semtelhas @ 12:11

Sab, 15/02/14

 

 

Bastaram três anos para que Laura se transformasse num ícone da imprensa escrita entre os leitores mais esclarecidos. Poucos mas bons e sobretudo fieis eram as características marcantes entre os seus seguidores. A Ruiva, assim se chamava a revista, uma decisão polémica e muito discutida inicialmente, mas com na qual sempre apoiei Laura apesar da forte resistência do avô, que lhe parecia um nome mais adequado para uma revista feminina ou mesmo do especial agrado dos homens..., e também de boa parte da equipa com que se arrancou. Para mim representava na perfeição o essencial, o caráter daquela que ía ser a alma do projeto, honestidade, frontalidade, irreverência, energia, entusiasmo e, não menos importante, até por conseguir aquele efeito mágico de um significado duplo, a beleza, comum à bela mulher ruiva que dirigia as tropas.

Apesar da tiragem ser pequena, dado o universo de leitores, normalmente pessoas ligadas à cultura e à política de todos os quadrantes, não raras vezes era citada em orgãos de comunicação social bem mais importantes sob o ponto de vista de audiência, acabando por se tornar numa espécie de consciência, no sentido de avaliadora de esta ou daquela matéria, entre os média. Os melhores artigos nem sempre eram os de Laura, primeiro porque ela desde o inicío revelara o bom senso de admitir a sua tendência mais humanista de ver as coisas, pelo que foi roubar ao jornal que a tinha despedido um excelente cronista de opiniões bem mais conservadoras, depois porque óbviamente não dominava todas as matérias com igual àvontade. Curiosamente ao fim de um ano de publicações o dito jornal convidou-os a ambos para regressarem.

O clique aconteceu quando Laura escreveu um magnifíco trabalho sobre aquele que é o seu assunto de eleição, a eterna procura do equilibrío entre o idealismo e o pragmatismo, o ponto certo onde o melhor de cada um dos sistemas se encontram e o pior se anula. Conhecedora dos trabalhos filosóficos sobre a matéria, pelo menos o suficiente para poder ser considerada competente, citou Kant, Rousseau, Nietzsche, Schopenhauer e Keynes entre outros, aplicando o teorias destes à realidade, demonstrando à evidência que só pela diminuíção da ignorância via educação académica, em estreito acompanhamento com uma forte vivência cívica e cultural para que não se criem monstros de sabedoria e estética completamente distituídos de qualquer sentido de ética, é possível um sociedade minimamente aceitável, mesmo admitindo a impossibilidade de resistência à natureza humana, beligerante e permanente insastisfeita, aquilo que tem de melhor e de pior, incontornável mas passível de ser maioritáriamente utilizada no bom sentido, e que verdadeiramente a distingue de todos os outros seres.

Eu, para além da gestão, nomeadamente de recursos humanos e, muito particularmente de conflitos, de uma ou outra ideia baseada na minha experiência, de um ou outro conto para os quais se criou um espaço próprio, e de que não me estava a sair nada mal, tinha a meu cargo a dificil tarefa de manter a patroa feliz. Se em todas as outras tarefas me podia considerar competente, por isso satisfeito, já nesta última o sentimento era diferente. Cada vez mais requisitada para ir aqui e ali, Laura ausentava-se muito e, pior, eu sentia que essa vida lhe agradava. Os desafios, a exposição, o frenesim próprio do sucesso, eram o seu combustível, talvez eu começasse a ser dispensável. Quando lho dizia zangava-se e afirmava que eu era o seu porto de abrigo, único onde conseguia recuperar forças, e eu calava-me, mas tinha consciência dos inúmeros contactos que fazia com gente bem mais de acordo com a sua ambição e...em boa verdade, também eu descobrira outros motivos de interesse... 

 


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semtelhas @ 12:26

Sex, 14/02/14

 

Um dia vai ser criado um programa de computador, um Serviço Operativo(SO), que vai reunir todas as características de todas as pessoas, de maneira a que, após um questionário prévio para conhecer o utilizador, possa responder satisfatóriamente a todas as suas necessidades. Nenhuma hipótese fica esquecida, inclusivé a interação fisíca real, dos corpos, entre duas pessoas a utilizar em simultâneo o SO que as coordena.

 

Aparentemente infalível num mundo de pessoas cada vez mais inteligentes, crescentemente dominado pela racionalidade que busca incansávelmente a perfeição não admitindo nada menos que isso. O convivívio  com as imperfeições dos semelhantes, as fraquezas, as incoerências, os barulhos que fazem a mastigar...tudo se torna insuportável. A máquina sabe exatamente o que oferecer no momento certo. A perfeição.

