lhe complicações, que não sabia se poderia pagar este tipo de assistência tão personalizada, que talvez fosse melhor pedir transferência para um hospital público, afinal andara anos a descontar para isso. Fui debitando lentamente estas palavras, num esforçado mas irremediávelmente débil protesto, perante uma expressão paciente de quem assiste às diabruras de uma criança, para, quando finalmente me calei, decretar em tom zombeteiro, e correr o risco de não te pores bom e eu ficar sem saber nada de ti?


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semtelhas @ 12:19

Qui, 27/11/14

 

- Subvenções vitalícias foram repostas e retiradas - Lá teve que ser. Eles bem tentaram... de fininho. Fica para a próxima!

 

- Timor quer ser elegante com Portugal - Ok...mas essa coisa da elegância não vem só com o pedigree?

 

- Mais de 500 alemães integram o Estado Islâmico - Estes não conseguem resistir a uma boa guerrinha...

 

- José Sócrates detido - Maria de Lurdes Rodrigues, Ricardo Salgado, um diretor da polícia...um dia a casa vem abaixo!

 

- Passos Coelho diz que políticos não são todos iguais - Das duas uma, ou para este  o segredo de justiça não é aplicavel, ou é mais uma das suas baboseiras do costume.

 

- Matagal invade cemitério de Benfica - Uma notícia boa no meio de tanta desgraça! Pode ser que a coisa se espalhe...

 

- Platini não inclui Ronaldo na lista para Bola de Ouro - E Ibra faz o mesmo na sua equipa ideal. A um dói-lhe o chauvinismo, ao outro o cotovelo...

 

- Bruno Carvalho e Nani fazem as pazes - Tradução: Bruno Carvalho mete a viola no saco.

 

- Funcionários da Sonae e Jerónimo Martins têm que trabalhar 110 anos para ganhar o mesmo que os seus admnistradores num - E ainda por cima morrem mais cedo a esfalfarem-se para o conseguirem!

 

- Mega processo contra fraudes nas farmácias prestes a prescrever - Dois anos não chegaram! Será a mesma justiça que ultimamente chuta uma pedra e descobre um ninho de provas?

 

- Polícia branco que matou negro em Fergunson defende-se afirmando que este parecia um Hulk - Ah pois! Não estava armado, mas como em vez de ser verde era preto deu-lhe um tiro.

 

- Ricardo Salgado saiu com fiança de três milhões - Fantástico como uma pipa de massa resolve os problemas de destruição de provas, risco de fuga, ou o de levantar obstáculos ao processo!

 

- Conjugação de resultados põe Benfica fora das competições europeias - A Tempestade Perfeita!

 

- Hospital de Santa Maria faz publicidade à Mc Donald's - Onde está o espanto? Não devem os estabelecimentos lutar pela conquista de clientes?

 


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semtelhas @ 16:00

Qua, 26/11/14

 

Era uma vez um país onde se faziam muitas leis, era mesmo recordista!, mas ninguém verificava o seu cumprimento; no qual se vendiam mais telemóveis percapita do que em qualquer outro; também onde mais se vendiam jipes... para andar nas cidades; que, ao seu nível, sistemáticamente batia recordes de compra de carros novos, e, de entre estes, dos que mais adquiriam carros de luxo; era igualmente campeão entre os seus parceiros em vários itens, baixo nível de vida, maior diferença entre ricos e pobres, maior iliteracia, população que menos lê ou vai ao cinema; dos mais centralizadores; onde a justiça é mais complexa e demorada; com o maior consumo de antidepressivos, etc., etc.. Para além de tudo isto tem também características curiosas, como por exemplo ser aquele onde mais rápidamente penetram as chamadas novidades, sejam de que natureza forem, desde novas tecnologias, passando por programas televisivos, até às mais simples bugigangas. Ou, outra dessas características, o que normalmente mais concorrentes leva a concursos de novos inventos, e sobretudo aquele onde mais vezes, por tudo e mais alguma coisa, se tenta entrar no Guiness. 

