semtelhas @ 12:42

Qua, 30/04/14

 

Por estes dias em que a tortura pela alienação e pela chantagem emocional atinge uma sofisticação que lhe permite chegar práticamente a toda a gente, e num registo avassalador a ponto das sequelas que deixa, demonstrável das mais diversas formas, violência, suicídio, retrocesso civilizacional, mas sobretudo doenças do foro psicológico grande parte delas evoluindo para a degradação do corpo, como o provam o crescente recurso a fármacos e o alarmante disparar de casos de cancro, o exercicío físico e mental assumem uma importância absolutamente decisiva na defesa da sanidade de cada um.

 

Quando não pertencendo a essa escassa espécie de casta de previligiados, únicos, e mesmo assim nem sempre, que escapam ao verdadeiro rolo compressor em que se tornou a vida do comum dos mortais nesta chamada sociedade de consumo, onde o sucesso das pessoas se mede não pelo que são mas pelo que possuem, um esquema diabólico  e magistralmente montado, autêntica ratoeira, onde a competição desenfreada a qualquer preço autoriza o cometimento de todo o tipo de atropelos, pensar pela própria cabeça é um exercício extremamente complicado mas, desgraçadamente, exclusiva vacina para essa doença dos nossos dias que é a aparente fatalidade de encarneirar e fazer parte da obediente manada.

 

A partir do exato momento em que se começa a questionar o caminho para onde somos conduzidos ou empurrados, conforme o nosso grau de obediência ou docilidade, imediatamente se abrem novos horizontes e se dissipam as núvens negras, que tão laboriosamente foram arquitetadas para que corramos a fazer o que quem nos domina como marionetas deseja, com o objetivo da sua própria libertação à custa do penar dos outros. Inacreditável é como sendo este um processo filosófico quase tão antigo quanto a humanidade, pelo menos desde que há registos, recorrentemente ao longo da sua história os mais espertos continuem a utilizar rigorosamente os mesmos truques, só mudam os meios.

 

Nesta eterna luta entre a educação e a ignorância a informação é absolutamenet vital, e nestes tempos em que a mesma, torrencial, está à distância de um clique, o maior perigo é precisamente o da sua vulgarização, ser tanta que se torna confusa e banal, o que resulta numa leitura superficial e quase nula retenção para além, e lá vamos nós, daquilo que mais interessa ao poder instítuido vender. Hoje é essencial ter critério a escolher a informação porque, não hajam ilusões, esta já está completamente ao serviço dos mesmos de sempre para, por outras vias, continuarem a ditar as suas leis.

 

Claro que é melhor muita informação que informação nenhuma, mas os riscos dela ser manietada e maldosamente transmitida é o pão nosso de cada dia. A solução, hoje como ontem, é a dúvida sistemática e o recurso à cultura nas suas diversas formas de expressão, mas também neste caso após escolha criteriosa, caso contrário é continuar a dar para o mesmo peditório. Ocorreu-me este raciocínio depois de mais uma caminhada, a outra parte fundamental para resistir, no início da qual estava mais morto que vivo, estive até para não a fazer, entupido, zonzo, com dores aqui e ali, e ao fim de seis quilómetros e uma hora decorrida com uma dúzia de alongamentos pelo meio, sentia-me completamente rejuvenescido. Vale a pena insistir e aproveitar aquela hora diária para pôr as ideias e o fisíco em ordem. Resulta!

 


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semtelhas @ 12:15

Ter, 29/04/14

 

Vendo o filme Diplomacia, um relato a propósito do duelo de palavras entre um diplomata sueco embaixador em Paris, e o general alemão nazi governador daquela cidade durante os últimos dias da ocupação, uma discussão onde o primeiro defendia que aquela cidade icónica pela sua beleza devia ser poupada, e o outro, seguindo ordens de Hitler, ultimava a destruição dos seus locais mais emblemáticos e consequente profunda alteração para sempre, lembrei-me de alguns homens com os quais me fui cruzando ao longo da vida cuja principal arma era a sua eloquência oratória.

 

Para além do interessante derimir de discursos onde partindo de uma base comum a ambos os contendores, o absoluto autoconvencimento de estarem do lado da razão, o sueco a bem da defesa de um bem universal e argumentando todo o odioso que iria pesar sobre o general, e mesmo sobre a Alemanha caso cometesse aquele escusado e hediondo crima contra a humanidade, o nazi alegando ser seu maior dever cumprir as suas ordens até ao fim só assim sendo digno enquanto militar que era acima de tudo, acabando por prevalecer, mais uma vez, o apelo do amor sobre o dever, o mais notável ali é a brilhante utilização, parte a parte, da argumentação.

 

Hoje, como sempre, conforme o provam os registos das conversas Socráticas nas praças de Atenas da Grécia antiga, das réplicas dos seus contendores sofistas, e por aí fora, a força de persuadir pelo discurso, pela capacidade de utilizar as palavras quase de forma mágica, é essencial na sociedade. Talvez não tanto onde era mais habitual, na diplomacia, na religião ou na política, mas sobretudo no mundo dos negócios, onde a arte da oratória tantas vezes serve para dar o ultimo e decisivo empurrão para fechar contratos. É por isso cada vez mais comum ver à frente de grandes empresas não profundos conhecedoras da matéria em que aquelas se desenvovem, mas autênticos artistas do discurso.

 

Ao longo da minha vida profissional tive a oportunidade de trabalhar com alguns destes homens, o pragmatismo das mulheres e a questão cultural é à partida uma dificuldade, que curiosamente têm todos mais ou menos as mesmas características humanas, os verdadeiramente bons, positivos, humanistas, frontais, divertidos, mas também volúveis, vaidosos e, não raras vezes, desmedidamente ambiciosos. Também estes aspetos estão bem presentes neste filme, que consiste quase exclusivamente no diálogo entre estas duas pessoas mas que nem por isso se torna maçador, bem pelo contrário, um excelente exemplo do poder das palavras.

