semtelhas @ 14:32

Sex, 31/10/14

 

Enquanto esperava por ela à porta, tinha ido espreitar a mãe, pude apreciar melhor a bela construção, já um tanto antiga e a precisar de uma pintura exterior, mas a respirar qualidade. Percebia-se ter sido feita por alguém com visão de futuro, para além da surpreendente profusão de luz, a escadaria, por exemplo, estava ladeada a toda a altura por uma espécie de gigantesca janela retangular rasgada na parede, com um sofisticado "martelado" vidro translúcido, tudo era considerávelmente maior do que seria expectável numa habitação da idade que aparentava ter. Corredores largos, hall de entrada superespaçoso, divisões amplas e, o que mais me impressionava, um incrível "pé direito", extremamente alto, que transmitia uma liberdade de movimentos bem sensível também ao nível mental, isto é, nada ali apertava ou oprimia, todo aquele espaço a que se juntava um silêncio só raramente interrompido por um automóvel a passar, convidava à tranquila fruição do tempo. Não deve ter "pregado olho", está outra vez a dormir, era Rutepensar alto ao voltar. Dirigiu-se para o jardim. Obviamente semiabandonado, ostentava a beleza que resultava disso mesmo, uma certa harmonia na assimetria selvagem, na mistura de cores, variedade de cheiros, todo um encantamento, também ali nascido da liberdade. A ligeira brisa morna que soprava como que dava ainda mais vida à que gritava por todo lado, as plantas, as flores, os insetos, e nos fazia sentir rodeados e quase protegidos por uma cultura ancestral, a sabedoria da natureza. A avaliar pelo tamanho de algumas das árvores deveriam ter sido plantadas há décadas. Perguntei-lhe. Foi o mote para que ela, ambos sentados num decrépito banco de madeira, quantos segredos ali terão sido desvendados? apaixonados beijos dados? lágrimas vertidas na penumbra da noite? situado debaixo duma formidável magnólia carregada de formosas flores brancas, recomeça-se o seu relato. Apesar de, pouco antes, ter imposto a mim mesmo confessar-lhe que já não era professor, mas...e se ela me perguntava porquê? não queria mentir-lhe mas ainda era demasiado cedo para lhe contar a verdade, deixei-a, continuar.

O meu avô paterno, de Marco de Canavezes, quando veio para o Porto, já casado com a minha avó que era de Cinfães, conheceram-se numa romaria a meio caminho, segundo reza a lenda, riu-se, iniciou um negócio de construção civil depois da guerra, princípios dos anos 50, por aí. Era uma pessoa cheia de energia e grandes capacidades mas também irrascível quanto baste. Quando quis que o meu pai o acompanhasse nos negócios, aquilo na escola não corria lá muito bem, ele, que era igualzinho, a mesma força e teimosia, não descansou enquanto não foi daqui para fora. Mas lá em Angola, onde conheceu a minha mãe que já lá vivia, o meu outro avô era militar de carreira, nem queria ver materiais de construção civil à frente. Fez várias coisas e acabou por optar criação de aves, onde teve grande sucesso. Quando voltou nas circunstâncias que sabes, tanto ele como o pai, o meu avô, estavam muito mais macios, um teve que engolir o orgulho, o outro tinha tido a prova que o filho se conseguia desenrascar sem ele, e então, uns quantos anos depois do previsto, lá se deu o retorno do filho pródigo e a esperada continuidade do negócio. Não foi logo, a aproximação decorreu lentamente, entretanto o meu pai esteve a trabalhar como vendedor numa agência imobiliária, onde acabaria por apanhar o "bichinho" que o levaria, mais tarde, a criar uma de raiz e que ainda temos. Esta casa foi ele, ainda com a ajuda do meu avô, que a construiu, meados dos anos 80. Parou brevemente para pôr as ideias em ordem, por isso aí tens, árvores com mais de trinta anos. Estou cheia de sede, o que queres beber? Também eu tinha sede, e qualquer coisa para me encorajar não faria mal nenhum...Tens cerveja? Virou-me costas. Deliciei-me a seguir aquela bela mulher que se afastava, muito direita, cabeça bem levantada, naquele estilo que algumas mulheres têm, que atraem os olhares pela mistura perfeita entre a sensual beleza das suas curvas, e uma espécie de obstinação e segurança, que, se bem observadas, podem também ser descobertas na expressão que normalmente trazem no rosto. Levantei-me para ver a pequena piscina, dez, doze metros por cinco, seis, em cujo espelho de água, considerávelmente esverdeada, dançavam inumeras folhas nas inconfundíveis cores outonais, um maravilhoso degradé de amarelos, vermelhos e verdes, ainda mais marcado nas que se mantinham agarradas às arvores poucos metros adiante, não era suposto crescerem tanto, ou, certamente, as mais próximas teriam sido cortadas caso ali alguém tomasse esse tipo de decisões. De súbito, ficou claro que o que realmente estava a fazer falta naquele acolhedor mas também negligenciado lugar, casa, jardim, mulheres, era uma presença masculina. Mas...e não haveria já essa figura? Ainda que desleixada? Dei-me conta que, como tantas vezes acontece nos contactos com o género feminino, o melhor ainda não tinha sido revelado, pelo contrário fora "naturalmente esquecido" por Rute. Ainda antes de lhe falar da minha situação precisava saber se havia macho nesta história.

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 10:38

Qui, 30/10/14

 

- Uruguaio José Mujica abandona poder do país - Aos 79 anos depois de diminuir para metade a pobreza, baixar taxa de desemprego para 6,3%, despenalizar o aborto, aprovar o casamento gay,  e legalizar a produção caseira de marijuana. E ainda doava 90% do seu salário! Este homem existe?

 

- Cavaco não atribui medalha a Sócrates - O primeiro antigo PM a não a ter. O que vindo de quem fez o que fez, entre outros, a Saramago, só enaltece a obra de José Sócrates.

 

- Passos Coelho vociferou contra jornalistas acusando-os de preguiçosos - É bem verdade! Caso contrário já o teriam desmascarado há muito mais tempo!

 

- Jorge Jesus afirma que não vê ninguém à frente - Confere. Só faltou uma pequena palavrinha para ficar tudo perfeito: ainda.

 

- Portugal subiu para 25º no raking de melhores países para fazer negócios - Pires de Lima diz que Portugal é melhor que a Itália, a França, a Espanha, etc., a negociar. Para além da vergonhosa distorção, esqueceu-se de dizer que tal facto se deve a terem diminuído o valor dos salários, das indemnizações por despedimento, dos dias de férias, etc.. Este é tão burro de esperto que até mete nojo!

 

- Reino Unido recusa ajudar missões de resgate de imigrantes no mediterrâneo - Diz que lhes dá força para continuarem,  e então vão ajudar a tornar os países donde fogem mais viáveis. Era bom era...é mais, vão morrer longe!