 

Por outro lado, só quem nunca trabalhou numa fábrica, ou num escritório, sejam eles públicos ou privados, é que não se apercebeu de um outro fenómeno que lhe é muito habitual, a inevitável existência de uma pessoa, ou mais, depende das dimensões e das circunstâncias, espécie de lacaio. Algo profundamente enraízado e que funciona em camadas, ou seja, na organização de uma empresa estes espécimes evoluem em todos os níveis, isto é, há um bufo entre os empregados da limpeza que leva e trás ao chefe, outro, ou outros entre os operários, o mesmo no seio dos encarregados, até aos diretores, onde mora a mais refinada pidesca criatura de toda a organização.Todo este diabólico polvo é muito antigo, e óbviamente vai-se tornando mais refinado à medida que se sobe na importância da organização, desde a mais humilde oficina, até ao mais complexo ministério. É uma cultura. Os objetivos inconfessáveis de todo este mecanismo são sacar o máximo fazendo o mínimo possível, usando e abusando dos menos capazes sob todos os pontos de vista, recorrendo o mais dissimuladamente quanto a arte e o engenho dos procedimentos sem escrúpulos o permitam.

 

O histórico encaixe entre estas duas facetas do dito pacato povo desse país tem resultado em indígenas com esquisitas peculiaridades, pobres mas esbanjadores, ignorantes porém convencidos, treteiros por fora e sibilantemente persecutórios por dentro. Os efeitos estão à vista, uma mediocridade generalizada, tão antiga como uma epidemia endémica. E, ao contrário de para onde a tentação possa querer levar, o fenómeno cresce na razão diretamente proporcional à que se sobe na escala social. Onde mora mais mentira, pouca vergonha, falta de respeito pela dignidade humana, ausência de espírito de solidariedade, etc., é lá em cima, nas torres de marfim de onde emanam as ordens, os ventos que dominam e secam. Mesmo, ou talvez sobretudo, em momentos nos quais parece surgirem graves faltas de entendimento, que fazem supor o fim da manutenção da paz podre, que sempre proporcionaram a infinda dança de cadeiras entre comadres, agora aparentemente zangadas, uma sensação de roda livre, o que vem à tona, o que brilha à luz do dia, não é a verdade, é um misto de incompetência, arrogância e dissimulação. Desgraçados daqueles que um dia ousaram tentar quebrar este ciclo maldito!


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semtelhas @ 11:52

Ter, 25/11/14

 

Ninguém escapa à morte, processo que se inícia exatamente no momento em que se nasce. A maior ou menor tomada de consciência desse facto, eventualmente contribuirá para a intensidade com que se vive. Resta no entanto o essencial, como se vive. É desse pequeno/grande pormenor que escreve Sandor Marai no seu livro A Irmã.

Abordando a questão pelo lado menos óbvio, o daqueles que tentam fazer da vida uma exaustiva busca da perfeição, explica que nem mesmo, ou sobretudo estes, logram fazer da sua existência uma passagem tranquila. Neste caso específico porque gastam-na tentando aperfeiçoar algo até ao limite, uma busca constante e totalmente mobilizadora que não deixa espaço para a fruição do lado bom da vida. O fenómeno é tanto mais chocante quanto a grande parte destas pessoas, nomeadamente as ligadas à arte, fazem-no oferecendo aos outros precisamente isso, ou seja uma das suas facetas sob forma artística que a torna mais suportável, levando esse seu objetivo tão longe, que não lhes sobra tempo para que eles próprios a vivam satisfatóriamente.

O meio utilizado para transmitir a mensagem é o mais eloquente possível, a demonstração da degradação pela via da desistência, pelo exaurir da vontade, a instalação da pior das doenças, a de querer morrer. Hoje o estudo das doenças psicossomáticas explica muito daquilo que o autor procura transmitir em pleno decurso da segunda guerra mundial, aliás ao longo da História da humanidade esse valor etéreo, que com o passar do tempo se foi tornando menos místico e mais científico, sempre sentido e nunca explicado, espécie de força interior que pode fazer toda a diferença na hora de escolher entre a vida e a morte, foi omnipresente.

Neste livro, para além da fortíssima mensagem, interessa a forma como é passada, porque é precisamente daí que lhe vem a sua maior força e virtude. Quantas boas mensagens se perdem por não serem transmitidas da melhor maneira? Os exemplos escolhidos são os ideais, e a mestria com que os meios, leia-se as palavras, são trabalhados levam o leitor às conclusões nas asas dos sentimentos mais bonitos, o amor, a beleza, a solidariedade, a arte, a virtude, o total despojamento, mas sistemáticamente postos à prova pelo desafio de ter que enfrentar descrições perfeitas, lá está! a perfeição!, uma clara assunção autobiográfica, de tenebrosas viagens aos infernos da dor. 

