semtelhas @ 13:25

Sab, 30/11/13

 

A leitura pode ser um prazer sem limites, proporcionar sensações ímpares e ajudar a guardar recordações para toda a vida. Senti-o lendo autores de todas as latitudes e de todos os tempos mas nunca com a magia que o fazem alguns sul-americanos, e quem por lá tendo passado conseguiu captar aquele ambiente quase hipnótico, como por exemplo o consul inglês Malcom Lowry como tão bem o comprova em Debaixo do Vulcão.

 

Ninguém como Gabriel Garcia Marquês terá conseguido absorver essa ambiência, desde logo fruto da realidade envolvente, mas sobretudo pela capacidade de a misturar no sentir das pessoas de forma a torná-las uma extensão daquele natureza transbordante de exotismo, cheiros e cores, um mundo onde os sentidos se obrigam a atingir os mesmos limites que tornam as gentes excessivas. Afinal não somos todos produto do que nos rodeia?

 

Borges, Bolaño ou Onetti são de outra guerras, Isabel Allende ou Vargas Llosa conseguem em parte passar esse milagre que é literalmente arrancar uma pessoa à realidade, e transportá-la para esse universo mágico que preenche as suas maravilhosamente criativas mentes, através de uma literatura que com simplicidade e honestamente procura dessa maneira despretensiosa servir o leitor.

 

Descobri agora um outro autor colombiano, Juan Gabriel Vasquez, ainda relativamente novo, que me fez recuar aos meus tempos de juventude quando li pela primeira vez Cem Anos de Solidão. O livro é O Barulho das Coisas ao Cair, e tem todos os ingredientes que agarram e envolvem quem o lê, desde a primeira à ultima página, recorrendo exatamente aos mesmos métodos do mestre Gabi do qual é óbvio discípulo.

 

 
 
 

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semtelhas @ 12:04

Sex, 29/11/13

 

Livros como Meridiano de Sangue, Este País Não É Para Velhos, ou A Estrada, de Cormac McCharty, têm em comum a violência protagonizada por gente mais ou menos marginalizada pela sociedade ou por circunstâncias que a levaram a essa situação, de entre os quais emergem alguns, os mais fortes, que acabam por se tornar numa espécie de vingadores sem quaisquer escrúpulos, que, em nome desse tipo de sobrevivência, respondem vivendo no limite pouco se importando com seja o que fôr para além de si próprios, despidos de qualquer vestigío de sentimento ao qual chamam idealismo e entendem como fraqueza. Só em Suttree, a mais biográfica das suas obras, o autor condescende nesta visão radical da sociedade, talvez porque ali explica as razões que a ela levam através do relato do ambiente em que viveu até à idade adulta, numa cidade vítima da desindustralização e os respectivos efeitos, fábricas abandonadas, decadência, desemprego, pobreza e resultante marginalidade.

 

Após a adaptação de Este País Não è Para Velhos ao cinema, terá sido convidado a escrever um argumento diretamente para aquele efeito e assim nasceu O Conselheiro. O realizador escolhido foi Ridley Scott, Blade Runner, O Gladiador, ou o recente Prometeus. Ou seja se em Este País... os eleitos foram os irmãos Cohen, reconhecidos sobretudo pela força essencial do argumento nos seus filmes, neste caso optou-se por um realizador cuja principal característica é a espetacularidade das suas fitas, apesar de, tratando-se em ambos os casos de verdadeiros mestres, a área para que estão menos vocacionados ter sempre grande relevância. Talvez por isso assistir a este filme resulte numa experiência frustrante, uma permanente sensação de quase porque a coisa nunca chega a consumar-se. Planos sensacionais, marca do realizador, atores fantásticos mas que nunca deixámos de sentir que estão a representar, e sobretudo um belo argumento em boa parte desperdiçado por uma realização que se perde no acessório, nomeadamente no sexo, para menorizar, e até creio que involuntáriamente caricaturar o principal, a amargura e maldade intrínseca dos maus da fita.

 

 

 

 

Ainda assim, especialmente em dois ou três diálogos, transparece difusa a ideia central de mais uma grande estória de Cormac McCharty: nesta vida cuja realidade é tão dura, o que verdadeiramente interessa é contar sempre com o pior, ter o pragmatismo que alguns ganham à sua própria custa, olho por olho, dente por dente, única forma de resistir-lhe e aceitar o inevitável e raramente idílico desenlace. Um outro género de religião...

