semtelhas @ 13:21

Qua, 30/07/14

 

 


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semtelhas @ 14:17

Ter, 29/07/14

 

Cultura a trepar nas árvores

Como nos jardins antigos

Amores, ódios e temores

Tantos episódios vividos

Porém jamais esquecidos

Ao tronco da vida agarrados

São poemas bem guardados

Ficou a sabedoria enraízada

Tranquilidade tão esperada

Todos os golpes suportados

Dão segredos desvendados

Interiorizado que toda a dor

Só será superada pelo amor

A vida a esperar pelo destino

Tarde para escolher caminho

Resta demanda do aprender 

Sentires na palavra escrever

Talvez enfim desamarrados

Após tempo de aprisionados

Finalmente o saber esperar

O ouvir em vez de falar

Tentar ver e não só olhar

Antes de engolir saborear

Viajar na memória ao cheirar

Descobrir sensações a tatear

Ao passar, parar e observar

Escutar antes de contestar

Duvidar para bem aceitar

Derrotar a pressa, devagar

Compreender para convencer

A paz no abrir mão do poder

Mais que só existir, sentir

De todo o fingir desistir

A felicidade no escolher

O não ter medo de viver

 


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semtelhas @ 13:03

Dom, 27/07/14

 

- Cresce movimento internacional para retirar o mundial de futebol à Rússia - Ou o tesão de mijo do costume de alguns precoces a ejacular ameaças.

 

- ONU teme que Portugal desça no índice de desenvolvimento humano devido a cortes na saúde e educação - Em compensação cresce em rácios como o de 1% da população deter 25% da riqueza...

 

- Ana Drago e Daniel Oliveira têm pressa para participar nas legislativas - Nunca terão ouvido o axioma que diz, ir devagar para chegar depressa?

 

- Cavaco comparou Guiné Equatorial a Coreia do Norte - Para quem anda há décadas a afirmar uma coisa e o seu contrário, dizer isto são amendoins!

 

- Ricardo Salgado foi detido - Na sequência de variadíssimas notícias que o enfraqueceram publicamente ou, dos fracos não reza a história.

 

- Ricardo Costa: fica a ideia que a justiça é rápida quando se deixa de ser poderoso - Ai fica? E não é que ainda ninguém tinha reparado? Oxalá o mano deste senhor não queira fazer de nós tão parvos!

 

- Expresso: Passos liberta Maria Luís caso garanta peso na Europa - E o artista insiste! Aqui como diretor do jornal a querer convencer-nos que a senhora está presa de alguma forma, e que o nosso primeiro é uma espécie de protetor do futuro português!

 

- ONU exige inquérito para saber se Israel cometeu crimes de guerra - A velha estratégia de fazer qualquer coisa para que fique tudo na mesma.

 

- Privatização de transportes públicos costuma dar mau resultado - Titulo refere-se a exageros no risco de crédito, porque quanto ao facto de novos donos passarem a sentar-se em cima do pagode já nem é notícia...

 

- Mais de metade dos inquiridos da DECO sobre excesso de peso estavam em dieta - Só?! Quando se trata de responder a inquéritos os portugueses costumam ser quase 100% políticamente corretos!

 

- Nos EUA prisioneiro demorou mais de duas horas a morrer após admnistração de injeção letal - Letal mas pouco... e já não é a primeira nem a segunda vez. Se calhar deviam era acabar com a pena de morte e assim até já podiam entrar para a CPLP...

 

- O portavoz do governo afirmou que é sempre bom que a justiça funcione - Que pena não ter afirmado que é bom que a justiça funcione sempre.

 

- Entre 144 Portugal é o 10º país no qual a população menos confia no governo - 23 em cada 100. Os outros 77 além de piegas são uns ingratos mal agradecidos.

 

- Caiu avião civil argelino cheio de passageiros sobre o Mali - Numa zona de guerra onde franceses combatem islamitas. Se isto de fazer pontaria a aviões civis se torna moda está o caldo definitivamente entornado.

 

Em três dias a venda de camisolas de James já pagaram um quarto do seu custo - E ainda há aqueles que dizem que as camisolas não marcam golos...

 


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semtelhas @ 12:11

Sex, 25/07/14

 

Durante longos anos para mim o fado pouco mais foi do que um dos três f's do nosso descontentamento e atraso juntamente com os do futebol e Fátima. Depois, lentamente, comecei a aperceber-me de uma voz diferente de todas as outras, que se metia comigo mesmo quando, contrariado, fazia algum esforço para não lhe ligar nenhuma, e então, como tantos outros, percebi que Amália Rodrigues fazia parte de um daqueles raros seres humanos que transporta os comuns mortais como que para uma outra dimensão, quase divina, algo intrínseco e tão inexplicável quanto magnético. Talvez por isso, ainda adolescente, vozes como a de Carlos do Carmo que ouvia religiosamente emitidas de um cartucho que o meu pai venerava, sempre que ao domingo o Porto jogava nas Antas lá íamos embalados nas asas dos bandos de pardais à solta ou debaixo dos avisos, mau, já começa a chatear, a vossa mãe não vos disse que eu sou o homem do saco, deixaram de me incomodar apesar de arrumadas numa prateleira algo longínqua, correspondente a estados de espírito raros se comparada com outras escolhas musicais.