 

- Carlos Slim, o homem mais rico do mundo, faltou ao encontro com Portas - O Zeinal Bawa deve ter-lhe explicado com que peça ía levar, e então o Carlos...apre! pernas para que vos quero!

 

- Medina Carreira diz que Portugal está a caminho de uma crise financeira pública - Isto aparece nas primeiras páginas! Está a caminho? Medina a Carreirar? Bons tempos em que os jornais davam novidades...

 

- Correio da Manhã lidera vendas - Pior que um pasquim, é um pasquim disfarçado de jornal sério. Os outros ao menos tentam, mas a continuar assim não há-de ser por muito tempo...

 

- Na Suécia os bancos emprestam dinheiro e não cobram juros - Antes que  pessoal se entusiasme e a moda pegue por cá, e como nós somos os campeões das modas, convém avisar que depois é preciso devolver a massa...

 

- Papa afirma que Deus não é um mágico com varinha de condão - Ao que este homem diz a igreja católica responde, não faças o que ele diz olha para o que eu faço.

 

- Paulo Portas comparou Portugal a Cristiano Ronaldo - Na versão rico, vaidoso e arrogante, ou na de humilde, trabalhador e solidário?

 

- BCE inicia programa que FED agora termina - Os EUA andam há seis anos a distribuir dinheiro para estimular a economia, a UE vai começar agora. Lá resultou, mas como os pobres de cá não passam de reles preguiçosos...

 

- Passos promete não devolver tudo o que cortou até 2016 - Resta uma consolação, como nessa altura não vai ser ele a decidir, pode ser que não venha a acontecer.

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 12:17

Qua, 29/10/14

 

Pelo visto a semelhança entre aquelas mulheres não era só física, também nos gestos, na postura, naquele jeito de ficarem atentas, como um predador que, escondido, aguarda o melhor momento para atacar. Rute, ainda um tanto contrariada por não ter submetido a mãe a um interrogatório cerrado, naturalmente pelas melhores razões segundo me parecia, lá condescendeu em deixar essa parte má provávelmente para depois de me ausentar, e disse-lhe, Não o conheço, mas é daquelas situações em que é como se já tivessemos falado um monte de vezes. Depois também sabia que ías querer agradecer ao Vasco o ter-te trazido para casa. Por isso, enquanto esperávamos resolvemos dár-nos a conhecer mutúamente. Ele é professor de português. Emília, mais aquietada, que me radiografava também valendo-se da sua enorme experiência de vida, disparou, mas já passaram umas horas! e ficou especada. Como já disse à sua filha, não tinha dito, vivo sózinho, ali para cima a uns cinco quilómetros, daí...interrompeu-me com uma energia inusitada para a idade, pronto! então está decidido. Passa o sábado connosco. A minha filha prepara uma refeição, tem muito jeito para a cozinha sabe? E entretanto também entro na conversa porque ela é demasiado modesta e normalmente reservada...e fitando Rute, até estou admirada! O que é que o sr. tem para a pôr a falar dela? Estou curiosa em descobri-lo. Vou arranjar-me. Continuem, continuem. E afastou-se lentamente o que denunciava uma considerável diferença entre a sua forma mental, aparentemente excelente, e a evidente má forma física provocada pelo desgaste da idade e, dei comigo a imaginar, por uma vida vivida intensamente.

Rute observava com um sorriso nos lábios e segredou-me, não ligue, desde que o meu pai morreu, o que coincidiu com o fim de um relacionamento que eu mantinha desde há alguns anos, e não o contrário como ela insiste em afirmar, sente-se culpada por, está disso convencida, me manter presa, podes ir! eu fico bem, não parava de dizer na altura, apesar de eu saber que a perda do companheiro de sempre a deixara devastada, como podia comprovar pelos olhos invariávelmente inchados devido a horas a chorar. Acabei por ter que me zangar a sério e ameaçá-la que me ía mesmo embora, o que na verdade jamais faria. Foi-se habituando à ideia e hoje somos pouco menos que inseparáveis. No entanto, a cada oportunidade que surge para que eu conheça alguém que possa representar a mais remota possibilidade de eu não ficar só, como diz, ataca com toda a força. Pausa e uma rápida olhadela para me controlar. Era a minha deixa, talvez não tenha reparado mas há um bocado disse-me, então és professor, e aquele tratamento por tu soou-me tão bem! Encheu-me a alma! Foi como se de repente caíssem todos as barreiras e ficasse junto a ti. Desculpe...não quero parecer abusador, até porque refiro-me sobretudo a uma espécie de encontro perfeito ao nível mental, como se sempre a tivesse conhecido, ou de si estivesse à espera...a aparência, a forma como se movimenta, o que diz, como o faz, incrível. Aquilo saíra-me de sopetão, pelo que só no fim me apercebi do que dissera, da pouca razoabilidade, estava preparado para ser "gentilmente corrido" mas, para meu espanto, ela, que após desvendar a tática de "ataque à presa" da mãe, pela primeira vez se mostrara um pouco fragilizada, recuperando a firmeza e tranquilidade até ali exibidas afirmou convicta, acredito no que dizes, porque sinto a mesma coisa, e a ser verdade o que se diz sobre almas gémeas...ía dizer amores á primeira vista mas saiu um, e não sei que mais...Acabou por se afastar anunciando, vou ver o que tenho no frigorífico. Voltou logo a seguir, um bom naco de carne para bifes. Cozo esparguete e faço um molho de cogumelos. Gostas? Mas ainda não tenho fome. Se calhar fazíamos algum tempo lá fora, está bom, falámos mais um bocado e come-se lá mais para o fim da tarde, que te parece? Levantei-me a pensar que aquilo não era verdade, era bom demais, alguma coisa devia estar errada, mas, por outro lado, como se de um déjà vu se tratasse, havia  fluidez e harmonia nos acontecimentos que se sucediam com a naturalidade própria do que há muito foi cuidadosamente planeado, para que nada falhe. O que estava a acontecer ali?

