semtelhas @ 11:50

Qui, 31/10/13

 

Íamos para aí a meio da viagem, quinze dias, e se tinha dormido duas noites completas já não me lembrava, sabia isso sim que não me aguentava em pé. Não me recordo bem qual foi a viagem, entre que cidades, mas que quando entrámos o comboio ía cheio de gente sim. Parece-me que foi de Trieste no norte de Itália para Belgrado, na altura, 1976, ainda Jugoslávia. Aquilo era um mar de gente, ainda por cima todos carregados com alguma coisa sempre super volumosa. Como era Agosto provávelmente deslocavam-se para passar férias com a familía, daí aquela profusão de malas, mas também enormes cestas, até com galinhas cacarejantes a espreitar como autênticos periscópios, e mesmo daquelas enormes trouxas que também se víam em Portugal, um pano grande, lençol ou colcha, com as quatro pontas enlaçadas no topo, cheias como ovos com roupas e sei lá que mais. 

 

Curiosamente depois desse episódio nunca mais voltei a ter tanto sono, durante mais quase três semanas, como se o tivésse vencido passei a andar tipo alucinado, até porque continuávamos a tentar dormir sempre e só durante as viagens noturnas de comboio, nem meia dúzia de noites passadas nos albergues para a juventude. Mas nesse fim de tarde senti estar prestes a atingir um qualquer limite. Como não havia um único lugar sentado o remédio foi ficarmos ali mesmo no corredor, também ele a abarrotar, sentados em cima das mochilas no meio de uma algazarra infernal. Não sei porquê, talvez por causa da música, só me vêm à memória ciganos e ciganas, e montes de crianças a brotar de todo lado em desenfreadas correrias que impediam a mais remota esperança de descansar.

 

Quando por fim a coisa acalmou um bocado, as distâncias entre estações eram cada vez maiores, já noite fechada, sacámos qualquer coisa para comer, as sandes, fruta e sumos do costume, e, como por milagre o corredor ficou quase vazio, comentámos que deviam estar a dormir uns em cima dos outros, pude passear ao longo do mesmo a respirar tranquilamente o ar que entrava fresco por uma janela que tinha aberto até que... acordei precisamente a meio caminho entre a escuridão refrescante e o chão que se aproximava a alta velocidade. O estrondo foi enorme porque caí completamente desamparado, de obstáculos e prevenção, pelo que, para além do meu colega, deitado mesmo ali ao lado, pensou que a carruagem tinha descarrilado, foram várias as cabeças que apareceram a espreitar pelas portas dos compartimentos à pinha. Só voltei a dormir a sério na minha própria cama...

 


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semtelhas @ 12:36

Ter, 29/10/13

 

- Paulo Portas afirma que pobres não vão a manifestações - Erro muito comum entre esta gente que nunca comeu o pão que o diabo amassou, confundir pobreza material com a de espiríto, transversal a todas as condições sociais. É mais fácil apanhar um Paulinho mentiroso que um coxo.

 

- Bárbara Guimarães e Manuel Maria Carrilho insultam-se públicamente - Onde haviam eles de se insultar? Pelos vistos em privado já andam eles a fazê-lo há meses, agora é que ambos estão a atuar no seu terreno de eleição.

 

- Angela Merkel, a França, a Espanha, e sabe-se lá quem mais andam há anos a ser escutados pelos EUA - Já faltou mais para o Big Brother acabar por cumprir a sua verdadeira natureza de olho no buraco da fechadura e revelar quem anda a dormir com quem. Agora é que vai ser vender!

 

- Sócrates revela que convidou Passos para o governo, este nega - A habitual dança de cadeiras, hoje mostro eu escondes tu, ontem escondemos eu e tu, amanhã logo se verá. Uma confusão onde só a mentira prevalece.

 

- Antonio Costa e Rui Rio aparecem muito amigos em público numa espécie de antecipação do que aí vem quando liderarem os seus partidos - É aproveitar agora para os sorrisos e almocinhos porque quando chegar a hora vão tornar-se arquinimigos.

 

- François Holland reabriu as fronteiras de França a uma cigana expulsa apesar de já ali nascida - Leonarda entrada, maria bernarda instalada, e mais uma vitória do humanismo sobre o racismo. Ou do nacionalismo sobre a estupidez?