 

 

 


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semtelhas @ 12:19

Seg, 28/04/14

 

É comum assistir-se entre os grandes clubes de futebol europeu, quando enfrentando ciclos menos bons, a uma postura onde prevalece uma certa sobranceria de quem sabe que o fenómeno não passa de uma mera interrupção naquilo que é a normalidade, exercer um domínio mais ou menos constante fruto do hábito de vencer. Creio que essa maneira de estar nasce de muitos anos de vitórias que acabam por implantar uma filosofia que transporta em si uma tranquilidade intrínseca, por vezes mesmo uma natureza, que é transmitida verticalmente a toda a estrutura e consubstânciada pelos jogadores enquanto em campo, sobretudo nos piores momentos e, tantas vezes, confundida com menos entrega ou desleixo. Essa maneira de sentir estende-se, obviamente aos adeptos, particularmente aos que assistem ao desempenho da equipa nas bancadas, cujas principais características resultam num binómio alto nível de exigência/confiança inabalável. De entre estes clubes de sangue azul, espécie de fidalguia futebolística, lembro-me do Real e do Barça em Espanha, dos dois principais clubes de Milão e da Juve em Itália, do United, do Arsenal e do Liverpool em Inglaterra, do Bayern na Alemanha e do Ajax na Holanda.

 

Desde há uns anos a esta parte, talvez após a conquista pela segunda vez da Liga dos Campeões e a saída de Mourinho, estou em crer que Pinto da Costa, aos poucos, tem tentado fazer o FC do Porto descolar daquela imagem regional sob e em torno da qual o clube tão bem se soube fechar fazendo dessa aparente fraqueza força, transformando a sua realidade profundamente, desde a implementação do Dragon Force a pensar no futuro, até à aposta em contratações de jovens mas cada vez mais caros jogadores, passando pela escolha, exclusiva a si próprio e com a exceção de Jesualdo contratado à ultima hora, de treinadores crescentemente menos dependentes de um objetivo, alguém à sua própria imagem, competente, disciplinador, com alguma experiência, mas agora sobretudo jovem, ambicioso, com uma postura e ideias mais cosmopolitas. Esta estratégia deve-se muito ao facto de ter a perfeita noção da realidade do espaço em que o clube se movimenta, um país com grandes limitações e a sofrer da doença da centralização, nomeadamente na área em causa onde o Benfica recolhe a esmagadora maioria dos apoios a todos os níveis, sendo o único com massa crítica que lhe confere potencial para aspirar à tal fidalguia, neste caso fruto de um, parece que irremediável, atraso no desenvolvimento do espaço em que se insere.

 

Acontece porém que esse evidente défice de desenvolvimento é particular e desgraçadamente notável na sociedade, na forma como ele se manifesta (ou como alguns diriam, e noutras matérias, não se manifesta), nomeadamente no futebol, desde sempre palco para a revelação de todas as alegrias e frustrações, muito pelo endémico atraso relativamente ao conhecimento nas outras áreas da cultura ou do entretenimento em geral. Desse mesmo, pela negativa, avassalador efeito tem sofrido o SLB durante as últimas décadas, caindo sucessivamente em erros crassos que o FCP, graças à genialidade do seu presidente, tão bem tem sabido capitalizar. No entanto, pelas razões já escritas, o clube de Lisboa conseguiu manter-se sempre à tona. A questão é, e o FCP? Resistirá a muito mais épocas como a presente? O jogo de ontem foi o paradigma do que tem acontecido este ano, mas já semeado anteriormente, excelentes jogadores, muita entrega, pouco e básicamente negativo público, também ele fidalgo mas no mau sentido, e as bolas a não entrar. Em dois ou três momentos do jogo, como agora se diz, sente-se que algo não está bem, no um para um, essencial chave numa equipa sempre dominadora, liderança na defesa, e tranquilidade em frente à baliza. Numa palavra, falta de confiança. Talvez esteja chegada a hora de PC questionar a sua estratégia, e dar um passo atrás para depois avançar dois e, voltando ás origens, juntar as tropas em volta de um regionalismo liderado por um treinador que sinta o clube com a alma toda. 


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semtelhas @ 12:25

Dom, 27/04/14

 

- Jornal I, imprensa estrangeira noticia fim do reino do FC do Porto - Pois... o facto de o FCP este ano parecer uma equipa de zombies, e ter feito a pior época dos últimos 30!!! anos não teve nada a haver. Notícia de uma morte francamente exagerada!

 

- Turista irlandês(23) em férias no Algarve queixou-se por lhe terem feito sexo oral enquanto dormia - E disse desconfiar que também ao irmão(25). Como é que o moço descobriu? Devia estar a ma... sonhar.

 

- Portugal tem a quarta melhor rede de estradas da Europa - E a maior diferença entre ricos e pobres, os gestores de topo mais bem pagos, a média de salários mais baixa,... Tudo tem explicação, até as coisas mais incríveis.

 

- Polícias vão aos aeroportos avisar turistas que país não é seguro - Ninguém recebe como nós, logo ali à chegada, ele é acepipes regionais, bandas locais...só faltavam mesmo os palhaços pobres!

 

- Suiço Wawrinka, tenista detentor do título no Estoril desiste de participar este ano no torneio português - Alega cansaço. Waiwrinkar para recreios mais lucrativos!

 

- Eurodeputados com subsído vitalício - Se quem parte e reparte...E como eles se esfalfam a jurar da importância do voto no próximo 25 de Maio! Por mim ficam a falar sozinhos.

 

- Passos diz que coelho não  deve ser esfolado antes de ser apanhado - E podia? São rápidos e esquivos, mas depois de uma boa cacetada ficam prontinhos para serem comidos. Pau em punho à caça! Já!

 

- Vasco Pulido Valente: não devemos nada aos capitães de Abril, nada. - Ao sr. Vasco Correia Guedes, mais conhecido pelo seu nome artístico, tudo se perdoa pelo entretenimento que proporciona. O palhaço rico! 

 

- Democracia tem de ser regada todos os dias, Passos Coelho - E, não queremos comemorações a cheirar a bafio. Quanto mais próximas as eleições maior a eloquência! Pena ser tão rasteirinha. Devia deixar o trabalho para o ilustre cronista Pulido Valente. Ao menos a gente ria-se!