 

O que o filme Her faz é a demonstração dessa possibilidade, num cenário também ele possível apesar de fantástico, personagens verosímeis ainda que na fronteira da insanidade(?), e especialmente um argumento notável, no qual precisamente um dos atos de maior sensibilidade, uma mensagem de amor a um ente querido, é encomendado como se de um qualquer enlatado se tratásse.

 

Ou seja tudo nos limites da racionalidade para provar, ou não, a supremacia do instinto. Na enigmática cena final cada um dos espetadores pode escolher para si a resposta certa. Excecional exercicío da condição humana atual, de uma ainda pequena parte dela é certo, mas a que em boa medida define o futuro de quase todos os outros. Sensacional!

 

 

 


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semtelhas @ 12:12

Qui, 13/02/14

 


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semtelhas @ 12:04

Qua, 12/02/14

 

Cada dia, à hora dele entrar,

No ventre a dor a despertar.

Já não lhe apetece brincar.

Ilusão e sonho vão-no deixar.

É sózinho que vai esperar.

Vai ouvir a chave a rodar,

Como virá? Tenta adivinhar.

Escondido deixa-se estar.

Ela deve estar a chegar!

Vem furioso, lê-lhe no olhar,

Do que o irá hoje acusar?

Aflito diz, estava a estudar.

Sente-lhe a raiva no andar.

Porque se deixa ela atrasar?

Ei-la! Submissa a justificar,

Mas ele começa a gritar.

Apavorado pára de respirar,

Também não quer escutar.

Barulhos surdos, soluçar,

Súplicas, insultos, ameaçar.

Encolhe-se, não vai acabar?

Sai, no álcool vai-se afogar.

Altas horas ela a desesperar,

À porta da rua, vai voltar?

Menino inocente quer ajudar,

Partilha com ela falso tolerar.

Lá vem ele, pronto a perdoar.

Apreende duvidoso pecar,

Ensinam-lhe triste aceitar.

Eles, paz podre no copular,

Ele, finalmente pode chorar.

Depois, tod'a vida a hibernar,

Um sufoco o medo suportar,

Nunca do pesadelo acordar.

  


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semtelhas @ 13:42

Seg, 10/02/14

 

- Chineses querem que Mexia continue à frente da EDP - Deve ser porque acham que ele está a defender bem os interesses dos consumidores portugueses...

 

- Estado só subsídia aparelho para um dos ouvidos de um menino com surdez total - E não digas que vais daqui! Todo o dinheiro é pouco para o staff do nosso primeiro, e subsídios para os muito necessitados Branquinhos e Cª. É fácil bater nos mais frágeis mas denuncia um caráter miserável.

 

- Desde 2009 a dívida portuguesa cresceu 85 mil milhões de euros, 13% - Um crescimento, para baixo, nunca antes visto! Provávelmente com estes parceiros era inevitável, mas com amigos destes quem precisa de inimigos?

 

- Russos construíram na aldeia olímpica wc's com duas sanitas - Deve ser para promover amizades, ainda assim será melhor ter cuidado com as companhias!

 

- A população ativa baixou em cerca 140 000 pessoas - A continuar a este ritmo falta pouco para o governo se poder regojizar por ter conseguido o nunca atingido, desemprego zero!

 

- Ministério Público contra Governo no caso das pinturas de Miró - Afinal sempre há separação de poderes! Pena é que só funcione na deteção de merceeiros. Se ninguém põe mão nisto esta gente ainda vai vender a Torre de Belém e a dos Clérigos!

 

- Liga considera que FCP se atrasou propositadamente - Estes tripeiros são mesmo diabólicos! Não é que estiveram  a dormir até acabar o jogo dos lagartos para saberem o resultado, e só depois vestiram o fatomacaco e marcaram, em menos de cinco minutos!, os dois golos que os qualificaram para as meias-finais!

 

- Rendeiro diz que clientes do BPP foram lesados por serem gananciosos - Já se sabia que o ilustre não passa de um reles vigarista, agora que também é invejoso...

 

- ONU acusa Vaticano de continuar a proteger os seus pedófilos - Talvez temam ficar com aquilo reduzido a metade caso não o façam.

 

- Troca de razões entre Abrunhosa e Monteiro no Expresso - Idealista versus Pragmático. Abrunhoso pode rimar com com vaidoso, mas Monteiro também rima com interesseiro.

 

- Daniel Bessa demitiu-se do Movimento de Rui Moreira por não estar de acordo com o peso do CDS no mesmo - Se toda a gente que se sente incomodada com o peso do CDS fizésse o mesmo, desde o tempo em que Mário Soares convidou Freitas do Amaral, passando pelo queijo limiano do Guterres, até ao peçonhento Paulinho, talvez isto não chegasse ao que chegou.