 

- Cavaco avisa que vai promulgar orçamento, oposição reclama pedido de fiscalização prévia, Tribunal Constitucional afirma precisar de meses para analisar, e Marcelo descobre táticas mirabolantes - E o pessoal paga! Porque é que não se encontra forma de analisar a coisa em tempo útil? E depois com que é que toda essa gente se, e nos entretinha?

 

- Afinal concluiu-se que o a menina loura de olhos azuis encontrada com ciganos é...cigana - Impressionante a rapidez com que se passa de idolatrado Anjo Louro, a duvidoso e esquisito fenómeno da natureza. A pureza da raça já teve melhores dias...

 

- O processo Maddie foi reaberto em Portugal - Como? Ninguém deu por nada! Por cá processo que não apareça na televisão de manhã à tarde e a noite, com um senhor da judite a cagar postas de pescada e a editar livros, e a Sandra Felgueiras a fazer de miss Piggy, não é processo nem é nada!

 

- Guião da reforma do estado mais uma vez adiado - Um guião para quê? É a diferença entre fazer as coisas para o futuro, ou para amanhã e quem vier depois que feche a porta. O futuro que se lixe! Pensam que estão na Alemanha ou quê?

 

- Brasil denuncia e emite mandado de captura sobre general angolano por tráfico de mulheres - É o outro Santos, o tal que está a provocar esta celeuma toda em Portugal só porque o sr. está a ser investigado. Os brasileiros que se ponham a pau, é que Angola ainda corta relações com eles!

 

- Pires de Lima diz que milagre económico português se deve a empresários - Qual milagre? Quais empresários? Os vinte que movimentam 80% da economia e estão sediados na Holanda, ou os milhares que movimentam 20% da economia e declaram prejuízos ao fisco? O convivío diário e muito chegado com a cerveja deve ter criado maus vicíos ao sr..

                                                                                                                                        


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semtelhas @ 12:49

Seg, 28/10/13

 

Guardo na memória duas imagens, uma fruto de uma situação real e outra metafórica, que modificaram para sempre a minha visão sobre a forma como a dita loucura é geralmente encarada. A primeira conhecía através do relato de um filme que gira à volta da ideia central que resulta do abandono de todos os habitantes de uma cidade ameaçada pela explosão de uma bomba, sendo que toda a gente se esquece do manicómio e dos seus clientes... acontece que quando aqueles saem desconfiados para o exterior pela porta deixada aberta por funcionários em pânico, ocupam a pequena cidade e voltam às suas antigas ocupações, barbeiros, cozinheiras, eletricistas, motoristas, engenheiros, médicos, etc., etc, todos funcionam numa surpreendente harmonia, como se os desiquilibrados provocadores de distúrbios e outros problemas se tivessém ausentado. A segunda pela leitura de um livro que se trata básicamente do relato da convivência diária entre um prisioneiro e o seu carcereiro durante as horas do dia que estão juntos, e através do qual se instala a dúvida de quem ali é que realmente está preso, se o homem que vive atrás das grades, privado da sua liberdade fisíca mas, até por isso, obrigado a viajar pela sua mente, usando a sua imaginação, ou o que todos os dias ao fim da tarde abandona o estabelecimento prisional para ir fazer a sua vida lá fora, onde, amarrado a uma série de compromissos e obrigações se limita a tentar cumpri-las, raramente o conseguindo, antes pelo contrário, uma vivência frustrada num crescendo de sentimentos negativos.

 

O livro As Lojas de Canela, de Bruno Schultz, aborda este mesmo assunto, avançando por um caminho entre o fantástico e o tortuoso, tendo por tema central o relato de um rapaz da história do seu louco pai, numa esquisita cidade, habitada por estranhas pessoas, numa sucessão de pequenas fábulas maravilhosamente escritas, no sentido o mais possível lato do termo, uma escrita numa belissíma prosa poética, cuja musicalidade pede para ser lida em voz alta, mesmo quando as situações descritas são tudo menos agradáveis, por vezes até grotescas. Aqui as palavras são magistralmente utilizadas como ferramentas altamente eficazes para nos abrir a mente e ali depositar ideias bem pouco convencionais,  carregadas de um sempre latente confronto entre uma realidade dura e mais ou menos ilógica porque plena de maldicência, violência e futilidades, e outra uma espécie de idílio protagonizado pela vivência de um louco, onde tudo é absoluta e minuciosamente percecionado, o bom e o mau, uma vitória dos sentidos e do bom senso sobre a vida real, essa malvada. Tudo isto embrulhado por uma narração com tanto de fluida quanto de encantatória.