 


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semtelhas @ 14:18

Qua, 27/11/13

 

Quando acordei não reconheci nada do que me rodeava, onde estava? Que tinha acontecido? Foi uma dor de cabeça intensa e uma sensação de enjôo que vinha das entranhas e se espalhava por todo o corpo, quase não me deixando mexer, essa perceção de existência fisíca, que me fez ter a certeza de não estar a sonhar. Aos poucos fui inventariando o que o olhar ía captando limitando-me a rodar os olhos em volta porque tirar a cabeça do travesseiro parecia-me ser um risco demasiado elevado. Uma outra cama ao lado da minha, igualmente pequena e com os cobertores atirados para trás sinal que alguém ali tinha dormido, uma mesita com uma cadeira de cada lado, um sofá, as portas do armário embutido e, ao fundo, antes de uma porta onde estavam pendurados várias folhas de papel, uma outra entreaberta que deixava ver uma parede em azulejos. Dormira num quarto de hotel. Foi nesse momento que me lembrei.

 

Como nos filmes de ficção a rodagem começou pelo fim, a montagem iria dar uma lógica aquilo. Nas caves do Vinho do Porto, em Gaia, fizeram-se uns quantos bonecos, um por cada um dos cantores franceses que faziam parte do trabalho, uma coprodução entre a televisão portuguesa e um canal francês para mostrar naquele país, e depois ser vendida a canais de todo o mundo. Uma reportagem que tinha por assunto central esse magnifíco vinho do Douro, fruto do microclima que por ali se sente, do calor solar do dia retido nos abundantes xistos das encostas das montanhas, que mesmo durante as noites gélidas não deixa de aquecer as terras transmitindo às vinhas aquela espessura, doce e delicado sabor que posteriormente se pode provar bebendo o precioso néctar. Eram três os artistas, todos relativamente bem conhecidos, dois homens ainda jovens dos quais não recordo o nome e Nicoletta, na altura já na meia idade.

 

Depois de mostrar alguns dos locais mais emblemáticos da cidade do Porto do final dos anos setenta do séc XX, avançámos com armas e bagagens, naquele tempo muito mais volumosas do que hoje em dia, vários carros que formavam um autêntico comboio, por ali acima rumo às montanhas mágicas, percorrendo estradas também elas bem diferentes das que hoje conhecemos. Demorámos algumas horas até a S. João da Pesqueira onde se montou o quartel general, num hotel com vistas fabulosas sobre o rio Douro. Ao longo de três dias o trabalho foi intenso, até carris para deslizamento de câmaras de filmar montámos! Explorámos quintas e adegas, percorremos inúmeras ravinas para fazer o melhor retrato possível das vinhas no seu habitate original, visitámos casas maravilhosas em si mesmas, enormes e excecionalmente bem decoradas, mas sobretudo localizadas em sítios inacreditávelmente bonitos. Antes de voltarmos ao Porto, num desses lugares fez-se uma festa de despedida...

 

Desse evento retenho um convívio fantástico entre toda a gente, as equipas técnicas de ambos os países e das quais eu fazia parte, os artistas, os donos das quintas e a população local. A coisa decorreu num restaurante que tinha um enorme espaço exterior pelo que se tratou de um verdadeiro arraial em que participaram dezenas de pessoas. Comeu-se lindamente, dançou-se, cantou-se, nunca os artistas o haviam feito tão bem, com tanta alma! Como sempre nestas ocasiões o pessoal foi dispersando restando, altas horas, uns quantos resistentes, os habituais rapioqueiros e os maçaricos, cabendo a estes últimos, não raras vezes, o papel de bombos da festa ou bobos da corte, vítimas do gozo dos mais experientes. Acontece que eu era o mais novato de todos, pelo que quando me convidaram para aquela disputa para ver quem aguentava beber mais daqueles pequenos copinhos cheios de bagaço purissímo, ainda por cima bem fresco o que resultava numa espetacular sensação de gelo à entrada, e de quase insuportável fogo enquanto fazia o seu caminho goela abaixo e consequente formidável e cavalgante euforia, estava longe de pensar que a última imagem que haveria de ter daquela inesquecível saga, no manhã seguinte metade do pessoal desapareceu, seria ver o mundo a virar-se ao contrário quando me levantei depois de beber, disseram-me, mais de uma dúzia dos tais copitos e aterrar ali mesmo. Despertei poucas horas depois na cama para onde me levaram, como se me tivesse passado um comboio por cima, e já cheio de saudades daquele semana incrível. 