 

 

 


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semtelhas @ 14:26

Seg, 24/11/14

 

Não sei o que senti primeiro, se o cheiro a alfazema misturado com o que me parecia, remotamente, o de algumas farmácias, medicamentos e perfumes suaves, a limpeza, se ouvi o restolhar de folhas de árvores, essas sim sómente vistas imediatamente depois destas primeiras sensações, através de uma janela parcialmente aberta do quarto branco, relativamente espaçoso, situada um pouco à frente do meu lado direito, do mesmo lado junto à cama onde acabara de descobrir estar deitado, uma pequena mesinha de cabeceira, do outro lado, a seguir a uma outra em tudo igual, um aparentemente confortável sofá, único elemento não branco pois mostrava a cor natural do couro de que era feito. A parede paralela à da janela, para além da porta, tinha encostado um bengaleiro para roupa e guardaschuva, na da frente uma mesa com um belo ramo de flores ainda frescas dentro de uma jarra, duas cadeiras a ladeá-la e, num suporte aí dois metros acima uma televisão desligada. Fui observando tudo isto devagar, ao longo do que me pareceu imenso tempo. Como o fazia quase exclusivamente com os olhos, pelo menos não me sentia a mexer, tive dificuldade em saber qual a origem de uma espécie de zumbido que me chegava de trás, até que percebi tratar-se de um aparelho com uma panóplia de fios e luzinhas. Fechei os olhos e comecei a tentar recordar-me de alguma coisa. O cheiro intenso a alfazema dos lençois incomodava-me, pelo que tentei afastar o que me tocava o nariz, sem sucesso. Não conseguia mexer os braços. Nem as pernas como constatei de seguida. Só, e muito ligeiramente, lograva deslocar a cabeça. Foi no exato momento que a angústia profunda me invadiu, que, instintivamente recuando à última vez que essa mesma terrível sensação me paralisara de medo, recordei o que se passara.

Num estado que não conseguia definir com exatidão, algures entre um certo alheamento, estaria debaixo de efeito de drogas?, como quem sai se si próprio e se abserva a pouca distância, ainda assim num sensível esforço de memória, consegui voltar ao dia em que estivera na casa daquela velhota espampanante, era assim mesmo que dela me lembrava, e da sua magnífica filha, Rute!, era o seu nome, rever o seu rosto, o seu corpo nu deitado na penumbra, acabava de me provocar uma suave euforia. Vi os seus olhos plenos de doçura enquanto se despedia e eu me afastava largando as suas mãos... um buraco no vidro da minha carrinha... uns riscos negros de óleo que escorria pelo capô... e uma dor intensa na cabeça, como experimentava naquele momento mas numa versão certamente de potência muitíssimo reduzida, que tal como uma descarga elétrica me percorrera de cima a baixo. Era tudo. E agora isto. 

Seria concerteza esse o motivo daquela enorme pressão em volta de parte do rosto e restante cabeça, deveria estar toda envolta em ligaduras. Não tive tempo para tentar confirmá-lo porque alguém usando uma farda branca entrou no quarto, era uma jovem enfermeira, preparava-se para iniciar uma série de procedimentos, pela sua postura óbviamente rotineiros quando, encarando-me olhos nos olhos, rápidamente passou do espanto à satisfação exclamando para alguém que não estava ali, acordou! Saiu a correr e quando voltou após alguns segundos, vinha acompanhada por uma outra enfermeira mais velha e um homem de bata branca, estetoscópio pendurado ao pescoço que, procurando dosear a expectativa, me perguntou, como se sente Vasco? O homem sabia o meu nome! O que é que está a  acontecer? O que é que tenho? Onde estou? Ouvi-me a perguntar numa voz que apesar de a mim soar normal, deveria ser bastante débil porque o médico práticamente colou um dos ouvidos à minha boca. Olhou sorridente para as enfermeiras, apertou nas dele as mãos da mais velha, e disse, o sr. foi assaltado, deram-lhe uma pancada na cabeça. Já foi há mais de três semanas. Não sabíamos se...quando ía acordar. Agora temos que dar a notícia, observou virando-se para a mais jovem, e como que indicando quem primeiro deveria receber a boa nova, O que lhe valeu foi a senhora que deixara pouco antes ter ficado a vê-lo ir-se embora, chamou logo uma ambulância e foi socorrido rápidamente. Rute salvara-me! Não só continuava presente na minha vida como, de certa forma, nela entrara decisivamente! Não me conseguia mexer, mal falava, nada sabia do que viria a ser o meu futuro, mas estava feliz!