 

 

  
 

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semtelhas @ 13:17

Dom, 27/10/13

 

 

 
 

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semtelhas @ 12:01

Sab, 26/10/13

 

O fenómeno de esvaziamento da vontade, de ser livre, e a importância que tem no implementar na banalização do mal, de que fala Hannah Arendt, no filme com o mesmo nome, que constitui uma profunda reflexão sobre a descaracterização dos seres humanos, reduzidos a um número, no caso dos judeus pelos nazis, particularmente nos campos de concentração e do holocausto em todas as suas dimensões.

 

 

 
 

Quando quem, situado no segundo degrau da hierarquia, sendo vazio porque manipulado não pensa, e se limita a cumprir ordens, pode ser responsabilizado por algo mais que sejam estritamente os seus atos? O facto de em ambiente de guerra, mesmo tendo conhecimento do quadro geral, servindo como dente da roda, que age mas não avalia, isenta-o de um juizo enquanto fazendo parte de um todo?

 

É legítimo defender alguém que respondendo ás suas necessidades mais básicas de sobrevivência, seja cúmplice de uma máquina destruidora em massa de seres humanos? Não no sentido de o poupar à punição exemplar do que objetivamente fez, mas sim de o responsabilizar, nele centrar, todo um mal muito maior, que ele nem sequer alcança ou conhece ao pormenor?

 

Será que os princípios sagrados da filosofia, a essência do exercicío de ser livre, devem prevalecer sobre devastadoras demonstrações do mal? Mesmo quando estas derivam de uma cadeia de decisões onde as responsabilidades se vão diluindo, tornando aparentemente impossível a aplicação objetiva de qualquer noção filosófica de justiça face a uma realidade pungente?

 

Impressionante abordagem a um tema atualissímo como é o da importância de refletir antes de arrebanhar, hoje, como ontem, sempre contrariada pelas elites mandantes precisamente porque sabem que quando, e se as pessoas pensam logo avaliam, e ao fazê-lo deixam automáticamente de poder ser utilizadas como meros objetos, sem vontade própria, nesse processo anestesiante da banalização do mal.

 

O ato de pensar não como capacidade para adquirir conhecimentos mas como tomada de consciência de se ser inteligente, autónomo, capaz de escolher e decidir responsávelmente em função do objetivo eleito. Tudo aquilo que a política do medo e da culpabilização, e o infernal barulho do dito entretenimento, no sentido mais lato do termo, impede que cada vez mais gente faça porque incapaz de ouvir até os próprios pensamentos.

 


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semtelhas @ 12:11

Sex, 25/10/13

 

A forma como Rui Moreira capitalizou o descontentamento e desconfiança da população relativamente aos partidos políticos e particularmente aos que estão no poder, é a prova maior de como o efeito seria multiplicado caso Luís Filipe Meneses, reconhecido rebelde dentro do seu e, não menos importante, autoproclamado antisulistas e elitistas, se tivesse candidatado como independente à camara municipal do Porto. Mas, como diz o povo na sua infinita sabedoria, quem tudo quer tudo perde.

 

O atual presidente da câmara do Porto é acima de tudo um esteta, em toda a linha, também nas palavras. Apesar de não ser um político profissional utiliza o discurso de uma forma extremamente hábil. Homem muito inteligente, da alta burguesia portuense, por isso livre de más conselheiras pressões económicas, foi construindo uma carreira mais ou menos isenta de erros, mas também de qualquer brilhantismo. Até agora, quando a confluência de uma série de fatores mais ou menos improváveis lhe atiraram para o colo tão importante cargo.

 

Quando há doze anos atrás aconteceu algo parecido com Rui Rio, que teve em Fernando Gomes o seu Luís Filipe Meneses, quem ascendeu à liderança da cidade foi um importante político partidário, em princípio condenado à derrota e, provávelmente, a um maior ou menor cinzentismo dentro do seu partido e, consequentemente no país. O resultado foi o conhecido. Depois de a uma gestão de mão de ferro, que veio a jeito, e ao jeito, dos tempos que correm, esta a ser empurrado para previsíveis mais altos voos.

  

Meneses foi severamente criticado de despesismo, mas deixou uma obra a todos os títulos excecional em Gaia fruto da sua reconhecida garra, capacidade de meter as mãos na massa e de arriscar. Diz-se que Rio provou que é possível governar sem exorbitar custos mas a verdade é que práticamente não construi quaisquer infraestruturas, recebeu uma cidade completamente remodelada ou em vias disso. Com aquele tipo de gestão Gaia ainda estaria igual ao que era no inicío da século. Menezes aproveitou a onda e também meteu a mão noutras massas, servidas num prato de facilitismos.