 

Depois de uma longa travessia do deserto, o preço a pagar pela forma como foi usado para manipular os sentires das nossas gentes, como que embrulhando numa doce fatalidade aquilo que na verdade era a ignorância, e mesmo a indigência de quase todos a favor de uma classe previligiada, desde há uma dúzia de anos o fado tem vindo a renovar-se, descoberto por uma série, que parece não parar!, de novos intérpretes o que, juntamente com uma espécie de reabilitação daquilo que significou durante tanto tempo, consubstanciada no reconhecimento internacional enquanto género musical único e digno do título de património da humanidade, está a torná-lo cada vez mais reconhecido e aceite por um numero crescente de pessoas, nomeadamente jovens. Para isso têm contribuido e tem sido objeto das mais variadas adaptações, para desespero de muitos puristas que clamam muitas dessas opções não serem dignas de serem chamadas fado, mas a verdade é que em quase todas essas versões há ali um padrão, particularmente o uso da guitarra portuguesa, que lhes confere a sonoridade certa para o nome.

 

Alguns casos de entre essas alterações em direção às exigências de um mercado sempre indispensável a qualquer sobrevivência, foram mesmo radicais, lembro-me de Mísia, de um tal não sei quê Bragança, um ser andrógino cuja arte nunca consegui alcançar, e mesmo Dulce Pontes, que a certo ponto da sua carreira começou a desvirtuar(?), porventura desaproveitar o seu magnífico instrumento vocal escolhendo caminhos difíceis de entender. Depois surgiram uma série de intérpretes em diversos estilos, todos com mais, ou menos, sucesso, mas tendo em comum essa característica transversal ao fado que é um certo traço trágico, a puxar ao recolhimento, o tal sentir português. Até que apareceu Gisela João! Já tinha reparado naquela voz rouca e nas minisaias, mas ontem vi-a em palco e percebi tratar-se de algo novo. Espécie de mariarapaz carregada de feminilidade, preenche todos os imaginários, com um sentido cénico fantástico, até se dá ao luxo de cantar, supernarcísica, de costas para o público a olhar-se ao espelho ali presente, semidespida, sempre a provocar-nos com a possibilidade de vislumbrar-mos o proibido, uma voz suja mas longe daquelas que a partir do momento que ultrapassam essa sujidade rebentam lá nas alturas, constantemente a movimentar-se para os lados e mesmo para cima e para baixo, dando asas à sua natureza irrequieta, mas também em nome da quebra de um eventual cansaço da audiência, e uma carinha laroca e sensual entre a introspeção profunda e o sorriso aberto e sincero. E depois, cereja em cima do bolo, canta suficientemente bem e interpreta com alma e qualidade. Um espetáculo!

 

Quanto às coxas própriamente ditas, alinham no mesmo sentido de tudo o resto, são jeitosas, mas a maneira altamente eficiente apesar de charmosa e elegante, como Gisela as utiliza para nos seduzir, torna-as deslumbrantes!

 

 


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semtelhas @ 11:10

Qui, 24/07/14

 

 


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semtelhas @ 14:35

Qua, 23/07/14

 

A propósito da eventual contratação do jogador de futebol brasileiro Bernard por parte do FC Porto, e porque o outro candidato era o Shakhtar Donetsk, há cerca de um ano passaram na televisão imagens daquela cidade. Parecia uma normalíssima urbe europeia de dimensão média, um avenida larga, prédios altos nas margens, automóveis de marcas conhecidas a formar um trânsito relativamente intenso, muitas pessoas por ali a circular, enfim, podia ser aqui ao lado. Ontem revi essa mesma avenida quase completamente deserta, uma série de tanques de guerra eram os únicos veiculos visíveis, e há dias, não muito longe dali, foi abatido um avião cheio de gente maioritáriamente a caminho de destinos de férias. Trezentos e sessenta e tal dias são o que separam duas realidades tão distintas, e a pergunta é, como foi possível? É quase como se fosse o exercício de imaginar o mundo no qual vivemos diáriamente, onde dá-mos por absolutamente adquirido o nosso estilo de vida, ao ponto de perdermos a larga maioria do nosso tempo para além da luta pela sobrevivência a discutir o sexo dos anjos, de repente virado do avesso, tudo posto em causa. Quando se observa o que se passa à nossa volta e se reflete um pouco no que se vê, não é difícil perceber que, mais cedo que mais tarde, é muito improvável que o mundo perigoso que nos rodeia não venha bater-nos à porta.

 

Foi anunciado e logo abundantemente acarinhado, como quem se apressa a aplaudir efusivamente um bébé que milagrosamente suspende um choro gritado para aceitar uma colher de papa, na vã esperança que a trégua seja para continuar, um hipotético acordo entre os três grandes do futebol português supostamente para redefinir regras do funcionamento daquele. Num país essencialmente bipolar, que só arranca quando empurrado por guerras e sobretudo guerrilhas, maioritáriamente iletrado, cuja juventude dita académicamente mais preparada dá recorrentes provas de baixíssima cultura, nas mãos de governos que, uns mais outros menos, repetem a receita da austeridade face à manifesta incapacidade de criação de riqueza por parte de uma sociedade claramente impotente para concorrer com os parceiros do clube de ricos de que faz parte (ainda no outro dia Manuel Sobrinho Simões afirmava perentóriamente que somos genéticamente iguais aos norte africanos...), e onde o futebol assume uma importância desmedida, basta atentar em toda a insana inflação informativa em volta do fenómeno, parece altamente improvável que Benfica, Porto e Sporting cheguem a qualquer acordo que vá para além do estritamente necessário para que se mantenham a respirar, como parece ser o caso. E depois, acabados os intermináveis desfiles de paineleiros, onde se íam lançar presidentes de câmara e até da república? Onde se colocavam um número inacreditável de pessoas ligadas ao futebol e afins? E, acima de tudo, do que é que a esmagadora maioria das pessoas falaria senão do jogo do passado fim de semana até terça, e do próximo nos restantes dias? Há básicamente duas formas de fazer as coisas andarem para a frente ou, no mínimo, mexerem-se, pela positiva e pela negativa. Em Portugal, para o bem e para o mal, sem guerrilhas provocadoras é a estagnação.