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semtelhas @ 12:57

Dom, 23/11/14

 

 


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semtelhas @ 15:51

Sex, 21/11/14

 

Ouvindo Paulo Portas no parlamento, prestando esclarecimentos aos deputados a propósito dos Vistos Gold, fica-se com a impressão que o homem está carregado de razão, o que muito provávelmente até é verdade, simplesmente vindo de quem vem, e tratando-se de mais uma história de corrupção, isso já pouco interessa. E aqui é que reside o verdadeiro problema, acredita-se cada vez menos nos políticos. Por todas as razões e mais uma, o efeito Pedro e o Lobo, tanto mentiram que agora é difícil confiar neles. 

Pior. Como este facto não constítui novidade para ninguém, toda a máquina teve necessidade de se adaptar ao fenómeno numa lógica de se não os consegues vencer junta-te a eles. Isto é toda a gente uitiliza a mentira, ou, normalmente, as inumeras formas de iludir a verdade para atingir os seus objetivos. Políticos, jornalistas e eleitorado, sim porque quem não vota autoexclui-se deste jogo, jogam uma espécie de faz de conta onde quase todos têm uma crescentemente menos vaga sensação de, a prazo, valer para coisa nenhuma, representando o seu papel numa farsa mais ou menos generalizada.

Dir-se-á, e muito bem, que é melhor um mau sistema que sistema nenhum, mas é sensível o engrossar do exército dos tais, dos que se pôe de fora, e depois? A gente põe-se a ouvir o vice primeiro ministro na sua sofisticadíssima arte de comunicar, que executa como exímio jogador de xadrez, anticipando vários lances do antagonista reduzindo este a pó, e conclui que mais importante que ser o detentor da razão é o de ter essa fantástica capacidade de argumentação, naturalmente assente numa fina inteligência dessa natureza,  numa vasta cultura, bem como de enorme falta de escrúpulos. Uma mistura explosiva. Adversários políticos e jornalistas não raro vão ao desespero.

Mais que a fome, as epidemias o terrorismo ou as guerras, talvez seja este permanente sentimento de desconfiança, a ideia de que ninguém está verdadeiramente interessado no bem comum mas em si próprio, sobretudo aqueles em quem as populações confiam para as dirigir, supostamente os mesmos que deveriam sentir esse facto como uma dádiva encarando essa oportunidade como uma missão, que nos levará à queda no abismo. Por outro lado como é possível exigir a alguém, ao mais bem intencionado!, que abandone a paz de uma existência anónima, para se meter no autêntico inferno e imenso campo de interesses, em que se tornou a vida pública. Enquanto cativar vaidosos ou meros amantes do poder romântico...terrível será quando o fizer só mesmo a quem vai atrás do dinheiro!


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semtelhas @ 15:59

Qua, 19/11/14

 

Ao contrário do habitual, desafiando a minha natureza modesta, desta vez resolvi exibir-me ao longo do passeio com o equipamento completo do FCP adequado para o efeito: por cima da camisola interior branca uma outra, azul, cardada e com carapuço, diferenciada pelo presença discreta, pelo tamanho, do símbolo do clube no bícepe direito, em alto relevo de borracha. Os calções obviamente azuis, largos, com duas finas faixas brancas de cada lado, e na parte de baixo da perna direita outra vez o emblema, agora num vistoso tecido pleno de brilho. Nos pés as inevitáveis sapatilhas azuis e brancas, próprias para caminhar e da mesma qualidade de tudo o resto, ou seja do melhor.

O resultado foi espantoso, eventualmente beneficiando por um perfil físico que talvez faça lembrar um exjogador de futebol, e não obstante as barbas brancas de uma semana, foi um fartote de olhadelas mais ou menos descaradas. Súbitamente orgulhoso, animado por aquela deferência só dispensada às celebridades, gulosei com prazer a sensação entregando-me de corpo e alma aquele jogo, que quase senti como uma espécie de experiência, um ensaio para posterior reflexão. Foi então que resolvi ir mais longe, e, conforme a assistência, dei comigo a adotar a posse mais adequada, se era do sexo masculino demonstrava uma certa superior indiferença, a mulheres mais velhas, aparentemente as mais óbviamente interessadas, no mínimo pelo espetáculo, dispensava-lhes um ar misto algures entre a  compreensão e o desencorajador fatalismo, mas era a visão, mesmo que ainda distante, das mais jovens que em mim provocaram mais notáveis poses. Sempre que se aproximava alguma bela mulher, eis que se dava a metamorfose, a cabeça erguia-se destemida, no rosto, olhos presumívelmente no horizonte desafiador, mas que na verdade fitavam a beldade por detrás dos óculos escuros, uma máscara de decisão, as costas bem direitas, a barriga, uma tábua!, e o andar, agora mais ligeiro, pleno de energia. Se as menos novas pressentia rendidas, já as mais jovens deixavam ficar um rasto de admiração por tanto charme e sedução, mesmo as que se limitavam a fugídios vislumbres.

