Sempre terá sido uma das mais difíceis escolhas, mas, face ao galopante mundo virtual que nos cerca, a multipla oferta de todo o género de drogas, e uma crescente consciencialização daquilo que realmente somos, optar entre a verdade e o amor corresponde a uma espécie de última e definitiva decisão.
Antes disso há todo um caminho a percorrer que vai do autêntico ao ficcionado, da verdade à alucinação. Quando parece que se atingiu o limite ao prescindir do corpo real substituído pela sua digitalização, eis que, mercado oblige, há que dar o produto que todos somos a comer ao consumidor, é que ele não compra por menos!
Ele próprio um objeto prático daquilo para que pretende alertar, o filme O Congresso, representará porventura, até agora, a mais eficaz demonstração do que nos reserva o futuro, a realidade atual do imparável consumo de drogas, ilegais mas sobretudo legais, está aí para o provar. E se é certo que a ficção antecipa a realidade, esta acaba por se revelar, invariávelmente, mais dura.
Os diferentes estados de desenvolvimento estabelecerão as diferenças, mas estas tendem a desaparecer, e o numero de pessoas a serem confrontadas com esse drama de ter que escolher entre a brutal realidade, sim porque esta só não o foi, é, e será, para meia dúzia de mais dotados, e a fuga alucinógena. Para os eleitos está reservada a suprema dúvida, a verdade ou a mentira por amor? Está tudo na nossa cabeça!
Depois de mais de trinta anos de trabalho intenso, pareciam noventa!, de que se havia saturado e cuja maior virtude e desilusão tinha sido descobrir verdadeira natureza dos homens, e a mais importante recompensa uma absoluta independência social, económica e financeira, finalmente podia estar com quem e só quando o desejasse, e apesar de ainda relativamente novo, escolhera uma vida de semireclusão rodeado de livros, música, a escrita como espécie de amigo imaginário, e algumas saídas ao cinema as quais fazia seguindo religiosamente sempre o mesmo percurso, o ideal para chegar rápido dentro da sala e ainda mais depressa sair dela e do multiplex onde estava integrada. As raras concessões que fazia a si próprio para escapar à solidão porque optara fazendo a vontade àquilo que era a sua natureza, consistiam em curtos convívios com a meia dúzia de pessoas de que gostava sinceramente, ir ver os jogos do seu clube ao estádio, o que fazia como se de uma religião se tratasse e, muito mais raramente, uma ou outra viagem onde ainda descortinava algum interesse que despertava a sua curiosidade, e o arrancava da sua tranquila e quase feliz reclusão. Ligava-se ao mundo via internet que utilizava quase exclusivamente para enviar e receber mensagens da tal meia dúzia de almas, e sobretudo lendo tudo quanto era notícia.
Foi precisamente ao ler que depois de outro anteriormente, mais um exbanqueiro ía beneficiar da prescição de um processo de fraude de que era acusado pela qual deveria pagar largos milhões, outra vez a justiça a ardilosamente safar sem quaisquer escrúpulos um multimilionário, ao mesmo tempo que mete na prisão miúdos por roubarem uma maçã no supermercado, que sentiu o sangue afluir-lhe à cabeça a uma velocidade vertiginosa, vacilou numa ameaça de vertigem, e exprimindo para si próprio um sentimento de revolta há muito sufocado a bem da sua saúde, decidiu, já pouco espero desta vida, tenho o suficiente para deixar os meus bem e fazer qualquer coisa, um sinal, sei lá...mas não consigo ficar parado a assistir a esta vergonha sem limites! Esta gente está com o "freio nos dentes", perdeu o medo e já não respeita seja quem fôr. Mas fazer o quê? Podia contratar a melhor firma de advogados e "pegar" precisamente num destes casos dos banqueiros, e seguir o fio da meada até chegar aos responsáveis forçando uma incontornável punição. Depois pensou, mas quem domina os grandes escritórios de advogados? e os tribunais? e a política? são sempre os mesmos, só trocam de cadeiras e favores! vais meter-te num "vespeiro" de que jamais te