 


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semtelhas @ 14:24

Seg, 25/11/13

 

Aprendi há muitos anos uma máxima que diz a sorte ser o ponto de encontro entre a preparação e a oportunidade. Por mais que tente desmontar esta teoria acabo sempre por concluir que, independentemente da preparação ser mais, ou menos elaborada, e as oportunidades serem muitas ou poucas, encaixa na perfeição em qualquer das circunstâncias que para o efeito procuro como teste. Mesmo no mais comezinho dos casos, como quando alguém se dirige ao quiosque mais próximo para jogar no euromilhões, tem que ir preparado com pelo menos dois euros para tentar a sua sorte na oportunidade que vai ter aquando do sorteio

 

Acreditar que a sorte é algo que cai do céu aos trambolhões é um erro em que a maior parte das pessoas caem, muitas vezes só despertando de tal ilusão quando em boa parte da vida o comboio já lhes passou à frente em várias ocasiões sem que para isso estivéssem despertas ou com a vontade suficiente de o apanhar. Se há coisas que nascem com as pessoas como, por exemplo, o talento para esta ou aquela atividade, já a capacidade para trazer essa realidade à luz do dia, passa muito pelo empenho, em todos os sentidos, do felizardo ou felizarda que foram abençoados com essa possibilidade. O mundo está cheio de talentos mas os que conhecemos são uma infíma parte do total.

 

Quando se chega a treinador de clubes como o FCP, o SLB ou SCP, acredito que grande parte das questões atrás referidas já foram ultrapassadas mais que uma vez na vida, trata-se agora de repetir o processo a um nível mais elevado. No caso de Jesus o desafio aconteceu há três ou quatro anos, Jardim apesar de tudo era relativamente bem conhecido antes de ir para o Sporting, mas Paulo Fonseca configura uma situação diferente pois as provas dadas enquanto treinador de sucesso limitam-se a um ano muito bom em Paços de Ferreira, sem mais seja o que fôr que reforce um estatuto para treinar uma equipa com jogadores de topo.

 

Não é a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez que Pinto da Costa aposta mais naquilo que ele acredita ser talento, mas sobretudo ambição de quem, estando a começar uma carreira muito tem que se esforçar por o provar, e também na sua própria enormissíma experiência no mundo do futebol, muito mais fácilmente transmissível e aceite por um jovem ambicioso que por um qualquer consagrado. Para não ir mais atrás basta lembrar Villas Boas e Vitor Pereira, especialmente o primeiro, dois jovens práticamente sem curriculum que PC ajudou e protegeu até a limites pouco prováveis, nomeadamente VP, com os resultados conhecidos.

 

Acontece que, sendo o problema sempre o mesmo, um barco muito grande, gigantesca responsabilidade, para alguém tão inexperiente, é de vital importância o tal apoio da retaguarda de que é habitual falar-se no FCP. Construir uma equipa, impôr um estilo de jogo, demora, fazê-lo constantemente debaixo de grande pressão exige imenso e, se as coisas começam a correr menos bem gera-se insegurança a qual, naturalmente, atinge em particular os menos experientes, e se estes líderam então o mal vai por ali fora e, às tantas, já ninguém faz nada de jeito, acabando tudo e todos à procura de bodes expiatórios.

 

Este fim de semana foi paradigmático quanto ao que costuma ser chamado de sorte e azar em jogos de futebol, Benfica e Sporting marcaram nos últimos minutos sem que para isso tivéssem feito grande coisa, e FCP, depois de ter passado boa parte do jogo a desperdiçar golos de uma maneira pouco aceitável numa equipa deste nível e com estas responsabilidades, sofreu o golo do empate a dez minutos do fim para depois dar continuidade à triste saga. Fonseca falou de injustiça e pouca sorte num jogo ao qual Pinto da Costa assistiu, bastante encolhido e, desgraçadamente, de coração muito apertado. Assim não há sorte que resista nem coração que aguente. Haja cuidado!