Apesar de aproveitar todas as oportunidades que a admiração espantada dos mais pequenos, especialmente dos rapazitos, me dava para, descansando, deixar cair a encenação e disfarçadamente lançar-lhes um sorriso e uma piscadela de olho, não demorou muito para que toda aquela ginástica exercesse os seus efeitos, e começasse a sentir o esforço manifestado por queixas do corpo mais ou menos por todo o lado. Rápidamente percebi que fora bom mas tinha que se acabar. No fim, para além da repetitiva lição sobre a natureza humana, a efémera força afrodísiaca do sucesso e do poder, uma certeza e uma surpresa, seria melhor caminhar com uma aparência anónima, porque diminuir o símbolo do FCP com um postura arrastada, isso é que nunca! E assim a surpreendente descoberta onde encontrara a verdadeira motivação para a charada, não numa qualquer vaidade com tanto de rídicula quanto tardia, mas originária na profunda paixão e enorme orgulho por aquele emblema. 


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semtelhas @ 14:45

Ter, 18/11/14

 

- Só no ano passado emigraram 110.000 portugueses - O governo já deve estar a esfregar as mãos de contente, a continuar assim este ano vão saír para aí 150.000, e o desemprego sempre a baixar! Ah campeões.

 

- Marido de ministra das finanças processado por insultos e ameaças a jornalista - Aquilo lá em casa é assim, ou vai ou racha! É uma questão de estilo.

 

- Rússia e Qatar ilibados de acusações de corrupção pela FIFA - Calma! É só para ver se há quem dê mais pela organização dos campeonatos do mundo.

 

- Bruno Carvalho afirma que Sporting dizimou FC Porto no jogo da taça - Num jogo que deu uma vitória tremida e plena de sorte. Como se chamará aos três secos que o Guimarãres deu aos lagartos?

 

- Também que FCP e SLB se casaram - Mas pode estar descansado, é por conveniência, jamais será consumado. Só falta saber quem pediu a mão a quem, e qual deles vai ser o primeiro a pô-los... 

 

- Kim Kardashian mostrou o traseiro para deitar o internet abaixo -Chegou a hora da vingança. É que pela dimensão e porte do colosso, imagina-se a quantidade de gente que já deve ter deitado aquilo abaixo!

 

- Papa disse que matarem-no é a melhor coisa que lhe pode acontecer - Importante é saber se para fugir deste inferno na Terra, ou para mais depressa se encontrar com o chefe no paraíso.

 

- Aos noventa e dois anos Pierre Cardin abre museu em Paris - Ele próprio vai integrar a parte das exposições permanentes...

 

- Machete acha que crise justifica ataque a direitos fundamentais - Assim como o poder dizer todos os disparates que nos vêm à cabeça, como tão bem o tem praticado este snob!

 

- Diretor do SIS fez limpeza eletrónica fora de horas - Onde está o espanto? Ou os espiões também marcam o ponto e trabalham nas horas de expediente?

 

- Chapéu de Napoleão vendido por 1,9 milhões de euros - Sendo este um dos personagens históricos que mais vagueia pelos manicómios compreende-se a loucura.

 

- Está a matar a galinha dos ovos de ouro, comentário de Portas à taxa municipal de Costa - E, pelos vistos (golden), também a roubar o milho a certos galos!

 

- Há 36 milhões de escravos no mundo - Isto sem contar com os que fazem de conta que não o são, e os que o são sem o saber!

 

- Miguel Macedo demitiu-se - Imediatamente passou a ser o maior! A falsa estima do costume. Não valemos mesmo nadinha!

 

- Vão custar 475.000€ as obras no lugar onde Cavaco quer o seu gabinete de expresidente - Sendo tão poupado e conservador, não será possível convencê-lo a ficar a trabalhar na marquise lá de casa?