 

CPLP quer dizer Comunidade de Países de Língua Portuguesa. A somar a esta condição que é como a pescada, antes de ser já o era, junta-se a prerrogativa de se tratarem de países livres onde a direitos humanos são plenamente respeitados. Para além dos habituais exageros nestas coisas das definições doutrinárias seja do que fôr, parece haver uma certa razoabilidade em tudo isto. Parecia! É que a partir de ontem passou a fazer parte da comunidade a Guiné Equatorial na qual não se fala português, de todo, e em cujo território rico em petróleo, vive uma população debaixo de um dos mais repressivos regimes que atualmente se conhecem. Uma das razões que se deu para esta admissão foi que no futuro a situação vai melhorar, só que o futuro é o filho do atual ditador, criatura que vive numa mansão com centenas de divisões, tem habitações por todo o mundo nos sítios mais caros, e é possuídor de uma frota de largas dezenas de automóveis onde pontificam uns quantos Ferraris e Lamborghinis, nas várias cores disponíveis, para o ilustre as poder utilizar a fazer "pendent" com os trapinhos que compra nas mais caras lojas do globo. Ainda antes da votação onde era suposto aceitar oficialmente o novo membro, foi mostrado um vídeo no qual o facto era já dado como consumado. Aos portugueses resta a fraca consolação de ver Cavaco com cara de quem está a comer bolorei estragado, e de um Passos Coelho com aquela expressão de quem se acha superior aquilo tudo que costuma pôr ao ouvir a oposição, como quem diz, esta gente só diz e faz disparates. Assim a probabilidade de alguém, algum dia, considerar a CPLP uma organização credível é praticamente nula.

 


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semtelhas @ 13:00

Seg, 21/07/14

 

- À questão se o governo ía apostar forte na proteção da natalidade Passos Coelho respondeu, vamos fazer contas - Quem nasce com espírito de merceeiro morre com espírito de merceeiro.

 

- César das Neves afirmou que é criminoso aumentar o salário mínimo - O Abominável Homem da Neves volta a atacar! Não pára de dar provas do seu fervor católico este desbocado candidato ao inferno.

 

- Projeto de lei para evitar prescrições de processos por irregularidades da banca está a "marinar" na Assembleia de Republica - E não deve ser para depois servir mais apetitoso...

 

- Portugal é o pais europeu com maior aumento de registos de carros novos - Quando se parte abaixo dele até o zero parece bom!

 

- O superheroi Thor agora é uma mulher - E que mulher! Bora lá substituir o Batman, o Superhomem e por aí fora, fica muito mais intessante vê-las por aí todas artilhadas a salvar o mundo!

 

- Adolescentes portugueses são dos que mais dificuldades têm em poupar - Ou a velha estória de fazerem o que vêem e não o que lhes mandam.

 

- Rússia interditou rota do acidente com o avião malaio horas antes, e Obama avisa que se joga muito na Europa - Estão a chegar aquele ponto em que atos extremos e palavras agressivas não deixam espaço a grandes recuos.

 

- Artista da vagina, japonesa, coloca na rede a possibilidade de imprimir a mesma em 3D - Deve dar um belo pisapapeis!

 

- Porto do Funchal contrata águias para matar gaivotas - Se as águias se tornarem excedentárias à semelhança das gaivotas, é só contratar dragões!

 

- Cavaco diz que os portugueses podem confiar no BES - Assim pudessemos confiar nele!

 

- Estudo prova que idosos são mais cooperantes que jovens - Era preciso um estudo? Que remédio!

 

- Mulher de um idoso vítima de cancro nos pulmões vai receber biliões de indemnização de companhia tabaqueira - Foi nos EUA e o homem fumava três maços por dia. Parece que era ela que ía religiosamente comprá-los ao quiosque...

 

- Crato marcou exames para professores com três dias de antecedência - Porque se marcasse com quatro eles metiam préaviso e faziam greve nesse dia. Um jogo do gato e do rato em que é difícil identificar quem fica no papel do roedor...

 

- Ronaldo mostrou-se na net de madeixas louras e máscara de beleza - A Irina não deve ter muitas hipóteses de se tornar num grande jogador da bola. Já Ronaldo em deslumbrante boazona...

 


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semtelhas @ 12:45

Sab, 19/07/14

 

Já tinha escondido do pai vários avisos da escola para o facto dele faltar manhãs inteiras às aulas. Houve até aquela vez em que foi a uma reunião de encarregados de educação, muitos postais depois, e quando a professora perguntou, está aqui algum familiar do RS?, calou-se envergonhada a adivinhar o que seria dito públicamente, naquele tempo os recados eram dados na presença de todos. Se alguém conhecer ou encontrar alguém familiar deste menino faça o favor de avisar que está prestes a perder o ano por faltas. Encolheu-se mais na cadeira e, quando chegou a casa, despejou toda a sua raiva sobre o miúdo numa saraivada de sapatadas,  naquilo que foi a primeira e única coça materna que ele experimentou. Era por tudo isto que aquele postal não podia, como todos os outros, morrer em pedaçinhos no fundo do balde do lixo. Anunciava que uma disciplina estava perdida e, à segunda, seria o próprio ano letivo. Quando ele chegou foi a primeira coisa que fez. Apavorada e entre súplicas para que ele não lhe batesse, entregou-lho trémula e chorosa. Do seu quarto, aterrorizado, sentado na cadeira em frente à secretária de estudo e com os olhos postos num livro, do qual não conseguia extrair coisa alguma, o rapaz ouviu-o, e entre o espanto e um desconfiado alívio, escutou-o a dirigir-se a um anexo fora de casa onde ele guardava ferramentas, a garrafeira, uma banca de trabalho, entre muitas outras coisas. Mas foram tréguas de pouca dura, porque logo o sentiu de volta e, em pânico, aguardou. Trazia na mão o postal, um prego, e o martelo. Afastou-o da secretária com um empurrão, pregou-o com violência na parede bem em frente aos seus olhos e disse, é para enquanto estás aqui a estudar nunca te esqueceres da trepa que vais levar se não passares de ano.