livrarás! cada vez que pensares estar próximo de uma qualquer resposta, vais perceber que só alargas-te o buraco negro onde estás a cair! impossível atribuir claramente a culpa a esta ou aquela entidade ou pessoa porque as coisas são diabólicamente difusas! morre sempre solteira! é assim desde há séculos que esta máfia funciona e por séculos funcionará. Não aprendes-te nada? é precisamente isso que eles querem porque é disso que vivem! dão-te uma falsa justiça só para te sacarem dinheiro! têm tudo controlado! Confuso e derrotado, prestes a desistir, reacendeu-se-lhe uma faísca no olhar, isto só lá vai à força! não há outra hipótese! É uma ilusão procurar culpados pelas vias ditas corretas, até porque a responsabilidade está dividida por muitos ao longo dos anos, mas toda a gente consegue apontar o dedo aos principais mentores deste estado de coisas, dois ou três aos quais é preciso rebentar com as cabeças! Felizmente não me falta dinheiro para contratar o melhor sniper que há-de haver por esse mundo, alto profissionalismo, sem falhas! para fazer o serviço. Pode ser que assim consiga passar a mensagem a essa cambada de crápulas!
Ainda não tinha acabado este pensamento e já refletia em tudo o que havia aprendido sobre a história da humanidade, da sucessão de ciclos viciosos que a constitui, e que é precisamente dessa incansável repetição dos multiplos choques de várias ordens, sociais, geracionais, de género, etc., dessa espécie de contínua discussão que, períodicamente, se faz luz, seja lá isso o que fôr, tome a forma que tomar, o mundo estremece e avança. Recostou-se melhor no sofá, respirou lenta, demorada e profundamente e, já quase completamente descontraído desabafou, tenho mas é que deixar de ver notícias!
Rodeado por todos os lados menos um qual península, o estreito pedaço de generosa terra preta que corresponde à sua largura onde se situa o rés-do-chão do prédio, e mais concretamente as amplas janelas por onde o admira, pelos quais se multiplicam couves galegas, pencas, feijões a trepar por estacas, rama da batata a despontar da terra, couve bróculo, tomates, pimentos, cebolas, etc., etc., ou simples erva em pedaços de terreno semiabandonado. Mas ele ali está! Viçoso e a rebentar de verdura e côr por todo o lado, multiplas flores, uma espécie de palmeira sem tronco a brotar milagrosamente do chão, variados e complexos arbustos, árvores de todos e muitos frutos, tudo sobre um espesso tapete de relva convenientemente aparada. Uma pedaço de paraíso de 15x5 que tem tanto de surreal e docemente patético, quanto de verdadeiro paradigma de quem nele descansa a alma pousando os olhos, ou, mais raramente, por lá deambula passeando o que lhe resta da postura altiva apesar do ligeiro, quase impercetível, titubear a cada passo ou dispicienda curvatura nas costas.
Queres vir comigo ver o limoeiro? Hesito, mas, sem falarmos, acabamos por lenta e irrevogávelmente nos dirigir-mos ao seu paraíso privado. Sempre que lá vou é como se entrásse num ingénuo barco psicadélico a navegar num traiçoeiro mar cinzento, como se também eu nele me transformásse por osmose de sangue, circunstância na qual nunca me sinto verdadeiramente confortável, minha fraqueza, minha grande fraqueza! Já nela tudo passa a fazer mais sentido, encaixando perfeitamente naquele cenário com as suas roupas normalmente coloridas e não raras vezes plenas de brilhantes lantejoulas, vidrilhos ou missangas. Não é que tenha algum prazer especial em tratar ou tocar a origem de todo o prazer que aquilo lhe dá, porque para ela importam menos as causas que os efeitos. O ideal seria poder, simultâneamente, estar na janela e ali, o poder de se observar a si própria a pairar entre a vegetação luxuriante, uma flor entre as flores. Natureza? Sim. Mas também condição nascida da necessidade de viver num mundo muito próprio, só seu, um egocêntrismo intrínseco mas igualmente filho de uma vivência em tudo oposta ao que estava naturalmente destinada. Não fomos ver o limoeiro.