 

- A Time diz que Beyoncé é a personalidade mais influente do mundo - A moça é aleijadinha em tudo e mais alguma coisa, mas a mais influente do mundo?! Se ainda fosse o ego dos EUA...Incrível como a presunção cega!

 

- Marques Mendes antecipa descida do preço do gaz -  E assim o minorca cumpre o seu destino de obediente marçano, todas as semanas dá os recados do merceeiro.

 

- Pedro Proença no jogo das meias da champions entre Bayern e Real - Será desta que se vai perceber esta atração fatal Platini/Proença? Algum dia há-de ser! 

 

- Todos os dias se vendem em Portugal 39 casas de luxo a estrangeiros - Um país em saldo transformado num grande e barato campo de férias, à custa do pacífico, sorridente e sempre pronto a ajudar pagode!

 

- Lixo movimenta 1800 milhões€/ano - Se calhar as agências de rating têm razão...


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semtelhas @ 12:00

Sab, 26/04/14

 

Para alguém como eu que tivera consciência do que era viver num país pobre e com medo, foi com satisfação e mesmo espanto em alguns casos, que percorri um país em tudo diferente daquele de que me lembrava naquelas zonas mais interiores. Apesar de saber, até por conhecimento de causa, que muitos dos recursos que nos chegaram da europa para, supostamente, ajudar um dos membros da comunidade mais atrasados em termos estruturais, terem sido desviados para os bolsos de gente sem escrúpulos, a verdade é que o desenvolvimento estava ali, bem vísivel. Estradas fantásticas, até excessivas porque um dos meios preferidos para grandes negócios entre o poder e os detentores do capital, construções modernas ou renovadas por todo o lado, em certos sítios até, como eu conhecia no Porto, de qualidade arquitetónica reconhecida internacionalmente, equipamentos de desporto de lazer em numero e qualidade surpreendentes nos lugares mais remotos, uma atenção muito especial às crianças neste particular indiciando uma outrora rara preocupação com as gerações futuras, mas sobretudo uma desenvoltura evidente na forma como as pessoas se apresentavam e interagiam. Após os primeiros anos do novo milénio, e apesar de todas as vicissitudes conjunturais e idiossincrasias dos portugueses, tinha valido a pena! O progresso não se limitava a Lisboa e ao Porto e, em menos escala, ao litoral em geral, mas estendera-se e enraízara-se por todo o território.

Às minhas manifestações de entusiasmo à medida que a viagem ía decorrendo tranquilamente, mas marcada por essa sucessão de novidades graças a um país que eu desconhecia, correspondia uma espécie de admiração de Laura, não com o que via mas sim com a minha reação que achava exagerada e atríbuia a outras razões, nomeadamente à decisão que tomáramos de adotar uma criança com tudo o que isso representava em termos de motivação para o futuro. Esquecera-me que ela nascera precisamente aquando da revolução de 74, pelo que só sabia viver em liberdade e sistemático esforço para o desenvolvimento. Para ela tudo aquilo era normal e qualquer outro estado de coisas impensável. Muito informada e viajada, considerava Portugal indubitávelmente um país europeu em toda a extensão do termo, não obstante longe dos de topo à semelhança dos outros como ele periféricos, e portanto mais longe das principais esferas de decisão e consequentes benefícios que daí advêm aos mais centrais. Havia uma geração de diferença entre nós que em muito mudava a forma como víamos a realidade circundante, desde logo ao nível das expectativas, muito maiores as dela, e daí resultando exigências e ambições completamente distintas. Só agora, que as circunstâncias eram tão limitadoras, compreendia uma das razões, para além do caráter de cada um, que levaram ao nosso afastamento fruto de um olhar quase oposto sobre a vida. Essa constatação calou-me e pôs-me a pensar no que viria aí.

Laura interpretou a minha atitude como desencanto pela sua não partilha na alegria quase esfusiante que eu exibia e disse-me, tem paciência comigo Ivo. Se calhar peço demais, mas olha que acho que tu também pedes pouco. O que vejo ainda está aquém do que se vê por essa europa fora, não é nada de especial. Ouvia e respondi-lhe que sim, que seguramente estava certa, que o futuro é dos jovens ambiciosos. Olhou-me desconfiada, o futuro vamos construí-lo os dois para esse menino ou essa menina, o que preferes?, que vai entrar nas nossas vidas. Para mim só isso faz sentido. Quero desencadear o processo o mais depressa possível até porque pelo que julgo saber é complexo e demorado. Não achas? Inteligente como era percebeu a minha súbita dúvida quanto à nossa vida em comum e tratou de a eliminar rápidamente. Não podia estar mais de acordo. Mal cheguemos vamos tratar do assunto, há concerteza imensos pormenores que desconhecemos. Continuamos a nossa viagem conforme planearamos antes de saírmos de casa. Até ao fim! Quinze dias verdadeiramente redentores dos quais guardo com particular prazer, a memória daquela noite cálida em Vila Viçosa, em que depois de uma longa mas muito interessante visita ao Palácio Real, um género de casa de férias com dezenas de quartos e espaço de caça privativo, que nomeadamente o rei D. Carlos utilizou com alguma frequência, que percorremos demoradamente admirando a grande beleza do mobiliário, das obras de artes, também pinturas do próprio rei!, esquisitos e avançados artefactos para a época, e muito mais, reservamos um quarto numa pequena hospedaria e fomos procurar um restaurante. Ainda antes de jantarmos uns suculentos segredos de porco efetivamente preto, ali da zona, bebemos na esplanada situada na parte mais espaçosa e bonita da vila, debaixo de laranjeiras carregadas, cerveja gelada servida em copos finíssimos, ao ponto de dar a sensação que era a própria cerveja que levávamos aos lábios. Depois de passearmos de mão dada pelas simpáticas  e impecávelmente limpas ruas com uma aragem que perto da meia-noita era ainda morna, recolhemos ao quarto para uma sessão de sexo onde, pela primeira vez desde que Laura contraíra a doença, nos entregamos sem limites ou constrangimentos. Medo de quê? Que mais poderia eu esperar da vida?