 

 

Depois de ter chumbado o ano anterior por faltas resolveram mudá-lo de escola. Um novo começo, mais perto da vigilância da mãe e num sistema completamente diferente, a telescola. Ao princípio não foi fácil mas, aos poucos, foi esquecendo o inferno porque passara no ano anterior, quando teve que enfrentar um mundo completamente diferente do que vivera na primária, ainda por cima integrado numa turma quase exclusivamente de repetentes, alguns com mais três e quatro anos que ele, constantemente sujeito à violência deles e à negligência de professores cansados de uma turma "maldita". Para surpresa de todos, aquele tipo de ensino dirigido, a muito maior proximidade e atenção dos professores, rápidamente fizeram dele um dos melhores alunos. Para isso terá também contribuído a luta pela liderança, ele era extremamente competitivo, que esgrimia com uma menina que o encantara desde o primeiro momento em que para ela olhara. Como ele com onze doze anos, de impecável bata branca, pormenor em que só ela e um primo se destacavam, franzina mas sempre muito direita, cabeça bem levantada, um rosto onde se realçavam uns olhos negros vivíssimos, que faíscavam quando se zangava, encimados por umas sobrancelhas grossas e igualmente negras mas, mesmo assim, elegantes, sobretudo na forma em V como acompanhavam a parte lateral do olho. Os lábios eram regulares mas de um vermelho que lhe tornava a face ainda mais branca na sua pele imaculada. O nariz fino e comprido transmitia-lhe um ar sisudo de uma maturidade precoce. O cabelo preto e liso usáva-o à Beatriz Costa. Completamente apaixonado procurava insistentemente os seus olhos, mas ela estava ali para trabalhar e, acima de tudo, para o derrotar como primeiro aluno da turma. Para além do seu temperamento fechado, mas talvez também por nunca o ter conseguido, ter-se-á rido para ele duas ou três vezes. Foi por isso com uma surpresa enorme e um júbilo que o acompanha até hoje quando se recorda desse episódio, de, no natal seguinte a ter-lhe perdido o rasto após terminarem os dois anos do ciclo como então se chamava, ter recebido um postal de "boas festas" numa linguagem amigável e doce, em que aquela amada criatura lhe desvendou o que lhe ía na alma.

 

 

Durante anos aquele pesadelo raramente o abandonava. Em volta dele, de familiares e conhecidos um pouco mais velhos, nenhum tinha escapado, acabaram todos no ultramar de armas na mão. A mãe também não ajudava, sempre a lamentar-se do dia em que ele iria para a guerra. As notícias não paravam de chegar e só agravavam a angústia da espera. Era pungente a ansiedade com que uma das vizinhas aguardava de "coração nas mãos" a chegada de um aerograma do filho a cumprir tropa em Angola. Apesar do regime esconder o melhor que sabia e podia, os mais informados tinham conhecimento dos caixões cheios dos corpos de soldados mortos a desembarcar em Lisboa. Depois haviam os estropiados, os que vinham "maluquinhos" e, antes de tudo isso, uma recruta longa e duríssima que só por si assustava. Tinha, por isso, trabalhado no sentido de se livrar de semelhante destino, estudando até obter uma inscrição numa universidade o que lhe havia permitido adiamentos sucessivos, e mesmo um documento médico que lhe dava algumas hipóteses de se safar por questões psicológicas....Mas entretanto os anos passaram, aconteceu uma revolução, Portugal entregou as colónias, e ele, depois do muito andado e vivido, até acabou por se casar e estar a aguardar a chegada de um filho. Nada disso foi no entanto suficiente para tornar aquele momento menos feliz. Por aqueles dias a iniciar uma vida que se queria tranquila, a pensar no futuro, longe das tropelias e dos altos e baixos de uma juventude conturbada por razões intrínsecas e extrínsecas a ele mesmo, em nome de uma estabilidade que se procurava e desejava ía religiosamente todos os dias almoçar a casa. O intervalo no emprego num escritório dava-lhe tempo para ver a mulher que, de ventre enorme, lhe preparava carinhosamente a refeição, tantas vezes complementada com rápidas e saborosissímas sessões de amor. Mas, naquele dia, recebeu-o cabisbaixa e triste enquanto lhe estendia um postal. De repente, vendo o símbolo do Ministério da Defesa, veio-lhe tudo à cabeça e sentiu-se percorrido por uma espécie de fraqueza que quase o fazia dobrar pelos joelhos. Observando a sua aflição ela não deixou que ele se perdesse nas palavras escritas e, de sorriso aberto, proclamou, estás livre! Passas-te à reserva.

 


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semtelhas @ 12:24

Qui, 17/07/14

 