 

 

 

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 14:32

Seg, 27/10/14

 

A minha mãe costumava contar que quando viu o meu pai após o seu retorno definitivo, não o via há mais de ano depois de nos ter confiado às autoridades na metrópole, se assustou, que parecia ter envelhecido dez anos! Manteve-se por lá práticamente até à independência, não para tentar continuar o negócio, percebera que tal seria impossível, mas para realizar o máximo de dinheiro com o produto de uma vida de trabalho. Só muito mais tarde me explicaram o enorme problema que era fazer valer o dinheiro de Angola cá, que todos procuravam trocar os seus haveres por algo transacionável, liamba, diamantes, etc. Ele, que era muito bem relacionado com gente poderosa, conseguiu uns quantos diamantes, segundo afirmava uma décima parte de tudo o que se viu obrigado a abandonar. O certo é que foram essenciais, a nossa salvação! Não de imediato porque a situação aconselhava não mostrar riqueza, caso contrário apareciam logo inúmeros abutres, pelo que durante uns meses a vida pouco mudou, para além da sua presença, claro, que fazia toda a diferença. Desses tempos já tenho alguma memória, dos passeios junto rio, na ribeira do Porto. Havia um mercado de rua e lembro-me daquilo sempre cheio de gente, frenética, barulhenta. Parou para reforçar a sensação que transmitia, aproveitei, se calhar cruzámo-nos por lá. 78/79? por aí, não? Nessa altura conheci um fulano que também veio das colónias e instaram-no no Infante Sagres, aquele hotel de cinco estrelas. Foi dos tais que trouxe uma mala daquelas enormes a rebentar pelas costuras cheia de liamba, ninguém deu por nada! passava tudo! só que ele gostava demais daquilo, e era demasiado boa pessoa para vender e realizar dinheiro. Dizia que nos primeiros meses não saiu do hotel, nem para comer, pedia para o quarto umas sandes e cerveja, para os intervalos do fumo e de horas intermináveis a dormir e a percorrer, extasiado, os corredores luxuosos, plenos de móveis dourados, veludos, e obras de arte. Eu e mais dois ou três fomos os seus cicerones para a entrada na civilização, lá vivia numa pequena vila rodeada de mato e era dono da única mercearia. Costumava dizer que era mais preto que alguns pretos. Ao longo de quase dois anos fomos inseparáveis...ri-me apesar da nostalgia que me invadia ao recordar aquele bom amigo que, mais de uma dúzia de anos mais velho, e quando profundamente mergulhados no maravilhoso mundo das ilusões, me ensinou a dele tirar só o melhor, o intrínsecamente positivo, nunca fumes quando estiveres numa má, repetia, pés bem assentes no chão e cabeça sempre nas núvens, era o seu lema. Por onde andará? Então terias por aí dezasseis? Perguntou-me numa primeira investida direta procurando conhecer qualquer coisa de mim. Dezoito, por aí. A revolução tinha virado o sistema de ensino de "pernas para o ar", precisamente naquela fase em que teria que escolher a área de estudos superiores a seguir. Por essa altura andava às voltas entre as experiências de um tal Sotto Mayor Cardia, o ministro da educação, para entrar em letras. Depois de uns rídiculos exames ditos de equivalência lá consegui entrar em literatura. Manteve-se na expectativa forçando-me a continuar. Passados seis anos estava a dar aulas de português, ao secundário, na Covilhã. Espantada, Então és professor? Ía responder-lhe que era, quando uma cabeça de estranhamente ainda farta cabeleira cor de "cobre", em franco desalinho, o corpo encoberto pelo verde das plantas, nos apareceu na janela atravessando lentamente o jardim em direção à saída. Mãe, exclamou Rute, e apressou-se ao seu encontro.

Quando entraram a mais velha explicava que fora verificar se o portão estava fechado. Encarou comigo, e com falsa naturalidade enquanto espreitava a filha pelo "rabo do olho", ah está aí! também o procurava. Obrigada. Acho que adormeci em pé...quer dizer, a guiar. Olhou de relance para Rute e sem esperar, ainda fui a casa da Odete cumprimentar a neta que chegou de fora. Ela queria que eu dormisse lá, mas sabes que gosto sempre de voltar para casa. Quando cheguei estava tão cansada que me recostei logo nos almofadões da cama, e quando acordei era dia! Desci para ir comprar croissants, apeteciam-me, mas como só devo ter dormido para aí três horas... olha! Respirou fundo para retomar o fôlego, e sem dar oportunidade de ser interrompida, enquanto eu sentia estar a assistir a uma circunstância que deveria ser recorrente, a mãe a fugir ás recomendações da filha porque as interpretava como recriminações, mas... já se conheciam? Finalmente parando para refletir, muito séria, estende-me a mão como quem, a um tempo, desenterra o "machado de guerra" e convida para um "cachimbo de paz",  e diz desconfiada, Emília.

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 12:58

Dom, 26/10/14

 

- Teresa Romero escapa ao Ébola e vai para tribunais para defender a honra - A melhor defesa é o ataque!

 

- Associação de mulheres juristas afirma que idade potencía boa qualidade do sexo - Pois...quando os palermas, à falta de melhor, descobrem outras maneiras de as fazer felizes!

 

- Jornal I: Pistorius condenado a 5 anos de prisão efectiva e, dono da Total morre em queda de avião - Pistorius foi condenado a um máximo de 5 anos, e o azarado exdono da Total ainda nem tinha levantado vôo! O I deve ser de inventar...

 

- Porto e Benfica elegem Luís Duque - Isto de ser um sportinguista de peso, objetiva e figuradamente, a juntar FCP e SLB, há-de querer dizer alguma coisa. Será que o aluno Vieira superou o mestre Costa?

 

- Durão Barroso avisou Cameron para os malefícios da lei antiemigrantes - Diz o ex yesman. Pena só falar grosso já de saída, é como atirar a pedra e fugir!

 

- Renné Zellweger fez plástica e está irreconhecível - Também para ela própria? Como fará esta gente a ligação entre a letra, e a careta que vê no espelho?

 

- Ministério do Trabalho não encontra processo relativo à ONG de Passos - Os próximos inquilinos vão encontrá-lo de certeza. Isto é como na bola, ganha, ou, neste caso, encontra, quem tiver mais vontade...

 

- Homem avisa Obama para que não toque na namorada - Dias depois de não lhe aceitarem cartão de crédito - É o que dá armar-se em simples mortal!

 

- Passos chama gulosa pelo poder à oposição - Este nosso primeiro tem um manancial de expressões, que deixam qualquer um de água na boca por analisar o seu perfil psicológico...

 

- Schalk, 4 / Sporting, 3 - Para além de caírem aos trambolhões da ilusória grandeza doméstica, estatelaram-se na mediania europeia e esqueceram-se do S. Patrício no balneário...

 

- Governo todos os dias altera lei do IRS - Como faz relativamente a tudo o resto, em função dos protestos, e após descoberta de erros. Justiça, educação, impostos..., primeiro atira a matar e depois fica à espera a ver o que cola!

 

- Adeptos do FC do Porto, no Dragão, começam a assobiar a equipa logo aos primeiros erros - Fazem lembrar aqueles meninos ricos que nunca tiveram que trabalhar para terem tudo! A continuarem assim ainda vão dar valor ao que... tinham!

 

- Passos já avisou as suas tropas, não pensem que me vou embora! - Agora só falta aquelas afirmarem convictas, temos toda a confiança no nosso treinador, e depois correrem com ele!