 


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semtelhas @ 12:44

Dom, 24/11/13

 

 

 
 

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semtelhas @ 11:49

Sab, 23/11/13

 

- Manuel Sobrinho Simões: este governo fez uma espécie de destruição criativa - Percebemos professor. Tal qual as células cancerígenas que tão bem conhece.

 

- Valores resíduais no esgotos lisboetas comprovam elevado consumo de cocaína - Já agora talvez não fosse mau percorrer o caminho para trás, até à origem. Podia ser que acabasse em algum ministério, balneário, ou até, quem sabe! aquartelamento de forças da ordem.

 

- Mourinho diz que lê a biblía antes dos jogos - Que o homem é egocêntrico não é novidade para ninguém, agora chamar biblía aquele cadernito com que anda sempre a apontar recomendações, chamar-lhes salmos, apóstolos aos jogadores e passar a vida a armar-se em Cristo já é demais!

 

- Houve um senhor que gastou meio milhão de euros em chamadas para numeros especiais só para se divertir - Gastar milhões que não são seus só para se divertir? Onde é que está a novidade? Este ao menos vai preso.

 

- César das Neves diz que aumentar salário minímo é estragar a vida dos pobres, e que a maior parte dos pensionistas é vigarista - Sendo este senhor reconhecidamente um fervoroso religioso, porque não o internam num mosteiro pleno de fogosos jovens monjes, e lhe dão uma folha de couve para comer...quer dizer, escrever.

 

- O Pingo Doce ameaçou os funcionários por rejeitarem um banco de horas em vez de pagar horas extra - Deve ser engano! Então esta não é aquela mercearia grande cujo merceeiro-mor afirma que o mais importante e caminho único para sair da crise é ser justo com os mais desfavorecidos? Por estas e por outras é que ele e os rebentos têm o que têm.

 

- A FIFA adiou o fim a votação para a eleição do bola de ouro - Parece que foi no intervalo do Suécia-Portugal. Em Genéve ou lá onde é, o pessoal do escritório estava precisamente a contar os votantes naquela altura e repararam que eram poucochitos, vai daí, vamos dar mais um tempito aos gaijos. Foi só por isso!

 

- Pacheco Pereira afirmou que é preciso acabar com o cinismo dos poderosos - Nem parece do Pacheco! Pode tirar-se-lhes tudo, menos isso. Era quase como querer que o Portas fosse autêntico, ou o Cavaco tratasse o governo PSD/CDS como merece.

 

- Ramalho Eanes vai ser homenageado pela dignidade, isenção e respeito que pautam a sua vida pública - Salvou o país de uma ditadura, prescindiu de pensões milionárias, manifesta-se sempre na hora certa e nos termos mais adequados e, pasme-se, não tem medo de assumir ser do FCP! Mais! Até tentou criar um partido político honesto em toda a linha! Este homem existe?

 

- A Pepsi quis matar Ronaldo para vender mais na Suécia - Afinal parece que o Pedroto tinha mesmo razão, aquilo por lá é muito altos e louros, e não é só na bola.

 

- O Expresso publicou um estudo onde se conclui que os portugueses são felizes - Ou a pergunta foi feita depois do Suécia-Portugal, ou as expectativas são baixas, ou então este jornal isento está ao serviço de interesses inconfessáveis. Deve ser tudo junto. 

 

- A policía deixou os colegas de profissão invadir a escadaria da assembleia da republica durante uma manifestação - Os sindicatos dizem que foi para impedir um banho de sangue!!! Os manifestantes íam armados? Ou só seriam parados se abatidos? Será que estes tecnocratas e meninos queques de merda que estão no governo não veêm para além do seu próprio nariz? Que estão a brincar com o fogo? Para a próxima ponham lá a tropa!

 


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semtelhas @ 12:45

Sex, 22/11/13

 

Inacreditável e profundamente lamentável, até por tanta gente o fazer, a forma como os adultos tendem a substimar a capacidade de compreensão e interiorização das crianças, sistemáticamente esquecendo que também elas já o foram e o que por isso sofreram. Sempre pré ou mesmo ocupados pelas inúmeras tarefas de um adulto, acabam por deixar para segundo plano a devida atenção às suas crianças mais pequenas, e ao mundo imaginário em que habitam, e que também já foi o seu.