O nevoeiro é cerrado, a cinquenta metros vejo uns vultos brancos em fila indiana. Imagens macabras afluem-me à memória, os fantasmas que me povoam a mente. À frente consigo distinguir uma pessoa mais alta seguida por uma dúzia de outras cujos movimentos me parecem erráticos e, pelo meio do silêncio absoluto, a maré é vaza e tranquila, a espaços ouço um som altamente perturbador, espécie de lamento sob a forma de urro gutural que me remete para as minhas trevas e me petrifica. Quando se aproximam percebo tratar-se de um grupo de doentes mentais em passeio, todos com camisolas brancas, a iniciar e a terminar o cortejo duas vigilantes de estatura normal, e eu questiono-me o que poderão fazer caso alguma coisa corra mal, porque o que sinto latente ao cruzar-me com eles, é a iminência do frágil equilíbrio reinante se desfazer a qualquer momento. Muito provávelmente esta sensação advém muito mais dos meus medos que da realidade daquelas circunstâncias. Ao contrário de todas as outras vezes que vi grupos semelhantes, neste caso todos os seus componentes parecem-me relativamente idosos, apesar de não ser fácil atribuir-lhes uma idade. Em contraste com a normalidade das únicas duas pessoas ditas mentalmente saudáveis, todos os outros, à volta de doze, exibem marcas profundas da doença. Seguem estranhamente devagar, talvez intimidados pelo ambiente translúcido, de penumbra pouco vulgar, pelo que posso observá-los com algum pormenor. Comum a quase todos, há dois ou três em que os próprios olhos são disformes, um olhar mais ou menos distante mas surpreendentemente vivo, um olhar que nunca envelhece, que encontro nas crianças com a mesma doença, como se o tempo tivésse parado num dado momento. Os movimentos que ao longe me provocaram arrepios resultam de extremidades que oscilam descontroladamente, uma total ausência da estética vulgar que dá lugar a uma outra, uma antítese que choca e deixa muitas interrogações. Braços que desenham no ar figuras fantasmagóricas, pernas que milagrosamente permitem avançar, cabeças como que a descansar sobre os próprios ombros ou a vibrar em terríveis espasmos, mãos perdidas e dedos que se entrelaçam nervosamente e sem sentido. Outros encontrarão em tudo isto uma qualquer beleza, um discurso diferente. Quanto a mim acho-me corajoso por não só olhar mas de facto ousar ver estes meus semelhantes. Mesmo ao meu lado, o único que se baba profusamente, solta o horrível grito abafado que lhe vem das entranhas e fita-me bem de frente a desafiar-me com a pergunta, como te atreves a mirar-nos tão descaradamente? Logo atrás, a monitora passa a mão pela cabeça dele num afago que pretende acalmar, tal como à frente seguem de perto os que dão sinais mais evidentes de desiquilíbrio, e lança-me um olhar amigável que interpreto como transportador de alguma gratidão pela partilha que um olhar, apesar de tudo, pode significar. É que normalmente as pessoas pura e simplesmente os ignoram, ou melhor, fogem-lhes. Lá foi o grupo de velhinhos, se calhar mais novos que eu, na sua peculiar existência, algures num universo distante mas ao qual todos um dia poderemos ter acesso, ou mesmo nele cair, tais são os abismos que nos cercam, no fundo dos quais, ou logo ali após os primeiros momentos de queda, nesta vida plena de sobressaltos que nos são inculcados pela difusão de inumeros medos, que semeiam uma doentia dúvida permanente quanto ao futuro vazio de esperança. Mais tarde o nevoeiro dissipou-se, o sol brilhou quente, para acolher os outros, os normais, que mais longe da costa por ele já tinham sido avisados do fenómeno, e agora invadem ás centenas aquele cenário que pouco mais de uma hora atrás parecia tenebroso. Toda uma estética regular, feita de cor e alegria, de espirítos alerta, ditos inteligentes, mas também embrulhada em maneirismos, presunção e arrogância detetados a cada momento. É então que os vejo de volta e, sem espanto, pressinto-os mais acabrunhados. Sentirão o peso dos vislumbres fugídios, o disfarce pela premência de uma atitude que tenta, e não consegue, ignorá-los? Aparentemente tão longe, mas  realmente tão perto. Sem novidade. Afinal só mais um exemplo de uma sociedade que insiste em meter a "cabeça na areia", onde o sofrimento não pode existir, em que o sucesso não tem preço, em que até a morte é negada para além de todas as evidências. Até que tudo, ou parte, do pseudopesadelo bate à porta e irreversívelmente se passa para o outro lado, engrossando as fileiras que tanto tempo falsamente se negou existirem. Quantos milhões vivem já num limbo da loucura presos pelos mais variados tipos de "arames"? As tristes e devastadoras ironias de uma sociedade onde se convencionou confundir sucesso com poder, ser com ter.

 


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semtelhas @ 13:27

Ter, 15/07/14

 

Há autores cujas obras valem mais pela forma que pelo conteúdo. Livros como O Meu Nome É Vermelho, do turco Orhan Pamuk, ou Petersburgo do russo Andrey Bély, estarão entre elas. 

 

Não é que em qualquer dos casos as narrativas não tenham assuntos interessantes e até importantes, simplesmente a beleza do estilo dos escritores consegue superar esse aspeto. No caso do turco é utilizada uma prosa enleante, plena de referências a cores a cheiros, ao corpo humano, e a tudo e mais alguma coisa que faz parte do cenário onde decorre a vida. Descrições minuciosas do mundo oriental em toda a sua riqueza e especificidades, que verdadeiramente nos transporta para aquelas bandas, para aqueles tempos. Depois repete-se à exaustão o pensar oriental, neste caso via pintura, em confronto com o ocidental. A diferença essencial que existe entre quem passa para a tela o que a mente imagina, ou quem o faz retratando o que os olhos veêm, autêntico sacrilégio segunda a visão oriental de arte, porque esse é o trabalho de Deus. Aos homens só é permitido idealizar a realidade, nunca expô-la, tal seria tentar decifrar o segredo que todas as coisas contêm em si próprias, fazê-lo seria como que desvirtuá-las, conspurcá-las, contribuindo assim para a sua destruição. Daí esconderem o corpo das mulheres do olhar dos outros, entre muitas outras atitudes que derivam dessa maneira de pensar e estar.