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semtelhas @ 14:41

Sex, 25/04/14

 

Da mesma moeda, daquilo em que se tornou um país após quatro décadas de modificações profundas, Mário Soares e Cavaco Silva. Como em qualquer moeda ambos incontornáveis mas portadores de mensagens e, neste caso, de atitudes resultantes de perspetivas de vida completamente distintas e, curiosamente, com personalidades que se cruzam em percursos e desenlaces porventura opostos ao que seria mais razoável esperar. Um proveniente de família abastada, informada e culta, que escolhe o caminho da defesa dos mais desprotegidos, enfrentando um regime que o remete ao silêncio forçado e ao exílio, de cujo regresso vem a funcionar como esperança e mesmo consubstanciação do lado civil das aspirações do golpe militar. O outro, nascido no seio de uma classe média que esbracejava dentro desse mesmo regime totalitário, a ele mais ou menos indiferente, empreendedora mas pouco mais que ignorante mas apostando na educação dos filhos, que tendo tudo para progredir dentro desse mesmo sistema político fechado e redutor em toda a linha, é atropelado por uma revolução, e acaba por se tornar numa espécie de sucedâneo daquilo que de mais importante aquele continha, um conservadorismo que elege as classes dominantes como parceiras, em detrimento das maiorias que devem limitar-se a cumprir, recatadamente, o seu papel de meros seguidores.

 

Claramente as duas personagens mais influentes no que Portugal é hoje, Soares nos primeiros vinte anos e Cavaco nos segundos, coexistiram no poder em boa parte deles, sempre dando provas dessa forma radicalmente diferente na maneira como entendem o exercício da democracia. Dir-se-á que é precisamente desse equilibrio, do qual aliás o povo português é recorrentemente elogiado ou acusado dependendo do ponto de vista, que nasce um país completamente renovado e francamente melhor, naquilo que são os elementos essenciais numa sociedade desenvolvida, essa é no entanto uma conclusão que jamais poderá ser confirmada pela apresentação de factos concretos. Aquilo que sempre obteremos são leituras diferentes de uma mesma realidade e, a essa, ninguém pode escapar, qualquer semelhança entre o Portugal de hoje e o de há quarenta anos atrás é pura coincidência. A discussão poderá fazer-se relativamente a onde poderíamos estar, e aí entramos no campo estéril das hipóteses.

 

Outra coisa bem diferente é a resposta à pergunta, qual a estratégia mais adequada a preparar o país para as futuras gerações? Porque aí mais que legítimo é indispensável prever e traçar políticas que protegam os vindouros de uma vida pior do que aquela que a maior parte de nós viveu. E assistir, hoje, à comemoração do 25 de Abril de 74, pela primeira vez, em dois palcos distintos, ambos com a presença de protagonistas dessa aparentemente longínqua mas, por outro lado, face a uma sociedade, num quadro de exigências completamente diferente é certo, mas cujos sintomas são tão parecidos e dentro dos quais a presença do FMI é prova maior, não augura nada de bom. E, mais uma vez, lá estavam como ícones desse olhar em quase tudo distinto sobre o rumo que as coisas devem tomar, Mário Soares juntamente com os capitães de Abril numa manisfestação marginal ao regime no Largo do Carmo, onde quarenta anos atrás Marcelo Caetano se rendeu terminando assim de vez como regime fascista, e Cavaco Silva, enquanto presidente da república, a presidir às comemorações oficiais na Assembleia da República. O que disseram só veio confirmar o que todos já conhecem sobre as suas ideias para o futuro, houve contudo algo absolutamente diverso entre as duas comemorações, uma francamente popular, a outra totalmente regimental, e essa realidade, tal como o Portugal de hoje nada ter a haver com o de outrora, também há-de querer significar alguma coisa.

 


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semtelhas @ 11:00

Qui, 24/04/14

 

Já estavamos todos alinhados ao longo da parede junto à porta onde iria acontecer a aula de inglês como era costume fazer-se naquele tempo. Creio que seriam quase oito da manhã e, após percorrer a pé a meia dúzia de quilómetros entre a minha casa e a escola, à semelhança do que sempre fizera ao longo de anos, ali estava preparado para assistir a mais uma aula. Apesar de informado de que a situação política era tensa, ainda haviam poucos meses aquele colega mais velho que costumava fornecer-nos fotócopias de um jornal subversivo, A Semente, fora preso pela PIDE/DGS, e passara um mau bocado na sede da polícia política na rua do Heroísmo no Porto, os meus dezasseis anos impediram-me de, pelo caminho, ter detetado qualquer novidade. A distribuíção, ou, melhor dizendo, o atirar umas quantas folhas desse jornal nas zonas circundantes de onde vivia, e orgulhosamente anunciá-lo ao meu pai, tínha-me valido um violento estalo de aviso. Agora, que surpreendentemente nos diziam que não haveriam aulas e enquanto dispersávamos atónitos, percebi uma certa ausência de movimento rápidamente explicada pelas notícias que corriam como um rastilho, os tanques estavam na rua! decorria um golpe militar!

 

Em poucos minutos os mais politizados de entre nós, entre os quais se encontrava o tal que uns meses atrás víramos a ser empurrado para dentro de um carro, durante uma inesquecível manhã mesmo em frente ao portão da escola, trataram de promover um ajuntamento num dos campos de jogos, e desataram a gritar as palavras de ordem que conheciam dos livros e dos recentes acontecimentos no Chile do malogrado Salvador Allende. Os mais pequenos foram desaparecendo recolhidos pelas famílias deixando espaço livre a todos os outros. O que aconteceu nas horas seguintes decorreu a um ritmo alucinante. Tudo começou pela invasão de salas de aula onde, teimosamente, alguns professores insistiam em manter os alunos fechados, depois, vindos não sei de onde, voaram centenas de folhas de várias janelas criando uma espécie de ambiente festivo até, mais perto do fim da manhã, começar a ouvir-se que o sr. D., funcionário da papelaria da escola, e conhecido bufo que suspeitáva-mos responsável pelas perseguições da polícia política aos estudantes, se pusera em fuga. Tinha sido dado o mote para uma perseguição surrealista que só viria a terminar junto ao Jardim do Morro, a uns bons três quilómetros, onde o desgraçado foi completamente despido, sovado, e posteriormente desaparecido em lugar incerto por, como no meu caso, anos.