 

- Eriksson disse que quando regressou a  Portugal em 89 após cinco anos de ausência, o futebol estava mais corrupto - E ele não tinha cá estado nos anos quarenta, cinquenta ou sessenta, senão é que ía notar a diferença! Aquilo é que era pureza!

 

- Barroso despede-se dizendo deixar uma UE melhor - Ou seja, nunca tão ameaçada de desintegração. Limitou-se a andar ao sabor do poder. Hoje, olhado de lado e sem o respeito de ninguém, sai pela porta pequena. São assim os lacaios.

 




semtelhas @ 12:06

Sab, 25/10/14

 

A cozinha era magnífica, grande mas acolhedora, com uma janela panorâmica sobre o jardim que convidava à permanência, percebia-se que faziam ali as refeições e lá passavam boa parte do tempo. Sentei-me à mesa de madeira, numa cadeira surpreendentemente confortável e dispús-me a ouvir. Rute, percebendo que lhe oferecia a primazia, não se fez rogada, e como quem esperava oportunidade semelhante desde há muito disparou, Então pensava que era neta? Não. Sou uma espécie de filha tardia, quando já ninguém me esperava. Os meus pais eram daquele tipo de casais aos quais os filhos só servem para atrapalhar, preenchiam-se perfeitamente um ao outro, talvez por isso a minha mãe já passasse dos quarenta quando me teve, quase de malas feitas para regressar à metrópole, estavam em Angola desde os princípios dos anos sessenta, ainda antes de ter começado a guerra. Foi logo a seguir à revolução de 74, mas ainda nasci angolana. Portanto é fazer as contas. E parou como que a aguardar comentários. Quarenta? incrível! não parece nada! dava-lhe para aí trinta e dois... no máximo trinta e cinco.  Fitou-me perscrutadora tentando desvendar no meu rosto sinceridade ou exclusivamente simpatia, e prosseguiu, Retornada, está a pensar, e é verdade. E daquelas com uma mão à frente e outra atrás. Lá tinham uma vida desafogada, o meu pai era proprietário de um aviário enorme, aquilo parece que dava milhares de ovos por...bom já não me recordo da história, mas ficou tudo lá, empresa, casa, carros, em 76, porque ele como acreditou que lhe íam permitir continuar, trouxe-nos com a esperança de regressármos mais tarde, voltou, e depois teve que fugir à pressa. Entretanto eu e a minha mãe, com muitos outros, começámos por ser acolhidos num hotel de luxo no algarve, onde estivemos ano e meio. Depois tivemos uma breve passagem por Lisboa, mas quando o meu pai veio de vez já víviamos no Porto, num quarto alugado que ela pagava com o que ganhava a limpar escritórios. Levantávamo-nos às cinco da manhã. Claro que não tenho qualquer memória desses tempos que a minha mão recorda sempre entre lágrimas, quando volta a ver-me tão pequenita, nos seus braços, normalmente a rir-me, felizmente era bem disposta, quando ela, ainda noite fechada, percorria a pé a apreciável distância entre o quarto e o prédio de escritórios. Levantou o rosto agora triste mas não menos bonito e fortemente expressivo, e despertando  encarou-me como se me visse pela primeira vez depois da momentânea ausência, perdida nas brumas do passado, e, quase incrédula afirmou, não sei porque lhe estou a contar isto tudo, mas é como fosse uma necessidade antiga, não que nunca o tenha feito, mas não o fazia há muito, e o senhor, o que fez, a sua postura tranquila, vieram mesmo a calhar! espero não estar a maçá-lo muito. Foi a oportunidade para eu próprio mostrar algum tipo de solidária fragilidade. Não, de todo, atualmente a rotina terrível que são os meus dias estava tão ou mais necessitada de um abalo, ou uma quebra melhor dizendo, que a Rute de voltar ao passado. E não se esqueça que sou Vasco. Lançou-me mais um daqueles sorrisos magnéticos e foi à sala vigiar a mãe. De volta, cozinha arrumada, sentou-se do outro lado da mesa, no sentido da largura desta, bem em frente, e disse, ainda bem que é sábado, não preciso ir à agência. E face ao meu indisfarçável ar inquiridor, tenho uma agência imobiliária que foi aberta pelo meu pai, morreu há oito anos, para ajudar a vender os apartamentos que construía. Mas estou a adiantar-me. Já que o Vasco se mostra disponível e eu estou com a "corda toda", vou continuar. Aqui interrompeu-se, pôs-se alerta, e perguntou em jeito de afirmação, a não ser que precise de falar com alguém, e esticou o braço sobre o imaculado tampo da mesa limpando imaginárias migalhas. Para o bem e para o mal não tenho ninguém à minha espera. Descontraiu-se disfarçadamente na cadeira como se tivesse acabado de ultrapassar um obstáculo importante, e retomou o seu relato num tom e leveza onde julgei reconhecer a jovem de vinte e poucos que já fora.

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 14:17

Sex, 24/10/14

 

Hipnotizado, fiquei absolutamente estático alguns segundos. Talvez porque a maneira como a contemplava era de tal modo intensa que se sentiu apalpada, sem que se tenha mexido um milímetro ou feito o mínimo ruído, tal como é costume ver-se nos filmes de terror, súbitamente, abriu muito os olhos para me ver, espantada, e com a voz a escapar-lhe, quem é o senhor? Como que despertando balbuciei, calma...vim só trazer a sua avó que foi contra um mur...ainda não tinha terminado a palavra e já me tinha apercebido da má abordagem ao assunto, mas ela não me deu tempo para qualquer explicação, mãe!, gritou, onde está a minha mãe? e sentou-se puxando o lençol para cobrir o peito. Desculpe, não queria assustá-la. Ela está bem, ali em baixo a descansar deitada num sofá, deve ter sido só uma queda de tensão. Bastante pálida fitou-me muito séria e eu senti-me como que trespassado por raios x. Como não dava sinais de querer mudar de atitude disse-lhe, vou descer, ver se acordou.