 

- EUA garantiram proteção ao Japão em eventual conflito deste com a China - É bom que alguém comece a mostrar os dentes aos chinocas. Nem que seja só para manter as aparências enquanto lhes vendem os países aos bocados...

 

- Alta funcionária dos EUA disse, a União Europeia que se foda - O Obama tem que ensinar a esta senhora que é feio bater nos mais pequeninos. 

 

- Mortes evitáveis diminuíram 30% em sete anos - Que pena as políticas internas e a dos nossos parceiros cada vez mais contribuam para que aumentam as inevitáveis, e transformem num inferno a vida dos que melhoraram este rácio!

 

- Marques Mendes diz que o assunto Miró foi a trapalhada da semana - A profundidade de análise deste artista é diretamente proporcional à sua altura. Reduzir a coisa a isto é mesmo muito baixinho.

 


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semtelhas @ 13:45

Dom, 09/02/14

 


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semtelhas @ 12:38

Dom, 09/02/14

 

Fevereiro, o dia é de inverno rigoroso, frio cortante, chuva persistente e gelada, vento que quebra as árvores pela espinha o que resulta num barulho constante, ampliado pelo contínuo rugido do mar lá ao fundo, por vezes quase ensurdecedor, mesmo a pedir...foguetes! Já o ano passado foi assim, dizem-me, não me lembro. Na louca cavalgada das núvens empurradas pelo vento enfurecido eis que o sol espreita e me permite matar a curiosidade averiguando, já ali adiante, o que de facto motiva festa em dia de temporal.

 

Desloco-me em passo acelerado, enchouriçado de roupa até ao nariz, pela rua estreita, de um lado uma sequência de campos de cultivo e um intenso cheiro a terra encharcada, maioritáriamente cobertos de ervas muito verdes e sedosas, talvez em pousio a aguardar a primavera, do outro, essencialmente casas pequenas com sinais da idade, também uma ou outra um pouco maiores e melhor conservadas. Nem vivalma. A água corre profusamente, limpíssíma pela contínua renovação, até que vejo a pequena capela.

 

Eis a festa! três arquitos daqueles que costumam enfeitar as ruas nas festas de verão nas aldeias por esse norte fora, já completamente despidos de qualquer côr, a chuva e sobretudo o vento arrancaram-lhes os artefactos que lhas davam, a tal capelita há muito por pintar e agora coberta de musgo até mais de um metro de altura a toda a volta e, logo a seguir, uma tasca à porta da qual, mais para dentro que para fora, estão encostados três homens, sorumbáticos.

 

Bom dia! atiro. Um deles, o que tinha um copo meio de tinto na mão retribui o cumprimento, os outros fitam-me desinteressados. Chego-me a eles e consigo vislumbrar imediatamente atrás uma mesa com a aparelhagem, triste e silenciosa, meia dúzia de mesas desertas e, atrás de um pequeno balcão aquele que presumo ser o dono do estabelecimento. Uma stout se faz favor, peço debruçando-me para chegar ao "jornal da casa" que permanecia intocado do lado de dentro. Uma quê?

 

Sugeriu-me uma mistura assassina, se bem percebi, de Martini com uma cerveja das que tinha, à qual bastaram dois ou três minutos para me pôr a falar mais do que queria e, se calhar, devia, o tempo é que não está a ajudar nada, disse. O homem olhou-me de frente e, por um momento, pareceu-me reconhecê-lo de qualquer lado, a si também não deve estar a fazer grande diferença, respondeu naquele jeito e acento na voz muito próprios dos animadores da freguesia, uma espécie de artistas vedetas lá do sítio.

 

Foi esse estilo que, de repente, me trouxe à memória de onde conhecia tão sedutora voz e encantadora figura, de um dia qualquer do último verão quando, ele mais dois ou três, com toda a eloquência e respectivas tachas arreganhadas, me bateram à porta a pedirem uma contribuição para a festa da Sra. da A...Na ocasião respondi-lhes que não, que faziam muito barulho. Lembro-me que afiambraram umas trombas desgraçadas e agradeceram com sarcasmo enquanto me viravam ostensivamente as costas.