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semtelhas @ 13:26

Dom, 16/11/14

 

 

 

 


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semtelhas @ 13:13

Sex, 14/11/14

 

O iniciar uma viagem muitas vezes significa um recomeço, o corte com a rotina, o ato físico de abandonar as pessoas e/ou os locais habituais, a mudança mental, efeito de catárse frequentemente sentido desde o momento que se tomou a decisão de viajar, e que encerra em si uma renovada esperança no futuro, mesmo se inconsciente. Acontece porém que para que resulte, com o passar dos anos e a crescente maturidade, é cada vez menos dispensável que a deslocação a empreender constítua, de facto, uma novidade. Por outro lado torna-se óbvia a semelhança entre todos e a interminável repetição das situações e circunstâncias, sempre frutos de iguais, ou muito parecidas relações causa/efeito, uma dialética comum a conduzir a sínteses similares. Depois acresce também as sistemáticamente aumentadas complicações legais, o terrorismo disso se tem encarregado, que transformam qualquer deslocação num inferno chamado segurança. Finalmente, mas não menos importante, desde há duas ou três décadas o incremento do turismo, muito graças à maior e mais baratas maneiras de ir de um lugar para outro, é verdadeiramente brutal, sendo hoje para muitos países a principal indústria e consequente primordial fonte de receitas. Mas também há custos, e são elevados. Para além dos evidentes prejuízos ambientais, sendo uma indústria significa a procura da rentibilização pela quantidade, perdem-se nesse processo grande parte daquilo que eram os prazeres de viajar. Hoje, para ir a qualquer lado, até ao mais remoto, é preciso enfrentar hordas de gente, organizadas seguindo uma lógica de rebanho, e quase sempre como sardinha em lata, o que acaba por destruir o essencial, o enorme gozo de fruir livremente, no sentido mais lato do termo, a verdadeira razão para estar ali, enfrentar o desconhecido descobrindo coisas novas.

Por tudo isto, mesmo prescindindo do tal corte físico com tudo o que isso implica, resta a possibilidade da profunda mudança mental, que pode resultar da evasão através da viagem ao longo de uma pintura, uma música, um filme, mas sobretudo pela leitura. Independentemente dos enredos própriamente ditos, alguns livros proporcionam autênticas viagens, e nada turísticas porque tantas vezes levam-nos ao âmago dos lugares e das pessoas que descrevem, por quase sempre testemunharem experiências de quem por esses sítios viveu intensamente. São os casos de Miramar, de Naguib Mahfuz, ou de Quando a Neve Começa a Derreter, de A D Miller. O primeiro conta as venturas e desventuras de uma jovem mulher que decide abandonar a sua aldeia na província, enfrentando a superconservadora sociedade egípcia, luta consubstâncida pelo confronto com uma série de personagens todos muito diferentes entre si e residentes numa mesma pensão em Alexandria. Surpreendente e maravilhosa a forma como o autor, em pouco mais de duzentas páginas, faz os leitores deambular por aquelas ruas, pelo meio daquela gente, para, no fim, ficarem com a nítida sensação de todos, lugares e pessoas, conhecerem perfeitamente. O segundo transporta-nos a Moscovo da década de noventa, o despertar e explodir para o capitalismo, a fase lua de mel, com todas as suas conhecidas virtudes e defeitos mas em estado puro, em carne viva. Ancorado na experiência de um advogado inglês ali presente, como tantos outros na senda da riqueza fácil, um El Dorado que todos tinham consciência de ter curto prazo de validade. Por isso a corrida contra o tempo, o vale tudo numa cidade e sociedade fantásticamente descritas, resultando, à semelhança do caso de Alexandria, uma espécie de conhecimento de certa forma profundo acerca de Moscovo e dos russos desses ainda tão recentes tempos.

 

 

 

 


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semtelhas @ 12:16

Sex, 14/11/14

 

Em alguns lugares do mundo de hoje, cada vez mais numerosos, atingiu-se um estado de apuro daquilo a que se convencionou chamar desenvolvimento, ainda que o mesmo se refira maioritáriamente a aspetos, de alguma forma, ligados ao materialismo, ao poder, e ao conforto na aceção que nesses meios lhe é dada, que a vida se tornou uma espécie de luta desenfreada, sem quartel, pelo dito sucesso, neste caso medido em notariedade e posse. Los Angeles é um desses sítios, seguramente um dos mais brilhantes e paradigmáticos dessa realidade. Ali a distância que vai do mais notável ao mais indigente atinge limites tais, que os mesmos por vezes se confundem, o fechar do círculo, tal é a efemeridade de um determinado estado, num dado momento. Tudo funciona a uma velocidade alucinante onde só os mais aptos, todos e ninguém, conseguem sobreviver, leia-se vencer, segundo os princípios por ali seguidos. Claro que num quadro destes qualquer resquício de moralidade é risível, o que interessa é fazer parte daquele jogo implacável em que resistir significa uma de duas coisas, ou abandonar-se a uma existência etérea, longe da realidade, dominada pelo virtual venha ele de onde vier, ou lutar desenfreadamente, para além de quase todas as regras, por um lugar ao sol. Esta circunstância é tanto mais visível e factual, quanto mais originária em atividades sociais, onde as armas a utilizar, para o bem e para o mal, são as pessoas, seus objetos e destinos, e dentro destas a comunicação social muito em particular.