 

O que se ía ouvindo pela rádio, a televisão só na madrugada seguinte daria sinal de si, relatava o desmoronamento do regime, a multidão a invadir as ruas de Lisboa saudando os militares, uma indescrítivel sensação de eufórica alegria proporcionada por uma espécie de libertação que muitos não sabiam explicar, mas queriam acreditar significar uma melhoria nas suas, maioritáriamente, tristes e paupérrimas condições de vida e, como por magia, vendedeiras de cravos vermelhos começaram a aparecer por todo o lado, também elas escutavam o rádio! A tarde, após o habitual almoço, desta vez francamente vivo fruto do estado de alterado dos meus familiares que, como todos, se questionavam sobre o futuro, foi preenchida a vaguear entusiásticamente pelas ruas do Porto, e acabar em frente à já referida sede da PIDE, aos gritos que exigiam a rendição, perante a ameaça de alguns tiros que chegaram a ser disparados do seu interior em direção à multidão em fúria. Quando, ao fim da tarde, me encontrei com os meus pais foi para nos reunirmos à família na casa da minha avó materna para, em conjunto, avaliarmos a situação enquanto se aguardavam notícias mais concretas. As mesmas chegaram via RTP que todos vímos acordadíssimos, tensos e ansiosos, lá pela uma hora da manhã já do dia 26, e confirmavam que os próximos tempos iriam ser de mudanças.


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semtelhas @ 14:18

Qua, 23/04/14

 

Independentemente do recurso a uma série de clichés herdados dos velhos filmes sobre a máfia, do padrinho a acariciar gatos e extremamente ternurento para com os seus, e simultâneamente o mais frio e sanguinário possível quando a trabalhar, e uma certa tarantinização no recurso ao inovador estilo daquele genial realizador, nomeadamente nos temas mais propícios ao constante ziguezaguear  da estória, como por exemplo tudo que roda em volta do mundo da droga, mas também nas imagens própriamente ditas e situações inesperadas, desconcertantes, e sobretudo uma certa ambiência onde os extremos estão sempre presentes, seja no guardaroupa, cenários, interpretações, a qualidade em toda a linha e uma tensão permanente, que marcam indelévelmente a série Breaking Bad e quem a ela assiste, trata-se de uma obra notável. Até porque, para além de tudo isso, a espaços, e naquilo que acaba por ser a verdadeira alma da série, beneficia da inteligente abordagem de alguns conceitos que, não sendo novos, naquele contexto assumem como que uma espécie de clarividência, ou maior adesão à realidade do dia-a-dia.

 

Acontecem várias desse tipo de abordagens mas a que mais me marcou foi a de que defende haver um momento certo para morrer. Aquele que mais interessa, ou menos faz sofrer, todos os situados mais perto da pessoa em causa. Aquele em que acontece um encontrar entre todos os interesses e sentimentos dos envolvidos no momento certo. Toda a gente preparada, recursos utilizados de forma sensata, missão razoávelmente cumprida, etc.. Assistindo a mais aquelas cenas de absoluto brilhantismo, lembrei-me que há outros momentos na vida que, como aquele, são essenciais naquilo que a mesma virá a ser, e sobre os quais ninguém tem práticamente qualquer poder para intervir. Aquelas duas ou três vezes que a maior oportunidade da vida nos passa mesmo em frente ao nariz e poucos a agarram, o dia, hora ou minuto que se está, ou não, à hora e no lugar errado, a fração de segundo em que a automóvel se ía despistar a alta velocidade e, milagrosamente, segura-se à estrada, e outras. Faz pensar como é aleatório o destino de cada um e como as melhores hipóteses são escassas. Um euromilhões!


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semtelhas @ 11:55

Ter, 22/04/14

 

À medida que as sociedades humanas vão evoluindo e os seus componentes se vão afastando do instintos mais básicos do animal que são, vai crescendo em importância e dimensão o fenómeno da cultura. Ver as pessoas a apreciar uma qualquer expressão artística constítui a maior demonstração daquilo que nos separa dos seres irracionais, algo que as está a transformar preenchendo um espaço essencial na sua vida, o de tentar dar respostas impossíveis a perguntas eternas. A atitude contrária, de mera luta pela sobrevivênvia, corresponde a uma paragem ou mesmo um recuo relativamente ao respeito por valores tão importantes como a tolerância, a solidariedade, a dignidade, a civilidade, ou a luta por uma vivência em harmonia para exprimir o conceito de forma mais abrangente.

 

Sendo um caminho com altos e baixos, é um processo que cíclicamente tende a perder vigor porque o seu avanço corresponde a um estado de maior esclarecimento, destruindo portanto a ignorância alimentadora de toda a espécie de excessos e abusos que invariávelmente beneficiam alguns à custa e em detrimento de quase todos, ainda assim, digamos que a um nível ou numa perspetiva mais larga e profunda, vai sistemáticamente evoluindo, pouco a pouco. Esse efeito de fundo leva a que, cada vez mais, a denominada atividade cultural, porque envolvendo um número de pessoas que felizmente não pára de aumentar, seja uma aposta apetecível em termos de investimento economicofinanceiro. A prová-lo o peso que já tem atingido dois dígitos no PIB de alguns países. Os que, nessa matéria, vale a pena emitar.