 

Saí de fininho e com o rabo entre as pernas debaixo dos olhares ameaçadores dos falhados rapioqueiros. Antes havia perguntado quanto era a despesa ao que o taberneiro sentenciou, não é nada, fica por conta dos que contribuíram para a procissão que sai logo à tarde. Não estava a ver muito bem como com aquele tempo, mesmo assim, encorajado pela diabólica mistela, quase lhe recomendei, não lancem muitos foguetes. Na volta ainda passei por uma carrinha de caixa aberta com um toldo montado, que explicava a gritaria que ouvira durante toda a tarde do dia anterior, comprem, comprem, duas cinco euros!, não cabe na cabeça de ninguém. Não devem caber mesmo. The show must go on!


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semtelhas @ 13:39

Sab, 08/02/14

 

A última vez que passara por aquelas estradas tinha sido num outono algo remoto, não muito adiantado, talvez finais de outubro, as árvores ainda cheias de folhas mas já em tons amarelos e avermelhados, e um calor que me lembro nos ter surpreendido, bem como uma pesada chuvada morna, que libertou uma profusão de cheiros e lavou a paisagem conferindo-lhe um aspeto brilhante, quase irreal. Agora, noutra companhia e circunstância, a Primavera começava a anunciar-se, pôr todo o lado um espécie de penugem nos mais diversos tons de verde, a renovação, os primeiros rebentos, a natureza a dar às pessoas a promessa de dias melhores, ou pelo menos diferentes, limpos, a oportunidade de um recomeço.

Pouco falamos, um monossílabo aqui outro ali, os quilómetros a correram por baixo de nós, ficando para trás, como que arrastando com eles não só os terríveis acontecimentos dos últimos dias, mas também todos os outros dos últimos anos, uma catárse feita quase em silêncio. Quando, ainda bem alto na serra avistámos lá ao fundo, afastada umas dezenas de metros da margem do rio, a belissíma estalagem com uma envolvência verdejante, num luscofusco permanente do qual só escapava de manhãzinha, ou mesmo ao fim da tarde como naquele momento, quando era inundada pelo sol mais ou menos alaranjado dependendo da estação do ano, sentimos que íamos mergulhar num outro tempo, numa cápsula protegida de tudo, rodeada de beleza e paz.

Durante os dias que ali permanecemos, mais do que aqueles que planeáramos, fizemos tudo o que era possível ser feito remetidos aquele espaço que nunca abandonámos, e fizémo-lo em excesso; a comida era ótima, lêmos, cada um no seu canto horas a fio, vimos imensos filmes, a estalagem tinha um excelente stock, fizemos sexo até à exaustão, e sobretudo conversámos muito, sobre tudo. Como se se tratásse de um curso intensivo para o mútuo conhecimento, e até pelo facto de ambos estarmos muito mais habituados à solidão, tal intensidade de convívio só poderia acabar no que acabou, a decisão de adiar o "tour" para outras "núpcias", e pôr em marcha o plano que entretanto arquitetámos para o nosso futuro próximo.

Ambos amantes das letras, eu um autodidata, nunca estivera ligado a nenhuma função profissional onde tivésse podido dar largas a essa inclinação, ela de alma mas também de facto, profissionalmente só exercera a função de jornalista, cedo percebêmos que era nessa área que deveríamos apostar. Quanto a mim, apesar de nunca ter trabalhado no setor, tinha os conhecimentos de gestão necessários para, rodeado de uma pequena equipa de técnicos, liderar qualquer projeto, o bomsenso como arma principal, e a esperança de uma ou outra incursão na escrita própriamente dita. Ela, conhecedora da matéria por dentro, estava preparada para arrancar, não com um jornal, seria um desejo mégalomano, nem sequer havia dinheiro para tanto, mas, porque não?, para uma revista mensal, generalista mas cuja opção essencial fosse a qualidade. Teríamos que voltar a falar com o seu avô o qual, naturalmente, teria como parceiro no negócio dela, sendo que o meu papel seria de simples funcionário remunerado, com responsabilidades de topo, situação da qual não abdiquei não obstante a sua insistência em que fizésse parte da sociedade.

A viagem de regresso foi feita em ambiente muito mais animado, práticamente não nos calámos, não se calou, um minuto, a desenvolver ideias para isto e para aquilo, entusiasmados especialmente com o impacto que o nosso trabalho poderia ter sobre o público leitor se as coisas fossem bem feitas, com seriedade, profissionalismo, convicção e empenho. Laura, de caráter expansivo, não parava de definir táticas, estratégias, filosofias, temas principais a abordar, por secções?, perguntou-se, grafismos, equipamento, etc., etc.. Uma profusão de dados, de informação, muito superior à que eu próprio tinha o que, juntamente com a minha proverbial tendência para o ceticismo e introversão me fez, a partir de certo momento, parar de falar, provocando nela um olhar inquiridor e a pergunta, então? diz qualquer coisa!