A senhora continuava a dormir profundamente, não se apercebera de nada. Sentei-me no outro extremo do amplo salão. Poucos minutos depois vi-a descer as escadas. Tinha enfiado uns jeans e uma tshirt branca larguíssima, e caminhava sem tirar os olhos de mim. Tratava-se de uma bela mulher, relativamente alta, morena, muito queimada pelo sol, trazia o cabelo castanho escuro preso num "rabo de cavalo". Quando se sentou a menos de dois metros, pude observar a cor mel dos olhos rasgados, encimados pelas magníficas sobrancelhas. O nariz fino dava-lhe uma expressão austera não obstante os lábios sensualmente grossos, confirmada pelo maxilar igualmente estreito. Um formoso e elegante rosto triangular. Recordei brevemente os traços da mulher que dormia e percebi a semelhança. Desculpe ter-me sentado mas queria contar-lhe o sucedido antes de me ir embora, justifiquei-me. Faça o favor, e recostou-se para me escutar. Que eu saiba é a primeira vez que isto lhe acontece, afirmou quando terminei. Logo depois, hesitou momentâneamente o que interpretei como um convite para que me retirasse e levantei-me, mas então afirmou algo abruptamente, espere...acho que a minha mãe vai querer agradecer-lhe...interrompía, não tem nada que agradecer, e além disso acho que agora o que lhe vai fazer bem mesmo é descansar. Ela, ignorando o facto de eu estar em pé, esquisito é ainda ter vestida a roupa com que saiu ontem para ir ver um espetáculo ao casino com umas amigas! O que se terá passado? E encarou-me como que aguardando uma resposta. Durante os minutos em que estivera a descrever-lhe o sucedido, havia pousado sobre mim uma estranha expressão, algures entre o tranquilo e o contemplativo, que me deixara perplexo, mas logo me avisei, tem juízo! não faças filmes! pelo que rápidamente desisti de qualquer espécie de encorajamento que, aliás, afigurava-se-me aproveitador e mesmo baixo. Mas agora...toda aquela insistência, e perante tão esbelta criatura...sentei-me.

Foi espreitar a mãe e após voltar perguntou, quer beber alguma coisa? ainda não tomei o pequeno almoço, e você? e sem esperar resposta, vamos ali para a cozinha e enquanto comemos pode ser que ela acorde e, entretanto, o senhor fala-me de si e eu de mim. Apesar de, como habitualmente, ter saído de casa já de pequeno almoço tomado, concordei e estendendo-lhe a mão, nesse caso vai ter que me tratar por Vasco. Vi-lhe o deslumbrante sorriso pela primeira vez e dizer enquanto correspondia ao meu cumprimento permitindo-me tocar-lhe a mão de veludo, mas firme, Rute.

 

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 14:38

Qua, 22/10/14

 

Gosto de percorrer aquela rua devagar. Única por perto que mantém alguns pedaços de pinhal entre as vivendas antigas, também algumas recentes, uma delas de arquitetura minimalista, toda orientada para o sul e para o sol, a vasta parede para ali virada é constituída quase exclusivamente por vidro e aço, creio tratar-se de uma daquelas casas ditas inteligentes. Mas são as mais velhas que dominam e mais me encantam, sobretudo uma delas, plena de madeiras, telhado tipo nórdico na inclinação exagerada para o clima destes lados, onde sobressaem duas janelitas das quais imagino ser possível ver o mar a uns dois quilómetros. A parte da frente, para sul, está quase completamente coberta de era e buganvílias de várias cores.

Mais ou menos a meio, a subir ligeiramente, reparo num automóvel que se aproximava estranhamente da minha faixa de rodagem. Seguia devagar pelo que tive tempo para me prevenir. Desgovernado e aparentemente sem ninguém ao volante, acabou por se imobilizar suavemente contra um muro, do meu lado e a escassa meia dúzia de metros de mim que entretanto parara. Abri a porta do lado do passageiro, o acesso à do condutor estava impedido, e vejo uma mulher de idade avançada parcialmente deitada sobre o banco da frente, daqueles inteiriços que dão para três pessoas à vontade, vermelho escuro e beje nas laterais e divisórias, a condizer com o imenso tablier de madeira brilhante, e o um enorme vistoso guiador com a pequena manete de velocidades logo ali ao alcance dos dedos, quase sem necessidade dele tirar as mãos para engatar as velocídades, habitual naqueles Mercedes antigos. O ambiente estava saturado por Channel N5, de acordo com a apresentação da senhora, profusamente maquilhada e usando roupas apropriadas para um qualquer chique evento noturno. Mantinha-se inclinada sobre o seu cotovelo direito, em estado de semiconsciência e murmurava qualquer coisa. Ajudei-a a deitar-se no que me acompanhou facilitando a manobra e abrindo um pouco os olhos. Ainda não teria decorrido um minuto disse-me, deve ter sido uma queda de tensão, saí ali de cima, do dezassete, não sei se fechei o portão. E levantou um pouco uma mão, extremamente magra e plena de manchas acastanhadas mas onde dominavam umas belas unhas, onde gritavam minúsculos motivos em cores vivas e diferentes para cada uma delas, na qual segurava aquilo que me pareceu um comando de abertura e fecho de portas.

Foram já várias as vezes que me apercebi da presença por aqueles lados de indivíduos de aspeto duvidoso, sózinhos e em pequenos grupos, na expectativa de uma oportunidade para qualquer assalto o que, dada a a natureza do lugar, se afigura perigosamente provável. Foi essa a razão porque depois de fechar cuidadosamente o meu carro com o intuito de rápidamente voltar, e de ter recolhido a sumptuosa bomba na garagem do nº 17, que efetivamente estava escancarada, quer o portão exterior para o pequeno jardim frontal, quer o da garagem própriamente dita mais ao fundo, mantinha a máxima atenção, enquanto segurava a velha senhora que tão dócilmente totalmente se entregou nas minhas mãos. Tirou um molho de chaves das profundezas de uma bela carteira que, curiosamente, nada tinha a haver com a restante indumentária, de grandes dimensões e mais adequada ao dia a dia, e entrámos num amplo hall, ricamente mobililado, que fazia adivinhar o que se seguiu, um vasto salão com uma magnifíca vista para o frondoso jardim traseiro, imediatamente depois de uma piscina onde boiavam inumeras folhas de outono. Ajudei-a a deitar-se num dos rechonchudos sofás que transpiravam conforto e perguntei-lhe se queria que contactasse alguém. Fez-me um sinal para me sentar e, num fio de voz, pediu-me, espere só um bocadinho se faz favor, falámos já, e fechou os olhos. Estava eu a passear os olhos por tudo o que me rodeava, móveis sólidos mas agradávelmente baixos, nada opressivos, num castanho claro, poucos artefactos em cima mas invariávelmente elegantes, uma ou outra fotografia, e nas paredes três quadros de paisagens que áquela distância resultavam lindíssimos e se adequavam perfeitamente a todo o resto, quando ouço um ruído que chegava algures do andar de cima. Vigiei a mulher que se abandonara ao descanso e parecia dormir, e dirigi-me à escadaria que se apresentava igualmente belíssima em madeira de cor semelhante à dos móveis, em meio caracol, degraus largos, que me conduziram, super alerta, estaria algum meliante escondido lá em cima? ao andar superior. Imperava um silêncio aterrador até me aproximar de uma porta encostada, havia já passado por um quarto de dormir recentemente abandonado, provávelmente da mulher e aguardando a visita de alguém para o arrumar pois reinava a desordem, de onde deslizava uma espécie de ronronar. Espreitei, a persiana parcialmente aberta permitia ver razoávelmente, e deparei com uma mulher ainda jovem, trinta e tais?, dormindo profunda e tranquilamente, barriga para baixo, bonito rosto virado na minha direção onde sobressaíam as sobrancelhas fortes, e os lábios cheios. Estava agarrada à almofada, semicoberta por um lençol branco, fino, que deixava destapada uma perna muito morena e em excelente forma até às cuecas pretas sobre uma das nádegas, e a quase totalidade do tronco de onde brotava, esmagada contra o colchão, uma mama de tamanho generoso, extremamente branca e excitante dado o contraste com a restante pele escura.