 

É, por isso, muito triste e até incompreensível, só explicável por preconceito, revanchismo ou pouca nobreza de caráter, como é que políticas como a de Rui Rio na cidade do Porto durante mais de uma década, e sobretudo, porque mais global, a do atual governo têm tantos e tão supostamente ilustres e informados seguidores. Como é possível defender-se a manutenção e até o incremento da ignorância? O resultado está à vista através do exponencial crescimento da mediocridade, violência dentro de portas das famílias, um evidente decréscimo cívico na postura das pessoas em geral quando em sociedade. Fala-se, e até parece que erradamente porque fruto da viciação de dados estatísticos, que a violência diminuíu, simplesmente, a ser verdade, é óbvio que tal se deve ao ambiente de medo instalado, uma sensação de perda e confusão ainda subliminares que aconselha o encolhimento. Voltamos ao tempo do bodo aos pobres, do pão e circo, enquanto só uma pequena elite tem direito a viver no sentido mais amplo e justo do termo.

 

É só reparar, a título de exemplo, como às poucas salas de cinema que restam por esse país fora o que chega são exclusivamente os blockbusters plenos de barulho, violência, vazios de qualquer sentido edificante ou humanísta, assustadoramente estupidificantes, ou então enlatados para crianças teimosamente defensores de uma certa moda baseado nas importância das aparências, e de um sarcasmo precoce disfarçado de inteligência. É que as fitas verdadeiramente interessantes ficam em Lisboa, sendo o Porto premiado com uma pequena parte delas. Porque não há espetadores, dizem. Pois não! E, por este andar haverão cada vez menos. A quem compete inverter esta lógica? Onde nos vai levar este lastimável retrocesso civilizacional? A mistura explosiva de uma austeridade míope e autoritária, apontada aos mais frágeis, criadora de uma bipolarização entre uma minoria esclarecida e poderosa, e a esmagadora maioria vergada à luta pela sobrevivência sem tempo ou força para levantar a cabeça da lama para olhar as estrelas, mera perda de tempo segundo os iluminados que reservam exclusivamente para si esse direito, não é solução para coisa alguma. Como no passado, o futuro irá demonstrá-lo.

  


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semtelhas @ 13:30

Seg, 21/04/14

 

No caso da literatura a questão é explicável pelo fenómeno conhecido como de grande leitor, isto é, ao fim de tanto ler, entre vinte a vinte e cinco livros por ano segundo rezam as estatísticas, adquire-se esse estatuto, valha isso o que valer, e, para além de se poder arriscar escrever umas quantas linhas sem causar grandes embaraços graças à aprendizagem adquirida, e, caso não haja uma alma própria, ainda que difícilmente se possa dizer seja o que fôr de realmente novo, ganha-se a capacidade de distinguir rápidamente, por vezes às primeiras linhas, se uma obra é absolutamente honesta, se está recorrer a truques de vária ordem, ou simplesmente não presta.

 

Mesmo quando se trata de histórias relatadas por fantásticos artífices das palavras, lembro-me de John Updike ou John Le Carré por exemplo, nâo se consegue escapar a uma certa sensação de que nos estão, ainda que com grande arte e engenho, a pôr uma cenoura à frente do nariz. Não é que as motivações destes escritores sejam exclusivamente mercantilistas, longe disso, nalguns casos trata-se mesmo de uma natureza que os impele para uma escrita torrencial o que, só por si, não lhes garante o título de grandes artistas, origem de obras-primas, as quais são raras precisamente porque viscerais, quase frutos da dor ou do prazer intensos, mas sempre estritamente fontes da verdade intrínseca de quem as produz.

 

Serve este racíocínio para qualquer expressão artística, talvez mais fácil de perceção na música, quem não deteta à primeira a repetição constante de acordes básicos? Também no cinema como ainda agora pude constatar assistindo ao filme Jovem e Bela.

Quando uma jovem e bela adolescente se apercebe da rotina e da hipocrisia que a rodeia, na qual os familiares mais chegados não só participam como são delas paradigma, obedecendo a uma natureza que em nada responde a qualquer tipo de carater vicioso, bem pelo contrário como é visível na relação pura e ingénua que mantém com o irmão mais novo, resolve agir por conta própria, responder positivamente a um impulso verdadeiro, o que é isso? Quando de uma forma absolutamente intelectualmente honesta, usufrui do prazer físico e do jogo, do inesperado da novidade constante que constituem o antes e depois, de que precisa vendendo o corpo em troca de dinheiro  e sentimentos autênticos, enquanto assiste à traição a que a mãe está a sujeitar o seu companheiro enganando-o com um amigo comum, qual delas é que se está a prostituir? Qual o preço da manutenção de uma vida frívola de sacrifícios e aparências? Algumas questões que ficam de uma obra bem exemplar desse tal rasto de que as coisas feitas, com a autênticidade nascida da alma, nos deixam.

 

 

 


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semtelhas @ 12:29

Seg, 21/04/14

 

 


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semtelhas @ 12:00

Dom, 20/04/14

 

- Ferraz da Costa: um destes dias acordamos e temos um partido de extrema direita - Ele lá sabe o que anda a fazer...ou a eterna confusão entre a realidade e o desejo.

 

- Em funcionamento primeira máquina de venda automática de marijuana - No Colorado, nos EUA. Parece que aquilo vende mais que pãezinhos quentes, e o governo federal a encher os bolsos! Não há nada como um elevado lucro para desaparecerem logo os malefícios para a saúde...

 

- Berlusconi obrigado a visitar um lar da terceira idade uma vez por semana  - Não faz mal! Ele arremata aquilo, prepara lá um canto para o receber com as mordomias a que está habituado, e ainda pode cataquisar os velhotes...

 

- Guardian e Washington Post receberam Pulitzer por revelações sobre espionagem - Já Snowden, quem as disponibilizou, também vale prémio, mas é pela sua cabeça! Assim se confirma o poder de quem especula em detrimento de quem produz e compra. Um mundo de intermediários, os espertos que nada produzem e quase tudo levam!

 

- A namorada de Ronaldo apareceu numa foto a nadar com porcos nas Bahamas - Agora já só falta uma a fazer o pino com o Messi...

 

- Sporting faz peditório para fazer pavilhão - Pois...já lá vai o tempo em que chegava ser um visconde falido para financiar os lagartos...