 

 


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semtelhas @ 13:19

Sex, 07/02/14

 

Dos bons e sobretudo dos maus como os fundamentalismos das religiões, qualquer deles faz-se acompanhar de um maior ou menor custo a pagar por quem os pratica.Talvez a verdadeira diferença e eventual compensação positiva ou negativa, resulte exclusivamente do reflexo emitido pelo sujeito a essas ações extremas sobre quem as praticou, porventura a mais importante lição a tirar do visionamento do filme Filomena.

 

Quando a Igreja Católica acaba de receber um ultimato da ONU para que de uma vez por todas dê a conhecer ou, no minímo, puna todos os que dela fazem parte se envolvidos em atos pedófilos, não deixa de ser irónico, apesar de dificílmente se tratar de uma coincidência, mas antes uma escolha a que este realizador já habituou os espetadores por temas socialmente relevantes, a opinião pública tomar conhecimento de mais um brutal abuso recorrentemente cometido por uma instituíção religiosa católica na Irlanda de meados do séc.XX. Sobretudo pela tomada de consciência a que obriga, e recorrendo a um meio de comunicação poderoso como é o cinema, muito especialmente quando o faz por via de um filme baseado numa história verídica, as pessoas que viveram o relatado na vida real ainda existem e até podemos conhecê-las no final, e nomeado para os Óscars o que lhe dá uma enorme visibilidade.

 

O resto é um genial exercício na tentativa de demonstrar como, apesar de tudo o que nos é vendido a cada minuto, os valores essenciais continuam a ser rigorosamente os mesmos e absolutamente fundamentais, contra todas as aparências, modernismos balofos, ou poderes materias, sobre os quais a simplicidade, o bom senso, e acima de tudo a tolerância continuam a prevalecer, (incrível como neste particular pouco se avançou desde os pioneiros filosofos gregos Sócrates, Platão e Aristóteles!), se não na obtenção de notariedade e importância entre pares, tal qual elas hoje são entendidas, seguramente na saúde mental de quem delas faz, essa sim!, uma religião isenta de pecados. E depois acresce que tudo isto é feito com uma leveza extraordinária graças ao bom humor e inteligência acutilante da tal Filomena, aqui magistralmente interpretada por Judi Dench, num desempenho que ficará por muito tempo gravado na memória de quem a ele assistiu. 

 

 

 


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semtelhas @ 15:52

Qua, 05/02/14

 

A certa altura do livro A Arte de Viver à Defesa, o autor diz qualquer coisa como, "a literatura pode tornar-nos idiotas, quando começámos a ver nas pessoas que nos rodeiam meras personagens". Esta é uma afirmação que pode, provávelmente até deve, ser inserida naquelas que fazem parte da chamada verdadeira literatura. Mas o que é isso? De uma forma bastante simplista uma das interpretações possíveis é a de ser aquela que corresponde a um sentimento intrinseco a quem a profere, absolutamente honesto, que vem das entranhas e foi objeto de profunda reflexão ou, no minímo, não é algo que se diga sem alguma ponderação sobre o que tem da verdade de quem a profere. Digamos que a única ficção permitida resulta da maneira como se entende o que vai na alma de quem tem esta ou aquela atitude, tudo o resto será o realmente observado, os factos visíveis. Uma outra maneira bem diferente de relatar um conjunto de acontecimentos é acrescentar factos aos factos, tentando assim melhor transmitir a mensagem, independentemente de um menor ou maior cuidado no que esse arteficío possa alterar a realidade, o que importa é o que se pretende dizer. Grosso modo digamos que nestas duas abordagens encontram-se a esmagadora maioria dos ditos escritores. Aparte toda a hipocrisía que paira a propósito de uma suposta legitimidade em quem pode ser considerado como tal, acredito que a verdadeira razão que os distingue está na resposta à pergunta, porque é que determinada pessoa escreve. Não na conclusão mais óbvia, mais ou menos direta da resposta, mas do que está por detrás desta. Em última análise todos, ou quase, o fazem para ter sucesso, por questões de realizão pessoal e/ou materiais, a grande diferença é se o faz expondo-se através da revelação do que pensa, ou enganando os outros dizendo-lhes o que eles querem ouvir, uma escrita ao sabor da moda.

 

A leitura deste livro e a coincidência de a ter concluído no dia em que o Facebook fez dez anos, um fenómeno global, como todos os outros de tal dimensão, assente numa necessidade básica, no caso a autoestima e o reconhecimento, que teve origem na ideia de um rapaz, e fez de outro um multimilionário. Digamos que de um lado o idealista e do outro o pragmático, conduziu-me à pergunta , será que o facto de ninguém falar do primeiro, algures a viver uma vida igual a tantas outras, faz dele um idiota? É aqui que entra o livro e a tal afirmação do autor, que a partir de certo momento a literatura leva-nos a viver num mundo ficcionado. Para tentar encontrar a resposta nada melhor que conhecer que proferiu tal afirmação lendo a sua obra.