  


direto ao assunto:


semtelhas @ 13:52

Ter, 21/10/14

 

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 14:25

Dom, 19/10/14

 

- Governo devolve impostos em 2016 caso contas do estado o permitam - Ou seja se recuperação do mal parado superar o previsto, e quando já lá não estiver. Descodificando, nem as contas vão melhorar nem vão ser eles a não os devolver...

 

- Contrariando Passos & Maria Luís, Cavaco afirma que contribuintes não vão pagar BES via CGD - Numa brilhante troca de palavras, e apesar de admitir a possibilidade da Caixa ter que se chegar à frente. Ou seja não pagámos mas pagámos. Eis o mestre em todo o seu esplendor!

 

- A recentemente nomeada Ministra da Saúde belga é obesa - E depois? Quantos Ministros das Finanças são incorruptíveis?

 

- Em Lisboa não há forma de escoar a água - Só ao fim de tantos anos descobriram que por ali água não se tira, só se mete?

 

- Cada vez há mais crianças e jovens a ver a Casa dos Segredos da TVI - Eis os modelos em que se inspiram e constroem as gerações do futuro. Quero ir para a ilha!

 

- Ministro israelita afirmou, prefiro mil mães palestinianas a chorar que uma única mãe judaica - Assim começam certas Decisões Finais...

 

- Fundador do Facebook compra ilha por 75 milhões - Está vivo e não se recomenda o altamente lucrativo mercado da, maioritáriamente,  fofoca,  vaidade e autocondescendência.

 

- Facebook e Apple pagam a funcionárias para congelar óvulos - E dizem-lhes que podem estar descansadas, porque quando ficarem decadentes podem ser mães. As criancinhas que se lixem!

 

- Referendo catalão não foi autorizado - Presidente da junta autónoma da Catalunha propõe uma consulta referendária. Boa tentativa Artur mas...

 

- Enfermeira italiana matou 38 doentes porque a incomodavam - Já se viu matar por razões piores...ou seriam melhores? 

 

- Museu do Louvre vai abrir só para Beyoncé e o namorado - Mas nada de confusões! É só porque eles querem aparecer sózinhos na fotografia com as celebridades penduradas nas paredes.

 

- Juiz suaviza pena por considerar sexo depois dos cinquenta menos importante - Ele lá sabe, mas ainda me lembro daquele senhor de oitenta anos que dizia que pensava que aquilo era um osso...

 

- CDS tem 4% nas sondagens - Corre o risco de voltar a ser partido do táxi. Atenção à ventania, aí vêm Portas a abrir e a fechar estrondosamente!

 

- Porto, 1 / Sporting, 3 - Lopetegui, o egoísta, quer guardar a bola, alguns jogadores do Porto, magnânimos, gostam de oferecê-la, aos seus adversários basta saberem esperar.

 

- Jessica Athaíde foi acusada de ser gorda - Está-se mesmo a ver a dimensão mental, e sobretudo física de quem acusou não está-se?

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 12:33

Dom, 19/10/14

 

Nada jamais foi tão escrito, cantado, dançado, filmado...como o que quer signifique essa palavrinha mágica, amor. Da paixão diz-se ser o seu estado inicial, aparentemente irrevogável em todos os sentidos... até deixar de o ser.

 

É desse iato de tempo, bem como de como interpretá-lo, que versam os dois últimos filmes de Alain Resnais, Vocês Ainda Não Viram Nada, e Comer, Beber e Cantar, que o realizador completou pouco tempo antes de morrer, o último exatamente três semanas antes.

 

Na verdade trata-se do legado extraordinário de um verdadeiro mestre. Ambos feitos como se de uma peça de teatro se tratassem, proporcionam a fruição do ato de interpretar em palco maravilhosamente executado, através de textos impecávelmente ditos e, cada um no seu estilo completamente diverso, o primeiro baseado no clássico grego Eurídice e Orfeu, o outro o mais atual possível.

 

Plenamente consciente da morte à espreita, o realizador dá-nos a sua versão de um amor supostamente único e autêntico, o da juventude, cheio de vigor, sonho e ingénuidade, só eternizável, e realmente merecedor, via morte, num primeiro filme que percorre a lenda da mitologia grega adaptando-a magistralmente aos nossos dias. No segundo oferece-nos precisamente a visão oposta, onde o amor(?) é a bem sucedida superação dessa espécie de estado de graça, em nome da sobrevivência, da segurança, sustentada noutros prazeres bem mais terrenos, cruamente prosaicos. Toda uma sábia história de vida magníficamente resumidos em cerca de três horas, valendo-se da mais nobre das artes, o teatro (ainda que via cinema), quando a morte já se anunciava ali à esquina, o que lhe confere uma autoridade e um savoir-faire preciosos.

 

 

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 12:16

Sex, 17/10/14

 

O porteiro é a força bruta, a violência, o lacaio, o testa de ferro, a mão que o poder comanda; Teresa, a mulher, é a estupidez feita esperteza, a grosseria e o rídiculo fruto da profunda ignorância de quem vive uma existência de pura sobrevivência, qualquer deles completamente reféns dos seus instintos animais mais básicos. O irmão é o político, o demagogo, o inteligente e hábil, a imagem do sucesso graças à enorme capacidade de manipular, exímio comunicador pratica a socialização utilizando mais ou menos despuradamente a, para a grande maioria dos seus pares que preferem afastar-se, insustentável leveza de caráter e incontornável fragilidade do comum dos mortais. Ele, Kien, é o negativo do irmão, é o cismático fundamentalista, é a face lunar e obscura da humanidade, consubstanciada por esses homens e mulheres que juntaram à sua enorme capacidade intrínseca, um ainda maior nível de frustração e desejo de vingança nascidos das mais diversas razões. E depois há os livros, essa primordial fonte de conhecimento, inimigos de todos os poderes absolutos, também eles vítimas, objeto e meio de transmissão do bem e do mal, idolatrados e odiados, verdadeiro paradigma de uma existência humana que se vai consumindo e evoluindo nas suas contradições, em que eles, como pano de fundo, juntamente com outras manifestações artísticas, simultâneamente, em confronto e lado a lado com a ciência, são, em si mesmos, nos seus varíadíssimos conteúdos, a prova maior desta vida que vamos atravessando numa espécie de fogo lento.