 

Pior que isso, usadas e abusadas, tantas vezes chantageadas, tanto mais quanto o meio onde estão inseridas seja atrasado ou ferido pela ignorância, tentam escapar, salvar-se e salvar os que amam que se recusam a acusar. Fazem-no até ao limite do possível, não raras vezes ficando indelévelmente marcadas pelo sofrimento a que foram sujeitas para, em muitos casos, irremediávelmente caírem nos mesmos erros e tentações dos seus progenitores, na verdade única maneira de suportarem uma dolorosa existência.

 

No ambiente rural da Dinamarca do anos sessenta do séc. passado, uma família, pai, mãe, um filho de dezoito outro de onze anos, e uma menina de catorze, que vivem de uma pequena mercearia inserida na própria casa. O filho mais velho ausente a estudar numa cidade, e os restantes, na habitual luta pela sobrevivência os pais, e os filhos ainda ambos na escola da aldeia, que, como todas as outras, é constituída por uma comunidade que gira à volta da religião, da política... da competição em todas as suas facetas.

 

Retrato implacável de uma vivência onde a mentira, a falsidade, a violência, o medo, todas filhas da ignorância, e às quais se junta o incesto em torno do qual a estória é construída. Relato feito pelo olhar do rapaz de onze anos, uma doce e imaginativa criatura, cuja ingénuidade e delicadeza, absolutamente desconcertantes, porque não só se recusa  a aceitar as monstruosidades a que assiste como, sendo grotescamente utilizado pela chantagem, objetiva e emocionalmente, quase o levam a oferecer-se em sacrificío.

 

Uma prosa numa linguagem infantil, direta, autêntica, verdadeira e sobretudo simples, através da qual se pode perceber como as crianças têm essa formidável capacidade de transformar um pesadelo em algo minimamente aceitável, um enorme esforço misto de sobrevivência e incansável tentativa de perdão, o qual a na maior parte dos casos acaba por fatalmente ser mal sucedido, mais fruto da cegueira de quem prevarica e da passividade dos seus pares do que de quem quer perdoar. O livro, A Arte de Chorar em Côro.

 

 

 

 


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semtelhas @ 12:30

Qui, 21/11/13

 

Sentindo o cerco do tempo, da sua escassez, apertar-se, Mário Soares reage como só os homens que por natureza e destino, com os quais também as circunstâncias colaboraram, o fazem, elevando à máxima potência e tentando levar à prática até às últimas consequências, das quais por convicção e condição, em boa verdade já nada temem, aquilo que foram as mais profundas crenças de toda a sua vida.

 

Ao longo dos quase quarenta anos que Portugal leva de democracia este homem esteve sempre presente quando a mesma, por várias razões, esteve em causa. Uma vez conquistado esse direito durante boa parte da ditadura de meio século que a antecedeu, durante o qual prescindiu da boa vida que a sua família lhe podia proporcionar, para lutar pela libertação dos seus compatriotas, tornou-se no seu principal protagonista.

 

Após os primeiros anos revolucionários, quando o país resvalava parecia que inapelávelmente para o comunismo, nesse tempo para muita gente, sobretudo fruto do enorme atraso e ignorância, ainda um sistema milagroso, próximo da perfeição, utopia que viria a ser desmascarada mais de uma década depois, foi ele o principal garante da liberdade recentemente conquistada e ainda tão frágil. Em 1986 liderou a nossa adesão à comunidade europeia o que verdadeiramente virou o país do avesso a ponto de, decorridos quatro décadas estar incomparávelmente melhor em práticamente todos os rácios que mais importam. Depois, enquanto presidente da republica, numa eleição que constitui ela mesma uma espécie de manutenção da democracia porque partindo com 8% das intenções de voto em poucas semanas inverteu a tendência, acabando por derrotar a candidato da direita por 1%, quando este, juntamente com um governo baseado em gente do tempo da outra senhora e liderado pelo frio e tecnocrata Cavaco, se preparava para restaurar muitos dos interesses entretanto perdidos, inaugurou uma nova forma de estar entre o poder e o povo através das chamadas presidências abertas, durante as quais, por períodos nunca inferiores a uma semana, saiu da capital e se instalou noutras zonas do país. Durante esses períodos fazia-se acompanhar pelos membros do governo que lhe pareciam os mais adequados para tratar dos assuntos em que a respetiva zona era mais carente, promovendo a descentralização e o contacto direto entre eleitos e eleitores.