 

Durante sete ou oito anos, após o 11 de Setembro, a caça ao terrorista e a consequente ordem para atacar dada a toda uma matilha de poderosos que desde havia anos salivavam na expectativa dessa oportunidade, foi um fartar vilanagem, no qual quem não alinhava era considerado burro ou atávico, muitas vezes via essas entidades representantes do que de melhor e pior tem a democracia, os partidos, agora caídos em desgraça porque saída para carreirismo de medíocres ou pasto de clientelas corruptas. Portugal, porque inserido num clube de ricos e salvaguardando as devidas proporções, não escapou à epidemia. 

 

É em consequência desta espécie de sequências anacrónicas que começa a surgir a chamada sociedade civil, ainda envergonhadamente a livrar-se das nefastas infuências dos políticos profissionais, e a dar oportunidade aos mais ilustres entre os seus pares, fenómeno que pode tornar-se verdadeiramente revolucionário porque altera profundamente o paradigma daquilo que tem sido o princípio de governação dos países desenvolvidos, deixar as decisões para outros entidades distantes, etéreas, fácilmente e sem consequências palpáveis, responsabilizáveis para, sobretudo fruto de um incremento educacional e cultural, tomá-las nas próprios mãos. 

 

Rui Moreira é o principal dos rostos desse sinal de mudança. A liderar a segunda maior cidade do país, com toda a visibilidade que isso implica, pode perfeitamente funcionar como farol para outras paragens. Resta saber se terá unhas para tocar tão complicada guitarra. Óbvio teórico tem que se rodear por gente de campo, muito capaz, de executar, mas também de o ajudar a libertar-se da imagem que inegávelmente tem de menino da Foz que comprou sempre tudo feito. Era bem importante que o conseguisse.

 


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semtelhas @ 14:24

Qua, 23/10/13

 

São conhecidos os efeitos tranquilizantes transmitidos pelo convívio com gatos, a gatoterapia está já relativamente vulgarizada no ocidente através de clínicas para o efeito, no Japão há mesmo salas de gatos espalhadas por Tóquio, mas aqui não específicamente para pessoas, digamos, doentes, mas como uma espécie de fuga ao stress ou compensação numa sociedade onde a carência afetiva atinge limites quase absurdos.

 

Ver imagens dessas salas onde mais de uma dezena de gatos andam por ali livremente saltando de sofá em sofá, nos quais se sentam pessoas que deliciadas contactam com o olhar e fisícamente com estes elegantes e aparentemente sempre carentes bichos quando, na verdade, o que oferecem é uma infinita disponibilidade para serem admirados, acariciados, mimados, amados, provoca uma vaga sensação de desconforto, um desagradável aflorar à fronteira do desequilibrio mental. A procura do equilibrio perdido.

 

As enormes quantidades de afetividade que aquela gente tem para dar não encontra recetor nos seus semelhantes, bem mais preocupados com outras frívolidades como: não dar parte de fraco cedendo em primeiro lugar; não dispôr de tempo porque completamente ocupada na atividade de consumir; a passagem da sociedade do espírito samurai e das gueixas para outra supercompetitiva saltou muitas fases intermédias, um défice de aprendizagem da linguagem dos afetos, a única que conduz ao são e duradouro convívio. 

 

Infelizmente aquilo a que se pode assistir no Japão, autêntico laboratório de ensaios da sociedade consumista, antecipa o que nas sociedades ocidentais mais desenvolvidas também já se verifica, uma crescente desumanização da relação entre as pessoas fruto da competição em que estão constantemente envolvidas, uma corrida desenfreada em que o que parece está a levar a melhor sobre o que é.

 

No entanto, como a natureza humana carece da constante manifestação de sentimentos, de dar e receber, porque só assim se realiza como ser inteligente, procura desesperadamente como o fazer sem que com isso arrisque muito nesse jogo de aparências que pratica até à exaustão. É aqui que entram outros jogos menores, de entre os quais os animais de estimação assumem cada vez maior relevo.