 

Claramente ao estilo americano, em contraposição com o europeu, passe o simplismo, o primeiro muito mais criativo, o segundo básicamente crú, ou, numa linguagem mais corrente, um mais comercial que o outro. Saltando as considerações estéreis já referidas a que estas etiquetas poderiam conduzir, a verdade é que alguns dos principais temas fraturantes da sociedade atual estão lá, o choque de gerações, o sucesso a qualquer preço, a homossexualidade, o insustentável peso das aparências, etc..E, lá está! para dar ênfase à mensagem uma estória muito bem construída, com controladas preocupações quanto à sua verossímelhança, o que, mesmo assim, não estou em crer que vá idiotizar quem utilize os seus personagens em exercícios mentais na vida real, mas sim ajudar a melhor compreendê-la.

 

 


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semtelhas @ 12:31

Ter, 04/02/14

 

Muitas vezes as aparências iludem mas, outras, as iludências aparudem...

 

1 - Vejo na televisão, no parlamento alemão completamente cheio, Angela Merkel dizer que a reação dos EUA e da Grã Bretanha ás acusações de vigiarem os seus próprios aliados espiando a internet não é a mais correta, e que aos alemães compete dizer não. É então que as câmaras focam as bancadas onde dezenas de deputados batem palmas frenéticamente e, correspondendo ao sorriso irónico que Merkel ostenta no rosto, ou se riem abertamente, mais discretamente, esticam-se nas cadeiras num espasmo de felicidade de quem liberta uma sentimento há muito reprimido, ou vibram mesmo com alguma intensidade face às palavras da chanceler.

 

2- Também o reitor de uma universidade onde estudavam seis jovens levados pelo mar, mortos, cujas mães insistem em mantê-los aqui, vivos, por via da tentantiva de perceber como morreram, quando afirma, aparentando alguma displiscência enquanto lava as mãos do acontecido, qualquer coisa que quer dizer quem anda à chuva mólhasse. Que, como a tragédia aconteceu fora dos limites fisícos da universidade, esta nada tem haver com a assunto. Completamente focado nos interesses da mesma, ignorando com uma frieza que nem sequer se preocupa em minimizar, o desaparecimento em moldes ainda por esclarecer de seis do seus utentes, e a situação complicada em que ficou outro.

 

3- Ainda na televisão, primeiro aparecem imagens com uma dúzia de anos, de uma mulher de aspeto que, para além de estar a sofrer um grande desgosto, aparenta uma condição humilde. Fala e percebe-se tratar-se da mãe de um estudante morto após uma praxe. Durante a peça já tinha sido dada a informação que, no ano passado, finalmente havia sido dada razão à família do malogrado rapaz de vinte e poucos anos, tendo a mesma recebido uma indemnização de noventa mil euros paga pela instituição de ensino por ele frequentada. Depois vêmos a mesma senhora, hoje, com um ar e num ambiente que respira algum poder económico, afirmar que não vai descansar enquanto não vir na prisão os culpados da morte do filho.

 

A primeira iludência aparudiu-me quando, em vez daqueles gorduchos, confiantes, e seguramente super eficazes alemães todos vibrantes de ironia, porque não sarcasmo?, perante o discurso dos responsáveis dos EUA e da Grã Bretanha, curiosamente precisamente os países que, há escassos sessenta anos atrás, travaram o avanço de outro brilhante alemão e seus pares, que agora vi num espaço em tudo áquele semelhante naquela mesma Berlim. Uma das razões porque o conseguiram fazer foi não terem sido levados suficientemente a sério, surpreendendo o mundo, provocando milhões de mortos e um retrocesso civilizacional de que ainda hoje todos sofremos.

 

Compungido pela dor, profundamente preocupado com a atual falta de valores humanos, que leva os jovens a procurar a direcionar a sua energia para atos em tudo contrários aquilo para que deve servir um estabalecimento de ensino em geral, uma universidade em particular, lugar de onde é suposto sair um conjunto de pessoas formadas em matérias específicas, mas sobretudo com as capacidades humanas que mais interessam a uma sociedade desenvolvida, tolerância, solidariedade, empenhamento cívico. Infelizmente a realidade deu-nos um merceeiro preocupado com as contas do estabelecimento, e que alguns dos clientes andassem a dizer mal dele por não os deixar recorrer ao livro e pagarem no fim do mês.