Vê-se aquela gente a matar-se uns aos outros, ouve-se o que gritam ambas as partes, também o que dizem os dirigentes políticos de organizações estrangeiras, e pergunta-se, o que pensar?
Uns dizem que não podem virar as costas à Russia sob pena de, no dia seguinte, não terem gaz ou, nos tempos mais próximos perderem o seu mais importante parceiro em quase todas as áreas sócioeconómicas. Outros que chegou a hora de sair debaixo do jugo soviético e virarem-se para o ocidente onde mora a verdadeira democracia e bem estar. Outros ainda, os de fora, que é urgente parar com as agressões mútuas, que é inaceitável, que é preciso reatar o diálogo de forma civilizada.
Dezenas de mortos depois, de gente incógnita, quer do lado do manifestantes quer dos polícias, um expresidente desaparecido em parte e condição incerta, inumeros exageros de parte a parte e o comum dos ucranianos perguntará, e agora? Mais uma vez o milagre da sublevação popular, da autêntica, aquela pela qual se dá a vida, aconteceu e o poder instalado caiu e, com ele, a máscara que o seu principal responsável utilizava enquanto, descobre-se agora, vivia num fausto absolutamente incompatível com o sofrimento da população.
Para além de todos os populismos, (já alguém se deu ao trabalho que questionar, salvaguardadndo todas as diferenças, e são muitas! do luxo em que vive o presidente do EUA ao mesmo tempo que nos estados mais pobres ou nas maiores urbes, milhares de pessoas vivem na mais absoluta miséria? Se se olhar através da poeira convenientemente levantada pela verdadeira tempestade boa que é a fabulosa máquina de propaganda do sistema made in USA, percebe-se uma outra realidade, muito mais extensa), os interesses do poder já estão no terreno.
Para quem assiste do lado de fora a esta interminável, e provávelmente mal começou!, troca de ameaças e acusações entre os suspeitos do costume pelo domínio geoestratégico do mundo que lhes interessa, nada mais que um braço de ferro que, mais tarde ou mais cedo, irá resultar numa espécie de divisão mais ou menos equitativa daquilo que serão troféus para uns, e para outros, o povo ucraniano, insuportáveis destroços e perdas, põe-se uma questão fundamental, foi feita justiça áqueles que morreram por uma vida melhor ou por um ideal?
Resposta para esta questão procuram-na milhões em todo o mundo, dela depende a sua postura perante as injustiças que, de uma forma ou de outra, sofrem na sua luta diária pela sobrevivência contra o poder do sistema dominante, seja ele qual fôr, porque as necessidades sempre superam os recursos.
- O lugar elegível para o parlamento europeu oferecido a João Jardim foi considerado prateleira dourada - Ir para o parlamento europeu é ir para a prateleira? Nos outros países também será assim? Aquilo mais parece um daqueles clubes aristocráticos onde os senhores e as senhoras vão discorrer sobre as suas façanhas e organizar peditórios para os pobrezinhos!
- Jackson Martinez queria que Paulo Fonseca continuásse - Claro! Só mesmo ele é que o mantinha na equipa mesmo estando sempre a passar pelas brasas! Deve ser uma espécie de solidariedade soneca.
- Paulo Fonseca sai do FCP em dia de aniversário - Depois de tudo o que fez pela equipa o clube não podia ter-lhe dada melhor prenda!
- Obama avisou que Rússia se está a colocar do lado errado da História - Exatamente do mesmo onde estão os EUA por razões parecidas mas acontecidas a milhares de quilómetros das suas fronteiras. Imagine-se o que seria se os seus interesses territoriais e militares no Canadá ou no México fossem postos em causa por uma qualquer sublevação popular!
- Justiça deixou prescrever processo judicial contra o banqueiro Jardim - Prefere atacar outros bancos e outros jardins, os públicos, em cujos bancos se sentam e definham os velhotes da nossa vergonha.