 

Dentro destes cresce uma gatomania que se percebe. Primeiro tratam-se de umas criaturas que parece condensarem em si mesmas todo o pacote: estéticamente perfeitas; agradáveis ao contacto fisíco; asseadas por natureza; de pequena dimensão o que facilita a alimentação e limpeza; normalmente silenciosas e fonte de uma imagem de tranquilidade e confiança; mas sobretudo profundamente egoístas e independentes, quase sempre prontas para receber, pequeno alívio é certo, mas mesmo assim servindo na perfeição como terapia numa sociedade que cada vez mais carrega em cima de si esse pesadissímo fardo, seu verdadeiro motor, e presente envenenado dos seus mais altos responsáveis, a culpa.

 


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semtelhas @ 13:01

Seg, 21/10/13

 

Diz-se que Paulo Fonseca é um confesso admirador de Jorge Jesus, logo do seu estilo de jogo. As equipas de JJ desatam a correr desde o primeiro minuto, praticando uma pressão em todo o terreno, os jogadores sempre em movimento à procura do espaço livre oferecendo assim pelo menos uma hipótese de passe a quem tem a bola, quer quando a defender, situação contranatura neste estilo de jogo porque precisa de espaço e este existe é para a frente, quer quando e especialmente, precisamente por isso, a atacar. Acontece portanto que, por um lado, para que este sistema funcione são precisos jogadores muito rápidos a executar e sobretudo a pensar e, por outro, porque altamente desgastante, de grande resistência fisíca. É sabido e reconhecido por quase todos que se o treinador tem conseguido preencher razoávelmente o primeiro requesito, já o segundo tem sido o seu calcanhar de Aquiles levando a que na maior parte das vezes acabe por morrer na praia.

 

Ver o FC do Porto tentar interpretar este tipo de jogo requer rigoramente as mesmas armas mas, talvez mais importante, uma mudança mais ou menos radical daquele que tem sido o seu estilo, e desde há tanto tempo, com as conhecidas efémeras e mal sucedidas interrupções, que mais que um estilo é já uma filosofia. Ora mudar estas, que para o serem necessitam de muitos anos de lenta implementação, até profundamente se entranharem não é fácil, mas é seguramente mais fácil destruir do que foi construir. Mesmo que o FCP tivesse os intérpretes adequados, o que não parece, contrariar uma imagem de equipa machona, dominadora, paciente, tranquilamente esperando o momento certo para desferir o golpe fatal, nunca seria tarefa menor. Perdidos Moutinho e James para o Mónaco, e Lucho em nome da tentativa de alteração do sistema, gente com dimensão para ter a tal paciência, tenta-se a hipótese de fazer as coisas mais depressa.

 

Talvez a equipa não tenha gente com essa estaleca. Não terá? Ou será que a pressão para que executem tudo a correr está a tirar-lhes a calma e, consequentemente o discernimento? E se Lucho voltar à sua posição anterior? Onde afinal tantas vezes volta por sentir déficit na construção de jogo da equipa. E o pequeno Josué não será homem para isso? E Herrera ou mesmo Carlos Eduardo, até Defour? Os dois primeiros têm dado excelentes indicações de estrategas quando jogam na equipa B. O que se tem visto é a equipa fazer meia hora de jogo que encosta qualquer um lá atrás, mas como raramente a esse domínio corresponde a respetiva concretização em golos, quando acabam as pilhas por manifesta má gestão do esforço, os adversários caem-lhe em cima, desde os melhores até equipas normalissímas que, nessas circunstâncias, chegam a tranquilamente trocar a bola e dominar o jogo.

 

É verdade que também se diz que o próprio Pinto da Costa aprecia Jorge Jesus. Se calhar é verdade mas também acredito que perante o que tem acontecido talvez PC comece a questionar uma eventual contratação de JJ. É que ele há coisas que não mudam, como por exemplo o caráter das pessoas, que quando simultâneamente excecional e inabalável, caso do presidente, transmite-se, cola-se a quem com elas interage. Por tudo o que fez ao longo de décadas o FC Porto é Pinto da Costa, e Pinto da Costa é FC Porto. E o que ambos são é a excelência que resulta das coisas bem feitas, tranquila e seguramente, mesmo que isso contrarie aquilo para que tudo nos empurra nestes dias, rapidez, mudança, virtualidade, numa palavra, resultados rápidos. Simplesmente tal só é exequível por pouquissímos, por isto ou por aquilo benefeciários de mais propicíos ambientes, bem mais ricas estruturas. Por cá tudo indica ser mais aconselhável o caminho da sabedoria.