 

Vejo uma noticía onde aparece uma mãe cujo tempo ensinou a superar a pior das dores, a perda de um filho, e lhe trouxe a capacidade de não alardear ódio a pessoas que desconhece, bem como às circunstâncias em que se deu a tragédia. Não sei como ou se o facto de ter recebido a quantia que recebeu, resultante da morte de um filho, ou o destino que lhe deu, ajudaria nesse processo tornando-o realidade e não ilusão, mas o tê-la recebido e a amargura que mantêm, essa sim, é uma realidade que legitima a dúvida desde que isenta de julgamento.

 


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semtelhas @ 15:33

Seg, 03/02/14

 


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semtelhas @ 11:47

Dom, 02/02/14

 

- Partido de extrema direita à frente nas sondagens para eleições europeias em França - Como é hábito e com os custos do costume, são estes que vão acabar com a brincadeira!

 

- Governo espanhol diz que dificultar o aborto é bom para a economia - Se calhar é verdade. E que tal matar velhinhos e aleijadinhos? Também  ía fazer bem à economia, não?

 

- Ikea sobe nas vendas em Portugal e atribui o facto a aumento de confiança dos portugueses - Pensei que este tipo de publicidade enganosa era exclusivamente do governo português!

 

- Japoneses criaram um sutiã que só abre perante o verdadeiro amor- Analisa os batimentos cardíacos. Só pode é ser utilizado por senhoras com nervos de aço! Daquelas que se estão a ser violadas se mantém firmes e tranquilas. 

 

- Há sete mil anos éramos de pele escura e tínhamos olhos azuis - Deve haver aí confusão! Sermos todos descendentes de pretos com olhos claros? A côr dos olhos confere, mas a da pele devia ser por não se lavarem...

 

- Dilma garante que pagou jantar da sua breve passagem por Lisboa - Aquilo parece que também foi só uma entrada de caracois seguida por umas esquitas de fígado de porco. Ou não seja ela líder do Partido dos Trabalhadores!

 

- Susan Boyle trabalha pelo salário mínimo - Parece que ainda estou a ver meio mundo estarrecido por uma gorducha inglesa loura ter um vozeirão. Uns ingénuos outros hipócratas! O que interessa a voz? Tem é que ser boa!

 

- Papa na capa da Rolling Stone - Para já ainda vai servindo para vender revistas, jornais, audiências de televisão, mas se não dá corda às sapatilhas ainda acaba como a Susan Boyle!

 

- Avaliação de desempenho definida como critério principal para despedir- Quem avalia os critérios do avaliador? Mais vale o patrão ou o chefe dizerem logo, vais embora porque eu quero!

 

- PS Porto não quer assunto dinheiros europeus discutido na praça pública - Quem é que se esqueceu de avisar estes inocentes que este tipo de comentários não são para fazer em público?

 

- Anúncio de Scarlett Johansson a bebida israelita provoca forte reação contra nos EUA - Ou não sejam a Coca Cola e a Pepsi empresas dominadas por multimilionários palestinianos.

 

- Edward Snowden proposto para Nobel da Paz - Parece que lá para a Noruega acham que para ficar tudo pacífico primeiro é preciso lavar a roupa suja todaPara o ano vão prôpor os média de noticías côr de rosa.

 

- Abrunhosa, grande capital percebeu que não precisam da democracia - Pois...como ao longo destes séculos todos a democracia não conseguiu prescindir do grande capital...

 

- Obama aumenta salário minímo - É para aí a terceira vez desde o inicío da crise...e aquilo contínua de vento em popa para grande desespero dos austeros dirigentes europeus que lhe profetizam a desgraça há anos! 

 

- Reposição dos feriados não avança depois de abstenção do CDS - Ou seja, para eles é indiferente que seja ou não feriado? Ou porque mesmo abstendo-se sabiam que o pessoal ficava a ver navios? Sempre ao lado dos reformados e do povo da lavoura!

 

- Há gente na RTP que não faz puto, afirma Alberto da Ponte - O Relvas já se foi embora há uns tempos mas deixou este fiel acólito por aí a trovejar estas pérolas destinadas a porcos, neste caso todos funcionários da televisão pública. Um dia este Ponte vai abaixo.

 

- Portas diz que praxes estúpidas e violentas deviam ser banidas - O sr. de La Palisse não diria melhor. Quanto a factos o costume, uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. 

 

- Passos promete a Jardim renegociar a divída da Madeira quando a Troika for embora - Patrão fora...já se está a ver por onde vai recomeçar o regabofe.