 

Hoje, claramente debilitado, perante a situação de mudança de paradigma da sociedade em que estamos inseridos, resultante do liberalismo exacerbado nascido da vingança do longínquo Maio de 68 e consequente reforço do estado social, consubstânciado nas políticas de Tatcher e Reagan, e mais recentemente tendo como bode expiatório a luta contra o terrorismo, que levou à falência da economia às mãos da alta finança que realmente nos (des)governa, nomeadamente das mais frágeis como é o caso da portuguesa, não resiste a gritar o mais alto que a sua atual realidade o permite, numa magnifíca demonstração do que lhe vai na alma. A efémera ilusão da imortalidade? Concerteza. Mas acredito que acima de tudo, muito acima, o indomável apelo da liberdade. Caberá agora aos atuais interpretes, de entre os quais ele foi o mais brilhante, daquilo que é a governação, saberem aproveitar inteligentemente o precioso legado que este notável homem insiste em nos deixar.

  


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semtelhas @ 14:41

Ter, 19/11/13

 

Quando era miúdo haviam umas coleções de imagens de animais que eram constituídas pelos papeis que embrulhavam uns rebuçados, uma espécie de açucar caramelizado pelo que quando sujeitos a algum calor lá íam os cromos, ou melhor as vitórias porque era este o nome da dita coleção, e de entre os quais se destacavam três ou quatro bichos muito mais difíceis de sair, isto é de servirem de papelito de proteção à guloseima. Lembro-me de três, o cabrito, o bacalhau e a cobaia, mas penso que eram quatro e conhecidos como os carimbados. Era atrás deles que toda a pequenada andava para depois os colar no pequeno caderno onde o deviam ser todas as vitórias. Para obter uma destas preciosidades era preciso comprar para aí quinhentas das outras. Também no mundo do futebol português há meia dúzia de cromos carimbados, que verdadeiramente fazem a diferença, por cada um deles polulam por aí montes de Brunos Carvalhos, jogadores sérvios ou Kléber's.

 

Pinto da Costa

 

Já foi dito práticamente tudo dito sobre este fenómeno de excelência que em boa hora caiu em sorte ser do Futebol Clube do Porto. Durante esta semana foi noticía pelo seu internamento relacionado com conhecidos problemas cardíacos. Independentemente das razões que realmente o levaram ao hospital, mais, ou menos programadas, parece cada vez mais evidente que este homem cujo combustível para a sua brilhante vida sempre foi o seu inabalável imenso amor pelo FCP, sem ele jamais poderá sobreviver. Concerteza, mais dia menos dia, alguém lhe irá colocar a fatal questão, uma vida sem amor ou um amor que é maior que a própria vida. Como será que alguém tão irredutívelmente dependente de paixões como ele irá decidir?

 

Cristiano Ronaldo 

 

Goste-se ou não do estilo enquanto pessoa, essencialmente básico, comum a tantos outros que  tal como ele foram educados num meio pobre, logo escasso naquelas coisas que podem dar a uma pessoa uma visão, digamos, mais moderna de como estar, a verdade é que naquilo que mais importa ele não falha, é trabalhador, honesto, apoia a família e, a somar a tudo isto vai dando mostras de algum bom senso, nomeadamente a propósito das pessoas de que se rodeia. Depois há aquele enorme talento para jogar a bola que, quando o quer mesmo, pode resultar em coisas tão importantes como por exemplo levar às costas uma seleção, e com ela um país, com o que tudo isso tem de positivo. Imagine-se como as coisas poderiam ser, quantos riscos poderiam ser evitados, se ele quisésse mais vezes...