 


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semtelhas @ 14:24

Dom, 20/10/13

 

 

 
 

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semtelhas @ 11:17

Sab, 19/10/13

 

- Fatura da luz em Portugal é a maior entre os quinze da Europa - Fazem tudo para nos manter às escuras!

 

- D. Januário Torgal Ferreira acusa o governo de ser incompetente e insolente - Quando até os mais altos representantes do perdão na Terra sentem aquele sorrisinho malandro ao anunciarem mais uma maldade... está tudo dito.

 

- Alguns jornais escreveram que Portas tranquilizou os idosos antes da apresentação do orçamento - Foi mais em jeito de agradecimento pelas dicas que lhe foram dando durante uma semana para a lei das pensões de viuvez.

 

- Pires de Lima não garante manutenção de postos de trabalho nos CTT depois da privatização - Pois se vão ser privatizados...Agora também cedeu no IVA da restauração que, antes de ser governante, tanto atacou...Diz ser um soldado leal. Pois... já se percebeu ao que será eternamente leal.

 

- Manuel Alegre queixou-se do corte nas subvenções vitalicías dos políticos - Todo o poeta é um sofredor, certo, as razões porque cada um sofre é que vão mudando.

 

- O Bastonário dos revisores oficiais de contas diz que, noutro país, o que nos estão a fazer já tinha dado em guerra civil - Este senhor, chefe dos Tocs, dos Rocs, ou lá o que é, em vez de liderar os mangas de alpaca devia era estar à frente da revolução, em vez dos chinelos, e da mantinha, no resguardado cantinho do lar, era mas é na mais avançada e alta das barricadas o seu lugar!

 

- A CGTP trocou a marcha a pé na ponte 25 de Abril pela passagem em camionetas - E agora querem convencer-nos que foi por causa das pressões do governo, e não por estar este temporal do caraças, que mudaram de ideias! Ou terá sido medo? Ou erro de cálculo? Ou simples mediocridade? Cada um tem os sindicatos que merece.

 

- Angola anunciou o fim da cooperação estratégica com Portugal - Calma! O homem não disse a que estratégias se referia, se à que ensinou à sua filha Isabel, sacar fora de portas, ou à que os seus generais utilizam dentro de portas, sacar.

 

- Paulo Bento afirmou que a sua aposta em Rui Patricío não é tara - Pois não. Só o seria se tivesse melhores alternativas. E como quem dá o que tem a mais não é obrigado...

 

- Mário Soares que ver Cavaco julgado pelo seu envolvimento com o BPN - O presidente respondeu chamando-lhe velho, mas quem se está a esquecer ter ganho muito dinheiro com ações ligadas aquele banco é ele próprio! Não será, isto sim, velhice? Ou terá outra qualificação?

 

- Governo vai sortear dez milhões de euros pelos portugueses que apresentarem faturas - Boa medida para acabar com os burlões mas, quem vai vigiar o sorteio? É que com vigaristas destes todo o cuidado é pouco!

 

- Bruno de Carvalho, respondendo a Pinto da Costa disse: eu adoro o meu pai, mas tem oitenta anos, por isso... - Das duas uma, ou o menino saiu ao paizinho e então está tudo bem, ou, se puxou à mãe, juntou mais um a outro octagenário interessado em provar-lhe que é muito menos esperto que pensa.

 

 


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semtelhas @ 12:00

Sex, 18/10/13

 

Imagine-se uma pessoa absolutamente disposta a manter, contra ventos e marés, os seus princípios de amizade sem condicionalismos, de solidariedade, de simpatia, de empatia, de retidão moral, de respeito generalizado por tudo e por todos, de inflexibilidade na persecução do seu sonho, que, ao mesmo tempo, é profundamente humilde, simples, direta, autêntica, bem disposta, tremendamente positiva, centrada no essencial e, por isso, algo desarrumada, a pisar o risco do desleixo quando de preocupações estéticas comuns se fala, porque ética é o seu segundo nome. Agora coloque-se esta ave rara em Nova Iorque, hoje, o paradigma da competividade, onde as aparências são fulcrais, o discurso dito informado, fluente e carregado de inteligente sarcasmo, sinónimo de ser cool, estar update, é básico, onde quem não vence, segundo os exigentes parâmetros daqueles lados, entra no rol dos falhados, então fácilmente se percebe qual o destino dessa pessoa enquanto alegremente saltita qual desconjuntada rapariguita, aspeto perto de matrona, vestidos largos com florzinhas estampadas, cabelo preso à pressa com ganchos, não obstante por trás de todo um quadro simplório estar uma bonita e culta mulher.