- Cavaco disse admirar as forças de segurança pelo seu empenho e contenção na defesa da escadaria da Assembleia da República - Aos colegas deles, que estavam do outro lado da barricada, aconselhou bom senso. Ainda bem que já ninguém leva a sério o que esta triste figura diz.
- Poder central ucraniano afirmou que decisão do parlamento regional da Crimeia de convocar referendo é ilegal - Já se devem ter esquecido, apesar de ter acontecido há quinze dias! em que circunstâncias lhes foi dada a possibilidade de falarem grosso.
- Venezuela está a ferro e fogo - Que pena as Chaves que entreabriram porta contra corrupção e abusos dos poderosos terem sido deixadas a Maduro verde.
- Vitor Gaspar vai ocupar alto cargo no FMI - Afinal quando dizia sentir-se insultado por ser considerado o quarto homem da organização da Troika devia estar a referir-se à posição, era o primeiro! Por alguma razão, mais papista que o papa, executou sempre em dobro as já só por si violentas medidas protagonizadas pelos representantes dos credores
- Só em 2063 as mulheres vão atingir a paridade nos lugares de poder - Data em que a supremacia física dos machos deve estar reduzida a perto do zero, razão única do seu histórico domínio.
- Se favorecesse mudar de treinador fazia-se todas as semanas, atirou Jesus - Ele lá sabe porque é que em cinco anos no clube mais poderoso do país só ganhou um campeonato e três taças da cerveja.
- Governo comenta manifestação dos polícias não através do ministro que as tutela mas pelo da defesa - A ameaça subliminar que para a próxima põe a tropa na rua? Não seria melhor não mexer no que parece estar quieto?
- Durão Barroso diz que fez o que podia por Portugal enquanto presidente da comissão - A gente lembra-se de quando nos mandou todos à merda a meio de um mandato de primeiro-ministro para ir servir de lacaio, papel que desempenhou brilhantemente, das grandes potências.
- Messi vomitou durante um jogo - Estará o moço grávido? A ser verdade de certeza que, tal qual ele próprio, o rebento vai ser o orgulho da mãe e até já nem vai ser preciso ser o sustento do pai como este foi para o vigário do avô. Gente boa e muito séria!
- Benfica, Sporting e Marítimo isolados na defesa do presidente da Liga de Clubes - O Marítimo ao menos mostra ser bicho que conhece o dono, agora o Sporting? O assumir que irá pelo mesmo o caminho ou é só mesmo estupidez?
- Governo quer igualar indemnização de despedimento sem justa causa à da com justa causa - Para ele não diferem uma da outra! Bem esclarecedor do quanto as causas desta gente são de outra natureza. Os efeitos estão à vista.
Não se tinha deslocado a nenhum sítio para tentar descobrir se estava de facto infetada, falta-me a coragem, disse-me, e a suspeita existia porque, contando a uma amiga a sua aventura de uma noite com um famoso reporter francês, aquela, súbitamente, ficou lívida e perguntou-lhe, usaram proteção? é que ele é seropositivo! Sim, ele utilizara um preservativo, mas também era verdade que estavam ambos bastante eufóricos e pouco sóbrios a seguir à apresentação de um livro em Paris, durante a qual se encheram de champagne, pelo que não podia ter a certeza de fosse o que fosse.
Organizámo-nos, primeiro o análise ao sangue, os resultados da contraanálise iriam demorar no minímo um mês de terror, depois despachar o "artista" que criava problemas na revista, ofereci-me para ocupar o lugar enquanto ela não arranjásse melhor solução, finalmente tratar de lhe dar alguma estabilidade emocional para enfrentar os dias dificeis que vinham aí. Como estava fora de questão metermo-nos no carro e escondermo-nos num Gerês qualquer, por todas as razões e mais uma chamada Sílvia, convidei-a a ficar em minha casa até a "tempestade" acalmar. Ela aceitou.