 

Treinador Português

 

Infelizmente ainda não surgiu nenhum que reúna em si mesmo a inteligência de Mourinho, o talento de Jesus, e a frieza de Paulo Bento, mas os últimos anos têm provado a enorme capacidade que os treinadores portugueses têm enquanto líderes se lhes forem dadas as melhores condições. Chega a ser espantoso, pela surpresa, mas se a questão fôr analisada mais friamente percebem-se várias coisas, que somos os mais parecidos com os brasileiros, onde mora a essência da alma do futebol, mas também europeus e nomeadamente muito ligados a Inglaterra, país pátria do futebol, geográficamenete muito próximo e na origem de boa parte dos clubes nacionais, e sobretudo um povo onde a sagacidade é raínha, para o bem e para o mal, característica que é hoje fundamental numa indústria onde os operários ganham milhões.

 


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semtelhas @ 14:56

Dom, 17/11/13

 

Areal movediço feito de gaivotas

Aqui e ali barcos formam ilhotas

Velhotes de rostos sulcados, redes 

Esplanadas, curam outras sedes

Jovens bailam longe na embarcação

Afadigam-se no belo azul mar chão

Forte cheiro a peixe paira no ar

Pesca generosa, abençoado mar

Empurrados para a sobrevivência

Morno ambiente de decadência

Vago e doce relaxamento, ausência

Sereno esquecimento, paz intensa

Traz sentir de liberdade imensa!

Turistas tranquilos bebem cerveja

No semblante tudo o que se deseja

Can you take us a photo please?

Ofcourse, I admire your love for this

Sea and fell all that is a pleasure

Great! Hope you enjoy the treasure

Na manhã outonal o sol espreita

Gato remelado estica-se e aproveita

Mulheres esfalfam-se em limpezas

Alegria das crianças afasta tristezas

Luz e cor, misto de calmo burburinho

Banho de serenidade para o caminho

Casas pequenas sucedem-se em fila

Por ali dia-a-dia toda a vida desfila

Castelos para descanso de guerreiro

Restaurantes, cafés, o mundo inteiro

Aparentemente imunes à frívolidade

A inocente escolha pela simplicidade

 


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semtelhas @ 12:46

Sab, 16/11/13

 

 

 
 

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semtelhas @ 12:35

Sex, 15/11/13

 

Temos uma enorme capacidade de sofrimento que, a maior parte das vezes, quando as circunstâncias não resultam num golpe de misericórdia e permitem a sobrevivência, e se levado ao extremo, conduz a uma espécie de incrível resiliência fruto da intrínseca assunção do próprio mal, uma vacinação pela qual o veneno é interiorizado passando assim a funcionar como escudo, resistência mas também maleficío. Uma vivência possível, quase sempre marcada pelos excessos herdados do mal inoculado.

 

A história está pejada destes exemplos, e o mundo da arte em particular talvez porque nesta área as vitímas tiveram a capacidade de relatar essa realidade vivida. Um dos mais notáveis destes relatos a que tive acesso é o livro Luz de Agosto, de William Faulkner, a estória de um miúdo desde sempre vitíma de violência e consequente curta vida de terrível psicopata, mais do que única forma de sobrevivência, único momento, o da consumação do ato de assassinar, pelo qual chega a paz interior.

 

Roman Polanski será porventura um dos paradigmas desses homens e mulheres a quem o sofrimento escolheu, e que o seu enorme talento tem vindo a transformar ao longo da sua atribulada vida num verdadeiro desfile da arte pura, paralelamente ás tragédias que por ela foram desfilando, desde o desaparecimento da mãe nos campos de concentração nazis, passando pelo morte da mulher num incêndio na casa de ambos, até à acusação de violação de menor que até hoje o persegue.

 

No filme Vénus de Vison o realizador atinge o ponto mais alto deste processo, ou da sua catárse, num claro exercicío autobiográfico filma a sua própria mulher, quem melhor para o fazer? sensualissíma e superenxuta, e um excecional ator francês muitissímo parecido consigo mesmo, para numa demonstração de coragem só ao alcance de quem é muito superior a todas as minudências desta vida, se revelar completamente durante cerca de noventa sublimes minutos. Um raro encontro perfeito entre o sentido na própria pele e a capacidade de o transmitir.

 

 

 

 


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semtelhas @ 18:45

Qua, 13/11/13

 

- Preços do petróleo podem ter sido manipulados durante anos - Podem? De facto o pessoal já andava desconfiado de qualquer coisa. E agora já não são? E assim nos vão engonhando durante anos!