 

O livro Auto de Fé de Elias Canetti é toda uma lição sobre a sociedade humana e as suas fragilidades, um poderoso exercício de como desvendar a sua natureza, recorrendo a uma metáfora da qual fazem parte exclusivamente os estériotipos, são só meia dúzia, depois repetimo-nos aos milhões, absolutamente necessários para explicar o seu mecanismo.

 

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 11:12

Qua, 15/10/14

 

A vaidade, prima da arrogância, pode ser expressa nas mais diversas circunstâncias como é sabido, mas há casos verdadeiramente surpreendentes.

 

Não sei há quanto tempo, mas já lá vão uns anos, continua a ser irresístivel mirar aquele personagem, autêntico cromo. A rondar os sessenta, relativamente alto, seco e rijo, cabelo cada ano mais branco, hoje quase na sua totalidade, cortado muito curto, veste sempre uns calções pretos apropriados para atletismo e uma tshirt branca. Normalmente sózinho, aquilo que realmente o distingue é a forma como se movimenta e, nesse particular, não lhe noto qualquer diferença desde o primeiro dia. Muito direito, cabeça bem levantada, atirando as pernas e os braços bem para a frente, no rosto uma assustadora máscara de ferro, ou seja, toda uma postura que indicaria uma atitude enérgica de atleta que, no entanto, é completamente desbaratada por um ritmo extremamente lento, quase dengoso, dir-se- ía que o homem parece desfilar numa passerele. Marcha sempre do lado direito e nunca lhe detetei qualquer desvio no olhar que, invariávelmente, aponta lá para longe, algures no infinito. Curiosamente, quando na companhia de alguém, o feitiço como que se desfaz e é com surpresa que o vejo sempre só ele a falar, quase a saltitar em volta de quem o acompanha, como se esperasse um qualquer tipo de biscoito ou festa na cabeça. Nessas ocasiões permite-se um longo olhar sobre os restantes transeuntes que com ele se cruzam, onde é detetável uma espécie de misto entre desprezo e desafio, na verdade muito mais dirigido à companheira ou companheiro, supostamente solidário face ao empecilho que se atreveu a desviar-lhes a atenção de tão vibrante quanto importante monólogo.

 

Hoje vi-o já depois de ter atingido metade do meu percurso e aí ter feito os habituais exercícios, um pouco abaixo do passadiço, numa saída para a praia, pelo que só o apanhei na volta. Lá ía ele na sua garbosa exibição. Quando suficientemente perto apercebo-me que, ao contrário do costume, desta vez a tshirt tinha inscritas nas costas aquilo que me pareciam umas letras em preto. Alguns metros adiante consigo perceber tratar-se de algo escrito em símbolos japoneses, seguidos de um discreto desenho de uma figura masculina a praticar artes marciais, naquela posição de ataque mais comum, todo no ar, uma das pernas e um braço para a frente e os respetivos pares recolhidos. Estava eu a tentar decifrar aquilo tudo quando, súbitamente, passam por mim, a correr, dois rapazes, plenos de energia. Talvez sentido a vibração ou o ruído nas traves de madeira, e como de uma arma letal se tratasse, o homem olha para trás, vê-os a meia dúzia de metros, cospe displiscente e desafiador para o lado, e, mantendo o ritmo, desvia-se ligeiramente para o meio do caminho. Não sei que tipo de filme lhe estava a passar naquele momento numa cabeça que não pode estar muito saudável, o certo é que um dos rapazes, talvez incomodado com a atitude do homem, seguramente porque lhe estava a interromper a corrida, deu-lhe um valente encontrão, e ele, ato contínuo grita, vê lá se tens mais cuidado, ao que o jovem, provávelmente encarando com mais caratéres orientais na frente da camisola, respondeu quase parando, chega-te para lá ó velhote. Isso aí quer dizer que irócútácaró? É que estou disposto a pagar o que fôr preciso. E lá fomos todos ás nossas respetivas vidas enquanto eu, perante o embaraçante e triste silêncio do pobre homem me interrogava, será que é desta que vai perder a pose?

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 11:14

Seg, 13/10/14

 

- Marinho e Pinto ganha 300€/dia só em ajudas de custo - O que o indigna tanto ao ponto de ficar paralisado e não conseguir abandonar o cargo. No estilo, apesar do enorme esforço do Bruno Carvalho, este é o verdadeiro e digno sucessor do saudoso e atual ilustre inquilino da Carregueira, Vale Tudo!

 

- Passos não respondeu à pergunta essencial a propósito da Tecnoforma: quanto recebeu? - O homem não será nenhum génio, mas também não é assim tão estúpido!

 

- Seguro renunciou a lugar de deputado - Amuou, disse que não brincava mais, e só não levou a bola debaixo do braço porque não o deixaram...

 

- Presidente do Sporting diz que só lhe falta sair morto do Dragão - Como se esfalfa o homem para que lhe respondam e poder sentir-se importante. Mas nem a fazer flicflacs à retaguarda vai lá!

 

- Depois de transportar enfermeira espanhola infetada, a mesma ambulância ainda o fez com mais sete pessoas antes de ser desinfetada - Durante o período em que se confirmava o diagnóstico. Nem sempre a fúria do meia bola e força é a melhor solução...

 

- Autor de Gomorra afirma que se soubesse o preço que pagaria não teria escrito o livro - Pois...após ver o filme também me pareceu!

 

- Zeinal Bava tem proposta de trabalho de Carlos Slim - Várias vezes o homem mais rico do mundo. O Carlos que se ponha fino...

 

- Desconhece-se o paradeiro do presidente norte coreano - Diz-se que não pode andar por excesso de peso. Deve ficar deprimido ao ver milhões de súbditos no osso e então...toc'a comer!

 

- Carlos Queiroz afirma que foi roubado pelo BES - Pela FPF, pelo Sporting, por aquele senhor do antidoping..., uns armam-se em Calimeros furibundos, outros em Furibundos calimeros.

 

- Professor colocado em setenta e cinco horários diferentes - O ministro matemático devia era estar a criar as formúlas de cálculo para a colocação dos ditos! Ou a história da ascensão e queda de um teórico idealista.

 

- Bombeiro suspenso 30 dias por praticar sexo na ambulância - Então aquelas não são para emergências?

 

- 100 mil pessoas vêem reveladas na internet as suas fotografias íntimas - Ou como diria o alemão comissário europeu do pelouro: ele sempre há muita gente suficientemente estúpida!

 

- Pires de Lima culpa Sócrates pela queda da PT - E, já agora, do BES. Se o rídiculo mata-se o ilustre tinha sido fulminado.