Apesar do convite ter sido feito para uma casa que me pertencia, fi-lo sem falar préviamente com Sílvia, a minha atual companheira. Agora que estava prestes a reencontrá-la deveria dar o facto como consumado, ou fazer de conta e perguntar-lhe o que pensava como se as coisas ainda não estivessém decididas? Tinha quase a certeza que não se oporia. Optei por ser franco como ela merecia.
Sabes que nunca deixas-te de gostar dessa mulher, começou por me dizer num tom e expressão que, denotando tristeza, era firme e convicto, talvez porque algo de que já estava à espera. Gosto de ti, e este tempo que passámos juntos foi bom enquanto durou. Não vamos estragar tudo insistindo, agora que tens de volta o teu verdadeiro amor. Abracei-a e senti o tremor que lhe percorria o corpo. Doce Sílvia! Demasiado doce para um caráter como o meu, temperado pela insegurança, pela pouca autoestima, pelo valor sempre posto em causa, o que resultou na única defesa possível, a resistência a qualquer espécie de demonstração de carinho se demasiado expressivo, o medo de sofrer. Propus-lhe que continuásse a morar ali, eu mudaria para a casa de Laura, concerteza que ela concordaria. Não quis. Revelou que já em tempos havia recusado uma transferência para o sul, apesar de não o referir percebi que eu fora o motivo, mas que estava chegado o momento, também porque desejava afastar-se da influência materna. Saiu esse mesmo dia depois de se despedir dos bichos, situação que aproveitou para verter as lágrimas desde há muito retidas. Uns dias depois soube por uma mãe chorosa e ressentida, também comigo, já estar instalada em Évora.
Estávamos à porta do consultório médico onde finalmente íamos saber da sentença. As últimas semanas tinham sido um misto de felicidade e expectativa, até porque evitámos qualquer ato sexual, mas também porque optámos deixar qualquer decisão mais estruturante, quer se relacionada com a revista, quer com, por exemplo, a possibilidade dela vender o casarão que, por pouco uso, corria o risco de agravar o já evidente estado de degradação, para depois de ouvido o médico. Uma vida interrompida. Quase por completo da parte dela porque quanto a mim todos os dias ía à redação, não só para lhe dar continuidade apesar daquilo funcionar perfeitamente graças à impecável organização implantada por Laura, mas sobretudo com o objetivo de ocupar o lugar deixado vago pelo arrogante assediador entretanto despedido. Entrámos.
É sabido haverem filmes durante os quais o consumo das ditas faz todo o sentido, se mais não fosse porque normalmente fazem do barulho ensurdecedor um dos seus principais motivos de interesse, pelo que os pobres espetadores são poupados ao ruído assassino para qualquer réstia de concentração caso o que esteja a passar na tela o exiga minímamente, o que manifestamente não acontece nos tais filmes. Há porém ainda outro género como descobri assistindo a Um Quente Agosto, porque não sendo, de todo, filmepipoca, a teatralidade, o assumidamente rebuscado, confere-lhe um tão elevado, em todos os sentidos, cunho de entretenimento, que até se compreende a sofreguidão com que em determinados momentos o superaçucarado e multiprocessado cereal é devorado.
A fazer lembrar aquelas peças de teatro adaptadas ao cinema de Tenesse Williams, Gata em Telhado de Zinco Quente ou Um Elétrico Chamado Desejo, pela carga teatral dos principais personagens, também pelo ambiente onde a cultura e uma suave degradação, das coisas porque quanto à de gente é profunda! são o pano de fundo onde pessoas sábias e cansadas, de quem já viu tudo, se vão autodestruindo impotentes perante uma vida fatalmente madastra. Lembrei-me de E Tudo O Vento Levou, de Quem Tem Medo de Virgínia Wolf?, de Elisabeth Taylor, que curiosamente é lembrada no filme, e Richard Burton, de Clark Gable, Paul Newman, Marlon Brando e de Vivian Leigh. Fabulosas histórias, literalmente no correto sentido do termo, maravilhosos atores, mas filmadas num outro tempo, em que o tempo corria a um ritmo completamente diferente.