 

- Governo vai criar entidade para controlar preço dos combustíveis - Então não há uma Entidade Reguladora em funções? Deve ser uma entidade para controlar a entidade. Mais um tacho para os amigos, o que vale é que ganham todos o ordenado minímo.

 

- Público: Sócrates rejeitou swap oferecido por Pais Jorge. Expresso: Sócrates quis fazer swap com Pais Jorge - Se não se tratassem de dois dos jornais de referência em Portugal, acima de qualquer suspeita, ainda íam pôr os leitores confusos.

 

- Portugal saiu do clube da bancarrota na mesma semana em que todos os principais bancos deram prejuízos históricos - Ou os bancos não são assim tão importantes na economia de um país, ou há que mudar o conceito de roto.

 

- Russo pregou testículos ao chão como forma de protesto - Aqui está um de quem se pode dizer com toda a propriedade, homem de colhões.

 

- Ibraimovich vai ter cara em selo da Suécia - Cá temos algo absolutamente impensável em Portugal. Vê-se mesmo que aquilo é um país do terceiro mundo!

 

- O orçamento tira catorze milhões à Educação Especial e dá vinte milhões para subsídiar famílias que queiram pôr os filhos em escolas particulares - Quanto aos subsídios é só até a escola pública definhar a ponto de não fazer sombra, depois já não são mais necessários. Já quanto ao corte era preciso ir buscar o dinheiro para os citados subsídios a algum lado não é? E depois um estado moderno deve apostar é no que tem futuro, dos fracos não reza a história.

 

- Mais de metade dos portugueses recebe um qualquer subsídio de estado - Sendo que 20% destas  pessoas fica com 80% do valor total. Quem serão estes felizardos? Quem?

 

- Saída de Maria João Seixas da cinemateca anuncia a morte do cinema português - Se este fala-se diria: a noticía da minha morte é francamente exagerada.

 

- Cientistas estudam forma de evitar salpicos nas sanitas - Esperam-se daquelas a que se costumam chamar ideias de merda.

 

- Pedro Proença considerou a arbitragem de Duarte Gomes excelente - E muito bem, afinal o homem só ignorou três penaltis e legalizou um golo em fora de jogo. Claro que dois dos penaltis eram a favor do Sporting, o outro foi seguido de golo do Benfica, e o golo irregular também favoreceu este. É só para que não fiquem dúvidas que foi tudo limpinho!

 

- Alemanha vai ser investigada por acumular excedentes externos ano após ano - Ou seja estão sentados numa enorme pipa de massa, o que tratando-se da maior economia europeia está a pôr os outros todos a berrar cada vez mais alto, não fodem nem saem de cima!

 


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semtelhas @ 11:22

Ter, 12/11/13

 

 

 
 

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semtelhas @ 15:18

Seg, 11/11/13

 

Não é como o amor

Não é como a paixão

Também provoca dor

Com pudor, desilusão

 

Em tudo são diferentes

Porque mais toleráveis

Muito menos dementes

Até quase expectáveis

 

Traz a compreensão

Da inevitabilidade

Da força da razão

Face à contrariedade

 

Firme, gravada a fogo

Se gerada na infância

Mesmo ingénua de todo

Vence tod'a circunstância

 

Quando mais madura

Feita de caminhos comuns

Ganha em espessura, e

É sem fingires alguns

 

Verdadeira preciosidade

Dispensa culpa, acusação

Chega devagar na idade

Liberta de medos e solidão

 

Um acordar para o real

Um perceber e aceitar

Que cair e falhar é normal

E dever resistir, levantar

 

Descobrir o sereno prazer

De ouvir, de sorrir, ajudar

Tranquilidade no fazer

Recompensa no tolerar

 

O consciente deixar-se ir

Um aprender a escutar

Sentir sábio tempo a fluir

Só depois, convicto, falar 

 

Espécie de amor depurado

Como paixão suportável

Pouco e raro o exigido

E erro sempre aceitável

 

Quando ato por cumprir

Triste vida por viver

Um nada como existir

Os sentidos esquecer

 

É destino para seguir

O escasso ambicionar

Suave alegria no devir

Receber e também dar 

 

Querer incondicional

Profundo, do coração

Onde o belo ou sensual

São desejo não condição

 

Perene, eloquente

Se autêntica amizade

Da alma imanente

E até à eternidade

 


direto ao assunto:

"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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