 

Através do romance do russo algo diferente se verifica não obstante a repetida alusão à cidade de S. Petersburgo que nos é desvendada a cada momento, sobretudo porque neste caso a questão social assume muito mais importância no relato cuja ação decorre poucos anos antes da revolução bolchevique. Ao contrário do que acontece com os grandes autores russos do séc. XIX, aqui não sobressai tanto o olhar clínico sobre a alma russa mas situa-se muito mais à volta da mesquinhez da sociedade daquele tempo que haveria de conduzir à rutura. A novidade e o que torna a leitura realmente encantatória, nomeadamente quando o autor se refere à cidade que dá nome ao romance, é a acuidade minuciosamente poética com que transcreve as ideias. Depois há aquela nostalgia sempre presente nos grandes relatos russos, a névoa, os espaços largos, as mulheres misteriosas e os homens perturbados. Toda uma estética habitual, onde se pressentem laivos de loucura, mas aqui levada nas asas de uma linguaguem escrita também ela por vezes a raiar a demência. 

 

Em qualquer dos casos dois livros que pelas sensações fortes que os autores conseguem transmitir graças a um estilo de escrita que realmente se entranha na memória, tal a arte, misto de beleza e eficácia, com que escrevem, serão difíceis de esquecer.

 

 


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semtelhas @ 12:20

Dom, 13/07/14

 

- Avança pela Europa fora a criminalização da mendicidade - Compreende-se. Quem é que pode viver descansado depois da chatisse de estar sempre a tropeçar em incómodos sem abrigo na entrada do prédio do apartamento de milhões?

 

- Novo presidente ucraniano, próocidental, vai renovar armamento militar - Adivinhe-se quem vai vender...a fatura tem de ser paga de qualquer maneira.

 

- Brasileiros dizem que os tugas se estão a rir da abada porque estão habituados a gozar no pau do outro - Ora aí está uma versão que dá todo o sentido áquela outra que diz, enquanto o pau vai e vem...

 

- Rui Rio afirma que se lhe pedirem muito candidata-se ao PSD ou à presidência da república - Façam-se missas, reze-se até à exaustão...para que não lhe peçam muito.

 

- Scolari considerado principal culpado pela derrocada do Brasil - Parece que vai ser corrido. Já por cá tudo indica vai continuar a fazer escola por mais dois anos. De embuste em embuste até ao pontapé final...no cú do sucedâneo Bento.

 

- Rui Moreira justifica a não atribuíção de medalha de honra da cidade a Pinto da Costa pela coincidência na atribuíção da mesma a Rui Rio - Poderia sempre ser o expresidente da câmara a aguardar pelo próximo ano. É assim...político carreirista que se preze põe sempre os interesses materialistas à frente dos afetos. Um tiro no pé de quem tanto reclama não o ser.

 

- Van Gaal afirmou ser ele quem ensinou Romero a defender penalties - E a Tim Krul também. Parece foi que se esqueceu de fazê-lo com Cilessem...ou, como dizia o outro, a faca tem dois ligumi!

 

- Passos Coelho afirmou que os níveis de pobreza baixaram recorrendo a dados de 2011 - Talvez porque os mais atualizados indicam precisamente o contrário. Ninguém avisa o homem que os manicómios estão cheios de pacientes porque a batota vicía?

 

- Portugal foi o país com menos nascimentos na Europa - O que não quer dizer que os portugueses tenham sido quem menos filhos geraram, foram foi tê-los para lugares onde em vez de os mandarem embora os acolhem e protegem.

 

- Passos Coelho garantiu que depositantes do BES podem estar descansados - Que pena este não ter ficado calado. O pessoal até estava tranquilo.

 

- Scolari afirma não se demitir - E o presidente da federação lá do sítio já disse que ele deve continuar, mas se calhar só está a perder tempo, é que ao contrário das táticas no relvado, nesta coisa do mata/mata por indemnizações o sargentão já mostrou ser imbatível! Talvez a mais importante lição aprendida pelo sucedâneo Bento.

 

- Pedro Proença disse que nunca esteve tão perto de cumprir o sonho - Não foi por não se ter desdobrado em sorrisinhos, pretensas piadinhas, e afagos aos jogadores. Pena não saber dizer "meu querido" em várias línguas...

 

- Daniel Bessa chamou terrorista a José Sócrates - Que foi ele o responsável pela crise financeira em Portugal. E também no resto do mundo ocidental! Ou não seja Portugal um verdadeiro farol global nestas coisas da alta finança. Este ou está a ficar chéché ou anda à procura de tacho...

 

- 80 médicos foram constituídos arguidos por prescreverem aparelhos auditivos em troca de viagens e dinheiro - Além de nos quererem fazer crer sermos cegos, surdos e mudos, ainda fazem de nós parvos.

 


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semtelhas @ 12:47

Sex, 11/07/14

 

De um lado um cenário onde é notória a pobreza, uma sensação de aridez nas ruas pouco limpas por onde vagueiam ordas de jovens desocupados e negligênciados, gente maioritáriamente com um aspecto decadente nos seus trapos comuns, nos olhos, em toda a sua expressão corporal, um misto de desespero e abandono, em volta edifícios degradados e sujos por entre os quais deambula toda essa gente e viaturas, quase todas em mau estado. Um burburinho permanente resultado de demasiado movimento para tão pouco espaço. Quando ali cai um míssil enviado do outro lado é uma desgraça, morrem e ficam feridas sempre muitas pessoas, mas também uma espécie de alimento para o ódio e sede de vingança que verdadeiramente nunca abandona aquele povo, mesmo em períodos de paz, porque não lhes é possível aceitar calados, ali ao lado, tanta diferença. E então fazem a vontade ao que lhes vai na alma e gritam a sua revolta esgrimindo as suas parcas armas.