 

- Duas jihadistas austríacas arrependidas querem voltar a casa - Governo austríaco diz que não as pode receber de volta. Quando o mal está na natureza não se muda! E não me refiro às raparigas...

 

- Portugal contribui com 25 mil euros para reconstrução de Gaza - Para aí o que deve ter custado o último jantar oferecido por Cavaco no Palácio de Queluz...Mais valia estar quetinho... 

 

- Cavaco disse que partidos correm risco de implosão - Após da prova de vitalidade dada pelo PS com as diretas percebe-se bem a sonsice. E depois o que poderá ter a haver com política e partidos, quem mais anos esteve no poder desde o 25 de Abril de 74?

 

- Seguro voltou a dar aulas mas só a 12 alunos - Malvados! Está tudo contra mim! É uma injustiça, se é!

 

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 12:27

Dom, 12/10/14

 

Rio de Janeiro. Bailes de debutantes. 

 

Uma família rica prepara a sua enorme mansão para a baile que ali vai decorrer em honra da sua filha debutante, uma jovem gorduchinha branca, que nos é apresentada a tocar piano, que aprende desde os nove anos e fala num inglês fluido, no colégio que frequenta, o melhor do Rio, só se expressam nesta língua, e que quando lhe perguntam o que fazem os pais, virando-se para a mãe que, deleitada, a observa sonhadoramente abandonada junto a uma das portas do sumptuoso salão, o que é que você faz mesmo mãe? Perante a visível atrapalhação desta por, provávelmente, não ter a resposta mais adequada ao momento, dos confins de uma espécie de gigantesca varanda sobre o frondoso jardim, surge em seu auxílio o pai, polo oficial Ferrari, expressão algures entre o fatigado e o entediado mas definitivo, trabalhámos no comércio. Percorremos a casa hollywoodesca a caminho da zona desta destinada à homenageada, onde a vamos encontrar surpreendentemente já reunida, todas sentadas num único garboso e enfeitado banco, a mais umas quantas debutantes em tudo, inclusivé na cor da pele, iguais a ela própria. Riem-se nervosas e com alguma coqueteria perante a câmara, e questionadas sobre o que se passa ali mesmo ao lado nas favelas, dizem que as meninas que lá vivem também têm direito a um baile. Perguntadas se alguma vez lá foram, torcem-se incomodadas, escondem o olhar, e uma dela afirma convicta, é muito perigoso.

 

O pai morreu atingido por uma bala perdida durante um tiroteio na favela, a mãe, poucos meses depois, de paragem cardíaca, é por isso ela, uma jovem mulher, quem tem que tratar das três irmãs mais novas. Duas destas foram escolhidas, em conjunto com mais umas quantas, pela prefeitura da cidade, para o baile anual de debutantes patrocinado por aquela. Entramos na casa da favela, recentemente limpa de traficantes, composta por dois espaços exíguos e bastante degradados, um social, cozinha e "sala de estar", e outro onde se amontoam as quatro para dormirem. Ninguém frequenta a escola, as duas mais velhas trabalham para que todas se possam vestir e tenham que comer, e a seguinte na idade toma conta da mais nova. As debutantes manifestam-se contidamente felizes por terem sido escolhidas, entre sorrisos envergonhados, enquanto a mais velha, políticamente correta nas palavras, olhos inexpressivos, agradece a oportunidade que garante vão aproveitar da melhor maneira possível. Tratam-se de duas raparigas óbviamente marcadas pela pobreza, uma precocemente sensual, toda curvas exageradas para a idade e a fazer adivinhar a obesidade que se anuncia, outra extremamente magra, claramente subnutrida e com um pequeno rosto algo símiesco.

 

Chega o grande dia. A mansão já brilha ao longe, mas quando lá se chega o que se vê é inacreditável. Alguém comenta, nunca vi nada assim! E perante o ar enfastiado de quem ouviu pergunta, e você? É normal, foi a resposta. A fazer lembrar o fausto romano mas devidamente ornamentado à la Las Vegas. Tudo resplandece em brilho e cor, fontes luminosas de onde jorra champanhe, pirâmides de frutos exóticos, paredes de vidro para um exterior luxuriante e sensual, mulheres e homens elegantíssimos nos seus sofisticados trajes de luxo deslizam sorridentes, encandeando-nos com o reflexo das suas impressionantemente alvissímas perfeitas dentaduras. Eis que a ingénua e anafada princesa desce a vasta escadaria, e o mundo elevando um pouco a cabeça e os olhos para o céu, pára para explodir em entusiásticos aplausos. Aguarda-a um príncipe todo dourado, de facto pago a peso de ouro, um conhecido ator de novelas, que a embala ao som do Danúbio Azul.

Não muito longe um conjunto de cerca de uma dúzia de raparigas negras prepara-se pacientemente, a energia está sempre a falhar, entregando-se nas mãos de umas quantas voluntárias, que as maquilham e vestem com umas roupas generosamente emprestadas. Entretanto ao longe ouvem-se uns estrondos a fazer lembrar tiros, que arrancam delas sonoras gargalhadas, observando o medo e estremecimentos de quem faz a reportagem. Estupefactas miram-se ao espelho para verem uma estranha mas, apesar de tudo, feliz, afinal pode ser a oportunidade de uma vida. Quando fica tudo pronto obrigam-nas a esperar mais uma hora, é que o primeiro a entrar no armazém preparado para o efeito, tem que ser o político designado para abrir o evento, e ele está atrasado. São anunciadas uma a uma enquanto desfilam debaixo de um foco de luz sob o olhar emocionado dos familiares. Aqui os príncipes são agentes da polícia que elas evitam encarar. Após algum tempo, só o suficiente para comerem, constrangidas, algumas guloseimas gentilmente oferecidas, dirigem-se a uma divisória ao fundo onde se devem despir do seu conto de fadas e vestir as suas próprias roupas, préviamente transportadas pelos parentes. Ainda antes da meia-noite evaporam-se as nossas Cinderelas, e no ar fica a terrível pergunta, valeu a pena?


direto ao assunto:

"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
procurar
 
comentários recentes
Pedro Proença como presidente da Liga de Clubes er...
Este mercado de transferências de futebol tem sido...
O Benfica está mesmo confiante! Ou isso ou o campe...
Goste-se ou não, Pinto da Costa é um nome que fica...
A relação entre Florentino Perez e Ronaldo já deve...
tmn - meo - PT"Os pôdres do Zé Zeinal"https://6haz...
A azia de Blatter deve ser mais que muita, ninguém...
experiências
2018:

 J F M A M J J A S O N D


2017:

 J F M A M J J A S O N D


2016:

 J F M A M J J A S O N D


2015:

 J F M A M J J A S O N D


2014:

 J F M A M J J A S O N D


2013:

 J F M A M J J A S O N D


2012:

 J F M A M J J A S O N D


subscrever feeds
mais sobre mim