Hoje, para o bem e para o mal, é tudo muito mais cru e cínico, a tal ponto que nem um relato em que são a própria crueza e cinismo o cerne da questão, estes escapam a um certo sentimento de efemeridade, um tempo que não deixa espaço à fruíção, nem da maldade mais profundamente enraízada porque originária do caráter. Onde pára o romantismo dos intrínsecamente maus? A única faceta em que esta fita não é em nada inferior às referidas obrasprimas, é na interpretação de alguns dos personagens dentro daquele cenário real verdadeiramente fantástico e que muito os terá inspirado. Depois há Meryl Streep em mais um desempenho só ao alcance dos génios. Será necessária uma inteligência radiosamente luminosa para compreender, assimilar e reproduzir de forma tão absolutamente perfeita desde as profundezas da alma, ao mais inocente tique, dos mais diversos personagens a que este fenómeno da arte de interpretar já deu corpo.
É muito comum em Portugal, onde as empresas surgem como cogumelos graças ao atualmente dito empreendedorismo, mas desde sempre muito mais à nossa fatal inclinação para modernaços, invariávelmente os primeiros em tudo que é novidade e, desgraçadamente, nas respectivas consequências, campeões dos piores rácios economicofinanceiros, ao pioneirismo do destemido e normalmente valoroso homem ou mulher com que tudo começou, e se o projeto teve sucesso, a segunda geração, a tal que comprou tudo feito, não dê continuidade à obra limitando-se a viver, ela e por vezes mesmo os seus filhos, dos rendimentos acumulados pelo velhote.
A razão principal porque isso acontece tem a haver com a falta de preparação de quem iniciou em estabelecer as raízes suficientemente profundas para que a coisa não mirre à primeira falta de rega ou adubagem que essa pessoa, quase exclusivamente, religiosamente fez durante décadas. Não raras vezes o principal pecado radica numa falta de confiança em tudo e todos que resulta na ausência de qualquer espécie de delegação, que vai cavando um fosso de erros sobre erros o menor dos quais é como que um abraço do urso, alguém que à força de querer dominar tudo sózinho acaba por não deixar que a criança cresça ou acabe mesmo por matá-la.
Tal atitude mais não faz que criar em volta do héroi um conjunto de inocentes parasitas que, sem a menor noção do que realmente significa a palavra trabalho, quando quase sempre trágicamente tarde, são chamados a intervir na tentativa de travar a eminente queda da preciosa fonte de rendimentos que maioritáriamente serviu para lhes alimentar vicíos e vaidades, porque o agora pobre pioneiro, cansado, começa, começou muito antes, a fazer disparates uns atrás dos outros, não estão minímamente preparados para a tarefa. Para além de não terem qualquer respeito por aqueles que, ao lado do principal obreiro, foram o garante da sua vida airada, e também por isso, desatam a destruir paulatinamente tudo o que existe.
Assim se chega ao tal abandono que, ao longo do tempo, vai criando uma tecido socioeconomico assente numa economia feita de falsos arranques aos milhares, as pequenas empresas, e este mal não lhes é exclusivo!, representam 80% do total do universo das mesmas e, consequentemente, uma sociedade desigual, a viver sobretudo de aparências porque orfã de um tecido empresarial dotado de gestores devidamente formados, académica mas também civicamente, e refém do chicoespertismo que reina, hoje como ontem, entre os tais empreendedores. Uma das soluções seria deixar os meninos continuarem a brincar e entregar as empresas a quem as fez, mas para isso era preciso que depois de lhe comerem a carne, tristes ingénuos! não lhe quiséssem roer os ossos.