 

O outro é conhecido. Podia ser a rua aqui em frente. Uma ordem reinante em toda uma paisagem, coisas e pessoas, que aparenta uma certa saúde e bem estar. Cidadãos que desenvolvem as suas atividades em prol da sociedade, bem arranjados na sua diversidade de cores e estilos, uma autoconfiança latente a inspirar toda uma ambiência onde impera o positivismo e a esperança no futuro. Os prédios são altos e brilhantes, poderosos como os automóveis topo de gama que enxameiam as avenidas possíveis num espaço também aqui restrito, por isso querem mais e vão ocupando, desde há décadas, o que está mais perto, dali só querem a terra. Entretanto os que lá estavam vão sendo acantonados uns em cima dos outros. Até parece fácil entender, as ditas lei do mais forte, e evolução natural das coisas. Quando as sirenes anunciam os rocket's da frustração, apressam-se, mas não muito, para os abrigos, intrínsecamente descansados pela política que garante, por cada olho perdido mil serão destruídos, por cada dente partido, dez mil serão arrancados.

 

Como uma espécie de paradigma do mundo em que vivemos, israelitas e palestinianos assumem-se protagonistas de um filme a que assistimos todos os dias por todas as latitudes do globo. Tudo isto se repete numa altura em que se verifica uma mudança, talvez há muito esperada, reiteradamente ignorada, na forma como estes, paradoxalmente David's, lutam contra os poderosos Golias, sob a pior e mais abjeta máscara para onde têm sido sistemáticamente empurrados, o terrorismo, agora capitalizando o crescente descontentamento dos mais fracos e muito mais numerosos entre eles, infiltrando-se na sua sociedade, cativando insidiosamente para as suas fileiras os jovens sedentos do idealismo e valores que a sua sociedade tem desprezado, por troca com a mentira de um propalado conforto, mera ilusão transformada em consumismo assassino que só semeia frustrações, que mais não é que um embuste e ninho de revolta face à desesperança no futuro. Muitos se questionam porque não se resolve um conflito tão antigo. Independentemente das questões com ele mais diretamente relacionadas, talvez parte da resposta esteja no facto da natureza mais profunda do confronto, intrínsecamente humana, ir muito para além daquele pedaço de terra que alguém um dia, dividindo a Palestina, artificialmente resolveu criar Israel.

 


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semtelhas @ 11:58

Qua, 09/07/14

 

Metade já vem com a embalagem, todo o hardware necessário e suficiente para que durante a vida se instale a outra metade, o adequado software, enorme capacidade de trabalho, forte sentido de disciplina, elevados níveis de concentração, pragmatismo implacável, dependência quase absoluta na preparação, no apurar do método, no planeamento em geral, invulgar inteligência para descodificar o outro, consequente instinto predador e um progressivo aumentar da auto-estima, absolutamente essencial em desempenhos a raiar a perfeição. 

 

Muito provávelmente por questões relacionadas com os movimentos migratórios dos primeiros humanos, seguramente por aspetos ligados ao ambiente, aconteceu crescerem e desenvolverem-se ali para o centro do continente europeu, e espaços adjacentes mas crescentemente menos puros à medida que dali se afastam, um tipo de pessoas que tem muito do que é preciso para dominar as outras sob o ponto de vista da força do poder. A história é farta em demonstrações desse facto.

 

Simplesmente como isso da perfeição é algo que não existe, todo o fenómeno, chamemos-lhe assim, tem um ponto fraco. Neste caso consubstância-se num certo tipo cansaço, género fastio perante aquilo que é considerada mediocridade ou mesmo inferioridade, que acaba por resultar em desinteresse e sequente desmobilização, nuns casos, e noutros num evidente abuso de poder assente nesses dois pressupostos iniciais, uma supremacia intrínseca face à dita fragilidade dos outros.

 

É exatamente na mesma proporção que o passado nos mostra as duas facetas desta realidade, a ascenção e queda de um suposto poder imbatível. Para o bem e para o mal a vivência entre os homens vai muito para além dessa noção de eficácia, eficiência e perfeição, caso contrário tudo isto seria tão previsível que jamais teria chegado onde chegou. Para cada Nietzsche há um Rosseau, por cada Wagner um Puccini, ou a um Kafka sempre corresponde um Joyce. E para cada equipa de futebol da Alemanha, haverá sempre um Messi, um Neymar ou um Ronaldo.

 


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semtelhas @ 13:50

Ter, 08/07/14

 

Segundo um estudo internacional 50 a 60% de todo o dinheiro, nas suas várias formas de se apresentar, que circula pelo mundo é proveniente de três tipos de tráfico, humano, de drogas e de armas. Ou seja toda uma enormissíma máquina efetivamente diabólica, afinal mais de metade assenta em pressupostos profundamente errados, perda de dignidade e autoestima pessoais, alienação e descaracterização humanas, e violência e morte, a sustentarem a nossa existência comum! Ou as coisas já foram muito piores, o ser humano é intrínsecamente mau, e é fatal as circunstâncias irem evoluindo nesta dialética de avanços e recuos nos quais as palavras não passam disso mesmo, palavras, limitando-se a servir como espécie de anestesia e/ou catarse das atividades e do pensamento das massas?

 

Por cá, depois do BPP, do BPN e do BCP, é agora a vez de BES entrar no rol dos bancos cujos principais responsáveis demonstraram não resistirem à tentação de recorrendo a ilegalidades grosseiras, acrescentarem mais ao imenso que já têm, dando assim provas de um extremo mau caráter, sobretudo se pensarmos que têm, ou tinham, nas suas mãos o dinheiro de milhões de pessoas comuns, a maior parte dele resultado de muito trabalho ao longo de uma vida, de inumeros sacrifícios e resistência aos cantos da serpente a apelar a um consumismo aparentemente fácil, que mais não era que uma armadilha para sacar mais e mais, criando assim enorme exército de novos pobres sem futuro.