 

Frances Ha é um filme que conta a história dessa literalmente maravilhosa personagem, que tem essa fantástica capacidade de possibilitar a visão e quase convívio, tal é a empatia que provoca, com uma magnifíca personalidade, completamente imune aos venenos que destroem, por um vicío no virtual, espécie de faz de conta, no qual quase todos vamos vivendo nos dias que correm. Brilhantemente pondo no seu lugar o que, porque politicamente incorreto e logo alta e objetivamente prejudicial áquilo que é suposto mais importar, parecer e, se possível, ter mesmo, mais: coisas, audiência, popularidade, ou gente a invejar-nos, para se focar, centralizando nessa, infelizmente cada vez mais raro exemplo, doce pessoa, aquelas qualidades que na verdade, como desde sempre, continuam a representar a nossa única e verdadeira esperança coletiva.

 

 

 

 

Género lado positivo dos filmes mais negros de Woddy Allen, porque despido de qualquer negativismo, ironia ou sarcasmo, mesmo quando com imensa piada, proporciona um contagiante banho de positivismo pelas boas razões. Uma amostra de que talvez seja possível mudar sem ter que bater no fundo. Uma maravilhosa sensação de leveza, espécie de retorno ao essencial.

 


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semtelhas @ 10:45

Qui, 17/10/13

 

Absorvido na demonstração de força, soberbo!

Fecho-me em mim quando me atinges

Quanto sou insignificante e pequeno!

É então que o temor que inflinges

Trás à tona da profundidade a humildade

Normalmente ausente na arrogância de ser

No egoísmo da vaidade, do ter, do poder

Pergunto-me porquê, sendo bipolar como és?

Mar revolto onde tantos encontram a morte

Morno lago para lavar a alma, procurar a sorte

Vento enlouquecido para tudo derrubar

Ou suave brisa que acaricia e convida a amar

Fogo, o inferno como diabo ao criador desafio

Mas tão belo! O calor que nos poupa ao frio

Só a tua face malévola obrigar à verdade?

Como se brincasses, ora dar, ora tirar

Como se avisasses para a efemeridade

Com a tua grandeza calas e subjugas

Será que enquanto vociferas escutas?

Maldições rogadas, preces cantadas

Estarrecido, petrificado, a ti rendido

Encontrei-me porque em ti perdido

Brevemente apaziguas o que me consome

Culpa, ambição, o medo, não morreu, dorme

Não tens, por isso, porque me acusar

De te usar, de ti abusar, de te manipular

Se de ti vim, para ti vou voltar

Sou só o que me quiseste ensinar

 


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semtelhas @ 12:47

Qua, 16/10/13

 

Naqueles primeiros anos de trabalho, pouco mais que rapaz, eram um verdadeiro pesadelo. Para trás tinham ficado dois dias de louca correria na vã tentativa de neles acumular vida suficiente para sobreviver durante a semana de trabalhos forçados que se seguiria. O fim de semana acontecia em decrescente euforia até ao insuportável e angustiante fim de tarde do domingo. Por isso a semana começava com uma indispensável passagem pela tasca ainda antes de entrar no escritório, um café para acordar e um generoso cheirinho para aguentar. Rápidamente substituído por bem mais eficazes anestesiantes, inicialmente inocente gentileza do alcoólico companheiro de secção, mas logo hábito adquirido independentemente da presença de tão nefasto e muito mais velho camarada de guerra, também ele a sofrer horrores durante aquelas horas à volta de papeis, máquinas de escrever, e com a inveja e até ódio dos operários que nos olhavam do lado de fora da espécie de aquário plantado no meio da oficina de metalurgia em que nos encontravamos razoávelmente protegidos, enquanto eles, ora enregelados no inverno, ora desfazendo-se em suor no verão, martelavam, soldavam ou manipulavam enormes  e barulhentos monstros que dobravam, amassavam e cortavam o gélido aço.