 

- Depois da Luz e de Coimbra o FC do Porto voltou a perder, desta vez na Madeira com o Marítimo - Somando assim tantas derrotas em meia época como nas últimas três! Para a próxima Pinto da Costa tem que avisar a nação portista que, no FCP, o ano é para limpezas. É só para o pessoal entender!

 

- Portas foi anunciado como Passos Coelho num congresso democrata-cristão em Madrid - Depois, enquanto articulava a costumeira saloiice num castelhano fluente, dois espanhóis divertidos e batendo palmas: mira como o Conejo fala bem!, o outro, este não é o Conejo deve ser o Palhaço Rico lá do sítio.

 


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semtelhas @ 12:07

Sab, 01/02/14

 

Com o sol a bater na janela do quarto a anunciar um dia de autêntica primavera, ainda enroscádos perguntei-lhe, apetece-te meter-te em aviões, esperar horas em aeroportos, aturar estrangeirada, táxis, e sei lá mais o quê? porque que é que, depois de tratares dos teus assuntos, não nos metemos no meu carro, é maior que o teu, mais seguro, e percorrê-mos os caminhos de Portugal...? Acabámos lá em baixo, o tempo já começa a aquecer, pode ser que até dê para dar uns mergulhos no mar... comêmos peixe, bebêmos branco fresco...ainda não tinha acabado de expôr a minha ideia quando me apercebi do que acabara de sugerir, uma viagem de carro depois do que acontecera aos seus pais! Perfeito, respondeu sem me olhar privando-me da possibilidade de me aperceber da sua real reação... amanhã começo a tratar de tudo, vou, vamos! a Penafiel ver os velhotes e falar com o meu avô e até iniciámos o périplo logo ali no Gerês!

 

Só não foi assim porque durante essa semana Laura teve que se deslocar várias vezes ao Porto, ficámos a dormir em Penafiel numa espécie de preparação para a viagem que se seguiria e numa vã tentativa de fugir à memória dos seus pais que ali estava muito mais presente, apesar de me sentir desconfortável, até contrariado por "abandonar" os meus bichos, mas estava perante a primeira prova que tinha que dar de abdicar da minha liberdade, não podia falhar! Conseguimos que a dona Lucília, Lucília, insistia comigo para que a chamasse só pelo nome, aceitara deslocar-se a minha casa, era relativamente perto, a minha filha leva-me lá, disse-nos, para os alimentar e vigiar, promovi as "apresentações" antes de saírmos, mas isso não evitava as saudades. A semana passou depressa e até tive oportunidade de, duas vezes, me deslocar a minha casa para as matar. Durante o vaivem constante, no único jantar que com ele estivemos, o avô disponibilizou-se para a ajudar no que fosse preciso.

 

Quando finalmente partimos para o  Gerês, na direção de uma estalagem mesmo no meio do rio onde eu estivera uns anos antes, e sem fazer qualquer reserva, sistema que combinámos vir a utilizar em toda a viagem para assim lhe dar um maior cunho de aventura, Laura tinha quase todos os assuntos bem encaminhados. A quota que a mãe tivera na clínica veterenária de facto representava umas largas dezenas de milhares, mas que seriam pagos ao longo de meia dúzia de anos, o pai tinha uns dinheiros a receber dos quais ficou responsável um dos seus colegas de escritório que ela conhecia bem, uma quantia que daria para liquidar todas as despesas pendentes pouco sobrando, para uma instituíçao de solidariedade, dissera Laura ao despedir-se do amigo. Quanto às casas, após conversarmos os três, ela o avô e eu quase exclusivamente como ouvinte, decidiu colocar o apartamento do Porto à venda ficando a situação da "casa da praia", como lhe chamava, para resolver mais tarde, a ver no que isto entre nós vai dar, pensei para mim. Às duas ou três tentativas que o avô fez para abordar o seu futuro em geral e em termos profissionais em particular, ela esquivou-se gentil mas firmemente, uma prova que ainda não tinha ideias claras sobre isso, circunstância que me levou crer eu próprio estar, de alguma maneira, nele envolvido, o que se por um lado me agradava, por outro, começava a dar à nossa relação um caráter de seriedade para o qual, verdadeiramente, só agora  estava a despertar. Haviam longos anos, alguma vez fora de outra maneira? que a minha vida era quase rigosamente o que eu queria, uma independência absoluta, e da qual nunca abdicara mesmo quando tinha que pagar bem caro para a manter, sempre que a sentia ameaçada, quer pessoal quer profissionalmente! Estaria preparado para, mesmo parcialmente, dela abrir mão?

 


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"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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