 

- Ancelotti afirma que sem Ronaldo, Real corre mais e joga mais como equipa - Por acaso os rapazes ganharam...caso contrário talvez agora estivesse a lamentar-se pelo pouco tento na língua.

 

- Catroga afirma-se prejudicado por só ganhar 35000€/mês - Este já tinha batido no fundo quando penhorou a retrete das Antas, só que ninguém reparou... Isto agora não passam de pintelhos!

 

- Durão Barroso disse que antes do 25 de Abril  nas escolas se lutava pela excelência - Se calhar até tem razão. Faltou foi esclarecer a que tipo, e qual o seu conceito sobre a dita. Ou talvez ele seja um exemplo vivo disso mesmo, fazer pela vida passando por cima de tudo e todos.

 

- Jogo da taça entre SLB e FCP cheio de casos de arbitragem - Mas lá conseguiram que o FCP, que também ajudou, não estragasse a festa para a qual foram convidados especiais os compadres Pedro Proença e Duarte Gomes, e abençoada pelo compadre Platini, para quando um cartão de sócio honorário do glorioso? sentado ao lado do Orelhas, que deixou de arder ao ouvir o nome do outrora maldito e agora querido árbitro.

 

- O Benfica é o clube com maior percentagem de adeptos no seu país - Não nos cansamos de dar lições ao mundo nesta coisa dos rácios de desenvolvimento... Pena que, por este andar, se hoje são muitos, amanhã ficarão sózinhos!

 

- Capitães de Abril vão comemorar a data no Largo do Carmo -  A presidente da Assembleia da Republica disse que, se para estarem presentes na cerimónia oficial tinham que falar, o problema era deles. Vamos lá a ver quem será o problema e quem vai ficar a falar sózinho.

 

- Estreia de Ricardo Araújo Pereira depois do jornal da TVI abaixo das expectativas - Espectativas de quem? Só foi batido pelas novelas SIC porque as da TVI lhe cederam o passo. Onde está a surpresa? O que vale é que para RAP o que conta mesmo é o cachet!

 


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semtelhas @ 12:53

Sab, 19/04/14

 

A ministra das finanças veio anunciar a possibilidade de taxar mais os produtos prejudiciais à saúde com excesso de açucar e sal e, quase imediatamente, o seu colega da economia correu a práticamente desmenti-la alegando que tal assunto nunca foi sequer aflorado pelo governo, enquanto, no mesmo dia, o da saúde vinha afirmar que o assunto está em estudo.

 

Dispensando qualquer inutil reflexão sobre as sucessivas contradições entre pessoas supostamente alinhadas no mesmo sentido, o do bem comum dos cidadãos que para isso os elegeram, por já tão repetidas, escandalosamente negadas, ou arrogante e olímpicamente disfarçadas, cingindo-me à substância do problema, é de notar que este já tem barbas em alguns países alguns anosluz à frente de Portugal na discussão pública destas matérias.

 

Quando ainda no tempo da II Grande Guerra a questão se pôs relativamente à ingestão, pela parte dos militares dos EUA, de doses industrais de produtos gordos, nomeadamente provenientes de carne de porco, inclusivé da banha do dito!, as empresas que produziam tais produtos vieram, numa primeira fase negar que esse tipo de alimentação fosse responsável por um inaudito número de mortes relacionadas com a presença excessiva de gordura no sangue, mas depois, paulatinamente, foram substítuindo aqueles por outros agora muito mais ricos em açucares e sal, como por exemplo as conhecidas barras energéticas de cereais ou chocolate.

 

Hoje, decorridas algumas décadas, o uso deste tipo de alimentos generalizou-se, bem assim como as doenças a eles associadas, em especial a obesidade e consequente, problema maior, diabetes, agora também a vulgarizar-se em crianças com menos de dez anos! Como sempre as grandes companhias produtoras destes venenos que intoxicam o mundo inteiro, Mc Donald's, ou Coca Cola, vieram afirmar que não, que as crianças são gordas mas é porque não fazem exercício, quando, na realidade, não fazem exercício porque são gordas... e continuando a criar e promovendo massivamente o consumo destes alimentos em doses que não param de aumentar de dimensão. Chega a ser obsceno o tamanho de alguns pacotes de pipocas ou bebidas doces.

 

Portanto nada de novo nesta discussão caseira onde, muito mais que os interesse do comum dos mortais, está em cima da mesa a defesa dos interesses dos donos do capital. Tudo feito em nome, claro está, da proteção de quem cria postos de trabalho, a renovada panaceia para a imposição de todo o género de abusos sobre os mais frágeis. Não seria muito mais rentável para as contas do país o que se pouparia em gastos com a saúde, do que o suposto e muito falível como o prova a história recente, benefício que os portugueses vão tirar com a hipotética criação de novos empregos nestas indústrias de lento e dissimulado assassínio em massa? 


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semtelhas @ 12:29

Sab, 19/04/14

 

Antes de partimos tivemos a agradável surpresa de se poder visitar uma grande parte do país recorrendo ao comboio e, quando este não chega a determinados sítios onde já chegara, são disponibilizadas carreiras de camionetas, pelo que se nos organizássemos préviamente era possível traçar um itenerário bem interessante. Cada um de nós transportava a sua mochila que constatamos serem práticamente gémeas, dois jeans a somar ao que ía vestido, um par de sapatilhas suplentes, umas chinelas, uma sweatshirt com carapuço, um blusão mais leve do que o de couro no corpo, umas quantas polos e tshirts, cuecas, meias e produtos para a higiene. Caso viessemos a precisar de reforço a empregada também encarregada dos bichos, enviar-nos-ía para qualquer lado o que fosse necessário.