Com todas o melhor momento foi sempre o mesmo, após um maior ou mais pequeno tempo de espera, vê-las a chegar! Especialmente quando podia acompanhar essa chegada à distância. Lá vinha ela, sózinha, metida com ela mesma, tal qual se mostra ao mundo. O meu olhar sobre ela comum a tantos outros olhares. Uma mulher entretida com os seus pensamentos a caminho de um qualquer objetivo. Todo um universo em movimento. Olhos no chão ou cabeça levantada, rosto sério, inexpressivo ou com ligeiro sorriso, andar pesado e lento ou leve e ligeiro, deselegante ou sensual, alta e magra ou baixa e gorda, com roupas clássicas ou desportivas, sapatilhas ou salto alto, mas sempre o mesmo encantamento! Em todas! Como que refletindo tranquilamente sobre o seu destino. Uma mulher a dirigir-se convictamente para junto de um homem. Do seu homem! Normalmente esperava-as ansiosamente, fosse porque ainda estava naquela fase em que podiam não vir, fosse porque tinha urgência da sua presença, fosse porque simplesmente queria partilhar algo com elas. Mas sempre ansiosamente. Há qualquer coisa de especial e único no diálogo que se mantém com a mulher que se ama. Ela, a mulher, todas as mulheres, têm aquela quintessência, inexplicável e que verdadeiramente define o feminino, que pode tornar tudo o que nos rodeia realmente maravilhoso. Não é só pelo efeito que o amor que temos por elas tem sobre nós, é uma certa maneira diferente de ver, de interpretar, de descrever, de aceitar, de resistir, de olhar, de cruzar a perna...Estar com elas, o mais sublime estado de felicidade se devolvido pelo par de olhos que nos fita, igualmente entregue para além de todos os limites, a absoluta ausência de dúvidas ou barreiras, uma inexprímivel sensação que vem de dentro, e que é manifestada através de uma existência abençoada, por sexo que resulta em orgasmos onde o efémero toca a eternidade, a visão do mundo é plena de esperança, a alegria dos pequenos prazeres mais que suficiente. Ei-la que chega! Um misto de louco entusiasmo e profunda tranquilidade quando as mãos se tocam e a magia acontece, faz-nos acreditar na vida que vale a pena ser vivida. Acariciar-lhe o rosto, receber em troca um sorriso que promete tudo, literalmente tudo, a salvação, o porto de abrigo, a razão definitiva que as dispensa dando todas as justificações, subliminarmente presente nos sonhos mais intrínsecos, e na redenção após despertares dos mais terríveis pesadelos para dar sentido à continuidade. Elas, mãe, mulher, amante, filha, amiga, verdadeiro sustento, força maior, de indomável resistência, origem, doce luz da sábia sensatez que indica o caminho aos simples obreiros que eles são.
A respiração é feita aos fôlegozinhos, como quem está a sofrer e a tentar controlar um ataque de ansiedade, e só não é sinónimo de pânico porque já habitual. Uma pessoa habitua-se a tudo. Durante as refeições, como a que agora vamos iniciar, se por acaso o silêncio se instala, somos premiados com a música com que acompanha o ato de comer, ao compasso da mastigação, no minímo duas castanholas ao desafio, com uma espécie de ronronar de fundo, mais ou menos intenso de acordo com o maior ou menor prazer ao saborear o que está a ser deglutido, quanto maior este, mais se faz ouvir aquele. A tarefa é desempenhada num misto de satisfação e disciplina, todo um método pouco disposto a abrir brechas. Queres mais? Naaaaão! Logo seguido de um corretíssimo desfiar do préestabelecido e rígido programa de refeições há muito rigorosamente seguido, dito com toda a convicção bem estampada no rosto, e numa linguagem corporal onde o tronco bem ereto não deixa dúvidas a ninguém. Ainda estamos a beber o último gole de café já ela dobra cuidadosamente o guardanapo, está dada a senha para o final da refeição e a abertura das hostilidades que se seguem, arrumar a cozinha. Ao som de consecutivos ôpas que servem para animar como quem empurra, marcham pratos e companhia enquanto o diabo esfrega um olho. Quando nós, infelizes preguiçosos! sequer pensámos arrumar a louça e os tachos já só sobra aquilo