É disso que trata o filme Nigthcrawler. A história de um repórter de imagem freelancer, exclusivamente de desgraças, o que, de longe, mais vende, sendo que no topo das escolhas estão os crimes de sangue, quanto mais violentos e explícitamente mostrados melhor, e muito especialmente se cometidos em chiques bairros ricos onde os criminosos sejam de minorias exploradas, negros ou hispânicos, e as vítimas brancos poderosos. O sangue da vingança. Nada de novo se não fosse o alto nível qualitativo daquilo tudo, sem exceção. De perder o fôlego! Ao ponto de quase nos sentimos invadidos pelo efeito afrodísiaco de toda aquela loucura muito para lá da razão.

 

 

 

 


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semtelhas @ 12:10

Qua, 12/11/14

 

- Pires de Lima deu espetáculo no parlamento - Este deve ter ficado viciado por causa das sessões de provas na UNICER. Mas nem tudo está perdido, foi encontrado o sucessor no CDS do, até agora, único verdadeiro artista Paulo Portas.

 

- Cavaco: as eleições são na data prevista e ponto final - Ele aí está a deixar cair o verniz e a mostrar os dentes. Em democracia quem costuma pôr os pontos finais é a opinião do eleitor. Veremos como vai ser desta vez.

 

- Defesa de Manuel Godinho quer redução substâncial da pena - Sucateiro justifica-se alegando que para políticos não chegam moeditas. Quem duvida que a ameaça vai dar frutos?

 

- Oficial da PSP diz que Xanana está envolvido na corrupção - Vindo de um polícia apetece acreditar, e também respondia a muitas perguntas e perplexidades...

 

- John Malkovich exibe exposição fotográfica em Cascais - O que se pode fazer com um rosto absolutamente inexpressivo... e o superior talento de representar!

 

- Banqueiros afirmam que a sua atividade não dá lucro - Quer dizer que tudo o que têm, e não é pouco!, foi roubado?

 

- Jerry Seinfeld diz-se parcialmente autista - Que tem problemas de relacionamento, em concentrar-se, que não percebe as coisas à primeira...se isso é ser autista, os autistas ao poder!

 

- Empresário ligado ao PSD beneficiado pela Santa Casa - É assim, valorizando flops, que se constroem candidatos a lugares políticos, armados em vítimas.

 

- Marques Mendes chamou a Xanana ditadorzinho de pacotilha - Depois do seu passado, e comparado com o deste presunçoso cagatagos falante, é o Mandela de Timor.

 

- Marcelo afirma que Passos ter prescindido das Golden Share na PT é imperdoável - Pelo que isso, mais o descalabro do BES, representam no desastre da exmaior empresa estatal portuguesa. Então não foi o Sócrates como afirma o flibusteiro Pires?

  

- Subir Lall, chefe da Troika: ninguém percebeu como é que desemprego está a baixar - Também o emprego está a baixar, é o êxodo, estúpido!

 

-  Mais casos de legionella em Castelo Branco, Barreiro e Porto - Aparece nas parangonas de quase todos os jornais online. E depois, em letras miúdas, todos relacionados com Vila Franca de Xira. Pelas audiências vale tudo! 

 

- Carrilho acusa governo de apoiar Bárbara - Claro! Então o dito não é socialista? Que interessa se assim beneficiam ou prejudicam os filhos de ambos?