Era Verão e estava quente naquele dia em que entramos no comboio em direção ao norte. Uma vez ultrapassados os primeiros quilómetros e deixado para trás o cenário urbano, embalados pelo movimento e ruído característicos, fomos sendo invadidos por um sentimento de libertação que partilhamos em silêncio. Aquela sensação de estarmos mais juntos à medida que nos afastamos do que nos é familiar por ver diáriamente, unidos contra o desconhecido. A paisagem verde, o casario que ía desfilando maioritáriamente de bom aspeto, novo ou recentemente objeto de manutenção, diversos equipamentos para a prática do desporto ou simples lazer, as estações que se sucediam renovadas e limpas, bem como as pessoas de uma maneira geral bem arranjadas, mostravam um país moderno bem diferente daquele de que me lembrava da última vez, bastantes anos antes, que viajara de comboio numa viagem longa que não fosse no Alfa entre Porto e Lisboa.

Súbitamente surge no horizonte um largo casarão branco, rodeado por, atrás aquilo que parecia um campo de cultivo e um pequeno bosque, lateralmente por umas habitações mais pequenas e igualmente pintadas de branco e, à frente, um vasto, dir-se-ía jardim porque bem arborizado e pleno de flores de todas as cores, mas onde se podiam distinguir zonas de terra, e relvadas, equipadas com artefactos, balizas, tabelas, e outros, para a prática de desporto. A encimar o edifício maior, escrito em bem desenhadas letras pretas, Orfanato. Quando os nossos olhos se encontraram depois de impossibilitados de continuar a absorver os gritos, as corridas, as gargalhadas, que pouco mais que adivinhava-mos, um ou outro vulto de uma criança sentada num banco a ler, ou simplesmente a vaguear, e dois ou três pares conversando ou em jogos amorosos de principiantes, percebemos imediatamente o que o outro estava a pensar.

Como se de repente, e em poucas dezenas de segundos, nos tivesse sido dada o oportunidade de vislumbrar o Paraíso. Como se de uma imagem cinematográfica se tratasse, tinha passado ali, bem à nossa frente, a alegria, o entusiasmo, a ingenuidade, a pureza ainda não conspurcada pelo cinismo ou pela dureza implacável da realidade. O futuro! Não fora exatamente à procura disso mesmo que viéramos? Do futuro? Num momento verdadeiramente epifânico compreendemos silmutâneamente que a solução poderia muito bem passar por adotar uma daquelas crianças! Ou outra qualquer! Porque nos ouviu trocar algumas palavras sobre o assunto, sentado ao meu lado desde a última paragem, um velhinho simpático informou-nos que aquela era uma instituição muito antiga, algures de meados do séc. passado, gerida desde sempre por religiosas, inicialmente bastante mais pequena e efetivamente para orfãos, mas sucessivamente aumentada ao longo dos anos e hoje abranjendo um leque bem mais vasto de jovens, na verdade uma casa de acolhimento para todo o tipo de crianças desprotegidas.

Resistimos ao primeiro impulso de, como anos atrás, interromper logo ali a viagem como se o seu objetivo milagrosamente tivesse sido encontrado logo ao virar da primeira esquina e, mais maduros, sobretudo ela, resolvemos continuar a nossa saga aproveitando-a precisamente para trabalhar mais este fantástica oportunidade com as quais a vida parecia apostada em repetidamente nos abençoar, renovando assim o nosso entusiasmo e força para enfrentar um dia a dia que não se apresentava fácil.

 


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semtelhas @ 17:10

Sex, 18/04/14

 

Conheço uma quantidade considerável de escritores que me dão um prazer enorme através da leitura dos seus livros, de todos os lugares, quase todos os quadrantes ideológicos, independentemente da idade, opções religiosas ou sexuais e, evidentemente, género. Tenho a felicidade de tirar um gozo sem limites, literalmente, viajando pelas palavras escritas desses homens e mulheres que contam histórias das pessoas e do mundo, transmitindo exclusivamente pela sua capacidade de imaginar e talento para o escrever, ou utilizando-o para descrever as suas próprias experiências pessoais. Ler Palmeiras Bravas de Faulkner, Debaixo do Vulcão de Malcom Lowry, A Montanha Mágica de Thomas Mann, Crime e Castigo de Dostoievsky, Ana Karenina de Tolstoi, Até Ao Fim Da Noite, de Céline, 2666, de Roberto Bolaño, A Piada Infinita, de David Foster Wallace, A Criação Do Mundo, de Miguel Torga, Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar, O Memorial do Convento, de Saramago, Até Ao Fim de Virgílio Ferreira, O Homem Sem Qualidades, de Robert Musil, Em Busca Do Tempo Perdido, de Proust, As Benevolentes, de Jonathan Littell, A Um Deus Desconhecido, de Steinbeck... só para falar dos que agora me lembro, são experiências fantásticas e verdadeiramente modificadoras da forma de olhar a vida.

 

Há no entanto uns quantos, Hemingway, Joyce, Kafka, e, talvez acima de todos Gabriel Garcia Marquez, que vão para além de tudo e, tirando-me quase em absoluto da realidade circundante, contribuiram decisivamente para aquilo que sou, e acredito para boa parte das pessoas que leiam algumas das suas obras. No caso de GGM desde muito jovem fui completamente arrebatado por aquela ambiência mágica dos seus livros, que se consegue sentir na pele, pelo exotismo e profundidade dos seus personagens sempre excessivos, como esquecer o patriarca de Outono do Patriarca? e o incrível e maravilhoso romance em Amor Em Tempos De Cólera? dos terríveis e sanguinários coroneis que atravessam toda a sua obra? das suas prostitutas tardias, da sua ressureição, em Memória das Minhas Putas Tristes? E sobretudo da inesquecível e eternamente marcante família Buendia de Cem Anos De Solidão, onde todos nos reconhecemos, aqui ou ali, por esta ou por aquela circunstância, tudo tão magnificamente relatado. Chegou a hora deste deste génio voltar a ser notícia, já não para falar sobre uma nova obra-prima, há muito deixadas para trás, mas reavivando memórias com cujo contacto se atesta a excelência impar deste homem enquanto escritor e que, ausentado-se para lugar incerto, me deixa um pouco mais triste por sentir que com ele leva um pouco da minha infância, juventude e homem jovem, uma dolorosa tomada de consciência que também eu estou a morrer.

 


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"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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