Rendeiro no outro dia disse que a culpa era dos clientes do seu banco serem uns egoístas avarentos. Oliveira Costa, o amigo de Cavaco, escondeu-se atrás do silêncio que mais parece gritar a ameaça que se o apertam muito diz tudo o que sabe, e o que ele deve saber! Jardim, na sua postura de padreco da Opusdei, desdobra-se em tentativas de limpar uma imagem indelévelmente suja. Incrível, como lhe ouvi sugerir nas entrelinhas durante uma entrevista ao jornalista que lhe escreveu uma biografia, que também foi vítima e está inocente. E agora chega a vez de Ricardo Salgado, que ainda há meia dúzia de meses contribuiu decisivamente para derrubar um governo!, ser desmascarado. Milhões que se esqueceu de declarar para o IRS, centenas de milhões emprestados em Angola sem qualquer critério legal detetável, boa parte da empresas do grupo na falência, e tudo o mais que falta saber porque parece que a procissão ainda vai no adro. No entanto neste momento o preocupação já está completamente centrada na dança de cadeiras...

 

Apesar de sempre se poder considerar que tudo isto, este género de cataclismo que está a desabar sobre o comum dos mortais, ser muito mais fruto da imensa informação agora disponível, que própriamente de um fenómeno maléfico que está cair sobre os mais frágeis, processo que aliás também potencía, não obstante todos os esforços que são feitos pelo poder no sentido contrário, a diminuição da iliteracia entre as populações, ainda assim sobram muitas dúvidas. Primeiro se esta ideia que as coisas já foram muito piores é aceitável, é que os níveis de sofrimento aumentam conforme a perceção da realidade. Segundo, se se encarar os factos que nos rodeiam, nacional e internacionalmente, a ideia que fica é que mesmo mais culta e informada, a sociedade tem dado aos seus componentes mais esperança de vida mas com menos qualidade, sendo legítimo perguntar o que será preferível. Terceiro, a que tipo de pessoas estamos a entregar o futuro? Quando somos convidados a utilizar a única arma legal que temos, o voto, que fazer? Continuar a legitimar sempre os mesmos? Por outro lado, como ainda agora se constatou na eleições europeias, a abstenção só favorece os loucos extremistas, gente que defende a cura pela dor apesar de o esconderam na mentira dos seus discursos. Ou, na verdade, via esquerda ou direita, esse é o único caminho para conter este salve-se quem puder em que já ninguém respeita ninguém, e impera a lei da selva, do mais forte? Provávelmente ninguém terá uma resposta clara para esta questão. Talvez a melhor atitude seja cada um, no seu universo restrito, tentar criar um pequeno mundo ideal, o mais isento possível de tudo aquilo que acredito, todos sem exceção, sentem no mais intímo do seu ser corresponder ao mais correto, e esperar assim contribuir para um todo melhor.

 


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semtelhas @ 12:32

Dom, 06/07/14

 

- Diário de Notícias: quase trinta agências do BPI já não abrem hoje - Quantas? Vinte e nove e meia? Trinta vírgula setenta e cinco? Até tu DN!

 

- Paulo Bento disse que nunca pensou em Ronaldo para ponta de lança - O que se fosse verdade diria tudo sobre as capacidades profissionais do dito, mas como é mentira também diz tudo sobre ele como homem.

 

- FMI diz que afinal Portugal deveria ter negociado a dívida - Porquê só o afirmar tanto tempo e tantos milhões depois? Ah pois...é que agora já não correm juros a favor do banco dos pobres, como costuma ser apelidado este clube de ricos

 

- O responsável do AICEP afirmou que os voos diretos para Bogotá irão contribuir para o aumento da exportações - Vamos lá a ver como irão contribuir para as importações...a fazer fé na última carga de bananas promete!

 

- Movimentos violentos da cabeça associados ao heavy metal podem causar danos cerebrais - Que comparados com os provocados pela música pimba são uma brincadeira de meninos!

 

- Em Moncorvo a Assembleia Municipal aprovou um acordo que acaba com o tratamento por dr. e engº - Vê-se mesmo que estão para lá do sol posto! Já não há respeito!

 

- Cavaco não felicitou Carlos do Carmo pelo Grammy recebido - Já Saramago foi tratado como se sabe...é só mais um exemplo da grandeza rasteira do mais alto magistrado da nação, ou das suas rafeiras inveja e ressabiamento do costume.

 

- Foi aprovada em Espanha lei que imuniza antigo rei Juan Carlos perante a justiça - Parece que o rei Filipe VI tem mais dois irmãos, plebeus, que não convêm à realeza...

 

- Sarkozy foi detido para interrogatório acusado de tráfico de influências - De admirar seria como naquele lugar não se traficarem influências! Pelos vistos o sedutor Sarko não terá traficado as suficientes.

 

- Fazer rir procava dependência - Apanhar sol, consumir drogas, frequentar redes sociais, fazer festas ao gato...que tal dizer: tudo o que produz endorfinas, as hormonas do prazer, provoca dependência? E depois como é que se continuavam a dar não notícias?

 

- Um estudo de Harvard demonstra que a maioria das pessoas prefere sujeitar-se a um leve choque elétrico do que a meditar - Bem dizia o outro que se existe pelo pensamento! Realmente cada vez mais nos limita-mos a subsistir!

 

- Papa afirma que desemprego implica perda da dignidade humana - Infelizmente muito do emprego implica ainda em muito mais indignidade humana.

 

- Nas baleares a nova moda é o "mamading" - Veio substituir o "balconing", saltar da varanda do hotel para a piscina, em quem fizer sexo oral ter direito a bebidas grátis. No primeiro caso era aaaiiiiiiii...splash, agora é, ..............splash, apesar de em ambos os casos o segredo ser manter a boca aberta.

 


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"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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