 


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semtelhas @ 15:33

Seg, 10/11/14

 

O HOSPITAL

 

Ao longo das últimas talvez duas décadas, tenho vindo a aperceber-me de um fenómeno, digamos, curioso. Se antes desse tempo e desde que me lembro, quando me dirigia a alguma entidade pública, repartição de finanças, notário, centro de saúde ou hospital, não raro verificava-se, primeiro uma certa similitude entre as instalações e o atendimento, ou seja os funcionários e os utentes, todos caracterizados por uma certa decadência e "mediocridade", um cinzentismo triste mais ou menos generalizado ao qual só escapavam  elites cuidadosamente escondidas. Os edifícios eram velhos, ou mal tratados, e as pessoas maioritáriamente bastantes humildes em todos os sentidos e na pior perspetiva do termo. Depois, numa segunda fase, começou a notar-se uma mudança, se as condições e as pessoas que estavam do outro lado dos balcões e secretárias mantinham esse rasto de atraso, o público tinha evoluído, senão muito, para não dizer nada notóriamente na literacia, claramente na apresentação agora muito mais cuidada, testemunhando um claro incremento na auto-estima bem como, naturalmente, o ter um pouco mais de dinheiro no bolso.

O que hoje se pode observar é uma espécie de inversão relativamente a esse dias de obscurantismo no que diz respeito ás infra e estruturas, obviamente melhores, eventualmente o lado mais positivo do autêntico fartar vilanagem que foi a distribuíção, seguindo critérios duvidosos e sobretudo pouco vigiados, dos milhões que chegaram da Europa. Mas, desgraçadamente, o oposto, para pior portanto se olhados atentamente os utilizadores dessas renovadas e, tantas vezes principescas instalações, afinal quanto maiores fossem os valores envolvidos mais dava (dá?) para sacar. Um destes dias fui a um hospital magnífico, tudo novo ou bem cuidado, impecávelmente limpo e funcional, atendimento atento, competente e mesmo solícito. Um serviço eficiente sob todos os pontos de vista nomeadamente na prontidão, quer da marcação da consulta, quer do atendimento pelo médico respetivo, e até da surpreendente rapidez da intervenção cirúrgica achada necessária. Infelizmente a razão da existência de tudo aquilo, as pessoas que não podem nem precisam, não obstante algumas não o saberem e daí as reclamações completamente absurdas, ir a um serviço privado, andam por ali com a desilusão e as privações estampadas no rosto. As poucas posses exibem-nas na apresentação tristonha quando não negligente ou desleixada. É gritante a contradição entre a atitude e aspeto da grande maioria daquela gente, e as quase luxuosas paredes e mobiliário que as cercam, para além da bem oleada e até agradável funcionalidade de um conjunto de profissionais, nos quais sobressai a óbvia preocupação e cuidado na manutenção de algo cada vez mais raro, um emprego e consequente salário. A pobreza e a indigência, fisícas e morais, estão de volta! Valha-nos ao menos o consolo de que agora podemos praticá-las confortávelmente...nos serviços públicos.

 

O TECLADO

 

Ela estava a escrever no teclado de um computador portátil, e a fazía-o com tal rapidez, utilizando vários dedos de cada mão, que me deixou completamente hipnotizado, olhos cravados naquele portento. Por isso, eu que uso frequentemente a mesma ferrramenta, comentei num tom misto de desejo e frustração, quem me dera escrever a esse ritmo! Levantou a cabeça, encarou-me e disse, estou muito habituada, trabalho com isto desde muito nova (teria à volta dos trinta), e o pior é que se tentar escrever à mão não dá, nem consigo pensar! Claro, tem de se concentrar no ato físico, que lhe é quase estranho, da mão a pegar em algo que escreva, mas o essencial não é isso, a questão é que escrevendo muito mais depressa também o faz com o racíocinio, ou seja pensa muito mais rápido. Eis outro motivo para que toda estas gerações mais jovens sejam claramente mais acutilantes no raciocínio, mais espertas porque mais despertas. Que a informática era, em grande parte, por esse fenómeno responsável, bem como pelo reverso da medalha, "surfarem" as ideias sempre à superfície, ficarem nisso viciados porque afinal foi assim que aprenderam, daí a enorme dificuldade de muitos deles em se deterem e concentrarem num racíocinio, e de o aprofundarem, falta-lhes a paciência tal como constitui um sacrifício escreverem à mão. A novidade, para mim como é óbvio, foi ter constatado toda essa incrível porque estrutural, mudança na maneira de raciocinar, ali bem à minha frente consubstância no simples ato de escrever em teclas de um computador, e do efeito avassalador que esse gesto aparentemente tão inocente pode ter na mente de uma pessoa, de milhões de pessoas,  e, consequentemente, na própria história que ainda se irá contar sobre a humanidade.


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"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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