que fica fora do seu alcance, mesmo fora! porque até onde os dedos dos pés e das mãos bem esticados e muito periclitantes chegarem não nos dá hipóteses. Por vezes, durante a refeição, normalmente surpreendentemente fora do contexto, atira uns episódios com largas décadas que, quase sempre, pretendem primeiro realçar a sua imensa energia e força de trabalho do qual se desembaraçou heróicamente apesar daquele ser a rodos, mas também deixar bem claro que nós jamais estaríamos à altura de tais tenebrosos desafios. É em pequenos passitos que reocupa o seu trono em frente à televisão, de onde veio e que só abandonará quando, à noite, fôr dormir. A caminho, olhando para o tempo lá fora, sentencia em tom definitivo, vai melhorar, e, perante qualquer sinal de concordância concede um mal disfarçado de enfado, é. Queres ir para a cama? Levanta lentamente o braço e fitando o inseparável relógio que lhe vai ditando o incontornável ritmo de cada dia, quando forem dez horas, dispara. Rendidos encostámo-nos melhor, ajeitámos as mantas, e, resignadamente, aceitámos aquela música de fundo feita de pequenos e inevitáveis ruídos originários em encaixes jamais recuperáveis, de um perturbantemente audível e cada vez mais precário fio de respiração, e especialmente de inumeros e sussurantes ais difícilmente contidos, rosto parcialmente escondido pela mão onde descansa a cabeça caída, nascidos das dores do corpo que foge, que mirra, e da alma que sofre e chora antecipadamente a separação, que consubstanciam a sua inquebrantável vontade de viver. Até quando? Vamos ter saudades.
- Santana diz que se emocionou primeiro que Marcelo com o congresso do PSD - Coelho tem que os meter no emocionómetro para escolher qual deles vai ser o candidato do partido a presidente da república.
- Miguel Relvas regressou ao PSD - E assim mais uma vez se comprova que, tal como o próprio não se cansa de repetir, o nosso primeiro nunca deixa de pagar as dívidas contraídas.
- Marcelo diz que foi ao congresso porque sentiu um vaipe afetivo - Logo este cujos pobres vaipes devem ser esmiúçados até à medula! O professor não se cansa de desafiar a verdade.
- Cientistas descobriram que os cães interpretam os sentimentos das pessoas - E assim se vai fazendo o caminho de quanto mais se sabe de cães menos se gosta dos homens.
- Vaticano é o estado onde mais vinho per capita se consome - Também com a vida complicadíssima que aquela gente leva não é para admirar. Valha-nos o altissímo que, ao menos, deve ser daquela zurrapa mais barata!
- Antonio Barreto: se PS e PSD não se entendem são criminosos - De que entendimento falará Barreto? É que eles desde há quarenta anos que não fazem outra coisa!
- Filho de Soares dos Santos: austeridade continua a pesar nas compras dos portugueses - Também afirmou que lei para impedir abusos de grande distribuição sobre pequenos fornecedores vai prejudicar consumidores. Tal pai tal filho! Sempre preocupados com os pobrezinhos!
- EUA ponderam permitir bébé de três pais - Admirável mundo novo este que nos há-de permitir ainda muito mais, como podermos vir a escolher e comprá-los nas prateleiras de casas especializadas! O Aldous é que tinha razão!
- Não quero festejar, disse Passos Coelho no fim do congresso dos seu partido - Mas festejou! Afinal até acabaram por aparecerem todos para o beijamão, e o que se cantou não foi a Grândola, o povo faltou à festa, foram os amanhãs. É Seguro!
- Troika diz que parceiros sociais portugueses não aprenderam a lição - Qual deles? Os patrões ou os sindicatos? É que se estão a referir a ambos então o caso não é defeito, é feitio, e contra isso...
- Uma agência funerária publicitou os seus serviços com humor - Já se levantaram vozes e a agência ainda nem recorreu ao seu principal trunfo, um lancinante apelo ao mercado para incrementar a procura. Não se arranja por aí uma epidemia ou uma guerrazita?
- Benfica inaugurou uma estátua a Bella Guttman - Mais um recorde para o SLB! O primeiro clube do mundo que levanta um monumento a quem lhe lançou uma maldição para a eternidade.