 

A década seguinte foi bem mais fácil. Com funções superiores, os arranques semanais eram, muitas vezes, simples continuação de sábados, e até domingos de trabalho. Acontece que neste caso sem que esta palavra trouxesse consigo o habitual peso, como se de um enorme obstáculo a transpôr se tratasse, mas de um quase prazer que se vai desenrolando durante a semana, circunstância em que as coisas fazem sentido, percebe-se ali um objetivo a alcançar lá adiante normalmente longe da dolorosa realidade da ferrugem, da massa da qual são feitas as suas conquistas, pelas calejadas mãos ou exauridas mentes de outros. Um processo decisório da qual se faz parte, e não um básico dente de roda dentada, peça de uma complexa engrenagem que jamais se irá compreender quanto mais dominar. Uma harmonia que poupa o fisíco e a mente, assim imune à maldição das segundas feiras e ao alcance de pouquissímos.

 

A dúzia de anos seguintes foram seguramente os mais produtivos mas também os mais desgastantes. Nem patrão nem operário, situado entre ambos a responsabilidade aumenta exponencialmente. Nem se pode lavar as mãos, nem atirar culpas e pedir soluções a quem está a seguir... Terrível ter que enfrentar um batalhão de subordinados completamente revoltados com a vida perante cinco dias de mais do mesmo pela frente, um futuro sem esperança. Como são diferentes as sextas feiras, e como é volúvel a vontade dos simples! A necessidade absoluta de os motivar para o duro trabalho, os camiões já à porta esperando a mercadoria...quando na maior parte das vezes paira na própria alma a dúvida se tudo aquilo vale a dolorosa pena. Um sofrimento a dobrar longe, muito longe, de compensar. É quem está no meio que verdadeiramente faz andar a roda.

 

Hoje, olhando em volta e constatando da enorme e crescente quantidade de gente livre de tais sufocos, são cada vez mais os que perguntam, que futuro? Numa sociedade que está a fabricar um exército de potenciais trabalhadores, atirando para o mercado milhões de jovens homens e mulheres saídos de uma formação académica que teve como alvo essencial o ganhar mais dinheiro, e não a vocação que resulta no prazer de fazer bem feito, ou, pior, criando no seu seio um cada vez maior, e a aumentar assustadoramente, numero de pessoas pouco ou nada preparadas para exercer qualquer tipo de atividade dita construtiva, todos juntos numa mole imensa de frustração, não se vislumbram grandes respostas. Ou será que face a esta situação de quase previlégio o de encontrar uma ocupação dignamente remunerada, as segundas de manhã vão passar de malditas a desejadas?

 


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semtelhas @ 15:11

Seg, 14/10/13

 

Durante décadas Herman José andou por aí a partir tudo. Inteligentissímo, possuídor de um sentido de humor fenomenal, com uma incrível capacidade de se transformar seja em quem fôr, mas sobretudo absolutamente irreverente, livre e intelectualmente honesto. Como ninguém é perfeito Herman também não o é. Vaidoso, egoísta, muito ambicioso e sobretudo extremamente egocêntrico, são os seus defeitos, afinal, também eles em boa parte motores e razões, para as suas virtudes artísticas e de ser a pessoa que é.

 

Quando por razões que ele diz de natureza vingativa e fruto de inveja, o envolveram no caso Casa Pia, foi ferido no seu âmago, atiraram-lhe diretamente para o que um caráter daqueles tem de mais precioso, a autoestima. Quando se ganha a vida com o brilhantismo que ele o faz, a dissecar, qual raio x, mais, ou menos, brincando com a vida dos outros, tem de se ter uma sensibilidade enorme, a indispensável e mais importante ferramenta para o fazer convincentemente. Foi aí que o atingiram.

 

Depois de um período bastante crítico, em que o formidável humorísta parecia sucumbir perante o habitual exército de maldizentes mediocres cá da terrinha, eis que, dando mais uma grande prova da sua força, vai ao fundo do enorme baú onde guarda as suas multiplas artes, e recupera a primeira, talvez a mais básica mas também a mais nobre, a de atuar no palco frente ao público, ao seu público, afinal todo um país, de norte a sul, desde os mais simples até aos mais sofisticados, e renasce.

 

Porém, como tudo tem um preço, não é sem que algo se perca que se dá este retorno do verdadeiro artista ao convívio do seu povo. Não que Herman José não fosse calculista e até cínico, quem consegue não o ser ser quando na sistemática procura da excelência como ele sempre fez? Simplesmente quando hoje o vemos de volta à RTP, único sítio do género onde ainda é possível não vender a alma ao diabo, sente-se que algo partiu para não mais voltar, a inconsciente e completa ausência de medos.

 


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semtelhas @ 12:16

Dom, 13/10/13

 

 

 
 

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"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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